APRESENTAÇÃO
Queridas
companheiras, queridos companheiros, esta
apostila de Prática de Redação é um teste, o que faz de vocês, queiram me
perdoar, minhas cobaias. Não “Cobaias de Deus”, como na composição de Cazuza,
mas cobaias de Isac mesmo. Embora ela
apresente alguns gêneros textuais típicos do meio acadêmico, mais a frente ela
traz uma proposta de oficinas de interpretação e produção de textos a partir de
conhecimentos filosóficos básicos, visto que a qualidade do texto que produzimos,
ou a qualidade da interpretação que
fazemos está relacionada a nossa visão de mundo. Assim, quanto mais ampliarmos
essa visão de mundo, melhor entenderemos e melhor produziremos, e isso inclui,
evidentemente, a interpretação bíblica.
Esta apostila reúne apenas alguns poucos
textos e algumas poucas fundamentações teóricas, A partir deles, muitas
propostas serão apresentadas e executadas em nossas aulas.
Assim sendo, bons estudos a todos! O que
queremos de fato, é escrever sem dor, e interpretar sem grandes sofrimentos.
Isac
Machado de Moura
RESENHA,
RESUMO E FICHAMENTO
A resenha é um tipo de trabalho que para ser
feito é necessário que se tenha domínio do assunto abordado. “Somente o
conhecimento profundo permitirá a você estabelecer comparações e fornecerá a
maturidade intelectual necessária para a emissão de qualquer julgamento de
valor, ou seja, dizer se concorda ou discorda com as considerações apresentadas
pela obra e texto a ser resenhado.”
Muito
utilizado nos meios acadêmicos, esse recurso pode ser utilizado para relatar
qualquer acontecimento da realidade (um filme, uma peça teatral, um evento
esportivo, etc), além de livros (inteiros ou parte deles) e textos diversos.
Ao
elaborar uma resenha, o resenhista tem um objetivo, ou seja sua intenção pode
ser, por exemplo, a de fazer publicidade ou a de adquirir conhecimento sobre o
objeto. A partir desse objetivo deve-se determinar os pontos relevantes do
objeto a ser resenhado. Por exemplo, ao resenhar um livro, com o objetivo de
promovê-lo, não é relevante informar seu custo de produção, mas é
imprescindível destacar os dados referentes ao autor da obra.
A
resenha é, portanto, “[...] um texto que apresenta informações selecionadas e
resumidas sobre o conteúdo de outro texto, trazendo, além das informações,
comentários e avaliações do resenhista.”
(Resenha, 2004. p. 15)
O fragmento
abaixo é um exemplo de resenha.
“[...] É sensacional! Méritos para o
estreante, roteirista e diretor Sylvain Chomet, que criou um universo charmoso
e criativo, no qual opta por espelhar-se no cinema mudo apresentando uma
mistura de raros diálogos, canções e movimentos. Além da simples história que
exibe uma trama cativante e envolvente, o encanto certamente está no gráfico em
2D, devido aos divertidos traços caricaturados das feições humanas e dos
ambientes com cores leves.[...]”
Esse
fragmento foi extraído da resenha de um filme. Note que os termos em destaque
(sensacional, charmoso, criativo, simples, etc) representam a opinião do
resenhista. Ele procurou (e conseguiu): mostrar as informações de forma
resumida, mostrar as informações mais relevantes e posicionar-se criticamente
em relação ao objeto resenhado.
O resumo, assim como a resenha, deve conter
dados selecionados e sucintos sobre o conteúdo de outro texto. A diferença
reside no fato de o resumo não conter comentários ou avaliações de seu
produtor. Noutras palavras, o resumo é uma redução das ideias contidas num
texto, mantendo a fidelidade ao texto original. Eis algumas dicas para
facilitar a produção de um resumo:
A.
Leia atentamente o texto a ser resumido, certifique-se de tê-lo entendido;
B.
Utilize a inserção de citações. (Segundo o autor… / Fulano de tal considera… /
De acordo com que afirma…) ;
C.
Redija-o em linguagem objetiva, clara e concisa;
D.
Escreva-o com suas palavras, evitando copiar as frases e expressões contidas no
texto original;
E.
Desconsidere conteúdos facilmente inferíveis; (“Maria era uma pessoa muito boa.
Gostava de ajudar as pessoas…”)
F.
Ignore expressões explicativas; (“Discutiremos a construção de textos
argumentativos, isto é aqueles nos quais…”)
G.
Não use expressões que exemplifiquem; (As pessoas deveriam ler, também outros
autores. Por exemplo…
H.
Não considere as justificativas de uma afirmação; (“Não corra tanto, pois
quando se corre…”)
I.
Reduza o texto a uma fração do texto original, respeitando a ordem em que as
ideias ou fatos são apresentados;
O
fragmento abaixo é um exemplo de resumo.
“Leonardo Boff inicia o artigo ‘A cultura
da paz’ apontando o fato de que vivemos em uma cultura que se caracteriza
fundamentalmente pela violência. Diante disso, o autor levanta a questão da
possibilidade de essa violência poder ser superada ou não. Inicialmente, ele
apresenta argumentos que sustentam a tese de que seria impossível, pois as
próprias características psicológicas humanas e um conjunto de forças naturais
e sociais reforçariam essa cultura da violência, tornando difícil sua
superação. Mas, mesmo reconhecendo o poder dessas forças, Boff considera que,
nesse momento, é indispensável estabelecermos uma cultura de paz contra a
violência, pois essa estaria nos levando à extinção da vida humana no planeta.
Segundo o autor, seria possível construir essa cultura, pelo fato de que os seres
humanos são providos de componentes genéticos que nos permitem sermos sociais,
cooperativos, criadores e dotados de recursos para limitar a violência e de que
a essência do ser humano seria o cuidado, definido pelo autor como sendo uma
relação amorosa com a realidade, que poderia levar à superação da violência. A
partir dessas constatações, o teólogo conclui, incitando-nos a despertar as
potencialidades humanas para a paz, como projeto pessoal e coletivo.”
FICHAMENTO: Imaginemos que você tenha alguns livros
e textos para ler e resenhar ou resumir. Caso você não tenha adquirido todos os
livros e textos, poderá recorrer ao fichamento para organizar a leitura desse
material. Quando precisar fazer uma monografia, resenha e outros trabalhos
acadêmicos, o fichamento o ajudará a reconstituir a fonte e as idéias
apresentadas pelos autores estudados. Algumas dicas para fazer um fichamento:
A. Coloque
no cabeçalho: o título genérico ou específico, a letra e/ou número
indicando a sequência das fichas, caso você utilize mais de uma, deverá repetir
o cabeçalho;
B. Insira: Referências bibliográficas (Nome do
autor, título da obra, subtítulo se houver, edição, local da publicação,
editora, ano da publicação, coleção (se fizer parte));
C. No corpo da ficha: Redija o texto. Utilize uma linguagem
clara, objetiva, direta, sem subjetivismo (eu penso, eu acho…), resuma o
assunto tratado, abordando o que o autor diz, pensa e o que é novo sobre o
assunto;
D.
Anote o local onde se encontra a obra (biblioteca…)
Exemplos de fichamento:
TEXTOS CIENTÍFICOS (título genérico) – REDAÇÃO CIENTÍFICA,
A prática de Fichamentos, Resumos, Resenhas (Título específico) página - nº 1 ou A
MEDEIROS, João Bosco. Redação
Científica: A prática de Fichamentos, Resumos, Resenhas.
São Paulo, Atlas, 2004. p.114. (escrever o texto)
Biblioteca do—— (local onde se encontra a obra)
PLATÃO, F. S & FIORIN, J.L. Lições
de texto: leitura e redação, 4. ed. São Paulo : Ática,
1999. p. 89
ASSUNTO: TEXTOS TEMÁTICOS E TEXTOS
FIGURATIVOS – Ficha 01
“Cada um dos tipos tem uma função
distinta. Os textos figurativos produzem um efeito de realidade e, por isso,
representam o mundo, criam uma imagem do mundo, com seus seres, seus
acontecimentos etc.; os temáticos explicam as coisas do mundo, ordenam-nas,
classificam-nas, interpretam-nas, estabelecem relações e dependências entre
elas, fazem comentários sobre suas propriedades. Os primeiros criam um efeito
de realidade, porque trabalham com o concreto; os segundos explicam, porque
operam com aquilo que é apenas conceito. Os primeiros têm uma função
representativa; os segundos, uma função interpretativa.”
Biblioteca da UMC
O TEXTO ARGUMENTATIVO
COMUNICAR não significa apenas enviar uma mensagem e fazer com que nosso ouvinte/leitor a receba e a compreenda. Dito de uma forma melhor, podemos dizer que nós nos valemos da linguagem não apenas para transmitir ideias, informações. São muito frequentes as vezes em que tomamos a palavra para fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite o que estamos expressando (e não apenas compreenda); que creia ou faça o que está sendo dito ou proposto.
Comunicar não é, pois, apenas um fazer saber, mas também um fazer crer, um fazer fazer. Nesse sentido, a língua não é apenas um instrumento de comunicação; ela é também um instrumento de ação sobre os espíritos, isto é, uma estratégia que visa a convencer, a persuadir, a aceitar, a fazer crer, a mudar de opinião, a levar a uma determinada ação.
Assim sendo, talvez não se caracterizaria em exagero afirmarmos que falar e escrever é argumentar.
TEXTO ARGUMENTATIVO é o texto em que defendemos uma idéia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procurando (por todos os meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite-a, creia nela.
Num texto argumentativo, distinguem-se três componentes: a tese, os argumentos e as estratégias argumentativas.
TESE, ou proposição, é a ideia que defendemos, necessariamente polêmica, pois a argumentação implica divergência de opinião.
A palavra ARGUMENTO tem uma origem curiosa: vem do latim ARGUMENTUM, que tem o tema ARGU , cujo sentido primeiro é "fazer brilhar", "iluminar", a mesma raiz de "argênteo", "argúcia", "arguto".
Os argumentos de um texto são facilmente localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta por quê? (Ex.: o autor é contra a pena de morte (tese). Porque ... (argumentos).
As ESTRATÉGIAS não se confundem com os ARGUMENTOS. Esses, como se disse, respondem à pergunta por quê (o autor defende uma tese tal PORQUE ... - e aí vêm os argumentos).
ESTRATÉGIAS argumentativas são todos os recursos (verbais e não-verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte, para impressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi-lo mais facilmente, para gerar credibilidade, etc.
Os exemplos a seguir poderão dar melhor idéia acerca do que estamos falando.
A CLAREZA do texto - para citar um primeiro exemplo - é uma estratégia argumentativa na medida em que, em sendo claro, o leitor/ouvinte poderá entender, e entendo, poderá concordar com o que está sendo exposto. Portanto, para conquistar o leitor/ouvinte, quem fala ou escreve vai procurar por todos os meios ser claro, isto é, utilizar-se da ESTRATÉGIA da clareza. A CLAREZA não é, pois, um argumento, mas é um meio (estratégia) imprescindível, para obter adesão das mentes, dos espíritos.
O emprego da LINGUAGEM CULTA FORMAL
deve ser visto como algo muito es-tra-té-gi-co em muitos tipos de texto. Com
tal emprego, afirmamos nossa autoridade (= "Eu sei escrever. Eu domino a
língua! Eu sou culto!") e com isso reforçamos, damos maior credibilidade
ao nosso texto. Imagine, estão, um advogado escrevendo mal ... ("Ele não
sabe nem escrever! Seus conhecimentos jurídicos também devem ser
precários!").
Em outros contextos, o emprego da LINGUAGEM FORMAL e até mesmo POPULAR poderá ser estratégico, pois, com isso, consegue-se mais facilmente atingir o ouvinte/leitor de classes menos favorecidas.
O TÍTULO ou o INÍCIO do texto (escrito/falado) devem ser utilizados como estratégias ... como estratégia para captar a atenção do ouvinte/leitor imediatamente. De nada valem nossos argumentos se não são ouvidos/lidos.
A utilização de vários argumentos, sua disposição ao longo do texto, o ataque às fontes adversárias, as antecipações ou prolepses (quando o escritor/orador prevê a argumentação do adversário e responde-a), a qualificação das fontes, a utilização da ironia, da linguagem agressiva, da repetição, das perguntas retóricas, das exclamações, etc. são alguns outros exemplos de estratégias.
Dissertação
Dissertação
é um trabalho acadêmico baseado em estudo teórico de natureza reflexiva, que
consiste na ordenação de ideias sobre um determinado tema. A característica
básica da dissertação é o cunho reflexivo-teórico.
Dissertar
é debater, discutir, questionar, expressar ponto de vista, qualquer que seja. É
desenvolver um raciocínio, desenvolver argumentos que fundamentem posições. É
polemizar, inclusive, com opiniões e com argumentos contrários aos nossos. É
estabelecer relações de causa e consequência, é dar exemplos, é tirar
conclusões, é apresentar um texto com organização lógica das ideias.
Basicamente um texto em que o autor mostra as suas ideias.
Tipos
de dissertação
A dissertação consiste na explanação
ou discussão de conceitos ou ideias. Ela pode ser expositiva ou argumentativa.
Na dissertação expositiva, o autor
apresenta uma ideia, uma doutrina e expõe o que ele ou outros pensam sobre o
tema ou assunto. Geralmente faz a amplificação da ideia central, demonstrando
sua natureza, antecedentes, causas próximas ou remotas, consequências ou
exemplos.
Na dissertação argumentativa, o autor
quer provar a veracidade ou falsidade de ideias; pretende convencer o leitor ou
ouvinte, dirige-se à sua inteligência através de argumentos, de provas
evidentes, de testemunhas.
Se a dissertação é objetiva, o
tratamento dado ao texto é impessoal, com argumentação lógica partindo de
elementos gerais e indo para os particulares. Na dissertação subjetiva, o autor
dirige-se não só à inteligência, mas também, de modo pessoal, aos sentimentos
de quem ele pretende convencer. Além da emoção, às vezes há ironia, sarcasmo,
ridículo.
São partes importantes
da dissertação a introdução, o desenvolvimento e a conclusão.
Exemplos
de dissertação
Através
de dois textos distintos, a dissertação pode ser exemplificada:
"A fim de aprender a finalidade e
o sentido da vida, é preciso amar a vida por ela mesma, inteiramente;
mergulhar, por assim dizer, no redemoinho da vida. Somente então apreender-se-á
o sentido da vida, compreender-se-á para que se vive. A vida é algo que, ao
contrário de tudo criado pelo homem, não necessita de teoria, quem aprende a
prática da vida também assimila sua teoria". (Wilhelm Reich. A Revolução Sexual. Rio de Janeiro, Zahar, 1974).
O texto expõe um ponto-de-vista
(finalidade da vida é viver) sobre um assunto-tema (no caso, o sentido e a
finalidade da vida). Além de apresentar um ponto-de-vista do autor, o texto faz
também a defesa deste ponto-de-vista: onde ele defende os motivos que
fundamentam a opinião de que a prática intensa de viver é que revela o sentido
da vida.
"Eu disse uma vez que escrever é
uma maldição. (...) Hoje repito: é uma maldição, mas uma maldição que salva.
Não estou me referindo a escrever para jornal. Mas escrever aquilo que
eventualmente pode se transformar num conto ou num romance. É uma maldição
porque obriga e arrasta como um vício penoso do qual é quase impossível se
livrar, pois nada o substitui. E é uma salvação. Salva a alma presa, salva a
pessoa que se sente inútil, salva o dia que se vive e que nunca se entende a
menos que se escreva. Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o
irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas
vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada...
Lembrando-me agora com saudade da dor de escrever livros." (Clarice
Lispector. A Descoberta do Mundo).
Partes que compõem a dissertação
Introdução - deve ser breve e anunciar ao leitor
o que será desenvolvido no texto, acompanhado da opinião.
Desenvolvimento - é o corpo do texto; aqui serão
utilizadas as ideias propostas na introdução, defendendo o ponto-de-vista
através de argumentos.
Conclusão - serve para finalizar o que foi
exposto; deve ser breve e não pode conter nenhuma ideia nova e nenhum exemplo;
trata-se de um resumo da dissertação como um todo. Ela pode ser feita de duas
maneiras:
Síntese - resumo do que foi dito durante o
texto.
Sugestão - proposta para que o problema
discutido seja solucionado.
A
todo instante nos deparamos com situações que exigem a exposição de ideias,
argumentos e pontos de vista; muitas vezes precisamos expor aquilo que pensamos
sobre determinado assunto. Em muitas
situações somos induzidos a organizar nossos pensamentos e ideias e utilizar a
linguagem para dissertar.
Falando um pouco sobre dissertação
Dissertar é o mesmo que desenvolver, explicar um assunto,
através da organização de palavras, frases e textos, apresentar ideias,
desenvolver raciocínio, analisar contextos, dados e fatos. Neste momento temos
a oportunidade de discutir, argumentar e defender o que pensamos através da
fundamentação, justificação, explicação, persuasão e de provas.
A elaboração de textos dissertativos requer domínio da modalidade escrita da língua, desde a questão ortográfica ao uso de um vocabulário preciso e de construções sintáticas organizadas, além de conhecimento do assunto que se vai abordar, e posição crítica (pessoal) diante desse assunto.
A atividade dissertadora desenvolve o gosto de pensar e escrever o que pensa, de questionar o mundo, de procurar entender e transformar a realidade.
COERÊNCIA,
COESÃO E CLAREZA
TEXTO 1
Raimundo
foi a uma festa, numa boate badalada de Búzios, com uma linda mulher, que não
era sua namorada.
Temendo ser descoberto, olhava ao
seu redor o tempo todo.
Lá pelas tantas, faltou energia e
todo o bairro, inclusive a boate, ficou
às escuras. Todo mundo reclamou, menos Raimundo, que sentiu-se protegido pela
escuridão. Tudo estava um breu, ninguém sabia quem era quem.
De
repente, Raiumundo ficou pálido, sua namorada acabara de entrar acompanhada de
duas amigas.
O texto acima apresenta uma incoerência: se tudo era um breu e ninguém via ninguém, como
ele pode ter visto a namorada com as duas amigas, logo que entraram?
COERÊNCIA
TEXTUAL, portanto, é a relação harmoniosa
entre os pensamentos expostos; refere-se, portanto, ao conteúdo do texto.
Para que o texto seja coerente é preciso que haja uma unidade, que todas as partes se
encaixem.
Para
que o texto acima pudesse ser
considerado coerente, os personagens poderiam se encontrar na saída ou a
energia poderia ter voltado. O que não pode é, no breu da boate, onde ninguém
via ninguém, Raimundo ver a namorada logo que entrou.
Imagine um grupo de pessoas montando um painel com o tema
HÁBITOS URBANOS e uma dessas pessoas sugerindo a fotografia de um garoto
andando à cavalo numa fazenda. Teríamos uma incoerêcia.
No caso da dissertação,
os argumentos apresentados para justificar sua tese precisam ser coerentes. Do
contrário, toda a tese será comprometida.
Exemplo
As
quotas universitárias para negros é uma forma de resgate histórico da
valorização de um grupo que foi proibido de frequentar escolas brasileiras num
dado momento da história. Assim, podemos dizer que a quota é discriminatória.
Aqui,
a conclusão está equivocada, levando-se em conta a ideia inicial. Temos,
portanto, um caso de incoerência.
COESÃO
Ligação entre as
ideias, as frases, o que é fundamental para o bom entendimento do texto.
Essa ligação precisa apresentar um sentido lógico,
coerente; para isso é preciso observar as relações semânticas existente entre
as palavras.
Para redigirmos um texto de boa qualidade, precisamos
conhecer os elementos de coesão textual, pois um texto coeso, com as ideias bem
arrumadas, nos permite compreendê-lo de modo satisfatório.
Para
dar coesão ao nosso texto, podemos utilizar
diversas palavras que funcionam como conectivos (elementos de ligação): conjunções, preposições, pronomes relativos
e advérbios.
EXEMPLO:
A liberação de gás carbônico na
atmosfera começou com a eclosão da
Revolução Industrial, há 200 anos, quando
as máquinas a vapor começaram a queimar
carvão como fonte de energia. Depois,
os motores a explosão, como o dos automóveis, foram alimentados com subprodutos
do petróleo. Esses combustíveis
resultam de grandes porções de florestas do passado, soterrados pelo movimento
incessante das placas tectônicas, que
formam a superfície da Terra. Assim
representam enormes estoques de gás carbônico. O corte e queima de florestas também vêm aumentando a
liberação de gás carbônico
atmosférico. (O Estado de São Paulo: 16/06/99)
CONJUNÇÕES
– estabelecem relações entre as orações ou entre palavras de uma mesma
categoria gramatical.
a) CAUSA – para
criar esta relação, podemos recorrer às conjunções (e locuções conjuntivas)
subordinativas adverbiais causais: porque, como, visto que, uma vez que, já
que; por causa de, devido a, em virtude de. Essas conjunções e expressões vão
indicar uma causa e uma conseqüência ao juntar os dois pensamentos.
Ex.: “Alguns projetos essenciais não são
votados porque temos
políticos omissos em relação à saúde da população.”
Causa:
Por que os projetos não são votados? Porque temos políticos omissos em relação
à saúde da população.
Conseqüência:
Projetos importantes para a
população não são votados.
b) CONSEQUÊNCIA
– Para apresentar um fato como consequência de outro, o mais prático é usarmos
conjunções subordinativas adverbiais consecutivas: que(depois de tão, tanto,
tal), de sorte que, de modo que, de maneira que, de forma que. Ouras expressões
indicadoras de consequência: por isso, assim, como resultado, por conseqüência.
c) COMPARAÇÕES
– Em redações, é muito comum confrontarmos assuntos, dados, fatos, ideias,
comparando peculiaridades entre eles. Para tal procedimento, utilizamos,
normalmente, conjunções subordinativas adverbiais comparativas: assim como, de
modo semelhante, igualmente, do mesmo modo, por sua vez, tal qual, seja...
seja, diferentemente.
Ex.:
“O Brasil, de modo semelhante aos
demais países do Terceiro Mundo, mantém uma política educacional pobre em todos
os níveis, se compararmos aos países europeus.”
CLAREZA
Se não usarmos adequadamente os elementos de ligação, o
texto não terá coesão. Consequentemente, também não teremos coerência e aí já
era. O texto estará completamente comprometido.
Outros fatores que podem comprometer a clareza do texto:
·
ambiguidade;
·
uso de períodos longos;
·
uso de palavras ou expressões de
difícil entendimento.
EX.:
O Colocador de Pronomes, conto de Monteiro Lobato. O
personagem principal usa um vocabulário artificialmente sofisticado, com
palavras incompreensíveis para a maioria
das pessoas.
No fragmento a seguir, o
personagem central dirige-se ao congresso solicitando a criação de uma lei
contra os que erram no uso do idioma:
-
Leis, Senhores, leis de Dracão, que digues sejam, e fossados, e alcáceres de
granito propostos à defensão do idioma. Mister sendo, a força restaure, que
mais o baraço merece quem conspurca o sacro patrimônio da sã verniculidade, que
quem ao semelhante a vida tira. Vede, Senhores, os pronomes, em que lazeira
jazem...
Como
observamos, rola aí uma linguagem exagerada, com muitas palavras raras ou em
desuso, e vários termos em ordem inversa. Assim, o personagem acaba caindo no
ridículo e todos riem dele.
AMBIGUIDADE
Ocorre
quando o leitor fica em dúvida diante de
mais de uma possibilidade de entendimento do que está escrito. Ocorre
ambiguidade, normalmente, por má colocação das palavras e por mau uso de
pronomes possessivos.
NARRAÇÃO
“O tempo não para.” (Cazuza)
Todos os dias, todas as horas acontecem coisas que nós
visualizamos e contamos para outra
pessoa, ou seja, narramos. Então, narrar é contar uma história (real ou
fictícia) da qual participamos ou que apenas observamos.
Quem conta? O narrador.
O quê? O fato, a ação. O enredo é o conjunto de fatos ou
circunstâncias que formam o texto (o tecido).
Quem? Os personagens.
Como? O modo como os fatos ou a ação aconteceram (enredo
/ fatos).
Quando? A época, o momento em que os fatos aconteceram –
tempo.
Onde? Em que lugar ou lugares os fatos aconteceram, o
espaço.
Por quê? O motivo, o que provocou os fatos.
Nem sempre todos os elementos aparecem num mesmo texto.
Agora, personagens, fatos e narrador sempre existirão no texto narrativo.
FOCO NARRATIVO
1ª
pessoa / narrador-personagem. Quando quem conta
também participa da história contada, ou seja, é um personagem.
3ª
pessoa / narrador-observador. Quando quem conta a
história não participa dela. Esse narrador, além de ser observador, pode também
ser onisciente, ou seja, aquele que tem ciência, conhecimento de tudo, capaz de
contar não só o que os personagens fazem, mas também o que pensam e sentem.
Quando
o narrador limita-se a contar os fatos sem expor seus sentimentos, ou seja,
quando ele não se envolve emocionalmente nos fatos, temos uma NARRAÇÃO OBJETIVA.
Quando ele se envolve emocionalmente, expondo seus
sentimentos em relação aos fatos, temos uma NARRAÇÃO SUBJETIVA.
TRAGÉDIA BRASILEIRA
Manuel
Bandeira
Misael, funcionário da
Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa – prostituída, com sífilis,
dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado
no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou
logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um
tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael
mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General
Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói,
Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio,
Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de
sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la
caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
DISCURSO E TEXTO
Todas
as classes sociais deixam as marcas de sua visão de mundo, dos seus valores e
crenças, ou seja, de sua IDEOLOGIA, no uso que fazem da linguagem.
De
acordo com o dicionário HOUAISS, IDEOLOGIA é um sistema de ideias (crenças,
tradições, princípios e mitos) interdependentes, sustentadas por um grupo
social de qualquer natureza ou dimensão, as quais refletem, racionalizam e
defendem os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes
morais, religiosos, políticos ou econômicos.
Como
seres humanos, recorremos à linguagem para expressar nossos sentimentos,
opiniões, desejos. É por meio dela que interpretamos a realidade que nos cerca.
Essa interpretação, porém, não é totalmente livre. Ela é construída
historicamente a partir de uma série de filtros ideológicos que todos nós
temos, mesmo sem nos darmos conta de sua existência.
Esses
filtros constituem uma formação ideológica, ou seja, um conjunto de valores e
crenças a partir dos quais julgamos a realidade na qual estamos inseridos.
Ao longo da história da Música
Popular Brasileira, muitos compositores procuraram definir, em suas letras, por
exemplo, um perfil da mulher ideal.
AI QUE SAUDADES DE
AMÉLIA
(Ataulfo
Alves e Mário Lago)
Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Nem vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo o que você vê, você quer
Ai, meu Deus, que saudades de Amélia
Aquilo sim é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: “Meu filho, o que se há de fazer!”
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade.
EMÍLIA
(Wilson Batista e Haroldo Lobo)
Eu quero uma mulher que saiba lavar e
cozinhar
Que, de manhã cedo, me acorde na hora de
trabalhar
Só existe uma e sem ela eu não vivo em paz
Emília, Emília, Emília, eu não posso mais.
Ninguém sabe igual a ela
Preparar o meu café
Não desfazendo das outras
Emília é mulher
Papai do céu é quem sabe
A falta que ela me faz
Emília, Emília, Emília, eu não posso mais...
DANDARA
(Ivan
Lins e Francisco Bosco)
Ela
tem nome de mulher guerreira
E
se veste de um jeito que só ela
Ela
vive entre o aqui e o alheio
As
meninas não gostam muito dela
Ela
tem um tribal no tornozelo
E
na nuca adormece uma serpente
O
que faz ela ser quase um segredo
É
o ser ela assim, tão transparente
Ela
é livre e ser livre a faz brilhar
Ela
é filha da terra, céu e mar
Dandara
Ela
faz mechas claras nos cabelos
E
caminha na areia pelo raso
Eu
procuro saber os seus roteiros
Pra
fingir que a encontro por acaso
Ela
fala num celular vermelho
Com
amigos e com seu namorado
Ela
tem perto dela o mundo inteiro
E
à volta outro mundo, admirado
Ela
é livre e ser livre a faz brilhar
Ela
é filha da terra, céu e mar
Dandara
E SE TENTARMOS ENTENDER MELHOR OS TEXTOS COM
AJUDA DA FILOSOFIA?
A palavra FILOSOFIA
Philo –
amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais;
Shofia –
sabedoria.
Filosofia,
portanto, é uma palavra de origem grega, que significa: amizade pela sabedoria,
amor e respeito pelo saber. Filósofo
é o que ama a sabedoria, que tem amizade pelo saber, que deseja o conhecimento.
A Filosofia surge quando alguns
gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as
explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar
respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os
acontecimentos e as coisas da Natureza, os acontecimentos e as ações humanas
podem ser conhecidos pela razão humana, ou seja, quando o homem percebe que a
verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso que precisasse
ser revelado por divindades a alguns escolhidos, mas que, ao contrário, podia
ser conhecida por todos, através da razão, que é a mesma em todos.
Nós, seres humanos, somos seres
inquietos, curiosos, desejosos de informações. Foi dessas inquietações, dessas
perguntas e da busca de respostas que nasceu a Filosofia.
1. Por
que os seres nascem e morrem?
2. Por
que tudo muda?
3. Por
que adoecemos
4. De
onde vêm os seres?
5. Para
onde vão, quando desaparecem?
6. Por
que tudo parece repetir-se: depois do dia, a noite; depois da noite, o dia?
Ouvindo a voz dos
poetas
Os
poetas costumam exprimir o que chamamos de “sentimento do mundo”, o sentimento da velhice e da juventude, da
grandeza e da pequeneza dos mortais, da efemeridade das coisas.
“E
não te esqueças, meu coração,
que as coisas humanas apenas
mudanças incertas são.” (Arquíloco,
poeta grego)
“Choremos
a juventude e a velhice também,
pois a primeira foge
e a segunda sempre vem.” (Teógnis, poeta grego)
“A
glória dos mortais num só dia cresce,
mas basta um só dia, contrário e
funesto,
para que o destino, impiedoso, num
gesto
a
lance por terra e ela, súbito, fenece.”
(Píndaro, poeta grego)
Mas
não só a vida e os feitos dos humanos são breves e frágeis. Os poetas também
exprimem o sentimento de que o mundo é feito por mudanças e repetições
intermináveis.
“
O vento, a chuva, o sol, o frio
Tudo vai e vem, tudo vem e vai.”
(Orides Fontela – poetisa brasileira)
“Nada
do que foi será / de novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa / Tudo sempre passará
A vida vem em ondas / Como o mar
Num indo e vindo infinito / Tudo o
que se vê não é
Igual ao que a gente viu há um
segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo /
Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo agora / Há
tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre / Como uma onda
no mar!”
(Lulu
Santos)
DEMOCRACIA E CIDADANIA
A
democracia grega possuía,
entre outras, duas características
fundamentais para o futuro da Filosofia,
para a liberdade de pensar.
Em
primeiro lugar, a democracia
afirmava a igualdade de todos
os homens adultos perante as leis
e o direito de todos de participar diretamente do governo da cidade.
Em
segundo lugar, e como consequência, a democracia,
sendo direta e não por
eleição de representantes, garantia a todos a participação no governo, e os que
dele participavam tinham o direito de exprimir, discutir e defender em público
suas opiniões sobre as
decisões que a cidade deveria tomar. Surgia, assim, a figura política do cidadão.
OBS.: É
interessante observar que a cidadania, na concepção grega, excluía o que
chamavam de dependentes: mulheres, escravos, crianças, velhos e estrangeiros.
Mulheres de Atenas – Chico Buarque
Mirem-se
no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando
amadas se perfumam
Se
banham com leite, se arrumam
Suas
melenas
Quando
instigadas não choram
Se
ajoelham, pedem, imploram
Mais
duras penas
Cadenas
Mirem-se
no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem
por seus maridos, poder e força de Atenas
Quando
eles embarcam, soldados,
Elas
tecem longos bordados,
mil
quarentenas
E
quando eles voltam sedentos
querem
arrancar, violentos,
carícias
plenas,
obcenas.
Mirem-se
no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se
pros seus maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando
eles se entopem de vinho
Costumam
buscar o carinho
De
outras falenas
Mas
no fim da noite, aos pedaços
Quase
sempre voltam pros braços
De
suas pequenas
Helenas.
Mirem-se
no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram
pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas
não têm gosto ou vontade
Nem
defeito nem qualidade
Têm
medo apenas
Não
têm sonhos, só tem presságios
O
seu homem, mares, naufrágios
Lindas
sirenas
Morenas.
Mirem-se
no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem
por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As
jovens viúvas marcadas
E
as gestantes abandonadas
Não
fazem cenas
Vestem-se
de negro, se encolhem
Se
conformam e se recolhem
Às
suas novenas
Serenas
Mirem-se
no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam
por seus maridos, orgulho e raça de Atenas.
APRENDENDO A PENSAR
Sócrates,
considerado o pai da Filosofia, andava pelas ruas e praças de Atenas, na
Grécia, pelo mercado e pela assembleia
perguntando a cada pessoa:
·
Você sabe o que é isso que está
dizendo?
·
Você sabe o que é isso em que você
acredita?
·
Você diz que a coragem é importante,
mas o que é a coragem?
·
Você acredita que a justiça é
importante, mas o que é a justiça?
·
Você diz que ama as coisas e as
pessoas belas, mas o que é a beleza?
·
Você crê que seus amigos são a melhor
coisa que você tem, mas o que é a amizade?
As
pessoas esperavam que o filósofo Sócrates soubesse as respostas, mas para
frustração de todos, ele dizia:
·
“Eu também não sei, por isso estou
perguntando.”
“Sei
que nada sei.”
A consciência da própria
ignorância é o começo da Filosofia, é o ponto de partida para começarmos a
pensar.
OPINIÃO E CONCEITO
Qual a diferença entre uma opinião e um conceito? A
opinião varia de pessoa para pessoa, de lugar para lugar, de época para época.
É instável, mutável, depende de cada um, de seus gostos e preferências. O
conceito, ao contrário, é uma verdade universal e necessária que o pensamento descobre.
Metamorfose
Ambulante - Raul Seixas
Prefiro ser essa
metamorfose ambulante
Eu prefiro ser essa
metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o
amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
É chato chegar a um objetivo num instante
Eu quero viver essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Hoje eu sou estrela amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
Eu vou lhes dizer aquilo tudo que eu lhes disse antes
Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
É chato chegar a um objetivo num instante
Eu quero viver essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Hoje eu sou estrela amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
Eu vou lhes dizer aquilo tudo que eu lhes disse antes
Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela
velha opinião formada sobre tudo.
IGNORÂNCIA, INCERTEZA
E INSEGURANÇA
Ignorar é
não saber alguma coisa. A ignorância
pode ser tão profunda que sequer a percebemos ou a sentimos, isto é, não
sabemos que não sabemos, não sabemos que ignoramos.
Em
geral, o estado de ignorância se mantém em nós enquanto as crenças e opiniões
que possuímos para viver e agir no mundo se conservam como eficazes e úteis, de
modo que não temos nenhum motivo para duvidar delas, nenhum motivo para
desconfiar delas e, consequentemente, achamos que sabemos tudo o que há para
saber.
A
incerteza é diferente da ignorância
porque, na incerteza, descobrimos que somos ignorantes, que nossas crenças e
opiniões parecem não dar conta da realidade, que há falhas naquilo em que
acreditamos e que, durante muito tempo, nos serviu como referência para pensar
e agir.
Na
incerteza não sabemos o que pensar,
o que dizer ou o que fazer em certas situações ou diante de certas coisas,
pessoas, fatos, etc.
Outras
vezes, estamos confiantes e seguros e, de repente, vemos ou ouvimos alguma coisa que nos enchem
de espanto e de admiração, não sabemos o que pensar ou o que fazer com a
novidade porque as crenças, opiniões e ideias que possuímos não dão conta do
novo. O espanto e a admiração, assim como antes a dúvida e a perplexidade, nos
fazem querer sair do estado de insegurança
ou de encantamento, nos fazem perceber nossa ignorância e criam o desejo de
superar a incerteza. Quando isso acontece, estamos vivendo a chamada busca da verdade. O desejo da verdade
aparece muito cedo nos seres humanos como desejo de confiar nas coisas e nas
pessoas. A criança é muito sensível à mentira dos adultos, pois a mentira é diferente do “de mentira”, isto é, a mentira é diferente da imaginação e a
criança se sente ferida, magoada, angustiada quando o adulto lhe diz uma
mentira, porque, quando isso acontece, quebra a relação de confiança e de
segurança.
PAI – Fábio Júnior
Pai,
pode ser que daqui a algum tempo
Haja
tempo pra gente ser mais
Muito mais que dois grandes amigos
Pai
e filho, talvez
Pai,
pode ser que daqui você sinta
Qualquer
coisa entre esses 20 ou 30
Longos
anos em busca de paz
Pai,
pode crer, eu tô bem
Eu
vou indo
Tô
tentando, vivendo e pedindo
Com
loucura pra você renascer
Pai,
eu não faço questão de ser tudo
Só
não quero e não vou ficar mudo
Pra
falar de amor pra você
Pai,
senta aqui que o jantar tá na mesa
Fala
um pouco, tua voz tá tão presa
Nos
ensina esse jogo da vida
Onde
a vida só paga pra ver
Pai...
me perdoe essa insegurança
É
que eu não sou mais aquela criança
Que
um dia morrendo de medo
Nos
teus braços você fez segredo
Nos
teus passos você foi mais eu, eu
Pai,
eu cresci e não houve outro jeito
Quero
só recostar no teu peito
Pra
pedir pra você ir lá em casa
E
brincar de vovô com o meu filho
No
tapete da sala de estar
Pai,
você foi meu herói, meu bandido
Hoje
é mais, muito mais que um amigo
Nem
você nem ninguém tá sozinho
Você
faz parte desse caminho
Que
hoje eu sigo em paz / Pai, pai, paz.
A MEMÓRIA: lembrança e identidade do Eu
A
memória é uma evocação do passado. É
a capacidade humana para reter e guardar o tempo que se foi, salvando-o da
perda total. A lembrança conserva aquilo que se foi e não retornará
jamais.
“Ó
que saudade que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais.” (Casimiro
de Abreu)
Para
alguns filósofos, a memória é a garantia de nossa própria identidade, o que nos
permite dizer “eu” reunindo tudo o
que fomos e fizemos a tudo o que somos e fazemos.
Os
antigos gregos consideravam a memória uma identidade sobrenatural ou divina:
era a deusa Mnemosyne, mãe das Musas, que protegem as
Artes e a História. A deusa Memória dava aos poetas e adivinhos o poder de
voltar ao passado e de lembrá-lo para a coletividade. Tinha o poder de conceder
imortalidade aos mortais, pois quando o artista ou o historiador registram em
suas obras a fisionomia, os gestos, os atos, os feitos e as palavras de um
humano, este nunca será esquecido e, por isso, não morrerá jamais.
DETALHES – Roberto Carlos
Não
adianta nem tentar me esquecer
Durante
muito tempo em sua vida eu vou viver
Detalhes
tão pequenos de nós dois
São
coisas muito grandes pra esquecer
E
a toda hora vão estar presentes
Você
vai ver
Se
um outro cabeludo aparecer na sua rua
E
isso lhe trouxer saudade minha
A
culpa é sua
O
ronco barulhento do seu carro
A
velha calça desbotada ou coisa assim
Imediatamente você vai lembrar de mim
Eu
sei que um outro deve estar falando
Ao
seu ouvido
Palavras
de amor como eu falei
Mas
eu duvido
Duvido
que ele tenha tanto amor
E
até os erros do meu português ruim
E
nessa hora você vai lembrar de mim
A
noite envolvida no silêncio do seu quarto
Antes
de dormir você procura o meu retrato
Mas
da moldura não sou quem lhe sorrir
Mas
você ver o meu sorriso mesmo assim
E
tudo isso vai fazer você lembrar de mim
Se
alguém tocar seu corpo como eu
Não
diga nada
Não
vá dizer meu nome sem querer a pessoa errada
Pensando
ter amor nesse momento
Desesperada
você tenta até o fim
E
até nesse momento você vai lembrar de mim
Eu
sei que esses detalhes vão sumir na longa estrada
Do
tempo que transforma todo amor em quase nada
Mas
quase também é mais um detalhe
Um
grande amor não vai morrer assim
Por
isso de vez em quando você vai
Lembrar
de mim
Não
adianta nem tentar me esquecer
Durante
muito tempo em sua vida eu vou viver...
PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO
Muitas vezes, passamos horas matutando, cismando, querendo
compreender alguma coisa que nos escapa. Fazemos nossas atividades de todo dia,
mas parecemos distraídos porque nossa atenção está concentrada noutra parte,
naquilo que estamos querendo compreender e não conseguimos. Cansados, paramos
de cismar e de dar atenção ao assunto.
De
repente, com susto e alegria, quase gritamos: “Entendi!” Sentimos o mesmo que
quando completamos um quebra-cabeça, todas as peças em seus devidos lugares, a
figura bem visível diante de nós.
Outras
vezes, assistindo a uma aula, lendo um
livro, fazendo um trabalho, resolvendo um problema no computador, vamos
acompanhando passo a passo as ideias, os encadeamentos do raciocínio, e ao
término temos consciência de que aprendemos alguma coisa que não sabíamos.
Nas
duas situações acima, tivemos uma experiência de pensamento.
1.
“Que
falta de imaginação!”
2.
“Por
favor, use a sua imaginação!”
3.
“Cuidado!
Ela tem muita imaginação!”
4.
“Não
comece a imaginar coisas!”
Nas
frases 1 e 2, a imaginação é
tomada como algo positivo, cuja falta ou ausência é criticada. Imaginar, nesses
casos, aparece como capacidade mais alargada para pensar, para encontrar
soluções inteligentes para algum problema, para perceber o sentido de alguma
coisa que não está muito evidente.
Nas
frases 3 e 4, a imaginação é
tomada como risco de irrealidade, invencionice, mentira, exagero, excesso.
Nesses casos, imaginar é inventar ou exagerar, perder o pé da realidade,
assumindo, portanto, um sentido bem diferente do anterior.
A
imaginação (capacidade de formar imagens), surge, assim, como algo impreciso,
situada entre dois tipos de invenção: criação inteligente e inovadora, de um
lado; exagero, invencionice, mentira, de outro. No primeiro caso, ela faz aparecer o que não existia e mostra
ser possível algo que não existe.
No
segundo caso, ela é incapaz de reproduzir o existente ou o acontecido.
SERÁ – Legião Urbana
Tire
suas mãos de mim
Eu
não pertenço a você
Não
é me dominando assim
Que
você vai me entender
Eu
posso estar sozinho
Mas
eu sei muito bem aonde estou
Você
pode até duvidar
É
só que isso não é amor
Será
só imaginação?
Será
que nada vai acontecer?
Será
que é tudo isso em vão?
Será
que vamos conseguir vencer?
Nos
perderemos entre monstros
Da
nossa própria criação
Serão
noites inteiras
Talvez
por medo da escuridão
Ficaremos
acordados
Imaginando
alguma solução
Pr’á
que esse nosso egoísmo
Não
destrua nosso coração
Brigar
p’rá que
Se
é sem querer
Quem
é que vai nos proteger?
Será
que vamos ter
Que
responder pelos erros a mais
Eu
e você?
SENSO
COMUM X
CIÊNCIA
Senso comum é um conjunto de opiniões aceitas, num grupo,
em determinada época ou região que se passa de uma geração para outra sem
nenhuma prova científica. Se manifesta através de provérbios populares, de
crendices e de afirmações não confirmadas pela ciência.
·
Onde há fumaça, há fogo;
·
Quem tudo quer tudo perde;
·
Dize-me com quem andas e te direi quem
és;
·
A posição dos astros determina o
destino das pessoas (horóscopo);
·
Mulher menstruada não deve tomar banho
frio;
·
Ingerir sal quando se tem tontura é
bom para a pressão;
·
Mulher assanhada quer ser estuprada;
·
Manga com leite faz mal;
Por
não compreenderem o que é ciência, muitas pessoas tendem a confundi-la com
magia, ideia alimentada, inclusive, em alguns filmes. Também costumam projetar
nas coisas ou no mundo sentimentos de angústia e de medo diante do
desconhecido. Assim, durante a Idade Média, as pessoas viam o demônio em toda
parte e, hoje, enxergam discos voadores no espaço.
Muitas
vezes, o senso comum acaba criando determinados preconceitos.
Ao
contrário do senso comum, a atitude
científica desconfia da
veracidade de nossas certezas, de nossa adesão imediata às coisas, da ausência
de crítica e da falta de curiosidade. Por isso, ali onde o senso comum vê coisas, fatos e acontecimentos, a atitude científica vê problemas
e obstáculos, aparências que precisam ser explicadas e, em certos casos,
afastadas, desmentidas. Procura mostrar que o maravilhoso, o extraordinário ou
o “milagroso” é um caso particular do que é regular, normal, é uma exceção.
Assim, um eclipse, um terremoto, um furacão, embora excepcionais, obedecem às
leis da Física. A atitude científica procura, desta forma, apresentar
explicações racionais, claras, simples e verdadeiras para os fatos, opondo-se
ao espetacular, ao mágico e ao fantástico.
INDIOS – Renato Russo
Quem me dera, ao menos uma vez,
Ter de volta todo o ouro que
entreguei
A quem conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que
eu não tinha.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Esquecer que acreditei que era por
brincadeira
Que se cortava sempre um
pano-de-chão
De linho nobre e pura ceda.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue
entender:
Que o que aconteceu ainda está por
vir
E o futuro não é mais como era antigamente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Provar que quem tem mais do que
precisa ter
Quase sempre se convence que não tem
o bastante
E fala demais por não ter nada a dizer.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Que o mais simples fosse visto como
o mais importante,
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como um só Deus ao mesmo
tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por
vocês –
É
só maldade então, deixar um Deus tão triste.
Eu quis o perigo e até sangrei
sozinho.
Entenda – assim pude trazer você de
volta pra mim.
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura para o
meu vício
De insistir nessa saudade que eu
sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Acreditar por um instante em tudo
que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Fazer com que o mundo saiba que seu
nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Como a mais bela tribo, dos mais
belos índios,
Não ser atacado por ser inocente.
Eu quis o perigo e até sangrei
sozinho.
Entenda – assim pude trazer você de
volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura para o
meu vício
De insistir nessa saudade que eu
sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Nos deram espelhos e vimos um mundo
doente –
Tentei chorar e não consegui.
CIÊNCIA
E CIÊNCIAS
Ciência,
no singular, refere-se a um modo e a um ideal de conhecimento. Ciências, no plural, refere-se às
diferentes maneiras de realização do ideal científico, de acordo com os
diferentes fatos investigados e os diferentes métodos empregados.
A MATEMÁTICA
A
matemática nasce de necessidades práticas: contar coisas e medir terrenos. Os
primeiros a desenvolverem modos de
contar foram os orientais e, particularmente, os fenícios, povo comerciante que
desenvolveu uma contabilidade, que daria origem a aritmética. Os primeiros a desenvolverem modos de medir foram os
egípcios, que precisavam, após cada cheia do rio Nilo, redistribuir as terras,
medindo os terrenos. Criaram a agrimensura, de onde viria a geometria.
Foram
os gregos que transformaram a arte de contar e de medir em ciências: a
aritmética e a geometria são as duas primeiras ciências matemáticas, definindo
o campo matemático como ciência da quantidade e do espaço, tendo por objetos
números, figuras, relações e proporções. Após os gregos, foram os pensadores
árabes que deram o impulso à matemática, descobrindo, entre outras coisas, o zero, desconhecido dos antigos.
AS CIÊNCIAS DA NATUREZA
A
ciência da natureza, desde seus inícios gregos, sempre afirmou que a natureza
segue leis naturais e necessárias, ou seja, sempre negou a existência do acaso
no mundo natural.
O
acaso sempre foi colocado sob
duas espécies de fatos:
1. Fatos cuja causa ainda permanece
desconhecida, mas virá a ser conhecida. Nesse caso o acaso é apenas uma forma de ignorância;
2.
Acontecimentos individuais. Exemplo: um vaso que cai sobre a cabeça de um
passante. Nesse caso, o acaso é
apenas uma ocorrência singular que não afeta as leis universais da
natureza.
As ciências biológicas ou ciências
da vida fazem parte das ciências da natureza.
AS CIÊNCIAS
HUMANAS
Embora
seja evidente que toda e qualquer ciência é humana, já que resulta da atividade
humana de conhecimento, a expressão ciências
humanas se refere àquelas ciências que tem o próprio ser humano como
objeto dos seus estudos.
1.
PSICOLOGIA
– estudo das estruturas, do desenvolvimento
das operações da mente humana (consciência, vontade, percepção,
linguagem, memória, imaginação, emoções), bem como do comportamento.
2.
SOCIOLOGIA
– estudo das estruturas sociais: origem e formação das sociedades, tipos de
organizações sociais, econômicas e políticas.
3.
ECONOMIA
– estudo das condições materiais (naturais e sociais) de produção e reprodução
da riqueza, de suas formas de distribuição, circulação e consumo.
4.
ANTROPOLOGIA-
estudo das estruturas ou formas
culturais em sua singularidade ou particularidade, isto é, como diferentes entre si por seus princípios
internos de funcionamento e transformação. A cultura é entendida como modo de
vida global de uma sociedade, incluindo: religião, formas de poder, formas do
parentesco, formas de comunicação, organização da vida econômica, artes,
técnicas, costumes, crenças, formas de pensamento e de comportamento...
5.
HISTÓRIA
– estudo da origem e do desenvolvimento das formações sociais em seus aspectos
econômicos, sociais, políticos e culturais, das transformações das sociedades e
comunidades como resultado e expressão de conflitos, lutas, contradições
internas.
6.
LINGUÍSTICA
– estudo das estruturas da linguagem como sistema dotado de princípios internos
de funcionamento e transformação e do uso da língua pelos falantes.
7.
PSICANÁLISE
– estudo da estrutura e do funcionamento do inconsciente e de suas relações com
o consciente, das neuroses e das psicoses.
Monte Castelo – Renato Russo
Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece.
Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.
É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É um não contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.
Estou acordado e todos dormem
Todos dormem, todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face.
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade.
Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.
ORIGEM E FINALIDADE DA RELIGIÃO
O
sagrado dá origem à religião,
enquanto a sociedade faz aparecer o poder teológico da autoridade religiosa.
O
sagrado dá significação ao espaço, ao tempo e aos seres que neles nascem, vivem
e morrem.
Principais finalidades da religião:
1. Proteger
os seres humanos contra o medo da natureza, nela encontrando forças benéficas,
contrapostas às maléficas e destruidoras;
2. Dar
aos humanos um acesso à verdade do mundo, encontrando explicações para a
origem, a forma, a vida e a morte de todos os seres e dos próprios humanos;
3. Oferecer
aos humanos a esperança de vida após a morte, de diferentes formas;
4. Oferecer
consolo aos aflitos, dando-lhes uma explicação para a dor, seja ela física ou
psíquica;
5. Garantir
o respeito às normas, às regras e aos valores
da moralidade estabelecida pela sociedade. Em geral, os valores morais
são estabelecidos pela própria religião,
sob a forma de mandamentos divinos, isto é, a religião reelabora as relações
sociais existentes como regras e normas, expressões da vontade dos deuses ou de
Deus, garantindo a obrigatoriedade da obediência a elas, sob pena de sanções
sobrenaturais.
Segundo
Marx, “a religião é o ópio do povo”. Com essa afirmação, ele pretende mostrar que
a religião (referindo-se ao judaísmo, ao cristianismo e ao islamismo, isto é,
as religiões da salvação) diminui a combatividade dos oprimidos e explorados, porque lhes
promete uma vida futura feliz. Na esperança de felicidade e justiça no outro mundo, os despossuídos,
explorados e humilhados deixam de combater as causas de suas misérias neste mundo.
A Cura – Lulu
Santos
Existirá,
em todo porto tremulará (se hasteará)
A
velha bandeira da vida
Acenderá
todo o farol iluminará
Uma
ponta de esperança
E
se virá, será quando menos se esperar
Da
onde ninguém imagina
Demolirá
toda certeza vã, não sobrará
Pedra
sobre pedra
Enquanto
isso, não nos custa insistir
Na
questão do desejo, não deixar se extinguir
Desafiando
de vez a noção
Na
qual se crê que o inferno é aqui
Existirá
E
toda raça então experimentará
Para
todo o mal, a cura.
CLARISSE
– Legião Urbana
Estou cansado
de ser vilipendiado, incompreendido e descartado
Quem diz que me entende nunca quis saber
Aquele menino foi internado numa clínica
Quem diz que me entende nunca quis saber
Aquele menino foi internado numa clínica
Dizem que por
falta de atenção dos amigos, das lembranças
Dos sonhos
que se configuram tristes e inertes
Como uma
ampulheta imóvel, não se mexe,
Não se move,
não trabalha
E Clarisse
está trancada no banheiro
E faz marcas no
seu corpo com seu pequeno canivete.
Deitada no
canto, seus tornozelos sangram
E a dor é
menor do que parece
Quando ela se
corta ela se esquece
Que é
impossível ter da vida calma e força
Viver em dor,
o que ninguém entende
Tentar ser
forte a todo e cada amanhecer
Uma de suas
amigas já se foi
Quando mais
uma ocorrência policial
Ninguém
entende, não me olhe assim
Com este
semblante de bom samaritano
Cumprindo o
seu dever, como se eu fosse doente
Como se toda
essa dor fosse diferente, ou inexistente
Nada existe
pra mim, não tente
Você não sabe
e não entende
E quando os
antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito
Clarisse sabe
que a loucura está presente
E sente a
essência estranha do que é a morte
Mas esse
vazio ela conhece muito bem
De quando em
quando é um novo tratamento
Mas o mundo
continua sempre o mesmo
O medo de
voltar pra casa à noite
Os homens que
se esfregam nojentos
No caminho de
ida e volta da escola
A falta de
esperança e o tormento
De saber que
nada é justo e pouco é certo
E que estamos
destruindo o futuro
E que a
maldade anda sempre aqui por perto
A violência e
a injustiça que existe
Contra todas
as meninas e mulheres
Um mundo onde
a verdade é o avesso
E a alegria
já não tem mais endereço
Clarisse está
trancada no seu quarto
Com seus discos
e seus livros, seu cansaço
Eu sou um
pássaro
Me trancam na
gaiola
E esperam que
eu cante como antes
Eu sou um
pássaro
Me trancam na
gaiola
Mas um dia eu
consigo resistir
E vou voar
pelo caminho mais bonito
Clarisse só
tem quatorze anos
O UNIVERSO DAS ARTES
O
meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho
o costume de andar pelas estradas
Olhando
para a direita e para a esquerda,
E
de vez em quando olhando para trás...
E
o que vejo a cada momento
É
aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E
eu sei dar por isso muito bem...
Sei
ter o pasmo essencial
Que
tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse
que nascera deveras...
Sinto-me
nascido a cada momento
Para
a eterna novidade do mundo.
(Alberto Caeiro /
Fernando Pessoa)
A
expressão “eterna novidade do mundo” refere-se a junção do eterno e do novo, o que é aparentemente
impossível, e essa unidade é feita pelos e para os humanos. É o que chamamos de
arte.
A
arte é, assim, a busca do novo. É dessa
forma que Claude Monet pinta
várias vezes a mesma catedral e, em
cada tela, nasce uma nova catedral.
A
obra de arte dá a ver, a ouvir, a sentir, a pensar, a dizer. Nela e por ela, a
realidade se revela como se jamais a tivéssemos visto, ouvido, dito, sentido ou
pensado. É a experiência de nascer todo dia para a “eterna novidade do mundo”.
O
que há de espantoso nas artes é que elas realizam o desvendamento do mundo
recriando o mundo noutra dimensão e de
tal maneira que a realidade não está aquém e nem na obra, mas é a própria obra
de arte.
Talvez
a melhor comprovação disso seja a música. Feita de sons, será destruída se
tentarmos ouvir cada um deles ou reproduzi-los como no toque de um corpo de
cristal ou de metal. A música, pela harmonia, pela proporção, pela combinação
de sons, pelo ritmo e pela percussão, cria um mundo sonoro que só existe por
ela, nela e que é ela própria. Recolhe a sonoridade do mundo e de nossa
percepção auditiva, mas reinventa o som e a audição como se estes jamais
houvessem existido, tornando o mundo eternamente novo.
ESTÉTICA
A
noção de estética, formulada e
desenvolvida nos séculos XVIII e XIX, pressupunha:
1. Que a arte é produto da sensibilidade, da imaginação e da
inspiração do artista e que sua finalidade é a contemplação;
2. Que a contemplação, do lado do
artista, é a busca do belo (e não do útil, nem do agradável ou prazeroso) e, do
lado do público, é a avaliação ou o julgamento do valor de beleza atingido pela
obra;
3. Que o belo é diferente do
verdadeiro.
De fato, o verdadeiro é o que é
conhecido pelo intelecto por meio de demonstrações e provas. O belo, ao
contrário, tem a peculiaridade de possuir um valor universal, embora a obra de
arte seja essencialmente particular, ou seja, não dá pra comparar com outra.
Quando leio um poema, escuto uma música ou observo um quadro, posso dizer que
são belos ou que ali está a beleza, embora esteja diante de algo único e
incomparável.
Leve – Zeppa / Jorge Vercilo
Levitar dos colibris
Graciosamente breve
Como pode tão feliz?
Censurar, ninguém se atreve
Não precisam inventar
Qualquer coisa que me eleve,
Basta teu sorriso pra dispensar
Asa-delta e ultra-leve
Se carece de definição: me sinto
leve
Céu azul na bolha de sabão que o
vento leve
Como folha, o coração
Ao te refletir, um espelho em si
Vira
quadro, vira arte
Salvador Dali não ousou imaginar-te
E eu me sinto flutuar,
Maravilha que me elege
Feito pipa pelo ar, mar azul na
areia bege
Como brisa a me beijar
Teu carinho me protege
Me abraça, me derrete ao brincar
Como o mar no iceberg
Com você não tem explicação
Me sinto leve
Céu azul na bolha de sabão
E o vento rege como folha, o coração
Ao te refletir, um espelho em si
Vira quadro, vira arte
Salvador Dali não ousou jamais
imaginar-te
ESTA
APOSTILA CONTÉM TRANSCRIÇÕES DE:
1. Professora Darcília Simões
2. Professora Marilena Chaui
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