1.
Cultura, Comunicação, Linguagem e Língua
Uma História de
Evolução - Isac
Machado de Moura
Da fumaça à internet,
quantas formas de comunicação,
os tambores,
os horrores de uma civilização:
invasão,
colonização,
intolerância cultural:
discordou,
mete o pau.
Línguas se sobrepõem,
costumes se alteram,
religiões são impostas,
guerras pela paz,
da espingarda ao antraz,
evoluções da humanidade,
capacidade de auto-destruição;
encara-se tudo,
tem-se medo de avião...
eh! mundão!
Avanços na terra,
festa de arromba:
queremos guerra... temos bomba.
No século da comunicação,
o diálogo emperra:
argumentação para justificar a guerra.
Internet,
o breguete do século cheio de
artimanha,
não se conhece o vizinho,
mas tem-se “amigo” na Alemanha,
milagres da comunicação,
da globalização,
da distância,
da aproximação.
Comunicação,
necessidade humana
e humanitária,
ora para o bem,
ora para o mal;
através dela,
mata-se,
salvam-se vidas...
o homem domina,
o centro,
o ser,
o dono ....
nós.
Cultura,
Comunicação e Linguagem
O homem é um ser social,
logo apresenta uma necessidade intrínseca de interação com a realidade que o
cerca, ou seja, com o seu meio-ambiente. A esta interação(troca de informações), dá-se o nome de comunicação.
Através da comunicação o
homem divide com seus semelhantes sua visão de mundo, suas experiências, seus
sentimentos, suas descobertas e criações, ou seja, sua cultura.
Com relação a cultura,
podemos afirmar que todo grupo social é detentor de determinados traços
culturais peculiares, não havendo, portanto,
cultura inferior ou superior, mas sim diferente. Não existe nenhum grupo social desprovido de cultura.
Toda e qualquer
manifestação cultural deve ser respeitada, nunca violada, como mostra o texto.
A língua de um povo é parte integrante de sua cultura, devendo,
portanto, ser valorizada.
Mais do que um ser
racional ou social, o que realmente caracteriza e individualiza o ser humano é
a linguagem, isto é, a sua
capacidade de se comunicar. É através da linguagem que o ser humano consegue
transmitir e/ou expressar suas ideias, seus pensamentos.
Segundo o professor e
gramático Celso Cunha, linguagem “é
todo sistema de sinais que serve de meio de comunicação entre os indivíduos.
Desde que se atribua valor convencional a determinado sinal, existe uma
linguagem.” Assim, podemos
distinguir, basicamente, dois tipos de linguagem:
Linguagem
Verbal
– aquela que
utiliza-se de palavras(escritas
ou faladas): telegrama, jornal, telefone, rádio, tv, etc. Podemos, então, dizer
que toda língua é uma linguagem verbal.
Linguagem
Não-Verbal
–-
aquela que não se utiliza de palavras; baseia-se nos sentidos:
fotografias, gestos, cores, etc.
Língua
“é um conjunto de estruturas verbais
portadoras de significado, que combinam as frases, sendo produzidas a partir de
sons organizados pelo homem.” Sendo uma criação da sociedade, não pode ser
imutável; muito pelo contrário, vive em perpétua evolução.
PRATICANDO
1.
Marque C para certo e E para errado.
a) ( ) Qualquer forma de comunicação é uma
linguagem.
b) ( ) A língua de um povo, ou seja, seu idioma, é
um tipo de linguagem.
c) ( ) A língua em sua modalidade falada é a forma
de linguagem mais utilizada.
d) ( ) O exercício da língua nos é dado pela
natureza.
e) ( ) Alguns grupos humanos não têm nenhum tipo
de cultura.
- Seria correto dizer que o homem é
um ser lingüístico? Justifique.
- O que é linguagem?
- Quais são os tipos de linguagem?
Explique-os.
- Língua e linguagem verbal é a
mesma coisa? Explique.
- Toda linguagem é uma língua? Por
quê?
- Explique com suas palavras o que
é comunicação.
- Explique com suas palavras: “
não existe nenhum grupo social desprovido de cultura.”
- Você se considera uma pessoa
comunicativa? Por quê?
- Explique com suas palavras os
versos a seguir, do texto “”Uma História de
Evolução”: “Não
se conhece o vizinho, / mas tem-se amigo na Alemanha”.”
2. Ideologia, Texto e
Discurso
Todas as classes sociais deixam as
marcas de sua visão de mundo, dos seus valores e crenças, ou seja, de sua IDEOLOGIA, no uso que fazem da
linguagem.
De acordo com o dicionário HOUAISS, IDEOLOGIA é um sistema de ideias
(crenças, tradições, princípios e mitos) interdependentes, sustentadas por um
grupo social de qualquer natureza ou dimensão, as quais refletem, racionalizam
e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes
morais, religiosos, políticos ou
econômicos.
Como seres humanos, recorremos à língua (DISCURSO) para expressar nossos
sentimentos, opiniões, desejos. É por meio dela que interpretamos a realidade
que nos cerca. Essa interpretação, porém, não é totalmente livre. Ela é
construída historicamente a partir de uma série de filtros ideológicos que todos nós temos, mesmo sem nos darmos conta
de sua existência.
Esses filtros constituem uma formação ideológica, ou seja, um conjunto
de valores e crenças a partir dos quais julgamos
a realidade na qual estamos inseridos.
Ao
longo da história da Música Popular Brasileira, muitos compositores procuraram
definir, em suas letras, um perfil da ideologia da mulher ideal.
AI
QUE SAUDADES DE AMÉLIA
(Ataulfo
Alves e Mário Lago)
Nunca
vi fazer tanta exigência
Nem
fazer o que você me faz
Você
não sabe o que é consciência
Nem
vê que eu sou um pobre rapaz
Você
só pensa em luxo e riqueza
Tudo
o que você vê, você quer
Ai,
meu Deus, que saudades de Amélia
Aquilo
sim é que era mulher
Às
vezes passava fome ao meu lado
E
achava bonito não ter o que comer
E
quando me via contrariado
Dizia:
“Meu filho, o que se há de fazer!”
Amélia
não tinha a menor vaidade
Amélia
é que era mulher de verdade.
EMÍLIA (Wilson Batista e Haroldo Lobo)
Eu
quero uma mulher que saiba lavar e cozinhar
Que,
de manhã cedo, me acorde na hora de trabalhar
Só
existe uma e sem ela eu não vivo em paz
Emília,
Emília, Emília, eu não posso mais.
Ninguém
sabe igual a ela
Preparar
o meu café
Não
desfazendo das outras
Emília
é mulher
Papai
do céu é quem sabe
A
falta que ela me faz
Emília,
Emília, Emília, eu não posso mais...
DANDARA
(Ivan
Lins e Francisco Bosco)
Ela
tem nome de mulher guerreira
E
se veste de um jeito que só ela
Ela
vive entre o aqui e o alheio
As
meninas não gostam muito dela
Ela
tem um tribal no tornozelo
E
na nuca adormece uma serpente
O
que faz ela ser quase um segredo
É
o ser ela assim, tão transparente
Ela
é livre e ser livre a faz brilhar
Ela
é filha da terra, céu e mar
Dandara
Ela
faz mechas claras nos cabelos
E
caminha na areia pelo raso
Eu
procuro saber os seus roteiros
Pra
fingir que a encontro por acaso
Ela
fala num celular vermelho
Com
amigos e com seu namorado
Ela
tem perto dela o mundo inteiro
E
à volta outro mundo, admirado
Ela
é livre e ser livre a faz brilhar
Ela
é filha da terra, céu e mar
Dandara
REFLETINDO
SOBRE O PAPEL DA MULHER EM DIVERSAS SOCIEDADES E ÉPOCAS, compare cada uma das mulheres das
canções acima com personagens da Bíblia.
3. O
Poder do Discurso Religioso
(DIALOGIA
– SÃO PAULO – VOLUME 6 – páginas 95 a 105 – Artigo do Prof. Jorge Luís Torresan – Mestre em
Lingüística Aplicada – PUC/SP) – Resumo feito pelo prof. Isac M. Moura.
“O discurso religioso é, indubitavelmente, um interessante
produto de interações verbais no qual o processo de manipulação pode ser
ferramenta importante.”
Em seu artigo, o prof. Jorge Torresan
lista três tipos de discurso:
1. LÚDICO – Aquele caracterizado
pelo jogo aberto de interlocuções, no qual a relação dialógica entre locutor e interlocutor é dinâmica e
polissêmica. Esse tipo de discurso acontece, por exemplo, numa CONVERSA ENTRE AMIGOS, sem que
uma verdade absoluta esteja sendo defendida a todo custo, não ocorrendo,
portanto, o cerceamento dos participantes.
2. POLÊMICO – Nesta modalidade, a
relação dialógica entre os interlocutores é mais restrita. Aqui, os sujeitos
envolvidos procuram direcionar seus pontos de vista com menor grau de interação
e polissemia. O discurso que permeia uma CONSULTA
MÉDICA pode ser um exemplo onde encontramos as marcas do polêmico, uma vez que a voz do médico
“deve” ser ouvida e aceita, pois ela é tida como “detentora” de um saber, cabendo ao paciente aceitá-la por não
dominar a linguagem e os procedimentos médicos.
3. AUTORITÁRIO – A restrição da
relação dialógica entre locutor e interlocutor é muito acentuada, senão
completa, o que proporciona a instauração de condições para o exercício da
dominação sobre o outro, num quase desaparecimento do “tu”. O DISCURSO RELIGIOSO é um exemplo desse
autoritarismo.
O professor Torresan cita Citelli (1997, p.
48):
“...o paroxismo
autoritário chega a tal grau de requinte que o eu enunciador não pode ser
questionado, visto ou analisado; é ao mesmo tempo o tudo e o nada. A voz de
Deus plasmará todas as outras vozes, inclusive daquele que fala em seu nome: o
pastor.”
O
ponto crucial do discurso autoritário é o que Orlandi
(1987), citado pelo prof. Torresan em seu artigo, chama de ilusão da reversibilidade. Enquanto em
alguns discursos se abre a possibilidade para que haja a troca no processo
comunicativo, no discurso religioso, essa reversão é muito restrita (ou
totalmente impossível), pois quem fala é sempre a “voz de Deus” por meio de
seus representantes devidamente “autorizados” – o Papa, os padres e os pastores
-, não havendo, nesse sentido, interação real com o sujeito central do discurso
religioso que é Deus. Dessa forma, podemos definir o discurso religioso como
aquele em que “o homem faz falar a voz de Deus”.
O
fiel – mortal, efêmero, falível e de poder relativo – possui dois caminhos: ou
segue as doutrinas pregadas pelos intermediadores de Deus em troca de uma
“salvação”, ou adota um regime de vida desvinculado das ideologias divinas
pregadas pelos representantes devidamente “autorizados”, cometendo, dessa
forma, “pecados”, tendo como sanção o castigo
4. O
Processo de Comunicação e Seus Elementos
A vida humana é um processo contínuo de comunicação, pois
para o homem, aprimorar sua capacidade comunicativa é uma forma de ampliar seu
relacionamento com o mundo, tornando-se apto a compreender melhor a realidade
que o cerca a fim de poder transformá-la.
Assim, em cada ato de comunicação, podemos identificar os
seguintes elementos:
a)
Emissor
/ remetente / enunciador / locutor -–
é o indivíduo (ou grupo) que envia a mensagem.
Ex.: um colunista de
jornal.
b)
Receptor
/ destinatário / interlocutor - –
é o indivíduo (ou grupo) que recebe a mensagem, ou seja,
a quem a mensagem é enviada.
Ex.: o leitor do jornal.
c)
Mensagem
-– é o conjunto de
informações transmitidas.
Ex.: o conteúdo do artigo.
d)
Referente
ou contexto -– é o objeto ou a situação
a que a mensagem se refere.
Ex.: o assunto do artigo.
e)
Canal
ou contato -– é o meio concreto pelo
qual a mensagem é transmitida.
Ex.: o jornal propriamente
dito(o papel).
f)
Código
– conjunto de sinais e
regras de combinação desses sinais utilizados na transmissão de uma mensagem.
Para que a transmissão da mensagem seja eficiente, emissor e receptor devem
dominar o mesmo código.
Ex.: a língua portuguesa.
5. Ruído na Comunicação e Intolerância
Lingüística
Chamamos
de ruído todo e qualquer elemento
que atrapalhe, de alguma forma, o caminho da mensagem, como por exemplo, um
barulho, um incidente qualquer, a deficiência no domínio do código empregado.
Nos
textos a seguir, observamos uma série de ruídos no processo de comunicação.
Texto 1: Má Interpretação Provoca Respostas Erradas
Em certa ocasião, uma família
britânica foi passar as férias na Alemanha. No decorrer de certo passeio, os
membros da referida família encontraram uma pequena casa de campo, que lhes
pareceu ótima para passarem as férias de verão.
Conversaram com o proprietário, um
pastor protestante, e pediram que lhes mostrasse a casa. A residência agradou
aos visitantes ingleses, que combinaram ficar com ela para o verão próximo.
Regressando à Inglaterra, discutiram
muito sobre a planta da casa, quando, de repente, a senhora lembrou-se de não
ter visto o “WC”. Confirmando o senso prático dos
ingleses, escreveram ao pastor para obter tal pormenor. A carta foi assim
redigida: “Gentil pastor, sou membro da família
que há pouco tempo o visitou com a finalidade de alugar sua casa no próximo
verão, mas como esquecemos de um detalhe muito importante, agradeceríamos se
nos informasse onde se encontra o WC”.
O pastor alemão, não compreendendo o
sentido da abreviatura “WC” e julgando
tratar-se da capela da seita inglesa White Chapel, assim responde: Gentil senhora, recebi a sua
carta e tenho o prazer de comunicar-lhe que o local a que se refere fica a 12
km da casa. Isto é muito cômodo, sobretudo se tem o hábito de ir lá
frequentemente. Neste caso é preferível levar comida para ficar lá o dia todo.
Alguns vão a pé, outros de bicicleta. Há lugar para 400 pessoas sentadas e 100
em pé. O ar condicionado é para evitar inconvenientes comuns nas aglomerações.
Os assentos são de veludo; recomenda-se chegar cedo para arrumar lugar sentado.
As crianças permanecem ao lado dos adultos e todos cantam em coro. À entrada, é
fornecida uma folha de papel a cada pessoa, mas se chegar depois da
distribuição, pode usar a folha do vizinho ao lado. Tal folha deve ser
restituída à saída para ser usada
durante o mês. Existem amplificadores de sons. Tudo o que se recolhe é
para as crianças pobres da região. Fotógrafos especiais tiram flagrantes para
os jornais da cidade, de modo que todos possam ver seus semelhantes no
cumprimento de um dever tão honrado.
Texto 2: O Eclipse do Sol
Capitão para Tenente:
Tenente! Como amanhã haverá um eclipse do sol, determino que a companhia esteja
formada, com uniforme de faxina, no campo de exercício, onde darei explicações
em torno do raro fenômeno. Se acaso chover, nada se poderá ver, e neste caso
ficará a companhia dentro do quartel.
Tenente
para Sargento : Sargento! Por ordem do Capitão, amanhã
haverá um eclipse do sol, em uniforme de faxina. Toda a companhia terá de estar
formada no campo de exercício, onde o Capitão dará as explicações necessárias,
o que não acontece todos os dias. Se chover, o fenômeno será mesmo dentro do
quartel.
Sargento
para Cabo : Cabo! O Capitão fará amanhã um eclipse
do sol no campo de exercício. Se chover, o que não acontece todos os dias, nada
se poderá ver. Em uniforme de faxina, o Capitão dará a explicação necessária,
dentro do quartel.
Cabo para
Soldados : Soldados! Amanhã estaremos formados
para receber o Sr. Eclipse, que dará as explicações necessárias sobre o nosso
Capitão. O fenômeno será em uniforme de faxina. Isso se chover dentro do
quartel, o que não acontece todos os dias.
Comentários entre os soldados: Amanhã o capitão vai ser eclipsado no
quartel, é pena que isso não aconteça todo dia.
PRATICANDO
1. Explique, com suas
palavras, a causa do ruído na comunicação, no texto 1.
2. Agora, faça a mesma
coisa com o texto 2.
3. Identifique os
elementos do processo de comunicação na situação a seguir:
João
escreve uma carta para Maria, sua melhor amiga, após alguns anos sem contato: “”Querida
amiga, estou com muitas saudades, estive viajando pelo interior do país,
participando de uma pesquisa muito legal e agora estou retornando à cidade...””
Emissor/remetente:
___________________________________________
Receptor/destinatário:
_________________________________________
Mensagem:
__________________________________________________
Referente/contexto:
___________________________________________
Canal/contato:
_______________________________________________
Código:
_____________________________________________________
A INTOLERÂNCIA LINGUÍSTICA pode ser considerada um exemplo de ruído na
comunicação.
Ex.:
Um rapaz pergunta a outro:
- Você sabe que horas são?
E o outro responde:
- Sei.
a) Pode-se
dizer que houve comunicação entre as duas pessoas envolvidas? Justifique.
b) Quando
o primeiro rapaz pergunta se o outro sabia da hora, o que ele esperava de fato?
c) A
resposta do segundo rapaz satisfez o primeiro? Por que?
OUTROS EXEMPLOS DE INTOLERÂNCIA LINGUÍSTICA
A intolerância
lingüística, como já vimos, é uma forma de ruído na comunicação, uma vez que
pode impedir , de forma proposital, a compreensão entre as duas pessoas envolvidas no processo.
Por outro lado, é um recurso muito utilizado em anedotas.
- Sua mãe tá aí. Você não vai receber?
- Receber por quê? Por
acaso ela me deve alguma coisa?
- Escuta, não é melhor a
gente tomar um táxi?
- Não, obrigado. Hoje eu
não quero misturar mais nada.
A garçonete vem atender
o médico coçando o nariz sem parar. O médico lhe pergunta:
- Você tem um eczema?
- Tudo o que tenho está
aí no cardápio.
O bebum entra no
consultório, e o médico diz:
- Eu não atendo bêbado.
E o bêbado:
- Quando o senhor
estiver bom eu volto.
- Doutor, já quebrei o
braço em vários lugares.
- Se eu fosse o senhor,
não voltava mais pra esses lugares.
O policial aborda uma
senhora na rua:
- Com licença, estamos
procurando um ladrão com um carrinho de
bebê.
- Não seria melhor se
vocês usassem um carro da polícia?
Duas “cobras”
olhando o céu, numa noite estrelada:
- Como nós somos insignificantes!
- Você e quem?
- Não deixe sua cadela
entrar na minha casa de novo. Ela está cheia de pulgas.
- Diana, não entre nessa
casa de novo. Ela está cheia de pulgas.
A garotinha visita a
tia. Ouve o priminho chorando e pergunta:
- O que é que ele tem?
- Seus primeiros dentes
estão nascendo.
- E ele não quer eles?
- Então o senhor sofre de artrite?
- É claro! O que o
senhor queria? Que eu desfrutasse artrite, que eu usufruísse artrite, que eu me
beneficiasse de artrite?
6.
Funções da Linguagem e Intencionalidade Linguística
Para
a maioria dos falantes, o uso da linguagem se dá de modo automático. Assim, raramente se percebe que o modo como a
mesma se organiza está diretamente
ligado à função que se deseja dar a ela, à intencionalidade
lingüística de cada situação de comunicação.
A linguagem desempenha a sua função de acordo com a
ênfase dada a cada um dos componentes do ato da fala. Assim sendo, como são
seis esses componentes, também são seis as funções que a linguagem pode
assumir.
Elemento
em destaque
|
Função
da linguagem
|
Remetente
ou emissor
|
Emotiva
|
Destinatário
ou receptor
|
Conativa
|
Contexto
ou referente
|
Referencial
|
Mensagem
|
Poética
|
Código
|
Metalingüística
|
Canal
ou contato
|
Fática
|
1.
Função emotiva ou expressiva –- ocorre quando o emissor
é posto em destaque, posicionando-se em relação ao tema que está sendo abordado,
expressando sentimentos e emoções, resultando num texto subjetivo, escrito em
primeira pessoa.
Ex.: “Quando eu estou
aqui, eu vivo esse momento lindo...”
“Eu
amava como amava o pescador, que se
encanta mais com a rede que com o mar...”
“Penso
que a revisão da maioridade penal no Brasil é um assunto
urgente...”
2.
Função conativa ou apelativa –- Ocorre quando o receptor
é posto em destaque. Tem por objetivo influenciar o destinatário em forma de
ordem, apelo ou súplica. Os verbos aparecem, geralmente, no modo imperativo,
indicando ordem, pedido. É a função utilizada nas propagandas. Os verbos
costumam ser usados na 2ª pessoa gramatical.
Ex.: “O
Ministério da Saúde adverte: fumar é prejudicial à saúde.”
“Beba
Coca-Cola!”
“Amai
a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo.”
3.
Função referencial - – O referente é posto em
destaque. A intenção é transmitir ao receptor dados da realidade de uma forma
direta e objetiva, utilizando palavras em seu sentido próprio, denotativo,
prevalecendo o emprego da terceira pessoa.
Ex.: “A sociedade
brasileira está chocada com a falta de limites dos criminosos, que agem
livremente com a certeza da impunidade...”
“Desde
1500, quando Cabral invadiu o Brasil, milhares de índios vêm sendo assassinados
de maneira bárbara e vil...”
4.
Função Metalingüística -–Quando
o código é posto em destaque. Ocorre metalinguagem todas as vezes em que usamos
a língua para explicar a própria língua.
Ex.: O
dicionário.
LÍNGUA é um sistema de signos que
exprimem idéias...
5.
Função fática - –
O canal é posto em destaque. A preocupação do emissor é
manter contato com o receptor, prolongando uma comunicação ou testando o canal.
Ex.: As
primeiras palavras de quem atende ao telefone (Alô! Pronto!);
Os cumprimentos diários (oi, tudo
bem? Boa tarde!);
6.
Função poética - A própria mensagem é posta em destaque.
Escolhendo e combinando de maneira particular e especial as palavras, o poeta
procura obter alguns elementos fundamentais da linguagem poética: ritmo,
sonoridade, beleza, etc...
Ex.: De
tudo ao meu amor serei atento
Antes e com tal zelo e sempre e
tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu
pensamento...
Praticando
1. Identifique a função
da linguagem predominante nos fragmentos a seguir:
a) “Oh!
Que saudade que tenho
Da
aurora da minha vida,
Da
minha infância querida
Que
os anos não trazem mais!”
b) “Não
sacrifique quem tanto lhe serve. Piauí -–
pela vida dos jegues.”
c) “O
trânsito brasileiro faz milhares de vítimas a cada ano.”
d) OCAPI(de
origem africana) s.m. Mamífero ungulado, de tipo intermediário entre as girafas
e os antílopes, de pescoço mais curto e colorido uniforme.
e) –
Tá ouvindo? Alô!? Alô!?
-
Alô!
f) “Se
eu quiser falar com Deus
Tenho
que ficar a sós
Tenho
que apagar a luz
Tenho
que calar a voz...”
7.
Denotação e Conotação
- As noites de inverno, no litoral,
costumam ser muito frias.
- Não entendi por que, mas Maria
anda muito fria comigo.
Quando usamos as
palavras em seu sentido próprio, comum, do dicionário, temos um caso de denotação, como na primeira
frase acima. Quando as usamos com sentido
figurado, especial, diferente daquele que lhe é próprio, temos um caso
de conotação, como na segunda
frase.
Praticando
- Denotação ou conotação?
a)
O rapaz roubou-lhe dois
beijos.
b)
Roubaram o banco da cidade.
c)
Em crise, aquele rapaz atingiu o fundo
do poço.
d)
O funcionário desceu até o fundo do
poço a fim de localizar o objeto.
e)
Durante a subida, acabei quebrando um
galho da árvore.
f)
Pediu ao funcionário para lhe quebrar
um galho.
g)
A presidenta quebrou o protocolo.
h)
Ambrósia é escrava da moda.
i)
“Naquele tempo, o escravo fugiu para o quilombo.”
j)
Tive uma idéia luminosa.
k)
Os cometas têm uma longa cauda luminosa.
l)
Seus sapatos ficaram sujos de lama.
m)
Sua empresa entrou em crise, e hoje ele está na lama.
n)
O canto dos grilos atrapalhou meu sono.
o)
Ana está grilada com o que
ouviu do seu chefe.
p)
Pedro joga bola todos os
domingos.
q)
Lindonésia não dá bola pra
ninguém.
r)
A sola do seu sapato está furada.
v)
O bolo solou.
8.
Texto Literário e Texto Não-Literário
A Arte
Literária
Segundo o pintor espanhol Pablo Picasso, “a arte é a mentira que
revela a verdade.”
Já para o poeta e crítico de arte brasileiro, Ferreira Gullar, “a
arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, é uma transformação
simbólica do mundo. Naturalmente, esse mundo outro que o artista cria ou
inventa, nasce de sua cultura, de sua experiência de vida, das ideias que ele tem na cabeça, enfim, de sua visão de mundo.”
A literatura,
como toda arte, é uma transfiguração do real, uma ficção; é a realidade
recriada através da visão de mundo do artista.
Através das obras literárias tomamos contato com a vida,
nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque são as
verdades da mesma condição humana.
Texto literário e texto não-literário
Por que será que alguns textos são chamados de literários
e outros não? Será que um texto literário precisa ter versos e palavras
bonitas? Precisa ter rimas e metáforas?
O texto, para ser literário, precisa ter uma linguagem literária, ou seja, uma
linguagem que saia do comum, da mera função referencial.
TEXTO
01
“Diariamente,
duas horas antes da chegada do caminhão da prefeitura, a gerência (de uma das filiais
do Mc Donald’s) deposita, na calçada,
dezenas de sacos plásticos recheados de papelão, isopor, restos de sanduíches.
Isso acaba propiciando um lamentável banquete de mendigos. Dezenas deles vão
ali revirar o material e acabam deixando os restos espalhados pelo calçadão.”
(Revista Veja SP)
TEXTO
02 - O Bicho
- Manuel Bandeira
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os
detritos.
Quando achava alguma
coisa,
Não examinava nem
cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era
um homem.
PRATICANDO
1.
Linguagem
literária ou não-literária (referencial)?
a)
“O homem velho deixa vida e morte para
trás
Cabeça a prumo, segue rumo e nunca,
nunca mais
O grande espelho que é o mundo ousaria
refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos animais.”
b)
“Para o mundo, quando era quinhentos
anos mais novo, os contornos de todas as coisas pareciam mais nitidamente
traçados do que nos nossos dias. O contraste entre o sofrimento e a alegria,
entre a adversidade e a felicidade parecia mais forte.”
c)
“A rede de tricô era áspera entre os
dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num
bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como
uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor.”
d)
“Autoridades culturais italianas estão
tentando levantar fundos (com participação internacional) para desenterrar e
recuperar os tesouros arqueológicos da cidade de Herculano, destruída com Pompéia
pelo vulcão Vesúvio (sul de Nápoles).
9.
PROSA E VERSO
PROSA é–a organização natural da linguagem humana, fala
cotidiana; é a forma típica da linguagem não-literária, o que não significa que
não haja prosa literária. A
prosa está para a nossa vida diária como caminhar
e falar.
VERSO
–é a forma artificial da linguagem; não constitui
nossa maneira usual de falar ou escrever. O texto escrito em verso apresenta
ritmo especial, musicalidade, rima; linguagem literária. O verso está para a
nossa vida diária como dançar e cantar.
TEXTO
01 -– PROSA LITERÁRIA - –
Cecília Meireles
“A
quinhentos metros, os vossos belos olhos desaparecem; e essa claridade do vosso
rosto; e a fascinação da vossa palavra.
É uma pena (eu também acho que é uma pena!), mas, a quinhentos metros, tudo se
torna muito reduzido: sois uma pequena figura sem pormenores; vossas amáveis
singularidades fundem-se numa sombra neutra e vulgar. Ao longe, caminhais como
qualquer pessoa – e até como certas aves:
é o que resta de vós: esse ritmo, na imensa estrada que também se vai
projetando, estreita e indistinta, sobre o horizonte.”
TEXTO
02 -–
VERSO -– Carlos Drummond de Andrade
João amava Tereza que
amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento.
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
Que
não tinha entrado na história.
REESCRITURA:
Reescreva o texto 1 em verso e o 2 em
prosa.
10.
FIGURAS DE LINGUAGEM
Figuras
Sonoras
Aliteração - repetição de sons consonantais (consoantes). Cruz e
Souza é o melhor exemplo deste recurso. É uma das características marcantes do
Simbolismo, assim como a sinestesia.
Ex:
"(...) Vozes veladas, veludosas vozes, / Volúpias dos violões, vozes
veladas / Vagam nos velhos vórtices velozes / Dos ventos, vivas, vãs,
vulcanizadas." (fragmento de Violões que choram. Cruz e Souza)
Assonância -
repetição dos mesmos sons vocálicos.
Ex: (A,
O) - "Sou um mulato nato no sentido
lato mulato democrático do litoral." (Caetano Veloso)
(E,
O) - "O que o vago e incógnito
desejo de ser eu mesmo de meu ser me deu." (Fernando Pessoa)
Paranomásia
- o emprego de palavras parônimas (sons parecidos).
Ex: "Com
tais premissas ele sem dúvida leva-nos às primícias" (Padre Antonio
Vieira)
Onomatopeia
- criação de uma palavra para imitar um som.
Ex: A Língua do Nhem: "Havia uma velhinha / Que andava
aborrecida / Pois dava a sua vida / Para falar com alguém. / E estava sempre em
casa / A boa velhinha, / Resmungando sozinha: /
Nhem-nhem-nhem-nhem-nhem..." (Cecília Meireles)
Figuras de Sintaxe
Elipse - omissão
de um termo ou expressão facilmente subentendida. Casos mais comuns:
a) pronome
sujeito, gerando sujeito oculto ou implícito: Iremos depois. Compraríeis
a casa?
b) substantivo
- a catedral, no
lugar de a igreja catedral; Maracanã, no ligar de o estádio Maracanã.
c) preposição – “Ele está bêbado, a camisa rota, as calças rasgadas”; no lugar de: “Ele está bêbado, com a camisa rota, com as calças rasgadas”.
d) conjunção – “Espero você me entenda”; no lugar de: “Espero que você me entenda”.
e) verbo – “Queria mais ao filho que à filha”; no lugar de: “Queria mais o filho que queria à filha”. Em especial o verbo dizer em diálogos - E o rapaz: - Não sei de nada !, em vez de “E o rapaz disse”:
Zeugma - Omissão (elipse) de um termo que já apareceu antes.
Se for verbo, pode necessitar adaptações de número e pessoa verbais. Utilizada,
sobretudo, nas orações comparativas. Ex: Alguns
estudam, outros não, por: alguns estudam, outros não estudam. / "O meu pai
era paulista / Meu avô, pernambucano / O meu bisavô, mineiro / Meu tataravô,
baiano." (Chico Buarque) - omissão de era.
Hipérbato - Alteração ou inversão da
ordem direta dos termos na oração, ou das orações no período. São determinadas
por ênfase e podem até gerar anacolutos.
Ex:
Morreu o presidente. / O presidente
morreu.
Anástrofe - Anteposição, em expressões nominais, do termo regido
de preposição ao termo regente.
Ex: "Da morte o manto
lutuoso vos cobre a todos." / “O
manto lutuoso da morte vos cobre a todos”.
Pleonasmo - Repetição de um termo já expresso, com objetivo de
enfatizar a ideia.
Ex.: Vi com meus próprios olhos. "E
rir meu riso e derramar meu pranto / Ao seu pesar ou seu contentamento."
(Vinicius de Moraes). Ao pobre não lhe devo nada. (OI pleonástico)
Obs.:
O pleonasmo vicioso ou grosseiro decorre da ignorância, perdendo o caráter
enfático (hemorragia de sangue, descer para baixo)
Assíndeto
- ausência de conectivos de ligação, assim atribui maior rapidez ao texto.
Ocorre muito nas orações coordenadas.
Ex: "Não sopra o vento;
não gemem as vagas; não murmuram os rios."
Polissíndeto - repetição de conectivos na
ligação entre elementos da frase ou do período.
Ex.: “O menino resmunga, e chora, e esperneia, e grita, e
maltrata”. / "E sob as ondas ritmadas / e sob as nuvens e os ventos / e
sob as pontes e sob o sarcasmo / e sob a gosma e o vômito (...)" (Carlos
Drummond de Andrade)
Anacoluto - Termo
solto na frase, quebrando a estruturação lógica. Normalmente, inicia-se uma
determinada construção sintática e depois se opta por outra.
Ex.: “Eu, parece-me que vou desmaiar. / Minha vida, tudo não
passa de alguns anos sem importância (sujeito sem predicado) / Quem ama o feio,
bonito lhe parece (alteraram-se as relações entre termos da oração)
Anáfora - repetição de uma mesma palavra no
início de versos ou frases.
Ex.: "Olha a voz que me resta / Olha a veia que salta /
Olha a gota que falta / Pro desfecho que falta / Por favor." (Chico
Buarque)
Silepse - é a
concordância com a ideia, e não com a palavra escrita. Existem três tipos:
a) de
gênero (masculino x feminino):
São Paulo continua poluída (= a cidade de São Paulo). V. Sª é lisonjeiro
b) de número (singular x plural): Os Sertões contra a Guerra de Canudos (= o livro de Euclides da Cunha). O casal não veio, estavam ocupados.
c) de pessoa: Os brasileiros somos otimistas (3ª pessoa - os brasileiros, mas quem fala ou escreve também participa do processo verbal, ou seja, também é brasileiro).
Antecipação
- antecipação de termo ou expressão, como recurso enfático. Pode gerar
anacoluto.
Ex.: Joana creio que veio
aqui hoje. O tempo parece que vai piorar
Figuras de Palavras ou Tropos
Metáfora - emprego de palavras fora do seu
sentido normal, por analogia. É um tipo de comparação implícita, sem termo
comparativo.
Ex.: A Amazônia é o pulmão do mundo.
Encontrei a chave do problema. / "Veja bem, nosso caso / É uma porta
entreaberta." (Luís Gonzaga Junior)
Na
Bíblia: Is 40:6; Jr 50:6; Mt 5:13; Jo 10:7,9;
6:48.
Catacrese - Uso impróprio de uma palavra ou
expressão, por esquecimento ou na ausência de termo específico.
Ex.: Espalhar dinheiro (espalhar = separar palha) /
"Distrai-se um deles a enterrar o dedo no tornozelo inchado." - O
verbo enterrar era usado primitivamente para significar apenas colocar na
terra. Pé de meia / boca de forno...
Metonímia
- Substituição de um nome por outro
em virtude de haver entre eles associação de significado.
Ex.: Ler Jorge Amado (autor pela obra - livro) / Ir ao
barbeiro (o possuidor pelo possuído, ou vice-versa - barbearia) / Bebi dois
copos de leite (continente pelo conteúdo - leite) / Ser o Cristo da turma.
(indivíduo pela classe - culpado) / Completou dez primaveras (parte pelo todo -
anos) / O brasileiro é malandro (singular pelo plural - brasileiros) / Brilham
os cristais (matéria pela obra - copos).
Na Bíblia:
a)
o
efeito pela causa: “Eu te amo, ó Senhor, força minha” (Sl
18:1). A força
(efeito) é empregada em lugar da causa (o Senhor).
b)
O
elemento que contém pelo seu conteúdo: 1 Co 10:21; Os
1:2; Mt 3:5; Mc 3:25; Hb 13:4; Mt 15:8.
c)
O
todo pela parte: Lc 2:1; Rm 1:16 (grego = todos os gentios).
d)
A
parte pelo todo: “Os pés correm para o mal...” (Pv 1:16); Rm
16:4.
Antonomásia, perífrase - Substituição de um nome de pessoa ou lugar por outro
ou por uma expressão que facilmente o identifique. Fusão entre nome e seu
aposto.
Ex.: O mestre = Jesus Cristo / A cidade luz = Paris / O rei das selvas = o leão / Escritor Maldito
= Lima Barreto.
Sinestesia - Interpenetração sensorial,
fundindo-se dois sentidos ou mais (olfato, visão, audição, gustação e tato).
Ex.:
"Mais claro e fino do que as finas pratas / O som da tua voz deliciava ...
/ Na dolência velada das sonatas / Como um perfume a tudo perfumava. / Era um
som feito luz, eram volatas / Em lânguida espiral que iluminava / Brancas
sonoridades de cascatas ... / Tanta harmonia melancolizava." (Cruz e
Souza)
Anadiplose -
É a repetição de palavra ou expressão de fim de um membro de frase no
começo de outro membro de frase.
Ex.: "Todo pranto é um comentário. Um
comentário que amargamente condena os motivos dados."
Figuras de Pensamento
Antítese - Aproximação
de termos ou frases que se opõem pelo sentido.
Ex.: "Neste momento todos os bares estão repletos de
homens vazios" (Vinicius de Moraes)
Obs.: Paradoxo
- Ideias contraditórias num só pensamento, proposição de Rocha Lima ("dor
que desatina sem doer" Camões)
Eufemismo - consiste
em "suavizar" alguma ideia desagradável.
Ex.: Ele enriqueceu por meios ilícitos.
(roubou). / Você não foi feliz nos
exames. (foi reprovado)
Na
Bíblia: At 7:60; 1 Ts 4:13-15.
Hipérbole - exagero
de uma ideia com finalidade expressiva.
Ex.: Estou morrendo de sede (com muita sede) / Ela é louca pelos filhos (gosta muito dos
filhos).
Na
Bíblia: Dt 1:28; Sl 6:6; 119:136; Mq 6:7; 1
Sm 18:7; 2 Sm 1:23; Mt 23:24; 2 Cr 36:23; Mt 16:26; Lc 6:42; Jó 19:3; Dn 1:20.
Ironia - Utilização
de termo com sentido oposto ao original, obtendo-se, assim, valor irônico. É uma
forma de ridicularizar indiretamente sob a forma de elogio, ou seja, o escritor
ou o falante diz exatamente o contrário daquilo que pensa: 2 Sm 6:20; 1
Rs 18:27; Jó 12:2; Mc 7:9; 1 Co 11:19; Et 6:6.
Ex.: O ministro foi sutil como uma
jamanta.
Gradação -
Apresentação de ideias em progressão ascendente (clímax) ou descendente
(anticlímax)
Ex.: "Nada fazes, nada tramas, nada pensas que eu não
saiba, que eu não veja, que eu não conheça perfeitamente."
Prosopopeia, personificação, animismo - É a atribuição de qualidades e sentimentos
humanos a seres irracionais e inanimados.
Ex.: "A lua, (...) Pedia a cada
estrela fria / Um brilho de aluguel ..." (Jõao Bosco / Aldir Blanc)
Na
Bíblia: Is 35:1; 55:12; Rm 6:9; 1 Co 15:55.
APÓSTROFE
– Consiste numa referência direta a um objeto como se fosse
uma pessoa, a uma pessoa ausente ou imaginária como se estivesse presente. É
assim: através da personificação, o escritor fala de um objeto como se fosse uma pessoa; através da apóstrofe, ele
fala com o objeto como se fosse uma pessoa: Sl 114:5; Mq 1:2; Sl 6:8.
ANTROPOMORFISMO
– Atribuição de qualidades, elementos físicos ou ações
humanas a Deus: Sl 8:3; 31:12; 2 Cr
16:9.
ZOOMORFISMO
– Atribuição de características animais a Deus: Sl 91:4; Jó 16:9.
ANTROPOPATIA
– Atribuição de emoções humanas a Deus: Zc 8:2.
PERGUNTA
RETÓRICA – É aquela pergunta que não exige
resposta; seu objetivo é forçar o leitor ou o ouvinte a respondê-la
mentalmente, avaliando suas implicações:
Gn 18:14; Jr 32:27; Rm 8:31; Lc 12:17; Mt 26:55; Lc 11:11,12; Mc 3:23;
4:21; 8:18; 1 Co 12:7.
PARÁBOLAS
A parábola é um tipo de
linguagem figurada em que se fazem comparações. Só que em vez de usar uma só
palavra ou expressão para a comparação ou analogia, como acontece na símile ou
na metáfora, a parábola faz uma ampla analogia em forma de história. Assim, a
parábola é uma história baseada em fatos do cotidiano com o objetivo de
ilustrar e tornar clara uma verdade.
Apesar de ter base plausível, ela pode não ter realmente acontecido com todos
os detalhes como foi apresentada.
11. VÍCIOS
DE LINGUAGEM
Barbarismo
- Consiste em escrever ou pronunciar uma
palavra em desacordo com a norma culta.
Ex.:
Adivogado ou adevogado em vez de advogado.
Gratuito
em vez gratuito.
Solecismo
-–Desvio da norma em relação à sintaxe
de concordância ou de regência.
Ex.: Fazem dois anos que viajamos em vez de faz dois anos...
Visava
uma posição de destaque em vez visava
a uma...
Ambiguidade
ou anfibiologia –- Quando a frase tem mais
de um sentido.
Ex.: O menino viu o incêndio do prédio.
Ama
o pai o menino.
Cacófato
ou cacofania –- É o som desagradável
produzido a partir da junção indevida de palavras.
Ex.:
Mande-me já a
encomenda.
Eu amo ela.
Pleonasmo
–- É a repetição desnecessária
de palavras para expressar uma mesma idéia.
Ex.:
Ele teve uma hemorragia de sangue.
O
menino entrou para dentro.
Arcaísmo
–- É a utilização de palavras
ou expressões antigas, ultrapassadas, que já caíram em desuso.
Ex.:
Vossa
Mercê me permite uma observação.
Qual
a sua graça?
Eco
– É a–
repetição de um mesmo som numa sequência de palavras.
Ex.: A decisão
da eleição não causou comoção na população.
Neologismo
– Criação desnecessária e
abusiva de palavras novas.
Ex.:
O ministro se considerava imexível.
O
garoto ameaçou dar uma paralepipada
no colega.
PRATICANDO
- Localize e nomeie os vícios de
linguagem.
a) O
diretor deferiu favoravelmente o meu requerimento.
___________________________________________
b) A
brisa matinal da manhã nos deixava tranqüilos.
___________________________________________
c) Fazem
mais de três anos que ela não aparece.
___________________________________________
d) Não
admitiremos excessões em ipótese alguma.
___________________________________________
e) O
funcionário colocou sua rúbrica no documento.
___________________________________________
f) Nunca
gaste mais do que tem.
___________________________________________
g) Haviam
menas alunas naquela sala.
___________________________________________
h) Ele
encontrou o ladrão na sua casa.
___________________________________________
i) Manoel
comprou um pastel no quiosque do Léo.
j) Falta
cinco alunos.
_______________________________________
k) Saiu
para fora desesperado.
_______________________________________
l) Jacinto,
vi a Célia passeando com a sua irmã.
_______________________________________
m) A
boca dela é encantadora.
_______________________________________
n) Proporam
um ótimo negóssio.
_______________________________________
o) Que
demora! Será que nunca Brito vem?
_______________________________________
p) Tomou
uma paralepipada na cabeça e desmaiou.
_______________________________________
q) Vossemecê
é um bom amigo.
_______________________________________
r) Eu
vi ele não faz muito tempo.
_______________________________________
s)
“Aquele rapazinho
escreveu esta carta para o irmão: Querido
mano, ontem futebolei bastante, com amigos. Depois cigarrei um pouco e nos
divertimos montanhando até que o dia anoitou. Então desmontanhamos, nos
amesamos, sopamos, arrozamos, ensopadamos e cafezamos. Em seguida varandamos.
No dia seguinte, cavalamos muito.”
(Millôr Fernandes)
____________________________________________
12. GRAMÁTICA
E LINGUÍSTICA
Dentro da diversidade da
língua ou dos falares regionais se
sobrepõe um uso comum a toda o território, fixado pela gramática normativa, que tem por objetivo fixar normas para o uso da língua, criando os
conceitos de certo e de errado. Assim, como manual, a gramática de uma língua tem papel normativo.
A Linguística, por sua
vez, é uma ciência que estuda a comunicação.
Assim, diferente da gramática, não trabalha com os conceitos de CERTO e ERRADO,
mas sim com os conceitos de ADEQUADO e
INADEQUADO.
Posicionando-se sobre os
conceitos de certo e errado, declara o professor e gramático Celso Cunha: “”Correto
é aquilo que o grupo social a que pertencemos espera de nosso comportamento
verbal”.”
13. UNIDADE
E VARIEDADE LINGUÍSTICA NO PORTUGUÊS DO BRASIL
A língua apresenta variações de acordo com as diversas circunstâncias
em que é falada, de acordo com diversos fatores.
Fatores
geográficos -– O Brasil é um país
gigantesco e todos falamos uma única língua oficial, o português, que sofre
variações de acordo com as regiões onde é falada. São as variantes regionais, os falares.
Assim, embora a língua seja a mesma em todo o território, o paulista, o
mineiro, o carioca, o baiano, isso para citar alguns exemplos, apresentam
sotaques diferenciados na hora de falar.
Fatores
sociais -– O português falado pelas
classes dominantes difere do português falado pelas classes populares. Assim, a
elite domina uma forma de expressão linguística que é prestigiada, enquanto outras são vítimas de
preconceitos por empregarem uma forma de expressão linguística menos privilegiada. Assim sendo,
distinguimos de imediato duas modalidades diferentes da língua: a norma culta e a linguagem coloquial. Concluímos, portanto, que o idioma é um
instrumento de dominação e discriminação social. Dessa forma, o conhecimento da
norma culta torna-se necessário como forma de ascensão profissional e social.
Determinados grupos
sociais elegem certas formas de expressão visando o entendimento exclusivo dos
seus membros. Trata-se de uma forma restrita(e de curta duração) de
comunicação, a gíria,
variante linguística sujeita a contínuas transformações, muitas vezes
assimiladas pela linguagem coloquial.
A
norma culta é o registro formal da língua seguindo com rigidez os padrões gramaticais e
apresentando um vocabulário bastante culto.
A linguagem coloquial, por sua vez, é a variante popular, desprovida
de maior rigor gramatical, mais espontânea e relaxada.
06
Fatores
profissionais -– O exercício de certas
atividades requer o domínio de formas peculiares de expressão, ou seja, termos
específicos de uso restrito ao intercâmbio profissional de engenheiros,
médicos, jornalistas, professores, etc. Trata-se da chamada língua técnica ou jargão.
Fatores
situacionais –- Em diferentes situações
de comunicação, um mesmo indivíduo se expressa de diferentes maneiras,
adequando seu vocabulário ao contexto lingüístico. Por exemplo: num ambiente
familiar, nossa linguagem é relaxada, despreocupada, ao passo em que numa
situação formal, como num discurso de formatura, nossa linguagem é mais
apurada, pois há uma preocupação com as regras gramaticais.
PRATICANDO
1. Relacione:
A
-– fatores geográficos B -–
fatores sociais
C
-– fatores profissionais D -–
fatores situacionais
E
-– norma culta F -–
gramática descritiva
G
-– gramática histórica H -–
gramática normativa
a) ( ) Falamos de acordo com o ambiente e o
contexto em que estamos.
b) ( ) Variantes regionais ou falares.
c) ( ) Língua técnica ou jargão.
d) ( ) Norma culta e linguagem coloquial.
e) ( ) Forma prestigiada de utilização da língua.
f) ( ) Estabelece as noções gerais de certo ou
errado.
g) ( ) Preocupa-se em fazer uma descrição da
língua.
h) ( ) Estuda a evolução da língua ao longo do
tempo.
2. Quem
fala errado: o nordestino, o mineiro, o carioca ou o paulista? Justifique sua
resposta.
______________________________________________________________________________________________________________
3. De
acordo com o que foi estudado até aqui, o que você considera “falar
bem”?
______________________________________________________________________________________________________________
4. Explique
o que são falares regionais.
_______________________________________________________
5. Relacione
de acordo com os registros da língua:
A
–- formal (norma culta)
B
–- coloquial (popular)
a) ( ) “A
gente correu, mas a cana pegou todo mundo.”
b) ( ) “Senhores
formandos, tendo a nau atingido seu ponto, é mister que sejam delineados os
objetivos específicos.”
c) ( ) “Isso
é homem que não agüenta o trabaio... quer é vagabundear, ganhar dinheiro fácil.”
d) ( ) “Na
nossa aula de amanhã, veremos outra parte da matéria.”
Não gosta de gírias? Então fale
difícil!!!
1.
Prosopopéia flácida para acalentar bovinos.
Conversa
mole pra boi dormir.
2.
Colóquio sonolento para gado bovino repousar.
3.
Romper a face.
4.Creditar
o primata.
5.Derrubar
com a extremidade do membro inferior, o suporte sustentáculo de uma das
unidades de acampamento.
6. Deglutir
o batráquio.
7. Sequer
considerar a utilização de um longo pedaço de madeira.
8. Sequer
considerar a possibilidade da fêmea bovina expirar fortes contrações
laringo-bucais.
9. Derramar
água pelo chão através do tombamento premeditado de seu recipiente.
10. Retirar
o filhote de eqüino da perturbação pluvial.
14. TEOLOGIA
E LITERATURA
João Guimarães Rosa nasceu em 1908 em
Cordisburgo (Minas Gerais).Na infância conviveu com vaqueiros de quem ouvia os
“causos”. Este autor renovou, reinventou a prosa regionalista, ao inserir
temáticas de ordem mística e filosófica nas suas narrativas. Além disso, o
trabalho que autor faz com a linguagem é impecável, pois cria palavras,
modifica a ordem das mesmas. Guimarães Rosa aborda as questões regionais e, ao
mesmo tempo, tenta mostrar o mundo de cada personagem, a universalidade.
Trecho
I
De primeiro, eu fazia e mexia, e pensar não
pensava. Não possuía os prazos. Vivi puxando difícil de dificel, peixe vivo no
moquém: quem moi no asp’ro, não fantaseia. Mas, agora, feita a folga que me
vem, e sem pequenos dessossegos, estou de range rede. E me inventei neste
gosto, de es pecular ideia. O diabo existe e não existe? Dou o dito.
Abrenúncio. Essas O senhor vê: existe
cachoeira; e pois? Mas cachoeira é barranco de chão, e água se caindo por ele,
retombando; o senhor consome essa água, ou desfaz o barranco, sobra cachoeira
alguma? Viver é negócio muito perigoso...
Explico ao senhor: o diabo vige dentro do
homem, os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos.
Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo. O
senhor aprova? Me declare tudo,franco – é alta mercê que me faz: e pedir posso,
encarecido. Este caso – por estúrdio que me vejam – é de minha certa
importância. Tomara não fosse... Mas, não diga que o senhor, assisado e
instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião
compõe minha valia. Já sabia, esperava por ela-já o campo! Ah, a gente, na
velhice, carece de ter sua aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum.
(...)
Trecho
II
Mire veja: um casal, no Rio do Borá, daqui
longe, só porque marido e mulher eram primos carnais, os quatro meninos deles
vieram nascendo com a pior transformação que há: sem braços e sem pernas, só os
tocos... Arre, nem posso figurar minha ideia nisso! Refiro ao senhor: um outro
doutor, doutor rapaz, que explorava as pedras turmalinas no vale do Araçuaí,
discorreu me dizendo que a vida da gente encarna e reencama, por progresso
próprio, mas que Deus não há. Estremeço. Como não ter Deus?! Com Deus
existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve.
Mas, se não tem Deus, há - de a gente perdidos no vai vem, e a vida é burra. É
o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar – é
todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho,
pois no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de
coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada –
erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços. Dor não
dói até em criancinhas e bichos, e nos doidos –não doi sem precisar de se ter
razão nem conhecimento? E as pessoas não nascem sempre? Ah, medo tenho não é de
ver morte, mas de ver nascimento. Medo mistério. O senhor não vê? O que não é
Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não
precisa de existir para haver – a gente sabendo que ele não existe, aí é que
ele toma conta de tudo. O inferno é um sem -fim que nem não se pode ver. Mas a
gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo
vendo. Se eu estou falando às flautas, o senhor me corte. Meu modo é este.
Nasci para não ter homem igual em meus gostos. O que eu invejo é sua instrução
do senhor...
1. O misticismo, isto é, a crença na relação
do homem com o sobrenatural, é uma marca na obra de Guimarães Rosa. Observando
os dois trechos acima, é possível dizermos que as reflexões desenroladas nos
levam a estabelecermos uma relação com a:
a) sociologia
b) filosofia
c) história
d) biologia
2. Leia o fragmento do trecho I: “(...) o
diabo vige dentro do homem (...)”. Em um texto, é possível inferirmos,
deduzirmos o sentido de determinadas palavras a partir do contexto. Desse modo,
a palavra destacada pode ser substituída sem prejuízo de sentido por:
a) mora
b) coordena
c) necessita
d) anda
3. De acordo com o contexto do trecho I, diga
o que seria”o homem arruinado”, o “homem dos avessos”.
4. (...) Mas a gente quer Céu é porque quer
um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo.(...) (Trecho II) Este
trecho faz referência:
a) à vida mal vivida
b) à vida após a morte
c) à vida que o homem deixa escapar
d) à vida em comunidade
5. Na prosa de Guimarães Rosa, é possível
encontrarmos muitos aforismos. Aforismos são frases que resumem um princípio,
um valor ou um ensinamento. No trecho II, há alguns. Cite um deles.
6. Identifique em cada um dos trechos uma
característica da Geração de 45.
7. Identifique nos trechos analisados traços
de religiosidade/espiritualidade, comuns em Guimarães Rosa.
15.
TIPOLOGIA TEXTUAL: DESCRIÇÃO, NARRAÇÃO, DISSERTAÇÃO.
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