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INTRODUÇÃO A TEOLOGIA LATINO-AMERICANA PARA O CURSO BÁSICO

A TEOLOGIA LATINO-AMERICANA
A Teologia Latino-americana é uma nova maneira de fazer teologia. Ela se apresenta em duas vertentes: a TdL – Teologia da Libertação e a TMI – Teologia da Missão Integral. A Teologia da Libertação e a Teologia da Missão Integral revelam sua novidade no fato de serem teologias contextualizadas, portanto referem-se a um ambiente sócio-histórico e cultural específico, embora não seja exclusiva  a eles. Como pensamento da fé, a partir de uma determinada realidade de vida, a TLA é também universal no sentido de que contribui para a ordenação da vida no mundo como saber da fé. Seu diferencial está relacionado ao método que utilizam em sua consecução. As duas formas de teologia utilizam o círculo hermenêutico, porém, com variações devidas às tradições cristãs que representam e o objetivo que desejam alcançar. Coincidem, em certo grau, nos momentos teológicos, mas diferem no tratamento das situações que os caracterizam. Por se aproximarem nos aspectos da contextualidade, do método e, principalmente, por serem originárias da América Latina, pode –se afirmar que elas formam a Teologia Latino-americana.
A Teologia da Libertação é radical, contestadora e marca a sua presença no universo teológico com uma atuação profética ímpar, em relação à própria teologia. Sua contribuição para a consciência social e a transformação da situação concreta da América Latina ainda não revelou todos os seus resultados.
A Teologia da Missão Integral é teologia da liberdade teológica, histórica e eclesial. Seu objetivo é o bem-estar da vida no mundo, no conjunto da criação, pela via do conhecimento de Deus. É teologia evangelizadora. Seu protesto social e a busca da transformação da situação social da América Latina se dá pelo viés da fé. Ela é crítica no sentido de que não dispensa a suspeita e, em visto disto, se mantém sempre renovando e se refazendo. Ela é teologia protestante evangélica latino-americana.
Sobre a Teologia da Missão Integral ainda demandam pesquisas sobre as teologias influenciadoras que transparecem no corpo das suas produções. Entre elas destacam-se a presença perceptível da escatologia de Moltmann em sua Teologia da Esperança, a teologia da Palavra de Deus de Karl Barth, a influência da Teologia Secular de Dietrich Bonhoeffer e as fortes contribuições das teologias da Libertação. Também falta um melhor tratamento da contribuição das ciências sociais, da saúde e da terra, bem como da arte, para a compreensão das interrelações dos aspectos da vida no mundo em função da idéia da integralidade.
A Teologia Latino-americana é como uma criança, que traz em si um mundo de possibilidades. A novidade é sua principal característica e condição de possibilidade para a construção de algo novo mundo, de uma igreja nova e de uma vivência da fé e da missão diferenciada. Esta criança nasce do trauma da dominação, por isso, possui grandes chances de ser cada vez mais porta voz da liberdade. Ela é uma das testemunhas mais contundentes do egoísmo humano, por isso, carrega em si o potencial de ser profetiza do amor e da vivência solidária e harmônica no mundo. O berço que a abrigou foi a frieza e a objetividade do materialismo moderno, mas isto não a conformou, ao contrário, fortaleceu nela o desejo pela simplicidade da vida e pela esperança da felicidade da criação de Deus na América Latina.

TLA – Teologias Precursoras

Teologia da Esperança

1)   Redescoberta da Escatologia
Até o séc. XX, a escatologia era tratada como teologia última e das últimas coisas. A discussão em torno do assunto teve início no final do séc. XIX e começo do séc. XX. Contribuíram para isto as pesquisas em Cristologia do teólogo Albert Schweitzer:

a)    A mensagem do Jesus histórico era uma mensagem escatológica;
b)    O cristianismo sofreu um processo de desescatologização;
c)    Era preciso recuperar na mensagem cristã sua dimensão escatológica;
d)    O Jesus histórico é também o Jesus escatológico, envolvido com o apocalipcismo do judaísmo tardio;

Recuperou-se o conteúdo escatológico, mas na figura “escatologia presente”, ou seja, “cada momento da existência um momento escatológico”, em Bultmann e Barth “a decisão de fé transforma o instante perecível do presente em momento escatológico”.
Contribuiu para isto também a teologia de Oscar Culmann, sobre o Reino presente e futuro.

Humanismo Político 

Rúbem Alves, em seu livro Da Esperança, afirma que:

1)    O homem é um ser histórico, não é acabado e nem preexiste à história;
2)    Portanto, não é somente um ser no mundo, mas é um com o mundo;
3)    A relação entre homem e mundo é dialética;
4)    É preciso que o homem seja transformado, criado pelo mundo e o mundo seja humanizado;
5)    O homem faz mais do que reagir ao mundo, responde a ele e, ao responder é transformado, torna-se diferente;
6)    Ao responder ao mundo ele se torna diferente: histórico e livre; quando então o homem também se faz histórico e livre;
7)    Homem e mundo são inconclusos na esfera da história;

A linguagem é a forma como o homem interage com o mundo. A linguagem histórica conta a história humana de forma interpretada e consciente. Ela:
            a) não se estabiliza;
            b) é sempre inconclusa;
            c) não pode ser reduzida a uma porção de símbolos;
            d) se movimenta conforme o homem se movimenta;
            e) através dela o novo sujeito faz-se presente na história;
            f) determina os limites da nova comunidade.

O HUMANISMO POLÍTICO é apresentado por Rúbem Alves como a emergência de um novo tipo de consciência e de linguagem, portanto, a criação de uma nova comunidade, a qual se chama de “proletariado mundial”, referindo-se àqueles que compreendem a si próprios como proletários, no mundo em que se encontram, unindo povos do terceiro mundo a outros grupos das nações ricas, como:
NEGRO NORTE-AMERICANO – aquele que vivia aquém (excluído) de uma economia abundante.

n  Assim como o terceiro mundo, sonhava em fazer parte das nações desenvolvidas, com a integração e a aceitação pela sociedade branca.
n  Mas, houve uma mudança de mentalidade:

            1) a pobreza não era o problema fundamental, mas o empobrecimento a que foram submetidos;
            2) o empobrecimento se dava através de uma forma de colonialismo, intrínseco às relações entre pobres e ricos, e que passou a ser visto como uma relação em que aos dominados não se permite que se tornem criadores de sua própria história, pois estão reduzidos a uma situação de reflexividade (o planejamento de suas vidas não se dava com base em suas próprias necessidades, mas as de seus dominadores).

Para a consciência proletária, isso explicava porque, após todos os programas de ajuda ao desenvolvimento patrocinados pelas nações desenvolvidas, as subdesenvolvidas se tornavam, mais do que nunca, uma presa fácil do crescimento anormal de suas contradições internas, da deterioração de suas economias e do abismo que as separava das nações ricas. E como poderia ser de outra forma, se não lhes havia sido permitido serem sujeitos de seu próprio desenvolvimento?  (Da Esperança, p. 50)

Proletariado como consciência de impotência

n  Sentimento da geração de estudantes de meados da década de 60. Embora bem cuidados, não eram criadores de sua própria história, pois:
            a) eram colocados em universidades que eram verdadeiras fábricas de conhecimento;
            b) eram preparados para servir às burocracias da sociedade, ou seja, um sistema já estabelecido, tendo que aprender a participar de um jogo onde todas as regras já foram determinadas, reprimindo seus impulsos mais criativos;
            c) sentiram-se explorados, pois não poderiam participar da construção do mundo, tornando-se somente objetos da história, proletários.

A Consciência Oprimida:

n  É incapaz de planejar o futuro, apenas joga com ele;
n  O futuro pertence ao seu senhor;
n  Retrai a sua ação como reflexo da impotência à qual foi reduzido;


TdL – Teologia da Libertação

      Contexto de Surgimento:
            1) surgimento e desaparecimento de várias teologias;
            2) cansaço em relação ao questionamento intelectual do ateísmo, por não ser o único desafio da modernidade, no qual os teólogos estavam presos;
            3) preocupação em relação aos desafios da opressão social e econômica dos povos na época, levantado por Karl Marx e que se apresentava como a 2ª fase do iluminismo;
            4) os chamados “teólogos radicais” criticam a teologia em “torre de marfim”, que somente se ocupava em responder às críticas ateístas;
            5) a busca por resposta aos oprimidos e tiranizados, bem como o esforço por responder à experiência contemporânea de opressão e da relação de Deus e do Cristianismo com tal situação, deu origem à chamada Teologia da Libertação.

TdLs que se destacaram:
Teologia Negra
Teologia Latino-americana
Teologia Asiática
Teologia Feminina

Contexto em que surgiu a TdL

SÓCIO- POLÍTICO:
a)    Situação de opressão, pobreza e marginalização da América Latina, nas décadas de 60 a 70. Conforme Leonardo Boff, a Teologia da Libertação nasce “de uma indignação ética diante da pobreza e da marginalização de grandes massas de nosso continente”.
b)    Como Teologia de resposta aos movimentos libertacionistas ocorridos na América Latina nas décadas de 60 e 70.

SÓCIO-ECLESIAL:

a)    Fase de Preparação: 62 a 68 – do início do Concílio Vaticano II à II CELAM em Medellín.
b)    Fase de elaboração: 68 A 75 – com a publicação de literaturas que tratavam do assunto.
c)    Fase de Sistematização: a partir de 76 – preocupação com o método e uma reflexão sistematizada. Surgem obras como Teologia da Libertação de Gustavo Gutiérrez (71/Lima), que se apresenta como primeiro tratado sistemático da TdL e a define como “reflexão crítica da práxis histórica à luz da fé”.

Contexto Sócio-político-econômico

O PACTO POPULISTA:

            a) estimulou o clima libertário;
            b) fenômeno político ocorrido entre os anos 40 a 60, encarnado no Brasil nas figuras de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart;

Reformas de Base - Reforma Agrária.


Teologia Negra - própria dos negros norte-americanos, com ênfase nos temas:

            a) da igualdade de todas as pessoas;
            b) da justiça – como vitória final da causa da humanidade.
O Movimento dos Direitos Civis na déc. de 60 desencadeou uma busca por uma resposta teológica à questão do problema do negro norte-americano, dando origem à chamada Teologia Negra (60-70). Foi bastante influenciada pela Teologia Secular de Dietrich Bonhoeffer, visando atingir a opressão mesmo dentro do ambiente cristão.

Preocupações da Teologia Negra:

            a) concentrar-se no agir (práxis) e não na contemplação;
            b) desejo de mudar a realidade e não apenas refletir a sobre a sua natureza;
            c) ser reflexão crítica em ação na luta pela libertação. Foi um fenômeno protestante, diferentemente da TdL/TLA que surgiu primeiramente em círculos católicos.

n  Década de 60 para os negros norte-americanos:
            1) atividades libertacionistas de Martin Luther King Jr.
            2) publicações diversas sobre a causa negra
            3) Desenvolvimento da TN
            4) 66-70 – fim da subordinação das Igrejas ao protestantismo branco – Movimento dos Direitos Civis e Black Power
n  Trabalho de pensadores para sistematizar a TN;
n  77 – Contato com outros movimentos de libertação, bem como da experiência negra com a de outros oprimidos;
n  Retorno à ênfase na Igreja Negra, treinamento de líderes, seminários e publicações para as igrejas.

TEÓLOGOS DA TOLOGIA NEGRA

1.     Joseph R. Washington - Apresentou a TN como fenômeno distinto dentro do protestantismo. Defendeu a extinção do culto segregado e a luta pela assimilação dentro da comunidade cristã em geral.

2.     Albert Cleager Jr. - Pastor do Santuário da Madona Negra, afirmava a necessidade da ressurreição da igreja negra com seu messias negro. Conclamava todos os negros a deixar qualquer identificação como escravos de brancos. Afirmava que a Bíblia havia sido escrita por judeus e corrompida por Paulo para adaptá-la aos europeus.

3. James H. Cone - Um dos principais e mais representativos teólogos negros (autor de Uma Teologia Negra de Libertação). Esforço:
n  Aplicar a fé cristã a causa da libertação negra – em resposta aos opositores do cristianismo por considerá-lo uma religião dos brancos.
n  Análise da condição negra a luz da revelação com o propósito de criar um senso de dignidade negra para fins da destruição do racismo branco.
n  Teologia negra com a teologia étnica (forma fundamental de pecado).
n  Compreensão que Cristo é negro, portanto a Igreja deve tornar-se negra com ele.
n  Atividade libertadora de Deus como centro da Teologia.
n  Teologia não como ontologia, mas o estudo da atividade libertadora de Deus no mundo.
n  A revelação como um acontecimento (Barth), neste caso, aquilo que os negros estão fazendo em favor de sua libertação.

Pontos focais para a TEOLOGIA NEGRA

n  Manter constante tensão as comunidades bíblicas e as comunidades contemporâneas de fé (círculo hermenêutico).
n  Deus é negro e uniu-se a condição de opressão e é conhecido onde quer que as pessoas estejam passando por humilhações e sofrimento.
n  Jesus é o Messias negro e a revelação de Deus, que se expressa de forma concreta na situação contemporânea.
n  A Revolução negra é o “Reino de Deus tornando-se realidade na América”.
n  A salvação é manifesta em termos de libertação e justiça neste mundo, e não simplesmente escatológica.


A QUESTÃO DO MÉTODO DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

Propõe um novo modo de fazer teologia, concebida como ato segundo, para a qual a fé experimentada é o ato primeiro;
O processo é:
            a) Sócio-político – libertação dos oprimidos
            b) Antropológico – para uma sociedade de dimensão humana;
            c) Teológico – libertação do pecado, raiz última da injustiça e opressão.

Os quatro elementos que estruturam o discurso da TdL:

            1) Opção política, ética e evangélica em favor dos pobres:
                        a) Opção política – que situa o teólogo socialmente,
                        b) Ética – nasce de uma indignação
                        c) Evangélica – sua motivação está no evangelho

            Neste sentido, ela pretende:
            - avaliar a realidade social a partir dos pobres
            - refletir teologicamente a partir da causa dos pobres
            - agir pela libertação dos pobres

2) Utiliza a mediação sócio-analítica das ciências sociais, embora não exclua as demais áreas do conhecimento, principalmente a Filosofia

3) Exige uma renovada utilização da mediação hermenêutica:

            a) interpreta a Escritura a partir de uma situação política e social determinada e com a mediação sócio-analítica;
            b) Por outro lado, a realidade é interpretada na perspectiva teológica acima descrita.



A Teologia da  Missão Integral


SÉCULOS 16 e 17


Empreendimento missionário colonizador dos povos ibéricos na América Latina


l  Início do uso do termo “Missão” pelos jesuítas
l  Prática Missionária caracterizada pela dominação política, econômica, social e religiosa.


A preocupação fundamental da Teologia da Missão Integral, como o próprio nome o diz, é o papel da Igreja enquanto comunidade apostólica no mundo. Compreender a natureza e a abrangência da responsabilidade missionária da igreja, à luz das Escrituras e da realidade sócio-cultural na qual ela é chamada por Deus a missionar, é o seu desafio. A observação dos princípios da contextualização e da integralidade são as condições que ela própria se impõe como necessárias para que alcance o objetivo de ser contextual e integral.

Origens Históricas da Teologia da Missão Integral

A Teologia da Missão Integral é filha do ambiente sócio-histórico e cultural da América Latina, a partir da fé evangélica. O evangelicalismo é um movimento teológico procedente da Europa e, de certa forma, da América do Norte, tanto quanto as outras formas de cristianismo que se instalaram nas terras latino-americanas. Situar o evangelicalismo e sua procedência histórica, bem como os pontos principais que formatam a sua teologia, é imprescindível para a compreensão da teologia da missão. Outro aspecto que merece discussão é como a partir das sementes do evangelicalismo, plantadas em solo latino-americano, nasceu uma forma de fé evangélica autóctone, que afirma sua alteridade.
As raízes mais profundas do movimento evangélico estão na Reforma Protestante do século XVI. Parte-se, neste caso, da conjectura de que as únicas formas de religião autenticamente nativas da América Latina, foram as indígenas.


SÉCULO 16 –  REFORMA PROTESTANTE

Movimento que aconteceu no séc. XVI, como desfecho de várias outras manifestações históricas em reação ao imperialismo Católico Romano, e impulsionado pelo espírito do Renascimento
.
*      Embora não apresentasse claramente uma intenção evangelizadora dos povos chamados “pagãos”, o que é motivo de muitas críticas, em sua essência, e à luz dos atuais conceitos de missão, foi caracteristicamente missionário. Seria impróprio afirmar que um movimento que colocou a Bíblia nas mãos do povo em sua própria língua, defendeu a liberdade de interpretação das Escrituras, ensinou o livre acesso a Deus através de Jesus Cristo e possibilitou a vivência espontânea da fé, não foi missionário.


*      Não desconsiderando as implicações históricas do movimento e seus desdobramentos, foi na Reforma Protestante que a Missão apresentou sua face mais libertadora, pois repercutiu diretamente nos vários aspectos da vida humana, ou seja: religiosa, social, econômica, política, cultural, etc.


SÉCULOS 17-18:

PIETISMO

Início do Pietismo na Alemanha e, com ele, do movimento missionário protestante;

Movimento de dentro da Reforma, iniciado no final do séc. XVII em reação à frieza do ortodoxismo luterano em vigor na época;

Movimento inaugurador das atividades missionárias transculturais protestantes.

Caracterizou-se pela ênfase na simplicidade e na disciplina da fé e vida cristã, na experiência pessoal de conversão, santificação e envolvimento missionário. Esses elementos passaram a motivar o empreendimento protestante evangelístico-missionário entre os povos não cristãos.

MORAVIANISMO

l  Surgiu dentro do pietismo e marcou a atividade missionária protestante com um intenso envolvimento na evangelização dos povos;
l  Acrescentou ao modelo pietista da ênfase na experiência de fé, o desprendimento e a dedicação sacrificial na tarefa missionária;
l  Destacou-se por apontar um modelo de missão não somente para os pobres, mas a partir dos pobres.

PURITANISMO

Seu envolvimento missionário se deu dentro do contexto da expansão colonialista protestante européia.

l  Movimento de dentro da Reforma, mais precisamente do calvinismo, ocorrido na Inglaterra no séc. XVII, caracterizado pela exigência de um alto padrão de moralidade pessoal e social dos cristãos da época, através da imposição legal e religiosa possibilitada pela tomada do governo.


ILUMINISMO

l   Movimento intelectual que surgiu na Europa, caracterizado pelo extremo racionalismo;
l  Deu início à chamada “Modernidade”;
l  Influenciou  o pensamento moderno, inclusive o da Teologia e, consequentemente, da Teologia da Missão.


OS AVIVAMENTOS

AVIVAMENTO INGLÊS E METODISMO

Avivamento na Inglaterra, com ênfase na experiência espiritual, conversionismo e envolvimento social.

l  Movimento que aconteceu no séc. XVIII dentro do puritanismo.
l  Teve como líder proeminente João Wesley, que sofreu fortes  influências do pietismo alemão, mas teologicamente era de origem calvinista.
l  Destacou-se pelas ênfases na disciplina religiosa, experiência carismática, envolvimento dos cristãos na sociedade e de pregadores leigos na tarefa missionária e pastoral.
l  O modelo missionário por eles praticado enfatizava a conversão pessoal e o envolvimento social concomitante desta.

AVIVAMENTOS NORTE-AMERICANOS

l  A América do Norte foi colonizada de forma emigratória por puritanos ingleses, que visavam construir naquelas terras um novo mundo, uma “Nova Inglaterra”. Tal empreendimento se deu mediante extermínio ou expulsão da população nativa existente na época e posse das terras americanas.
l  Os avivamentos ocorridos na América do Norte se deram nesse meio protestante de origem puritana e geraram vários esforços missionários, inclusive para a América Latina. 

O Primeiro Avivamento

Ocorreu em meios calvinistas, mas com grande repercussão para o meio Batista e Metodista por enfatizar a conversão pessoal.

          Foram seus protagonistas Jonathan Edwards e Jorge Whitefield.

          O movimento enfatizava a experiência pessoal de conversão, dedicação à Escritura e a importância dos constantes “ventos de avivamento”, marcando períodos da história da Igreja.

         David Bosch descreve-o como uma mistura de puritanismo e pietismo configurados a partir da experiência americana.

O Segundo Avivamento

          Teve início no final do séc. XVIII.
          Predominou nos ambientes acadêmicos e caracterizou-se pelo intenso envolvimento missionário de estudantes entre povos considerados ainda não alcançados pela fé cristã evangélica.
          Além do impulso do avivamento, os missionários também foram movidos pelo sentimento do chamado “destino manifesto” e tornaram-se assim representantes do expansionismo norte-americano principalmente no chamado Terceiro Mundo.


SÉCULO 19 -  O GRANDE SÉCULO DAS MISSÕES”

l  Realização das primeiras conferências para discutir os rumos da evangelização do mundo;
l  Prática missionária caracterizada pelo paternalismo.
l  Destaque para o movimento estudantil na América do Norte, sob a liderança de John R. Mott, com as ênfases: no voluntariado, piedade e o impulso causado pelo internacionalismo e idealismo humanitário norte americano;

MOVIMENTO EVANGÉLICO  OU EVANGELICAL

l  Originado nos avivamentos, primeiramente na Inglaterra, e em seguida na América do Norte, a partir da configuração teológico-missionária destes.

l  Contou com representantes das diversas denominações que compartilhavam dos princípios que marcaram os avivamentos, entre eles: conversão pessoal, envolvimento social e evangelização dos povos.

l  Divergências teológicas dentro do movimento evangélico, principalmente nos assuntos escatológicos, fizeram surgir no início do século 20 três segmentos que distinguiam entre si e, de alguma forma, representam a igreja evangélica até os dias de hoje, que são: Movimento Ecumênico, Movimento Fundamentalista  e Movimento Evangelical Radical ou Crítico;

l  A discussão missionária subsequente na América Latina e a atual Teologia da Missão são devedoras desses movimentos.

Primeira Conferência Missionária Internacional  Edimburgo/1910

l  Realizada em 1910 na cidade de Edimburgo – Escócia
l  Deu início ao chamado “Movimento Ecumênico”;
l  Realizada por líderes protestantes de diversas partes do mundo;
l  Visava o desenvolvimento de estratégias para a evangelização do mundo ainda naquela geração;
l  Se deu em relação de continuidade ao trabalho missionário do séc. XIX;
l  Destaque: a presença de povos do terceiro .mundo na atividade missionária internacional.


SÉCULO 20
Presenciou duas guerras mundiais:
           
Primeira 1914 a 1918
Segunda 1939 a 1945

l  Sediou historicamente vários eventos para a discussão da tarefa missionária da Igreja;
l  Marcou o fim do empreendimento colonial do primeiro mundo e a mudança de paradigma na ação missionária da igreja;
l  Destaque: o advento da Teologia da Missão.



LAUSANNE – 1974

l  Congresso Internacional de Evangelização Mundial, realizado no período de 16 a 25 de Julho de 1974, na cidade de Lausanne – Suiça, organizado pela Associação Evangelística Billy Graham.

l  Contou com a participação de aproximadamente 4.000 pessoas, representando em torno de 150 nações, 50% provenientes do mundo dos 2/3.

l  As Principais palestras foram:
            1) Por que Lausanne (Billy Graham)
            2) A Base Bíblica da Evangelização (John Stott)
            3) Evangelização na Igreja Primitiva (Michael Green)
4) A Igreja como Agente de Deus na Evangelização (Howard A. Snyder)
            5) A Evangelização e o Mundo (René Padilla)
6) A Evangelização e a Busca de Liberdade, de Justiça e de Realização pelo Homem (Samuel Escobar)
            7) Forma e Liberdade na Igreja (Francis A. Schaeffer)
            8) A Cruz e a Evangelização Mundial (Festo Kivergere)

Pacto de Lausanne

Introdução

Nós, membros da Igreja de Jesus Cristo, procedentes de mais de 150 nações, participantes do Congresso Internacional de Evangelização Mundial, em Lausanne, louvamos a Deus por sua grande salvação, e regozijamo-nos com a comunhão que, por graça dele mesmo, podemos ter com ele e uns com os outros. Estamos profundamente tocados pelo que Deus vem fazendo em nossos dias, movidos ao arrependimento por nossos fracassos e dasafiados pela tarefa inacabada da evangelização. Acreditamos que o evangelho são as boas novas de Deus para todo o mundo, e por sua graça, decidimo-nos a obedecer ao mandamento de Cristo de proclamá-lo a toda a humanidade e fazer discípulos de todas as nações. Desejamos, portanto, reafirmar a nossa fé e a nossa resolução, e tornar público o nosso pacto.

1. O propósito de Deus

Afirmamos a nossa crença no único Deus eterno, Criador e Senhor do Mundo, Pai, Filho e Espírito Santo, que governa todas as coisas segundo o propósito da sua vontade. Ele tem chamado do mundo um povo para si, enviando-o novamente ao mundo como seus servos e testemunhas, para estender o seu reino, edificar o corpo de Cristo, e também para a glória do seu nome. Confessamos, envergonhados, que muitas vezes negamos o nosso chamado e falhamos em nossa missão, em razão de nos termos conformado ao mundo ou nos termos isolado demasiadamente. Contudo, regozijamo-nos com o fato de que, mesmo transportado em vasos de barro, o evangelho continua sendo um tesouro precioso. À tarefa de tornar esse tesouro conhecido, no poder do Espírito Santo, desejamos dedicar-nos novamente.


2.   A autoridade e o poder da Bíblia

Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das Escrituras tanto do Velho como do Novo Testamento, em sua totalidade, como única Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o que ela afirma, e a única regra infalível de fé e prática. Também afirmamos o poder da Palavra de Deus para cumprir o seu propósito de salvação. A mensagem da Bíblia destina-se a toda a humanidade, pois a revelação de Deus em Cristo e na Escritura é imutável. Através dela o Espírito Santo fala ainda hoje. Ele ilumina as mentes do povo de Deus em toda cultura, de modo a perceberem a sua verdade, de maneira sempre nova, com os próprios olhos, e assim revela a toda a igreja uma porção cada vez maior da multiforme sabedoria de Deus

3.   A unicidade e a universalidade de Cristo

Afirmamos que há um só Salvador e um só evangelho, embora exista uma ampla variedade de maneiras de se realizar a obra de evangelização. Reconhecemos que todos os homens têm algum conhecimento de Deus através da revelação geral de Deus na natureza. Mas negamos que tal conhecimento possa salvar, pois os homens, por sua injustiça, suprimem a verdade. Também rejeitamos, como depreciativo de Cristo e do evangelho, todo e qualquer tipo de sincretismo ou de diálogo cujo pressuposto seja o de que Cristo fala igualmente através de todas as religiões e ideologias. Jesus Cristo, sendo ele próprio o único Deus-homem, que se deu uma só vez em resgate pelos pecadores, é o único mediador entre Deus e o homem. Não existe nenhum outro nome pelo qual importa que sejamos salvos. Todos os homens estão perecendo por causa do pecado, mas Deus ama todos os homens, desejando que nenhum pereça, mas que todos se arrependam. Entretanto, os que rejeitam Cristo repudiam o gozo da salvação e condenam-se à separação eterna de Deus. Proclamar Jesus como "o Salvador do mundo" não é afirmar que todos os homens, automaticamente, ou ao final de tudo, serão salvos; e muito menos que todas as religiões ofereçam salvação em Cristo.Trata-se antes de proclamar o amor de Deus por um mundo de pecadores e convidar todos os homens a se entregarem a ele como Salvador e Senhor no sincero compromisso pessoal de arrependimento e fé. Jesus Cristo foi exaltado sobre todo e qualquer nome. Anelamos pelo dia em que todo joelho se dobrará diante dele e toda língua o confessará como Senhor.

4. A natureza da evangelização

Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como Senhor e Rei, ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todos os que se arrependem e creem. A nossa presença cristã no mundo é indispensável à evangelização, e o mesmo se dá com aquele tipo de diálogo cujo propósito é ouvir com sensibilidade, a fim de compreender. Mas a evangelização propriamente dita é a proclamação do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor, com o intuito de persuadir as pessoas a vir a ele pessoalmente e, assim, se reconciliarem com Deus. Ao fazermos o convite do evangelho, não temos o direito de esconder o custo do discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram segui-lo e negarem-se a si mesmos, tomarem a cruz e identificarem-se com a sua nova comunidade. Os resultados da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço responsável no mundo.

5.   A responsabilidade social cristã

Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão.

Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar,  mas também divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta.


6.   A Igreja e a evangelização

Afirmamos que Cristo envia o seu povo redimido ao mundo assim como o Pai o enviou, e que isso requer uma penetração de igual modo profunda e sacrificial. Precisamos deixar os nossos guetos eclesiásticos e penetrar na sociedade não-cristã.

Na missão de serviço sacrificial da igreja, a evangelização é primordial. A evangelização mundial requer que a igreja inteira leve o evangelho integral ao mundo todo. A igreja ocupa o ponto central do propósito divino para com o mundo, e é o agente que ele promoveu para difundir o evangelho. Mas uma igreja que pregue a Cruz deve, ela própria, ser marcada pela Cruz. Ela torna-se uma pedra de tropeço para a evangelização quando trai o evangelho ou quando lhe falta uma fé viva em Deus, um amor genuíno pelas pessoas, ou uma honestidade escrupulosa em todas as coisas, inclusive em promoção e finanças. A igreja é antes a comunidade do povo de Deus do que uma instituição, e não pode ser identificada com qualquer cultura em particular, nem com qualquer sistema social ou político, nem com ideologias humanas.


7. Cooperação na evangelização

Afirmamos que é propósito de Deus haver na igreja uma unidade visível de pensamento quanto à verdade. A evangelização também nos convoca à unidade, porque o ser um só corpo reforça o nosso testemunho, assim como a nossa desunião enfraquece o nosso evangelho de reconciliação. Reconhecemos, entretanto, que a unidade organizacional pode tomar muitas formas e não ativa necessariamente a evangelização. Contudo, nós, que partilhamos a mesma fé bíblica, devemos estar intimamente unidos na comunhão uns com os outros, nas obras e no testemunho. Confessamos que o nosso testemunho, algumas vezes, tem sido manchado por pecaminoso individualismo e desnecessária duplicação de esforço. Empenhamo-nos por encontrar uma unidade mais profunda na verdade, na adoração, na santidade e na missão. Instamos para que se apresse o desenvolvimento de uma cooperação regional e funcional para maior amplitude da missão da igreja, para o planejamento estratégico, para o encorajamento mútuo, e para o compartilhamento de recursos e de experiências.


  1. Esforço conjugado de Igrejas na evangelização

Regozijamo-nos com o alvorecer de uma nova era missionária. O papel dominante das missões ocidentais está desaparecendo rapidamente. Deus está levantando das igrejas mais jovens um grande e novo recurso para a evangelização mundial, demonstrando assim que a responsabilidade de evangelizar pertence a todo o corpo de Cristo. Todas as igrejas, portando, devem perguntar a Deus, e a si próprias, o que deveriam estar fazendo tanto para alcançar suas próprias áreas como para enviar missionários a outras partes do mundo. Deve ser permanente o processo de reavaliação da nossa responsabilidade e atuação missionária. Assim, haverá um crescente esforço conjugado pelas igrejas, o que revelará com maior clareza o caráter universal da igreja de Cristo. Também agradecemos a Deus pela existência de instituições que laboram na tradução da Bíblia, na educação teológica, no uso dos meios de comunicação de massa, na literatura cristã, na evangelização, em missões, no avivamento de igrejas e em outros campos especializados. Elas também devem empenhar-se em constante auto-exame que as levem a uma avaliação correta de sua eficácia como parte da missão da igreja.

  1. Urgência da tarefa evangelística

Mais de dois bilhões e setecentos milhões de pessoas, ou seja, mais de dois terços da humanidade, ainda estão por serem evangelizadas. Causa-nos vergonha ver tanta gente esquecida; continua sendo uma reprimenda para nós e para toda a igreja. Existe agora, entretanto, em muitas partes do mundo, uma receptividade sem precedentes ao Senhor Jesus Cristo. Estamos convencidos de que esta é a ocasião para que as igrejas e as instituições para-eclesiásticas orem com seriedade pela salvação dos não-alcançados e se lancem em novos esforços para realizarem a evangelização mundial. A redução de missionários estrangeiros e de dinheiro num país evangelizado algumas vezes talvez seja necessária para facilitar o crescimento da igreja nacional em autonomia, e para liberar recursos para áreas ainda não evangelizadas. Deve haver um fluxo cada vez mais livre de missionários entre os seis continentes num espírito de abnegação e prontidão em servir. O alvo deve ser o de conseguir por todos os meios possíveis e no menor espaço de tempo, que toda pessoa tenha a oportunidade de ouvir, de compreender e de receber as boas novas. Não podemos esperar atingir esse alvo sem sacrifício. Todos nós estamos chocados com a pobreza de milhões de pessoas, e conturbados pelas injustiças que a provocam. Aqueles dentre nós que vivem em meio à opulência aceitam como obrigação sua desenvolver um estilo de vida simples a fim de contribuir mais generosamente tanto para aliviar os necessitados como para a evangelização deles.


  1. Evangelização e cultura

O desenvolvimento de estratégias para a evangelização mundial requer metodologia nova e criativa. Com a bênção de Deus, o resultado será o surgimento de igrejas profundamente enraizadas em Cristo e estreitamente relacionadas com a cultura local. A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca. O evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra, mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste na aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas. As missões, muitas vezes têm exportado, juntamente com o   evangelho, uma cultura estranha, e as igrejas, por vezes, têm ficado submissas aos ditames de uma determinada cultura, em vez de às Escrituras. Os evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos dos outros, e as igrejas têm de procurar transformar e enriquecer a cultura; tudo para a glória de Deus.

  1. Educação e liderança

Confessamos que às vezes temos nos empenhado em conseguir o crescimento numérico da igreja em detrimento do espiritual, divorciando a evangelização da edificação dos crentes. Também reconhecemos que algumas de nossas missões têm sido muito remissas em treinar e incentivar líderes nacionais a assumirem suas justas responsabilidades. Contudo, apoiamos integralmente os princípios que regem a formação de uma igreja de fato nacional, e ardentemente desejamos que toda a igreja tenha líderes nacionais que manifestem um estilo cristão de liderança não em termos de domínio, mas de serviço. Reconhecemos que há uma grande necessidade de desenvolver a educação teológica, especialmente para líderes eclesiáticos. Em toda nação e em toda cultura deve haver um eficiente programa de treinamento para pastores e leigos em doutrina, em discipulado, em evangelização, em edificação e em serviço. Este treinamento não deve depender de uma metodologia estereotipada, mas deve se desenvolver a partir de iniciativas locais criativas, de acordo com os padrões bíblicos.

  1. Conflito espiritual

Cremos que estamos empenhados num permanente conflito espiritual com os principados e postestades do mal, que querem destruir a igreja e frustrar sua tarefa de evangelização mundial. Sabemos da necessidade de nos revestirmos da armadura de Deus e combater esta batalha com as armas espirituais da verdade e da oração. Pois percebemos a atividade no nosso inimigo, não somente nas falsas ideologias fora da igreja, mas também dentro dela em falsos evangelhos que torcem as Escrituras e colocam o homem no lugar de Deus. Precisamos tanto de vigilância como de discernimento para salvaguardar o evangelho bíblico. Reconhecemos que nós mesmos não somos imunes ao perigo de capitularmos ao secularismo. Por exemplo, embora tendo à nossa disposição pesquisas bem preparadas, valiosas, sobre o crescimento da igreja, tanto no sentido numérico como espiritual, às vezes não as temos utilizado. Por outro lado, por vezes tem acontecido que, na ânsia de conseguir resultados para o evangelho, temos comprometido a nossa mensagem, temos manipulado os nossos ouvintes com técnicas de pressão, e temos estado excessivamente preocupados com as estatísticas, e até mesmo utilizando-as de forma desonesta. A igreja tem que estar no mundo; o mundo não tem que estar na igreja.


  1. Liberdade e perseguição

É dever de toda nação, dever que foi estabelecido por Deus, assegurar condições de paz, de justiça e de liberdade em que a igreja possa obedecer a Deus, servir a Cristo Senhor e pregar o evangelho sem impedimentos. Portanto, oramos pelos líderes das nações e com eles instemos para que garantam a liberdade de pensamento e de consciência, e a liberdade de praticar e propagar a religião, de acordo com a vontade de Deus, e com o que vem expresso na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Também expressamos nossa profunda preocupação com todos os que foram injustamente encarcerados, especialmente com nossos irmãos que estão sofrendo por causa do seu testemunho do Senhor Jesus. Prometemos orar e trabalhar pela libertação deles. Ao mesmo tempo, recusamo-nos a ser intimidados por sua situação. Com a ajuda de Deus, nós também procuraremos nos opor a toda injustiça e permanecer fiéis ao evangelho, seja a que custo for. Não nos esqueçamos de que Jesus nos preveniu de que a perseguição é inevitável.


  1. O poder do Espírito Santo

Cremos no poder do Espírito Santo. O pai enviou o seu Espírito para dar testemunho do seu Filho. Sem o testemunho dele o nosso seria em vão. Convicção de pecado, fé em Cristo, novo nascimento cristão, é tudo obra dele. De mais a mais, o Espírito Santo é um Espírito missionário, de maneira que a evangelização deve surgir espontaneamente numa igreja cheia do Espírito. A igreja que não é missionária contradiz a si mesma e debela o Espírito. A evangelização mundial só se tornará realidade quando o Espírito renovar a igreja na verdade, na sabedoria, na fé, na santidade, no amor e no poder. Portanto, instamos com todos os cristãos para que orem pedindo pela visita do soberano Espírito de Deus, a fim de que o seu fruto todo apareça em todo o seu povo, e que todos os seus dons enriqueçam o corpo de Cristo.
Só então a igreja inteira se tornará um instrumento adequado em Suas mãos, para que toda a terra ouça a Sua voz.

15. O retorno de Cristo

Cremos que Jesus Cristo voltará pessoal e visivelmente, em poder e glória, para consumar a salvação e o juízo. Esta promessa de sua vinda é um estímulo ainda maior à evangelização, pois lembramo-nos de que ele disse que o evangelho deve ser primeiramente pregado a todas as nações. Acreditamos que o período que vai desde a ascensão de Cristo até o seu retorno será preenchido com a missão do povo de Deus, que não pode parar esta obra antes do Fim. Também nos lembramos da sua advertência de que falsos cristos e falsos profetas apareceriam como precursores do Anticristo. Portanto, rejeitamos como sendo apenas um sonho da vaidade humana a ideia de que o homem possa algum dia construir uma utopia na terra. A nossa confiança cristã é a de que Deus aperfeiçoará o seu reino, e aguardamos ansiosamente esse dia, e o novo céu e a nova terra em que a justiça habitará e Deus reinará para sempre. Enquanto isso, rededicamo-nos ao serviço de Cristo e dos homens em alegre submissão à sua autoridade sobre a totalidade de nossas vidas.


Conclusão

Portanto, à luz desta nossa fé e resolução, firmamos um pacto solene com Deus, bem como uns com os outros, de orar, planejar e trabalhar juntos pela evangelização de todo o mundo. Instamos com outros para que se juntem a nós. Que Deus nos ajude por sua graça e para a sua glória a sermos fiéis a este Pacto! Amém. Aleluia!
[Lausanne, Suíça, 1974]


Congresso Latino-Americano de Evangelização
- CLADE III - - 24 de Agosto a 04 de Setembro de 1992 -
- Quito, Equador.

“Todo o Evangelho, para todos os povos, a partir da América Latina”

  1. CLADE I (1969) – ponto de partida para a articulação do movimento evangélica na A.L. Discute-se um novo conceito de missão e agenda pastoral nos setores mais conservadores.

  1. FTL (Fraternidade Teológica Latino-Americana) – pensada nos corredores do CLADE I, a FTL surge em 1970 com intenções e participações militantes, críticas, polêmicas e apologéticas.

  1. CME (Congresso Mundial de Evangelização – Lausanne, Suíça, 1974) – preocupações com a relação entre evangelização-responsabilidade social-cultura.

  1. CBE I (Congresso Brasileiro de Evangelização I – Belo Horizonte, Brasil, 1983) – objetivou tornar mais explícito o vínculo entre Lausanne e o contexto brasileiro.

  1. Ecumenismo – influenciados por Medellín (68) e Puebla (79), os católicos passam a desempenhar um papel importante no âmbito ecumênico.

  1. CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – criado em 1982) – talvez o maior impulso no campo do ecumenismo eclesiástico, que conta até mesmo com a participação da CNBB.

  1. Década de 90 – nova onda de metodologias e tendências teológicas “caídas” dos EUA (‘Neo-pentecostalismo’).

DECLARAÇÃO DE QUITO - Documento Final do CLADE III – resumo em tópicos:


Parte 1
TODO O EVANGELHO
  1. O Evangelho e a Palavra de Deus
  2. O Evangelho da criação
  3. O Evangelho do perdão e da reconciliação
  4. O Evangelho e a comunidade do Espírito
  5. O Evangelho do Reino de Deus
  6. O Evangelho de justiça e poder


Parte 2
A PARTIR DA AMÉRICA LATINA
  1. Perspectiva histórica da igreja evangélica
  2. Evangelho e cultura
  3. Identidade evangélica
  4. Contexto sócio-político
  5. A responsabilidade da Igreja
  6. A responsabilidade do cristão


Parte 3
PARA TODOS OS POVOS
  1. A universalidade da missão
  2. Toda a Igreja é missionária
  3. Missão Integral
  4. A nova consciência missionária na A.L.
  5. O estilo encarnacional da missão
  6. A urgência da missão


O Problema da Leitura da Bíblia na América Latina

Pressupostos básicos a serem considerados ao se empreender uma leitura contextual das Escrituras:

  1. O contexto sócio-cultural da América Latina exige nossa participação direta ou indireta e respostas a partir de nossas áreas do conhecimento, em nosso caso, A Teologia.

  1. O Evangelho chegou até nós carregado de uma bagagem cultural estrangeira, ou seja, chegou até nós contextualizado, e não o contexto da América Latina e sim o contexto anglo- europeu e, principalmente, norte- americano.

  1. Há uma crise teológica na América Latina que, de certa forma, é hermenêutica, herdada do fundamentalismo norte- americano. Falta, na maioria das vezes, o mínimo critério de uma sadia interpretação da Palavra de Deus. Algumas características da interpretação fundamentalista:

          A-historicidade;
          Uso constante do método alegórico;
          Leitura individualista - reduz a mensagem do texto a uma mensagem para o indivíduo exclusivamente;
          Espiritualização: conduz a uma batalha exclusivamente espiritual desvinculada do mundo e da sua realidade. A luta se localiza no campo da “psicologia da espiritualidade”;
          Reducionismo e dicotomia – divide o ser humano e sua realidade em carne e espírito, corpo e alma, indivíduo e comunidade, história e eternidade, compromisso e espiritualidade.

l  Há uma ênfase na leitura individualista, privatizante e espiritualista das Escrituras.

l  Devemos considerar que:

a)    A Bíblia não foi escrita para espíritos etéreos, nem tampouco para teólogos, filósofos, peritos ou especialistas. Ela foi escrita para o povo, imerso em sua própria realidade histórica.
b)    A Palavra de Deus chega aos latino- americanos em sua humanidade e latinidade.


Temas da Fé à luz da Teologia da Missão Integral
Regina de Cássia F. Sanches


A Cristologia de Orlando Henrique Costas


Uma cristologia integral terá como ponto de partida a encarnação de Cristo em sua presença e obra histórica no mundo. Conceberá o fato “de que Deus se fez carne e habitou entre os homens (Jn. 1.14)”  , muito mais que isto, incorporou-se a esta humanidade “A encarnação de Jesus aponta, pois, para sua necessária incorporação à humanidade pecadora” , mas o faz para salvar esta humanidade. Ele esclarece sobre isto:

“Jesus se situa culturalmente, condicionado pelo tempo e o espaço. Não leva a cabo sua missão evangelizadora em primeira instância como o todo poderoso Filho de Deus, sim como pessoa enviada por Deus um um momento particular da história e em uma situação cultural específica. Se identifica com um povo concreto, fala sua língua e vê a realidade desde sua situação sócio-cultural” 

A Pneumatologia do Mundo dos Dois Terços

O Contexto da Religiosidade
O povo latino-americano é afeito à religiosidade. Nossa história e cultura foram amalgamadas com os vários elementos religiosos próprios dos povos que povoaram o continente no processo de colonização. O cristianismo-católico dos brancos, as religiões tradicionais dos escravos africanos e dos povos indígenas contribuíram para dar origens a um povo bastante aberto à experiência religiosa e, caracteristicamente sincrético. Esta abertura para a espiritualidade é um fator diferenciador do nosso povo. Nem mesmo o racionalismo moderno pode alterar esse modo de ser. Orlando Costas já mencionava isso, mas em relação aos povos que ele chama de Mundo dos Dois Terços

Por outro lado, uma característica subjacente à vida no Mundo dos Dois Terços é a abertura espiritual de sua gente. É raro encontrar nele a atitude anti-religiosa tão comum em grupos pertencentes às sociedades européia e norte-americana desde o Iluminismo do século XVIII. A crença religiosa é parte essencial da vida diária.
Dir-se-ia que, em termos sociológicos e fenomenológicos o Mundo dos Dois terços é “zona de crentes”. Do ponto de vista teológico haveria que acrescentar que este fenômeno reflete uma profunda sensibilidade para com a realidade espiritual, e, portanto, um terreno fértil para a atividade salvífica do Espírito de Deus. (COSTAS, Orlando. A Vida no Espírito, p. 52)

O Pr. Sidney Sanches comentou a mesma coisa em relação especificamente ao povo brasileiro:

O brasileiro é ativamente religioso, isto é, ele participa, enquanto diretamente envolvido, em uma série de crenças e práticas populares decorrentes de sua matriz religiosa. Isto não implica exclusão do Cristianismo, pois ele se considera cristão pela catequese e batismo católico ou protestante. (SANCHES, Sidney. Religiões Populares no Brasil, 2008, p. 13)

O Contexto de Pentecostalismo

            Certamente essa é uma das principais razões pelas quais a América Latina é a região do mundo onde o pentecostalismo mais cresce. Mesmo o avanço do neopentecostalismo (da Teologia da Prosperidade e Batalha Espiritual) não conseguiu ainda se equiparar à expansão do pentecostalismo histórico (que enfatiza o batismo no Espírito Santo e a manifestação atual dos dons espirituais, bem como a experiência pneumatológica como motor para a condução da vida no mundo).

            Um bom estudo sobre isso foi realizado pelo sociólogo Ricardo Mariano , que faz a seguinte descrição da inserção do pentecostalismo no Brasil:


1)        Primeira onda – chegada da Igreja de Deus (início do séc. XX), que reclama para si origem direta no movimento wesleyano inglês e Congregação Cristã no Brasil (mesma época). A Assembléia de Deus, embora fundada no início do séc. XX por dois missionários suecos vindos da América do Norte, chamados Gunnar Vingren e Daniel Berg, teve seu início em solo brasileiro, representando uma forma de pentecostalismo histórico nacional.
Ênfase: batismo no Espírito Santo (algumas com evidência da glossolalia), manifestação dos dons espirituais, simplicidade de vida, santificação caracterizada pela renúncia e abnegação.
Frequentadores: na maioria, pessoas de classe mais baixa.

2)        Segunda onda – tratam-se das igrejas pentecostais que vieram para o Brasil ou foram fundadas aqui em meados do séc. XX. São elas a Igreja do Evangelho Quadrangular (1951), proveniente da América do Norte; O Brasil para Cristo (1955) e a Igreja Deus é amor (1962).
Ênfase: cura divina e sua relação com a Batalha espiritual.
Frequentadores: também na maioria pessoas de classe mais baixa.

3)        Terceira onda – igrejas conhecidas como neopentecostais. Surgiram na década de 70, principalmente no Rio de Janeiro. São elas: Igreja Universal do Reino de Deus, Só o Senhor é Deus, Renascer em Cristo, Sara nossa Terra, Igreja Internacional da Graça de Deus e outras igrejas independentes.
Ênfase: Teologia da Prosperidade, Batalha Espiritual, Cura divina e  Crescimento numérico da Igreja.
Frequentadores: na sua maioria pessoas da classe média e alta.

 No período entre a segunda e a terceira onda aconteceu no meio do evangelicalismo histórico brasileiro (mas também latino-americano em geral e africano) o chamado movimento de renovação espiritual, dando origem às versões nacionais e pentecostais das igrejas históricas, como: batistas, presbiterianos e metodistas. Elas assumiram características da primeira onda e alguns aspectos da segunda onda.

O Espírito Santo na perspectiva da TMI

            É com a consciência desse cenário religioso, bem como das carências e problemas sócio-econômicos, desafios culturais e ecológicos da América Latina que devemos construir nossa Teologia do Espírito Santo. Ela passa por esse princípio da contextualização, faz-se a partir de um olhar integrador e possui com mediação a compreensão do Reino de Deus e sua justiça a serem manifestos nesse mesmo contexto. Este é o método da nossa pneumatologia.

Costas também menciona essa ação do Espírito:

O Espírito Santo é o manancial, a energia e o fundamento da vida espiritual. Isto provém da convicção da fé bíblica em que o Espírito divino é o alento (ruah) que dá vida, gera energia e satisfaz as necessidades do mundo... Foi pelo Espírito que Deus criou o mundo do nada: “Os céus por sua palavra se fizeram, e pelo sopro de sua boca o exército deles” (Sl. 33.6). Neste versículo a palavra de Deus recebe a força criativa do alento de Deus. O Espírito é a energia da palavra; a palavra atua pelo Espírito ( COSTAS, Orlando. A Vida no Espírito, p. 23)

O Espírito dinamizador da Igreja e da missão.

            Na Teologia da Missão Integral, a Igreja é compreendida a partir de sua missão e esta é dinamizada pelo Espírito Santo, conforme aconteceu com a Igreja neotestamentária a partir do Pentecostes. O evento do pentecostes não é um acontecimento estanque, isolado no tempo, mas é, de certa forma, fundante da Igreja e de sua missão no mundo na força do Espírito. Timóteo Carriker comenta sobre a incidência da ação do Espírito no contexto do NT:

O Espírito Santo possibilita a intrepidez da comunidade, como Jesus prometeu (12.11-12). Veja Pedro diante do Sinédrio (4.8), a comunidade diante da perseguição (4. 1-31), e a coragem de Estevão (6.5, 10, 55). O mesmo Espírito que capacitou Jesus na sua missão profética é dado para a comunidade. Assim, este tema não só assegura a continuidade entre Jesus e a comunidade, como também afirma que toda a história, de Jesus e da sua comunidade, testemunha em seu nome.(CARRIKER. Timóteo, Missão Integral, p. 210)

A Eclesiologia Missionária dos CLADEs
OS CLADES
Os CLADEs – Congressos latino-americanos de evangelização, são eventos organizados pela FTL – Fraternidade Teológica Latino-americana, visando discutir sobre a teologia evangélica latino-americana, o papel da Igreja em seu contexto e a sua responsabilidade evangelizadora. Já foram realizados quatro CLADEs:

CLADE I – 1969 – Bogotá
Constituição da FTL – 1970 – Cochabamba (México)
CLADE II – 1979 – Lima (Peru), tema: “Para que a América Latina ouça a voz de Deus”.
CLADE III – 1992 – Quito (Equador), tema: “Todo o Evangelho, para todos os povos, a partir da América Latina”.
CLADE IV – 2000 – Quito (Equador).
O CLADE II foi o primeiro congresso organizado pela FTL e com uma agenda mais específica em relação à Igreja latino-americana. No documento, primeiramente eles descrevem o contexto em que se localiza a igreja latino-americana de sua época:
Temos levantado os olhos  para o nosso continente e contemplado o drama e a tragédia em que vivem nossos povos nesta hora de inquietação espiritual, confusão religiosa, decadência moral e convulsões sociais e políticas. Temos ouvido o clamor dos que tem fome e sede de justiça, dos que se encontram desprovidos do que é básico para sua subsistência, dos grupos étnicos marginalizados, das famílias destruídas, das mulheres despojadas do uso de seus direitos, dos jovens entregues ao vício ou impulsionados à violência, das crianças que sofrem fome, abandono, ignorância e exploração. Por outro lado, temos visto que muitos latino-americanos estão se entregando à idolatria do materialismo, submetendo os valores do espírito aos valores impostos pela sociedade de consumo, segundo o qual o ser humano vale não pelo que é em si mesmo, mas pela abundância dos bens que possui.
Há também os que, em seu desejo legítimo de reivindicar o direito à vida e  liberdade ou de manter o estado de coisas vigente, seguem ideologias que oferecem uma análise parcial da realidade latino-americana e conduzem a formas diversas de totalitarismo e à violação dos direitos humanos. Existem, ainda, vastos setores escravizados pelos poderes satânicos que se manifestam em formas variadas de ocultismo e religiosidade.

No entanto, o quadro não é somente de sofrimento e de tristezas. A Igreja é o lugar onde se visualiza a esperança, e, sobre ela eles afirmam: “Louvamos a Deus, contudo, porque em meio  a esta situação o Espírito de Deus tem se manifestado poderosamente... Muitas Igrejas têm sido renovadas em sua vida e missão. O povo de Deus avança em sua compreensão do que significa o discipulado radical em um mundo de mudanças constantes ou súbitas”.
No entanto, as falhas da Igreja em relação à falta de unidade e de solidariedade para com os que sofrem na América Latina, comprometem seu testemunho do evangelho de Jesus Cristo. Mas, o documento encerra com a afirmação de que é possível mudar esse quadro e, no poder do Espírito Santo, a Igreja poderá ser o que ela é chamada a ser no mundo e, assim, presenciar as seguintes obras de Deus em seu meio: “salvar integralmente a muitíssimas pessoas, consolidar ou restaurar nossas famílias e levantar uma comunidade de fé, que seja uma antecipação, em palavra e ato, do que será o reino em sua manifestação final”.
            Conforme a “Declaração de Quito” (Documento do CLADE III) a Igreja é a comunidade criada por Deus “perdoada e reconciliada chamada a ser agente de perdão e reconciliação em um contexto de ódio e discriminação”. Mas ela também é chamada a “comunidade o Espírito”, aquela através da qual o Espírito Santo age primeiramente no mundo através dos seus dons e poder. Sobre ela eles expressam:
... A Igreja, comunidade de reconciliados com Deus, é enviada ao mundo por Jesus Cristo. Nela se opera uma transformação radical que mostra o propósito divino de eliminar toda a injustiça, opressão e sinais de morte. Como comunidade do Espírito, a igreja deve proclamar liberdade a todos os oprimidos pelo diabo e impulsionar uma pastoral de restauração que traga consolo aos que sofrem discriminação, marginalização e desumanidade.

Porém, sua condição intra-mundo faz da Igreja também um elemento cultural. Devido a isso, ela deve aprender a valorizar a sua cultura, conforme afirma o documento “nossas raízes indígenas, africanas, mestiças, européias, asiáticas e crioulas... Como Igreja latino-americana confessamos que temos nos identificado mais com valores culturais estrangeiros que com os autenticamente nossos...”.

O CLADE IV, como de costume dos evangelicais latino-americanos, inicia seu relatório descrevendo o contexto sócio-econômico e cultural do qual a Igreja faz parte e é chamada a responder. Ele o descreve como crítico, em vista do neoliberalismo econômico, deterioração do meio-ambiente, corrupção e “pauperização dos setores mais amplos da sociedade”. Mas é um contexto também marcado por pluralismo religioso, um crescimento quantitativo das igrejas evangélicas, nem sempre acompanhados por um crescimento em qualidade. Outro fator preocupante é o envolvimento de muitas igrejas com a chamada Teologia da Prosperidade, que conforme o documento, visa o incentivo do consumo e a ambição ao poder.

Em resposta a isso, afirmam a necessidade da igreja reafirmar a autoridade das Escrituras, reconsiderar a natureza libertadora do evangelho, buscar a iluminação e renovação do Espírito Santo, fugir do modelo empresarial de liderança eclesial e desenvolver um modelo de serviço como o de Jesus, incentivar a pratica da oração e leitura da Palavra, defender a unidade e a comunhão do corpo de Cristo, reconhecer a imagem e semelhança de Deus nos grupos minoritários como indígenas, mulheres, idosos, imigrantes, etc.
Nosso culto comunitário tem de ser prazeroso, espontâneo e contextualizado, para que, num clima de liberdade, adoremos ao Senhor, sustentados na Palavra e sob o impulso do Espírito. Necessitamos de uma teologia espiritual e uma espiritualidade mais teológica.  Precisamos de uma espiritualidade trinitária, comunitária, centrada na palavra de Deus, reconciliadora e missionária. A realidade do pluralismo religioso não debilitará o chamado de Deus e a prática evangelizadora da Igreja.

A Salvação à luz da TMI nos textos da FTL
No Boletim no. 2 Steuernagel esclarece que a salvação é redentora, e não somente da criatura humana, mas de toda a criação. Deus Criador fez com que todas as coisas existissem e delegou ao ser humano o cuidado dessas “todas as coisas”. Conforme ele,  essa capacidade de administrar e cuidar de tudo, identifica essa criatura humana com Deus, torna-a semelhante à Ele. O pecado  fez cair o mundo e o colocou em um estado de sofrimento e morte agonizante. No entanto, Jesus Cristo é co-participante da criação e também o seu Redentor. Como afirma Steuernagel “A morte e ressurreição de Jesus representam um sinal de esperança para este mundo: ele é o Redentor de toda a criação, através do sangue da sua cruz (Col. 1.20)”.  A salvação por ele providenciada é redentora da criação. Para reafirmar isso ele cita um texto de Domingos Barbé:
... se a Redenção não atinge a criação em todos os seus aspectos, mundo material, história e sociedade humana, e ela não abrange o cosmo inteiro, então Deus nada tem a ver com as lutas deste mundo. Ele se tornou o grande ausente da história e, por conseguinte, a política pertence unicamente ao domínio de César, que pode exercer o seu poder sem controle nenhum. Não é de estranhar, então, que os inimigos do Cordeiro gritem: ‘Não temos outro Rei senão César!’ Não podemos admirar que se usem as armas de Maquiavel para governar a cidade humana. Desde que os aspectos sociais e políticos da  Redenção não são mais reconhecidos, a realeza de Jesus Cristo limitou-se ao mundo das almas e do sentimento individual”.
            É certo que não é assim. Ao menos não é isso o que a Escritura afirma:
Pois a criação espera com impaciência a revelação dos filhos de Deus: entregue ao poder do nada – não por vontade própria, mas pela autoridade daquele que lha entregou – ela aguarda com esperança, pois também ela será libertada da escravidão da corrupção, para participar da liberdade e da glória dos filhos de Deus. – Rom. 8- 19-21.

O PAPEL DA MULHER NA CRIAÇÃO: ...uma adjutora que lhe corresponda (2.18)... esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne (2. 23)
      Muito se tem falado sobre a situação da mulher na Igreja e na sociedade, mas as mudanças são lentas e, no meio eclesiástico, formado por pessoas que se dizem nova criação em Cristo, o problema ainda é mais acentuado. A fé cristã é para todos porque a salvação é universal, isto todos concordamos. Paulo fala a respeito em Gál. 4.28 ... não há macho nem fêmea, pois todos vós sois um em Cristo Jesus. Infelizmente, a religião cristã ainda pode ser chamada de "masculina". Da mesma forma como por muito tempo o cristianismo foi considerado  e ainda o é, em muitos lugares uma religião étnica, ou seja, religião de brancos é considerado também, até hoje, religião dominada por homens.  Emilio Núñez, faz o seguinte comentário sobre o reconhecimento do papel da mulher por parte da Igreja:
A Igreja não está isenta de tão grave responsabilidade. Ela deveria ser sempre a primeira a demandar que se dê a mulher o lugar que merece na família e na sociedade... A Igreja evangélica deve ser sempre defensora dos direitos da mulher, não tanto por razões ideológicas ou políticas, como por obediência à revelação escrita de Deus... [7]
Pregamos que em Jesus  todas as coisas são restauradas. Em Colossenses isto é declarado maravilhosamente em um hino cristológico ... e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas... (1. 20). Neste caso, Paulo está fazendo referências direta à criação, pois fala da atuação de  Cristo nela ...nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra... tudo foi criado por ele e para ele (Col. 1. 16).
O texto do Gênesis sobre a criação mostra que a mulher foi criada em situação de igualdade com o homem, mesma composição ... ossos dos meus ossos e carne de minha carne..., a isso Bauer comenta: 
É certo que esta ação simbólica de Deus exprime a profunda semelhança dos dois seres;  mesma capacidade de julgar e dominar  uma auxiliadora que lhe corresponda, mesma origem e mesmo criador  ...formou a mulher...., mesma responsabilidade diante do pecado expressa em Gên. 3. 24 Ele baniu o homem...., ou seja, “ser humano”. Isto significa que os dois foram criados por Deus com uma missão neste mundo, mesma condição de domínio sobre a criação, mesma responsabilidade social e familiar implícitos na ordem de procriação e enchimento da terra. Com isto, a mesma responsabilidade diante de Deus pela rebeldia humana, que foi uma ação conjunta.  Adham representada pelas figuras do homem e da mulher, rebelou-se contra o domínio do Criador sendo os dois  expulsos do Jardim do Éden e punidos por Deus pelo seu pecado.
Paulo lembra aos seus leitores em Corinto que Deus formou a mulher a partir do corpo do homem, da mesma forma, designou que os homens fossem formados à partir e no corpo da mulher Pois, se a mulher foi tirada do homem, o homem nasce da mulher, e tudo vem de Deus (I Cor. 11.12). Com base nessa leitura percebemos uma interdependência entre mulher e homem.  Nos textos sobre a criação não há evidência de hierarquia, há sim uma parceria estabelecida pelo próprio Deus.  A hierarquização nas relações humanas é muito mais resultante da incapacidade de viverem em parceria do que em mandatos bíblicos.

FONTES

Esta apostila foi apenas montada por mim. Nenhum texto aqui é de minha autoria. As fontes de onde retirei todas as informações e todos os comentários aqui contidos são:
BENTZEN. A . Introdução ao Antigo Testamento. Vol. 2. 5ª ed.. São Paulo:
ASTE, 1968.
CARRIKER, Timóteo. Missão Integral Uma Teologia Bíblica. São Paulo: SEPAL, 1992.
MÜELLER, Karl. Teologia da Missão. Petrópolis: Vozes, 1995.

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