CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA
ACONSELHAMENTO E SAÚDE EMOCIONAL
APRESENTAÇÃO
A liderança, seja de pequenos ou de grandes
grupos, exige de nós determinadas habilidades que, em princípio, podemos
desconhecer que temos. Uma delas, sem dúvida alguma, é a habilidade de
aconselhar pessoas.
O aconselhamento cristão nem sempre é feito de
maneira formal, no gabinete pastoral. Muitas vezes, é feito informalmente nos
corredores do templo, em conversas entre pessoas que mantêm algum vínculo.
Normalmente, as pessoas procuram para um
desabafo ou para um aconselhamento alguém em quem confiem completamente.
Nossa intenção, ao incluir o aconselhamento como
matéria deste curso é dar algum suporte a esses líderes, permitindo que
desenvolvam esta habilidade de forma segura, sabendo o que estão dizendo.
Todo o material (livro ou apostila) utilizado na
montagem desta apostila está devidamente identificado, e recomendo a leitura
dos mesmos para que tenhamos uma visão mais ampla.
Bons estudos, boas experiências de
aconselhamento e uma ótima saúde emocional (e física) a todos.
Isac Machado
de Moura
SAÚDE EMOCIONAL
Auto-Imagem
Quem sou eu? Qual é o meu
valor? As
respostas a estas perguntas irão depender do meu conceito sobre mim mesmo.
Auto imagem é o que eu penso de mim mesmo, e começa a ser formada desde o ventre materno.
·
É a nota que eu dou a mim mesmo;
·
“São
pensamentos, sentimentos e atitudes que temos para com nós mesmos”.
·
“É a
auto-avaliação sobre nossos valores pessoais” (físicos, intelectuais,
habilidades, etc).
·
“É uma ótica pela qual enxergamos a vida.
Algumas pessoas têm óculos negativos que dão perspectiva pessimista à vida
toda, enquanto outras têm óculos positivos que dão brilho à vida toda”.
POR
QUE MUITAS PESSOAS TÊM UMA AUTO-IMAGEM NEGATIVA?
·
A
Principal razão de uma auto-imagem negativa é a falta de amor. Sem este amor
como alicerce, a pessoa não se sente querida e aceita. A pessoa que
experimentou tal amor tem uma confiança de que é aceita, não importa o que ela
faça ou deixe de fazer. Seus sentimentos e pensamentos a respeito de si mesmo
não dependem de suas habilidades ou desempenho.
A pessoa que se aceita tem
a seguinte ótica: “Eu sou bom porque Deus me fez, e Ele não faz besteiras”.
Se eu me
aceito, normalmente enxergo a vida de forma positiva. Se eu não me aceito,
normalmente enxergo a vida de forma negativa. É uma atitude que me norteia,
dando óculos emocionais através dos quais enxergo a vida toda.
UM CASO BÍBLICO DE AUTO-IMAGEM
COMPROMETIDA: GIDEÃO - E SUA CURA
INTERIOR: Juízes 6:11-23.
Gideão vivia em uma época em que a sua nação
vinha sendo dominada pelos midianitas. Eles viviam da agricultura. O
problema é que Israel já vinha amargando um ciclo contínuo de fracassos, porque
todos os anos, por ocasião da colheita, os midianitas vinham e saqueavam
completamente todo o produto de um ano de trabalho.
Através das respostas de Gideão, podemos
fazer uma leitura da auto-imagem da nação e o processo de auto-depreciação que
viviam. Gideão tinha um senso de derrota em sua mente e em seus pensamentos. Gideão tinha uma
auto-imagem muito deficiente, e isso incluía a visão que tinha do seu povo.
Resultado: Um ciclo de derrotas.
A história bíblica relata que Gideão se
recuperou de maneira incrível desse ciclo de derrotas a ponto de levar seu povo
a uma vitória inesquecível contra o exército midianita.
Sua reação e vitória começaram no seu
conceito sobre si mesmo. Vejamos sua história:
a)
Gideão se coloca como Vítima das circunstâncias – V.11
“Então o anjo
do Senhor veio, e sentou-se debaixo do carvalho que estava em Ofra e que
pertencia a Joás, abiezrita, cujo filho Gideão estava malhando o trigo no lagar
para o esconder dos midianitas.”
-
Gideão cresceu com medo dos midianitas;
-
Desde pequeno ouvia falar que era menor... o medo paralisa; tornou-se
complexado;
-
Tinha uma ótica distorcida de si mesmo e das circunstâncias;
- Gideão se sentia fraco, pobre e
miserável.
b)
Gideão ouve aquilo que Deus tem a dizer a respeito do seu
potencial – V.12.
“Apareceu-lhe
então o anjo do Senhor e lhe disse: O Senhor é contigo, ó homem valoroso”.
O Senhor investe
em sua auto-estima. Declara que ele tem um grande valor. Deus olha para este cabra
frágil, medroso e abatido, escondendo-se no lagar e lhe diz: “homem
valente”; “você é uma pessoa de sucesso” ;
“você é líder de multidões”.
Companheiro, companheira, você não é o que pensa que é. Você é o
que Deus diz que você é. Olha que belezura!
JESUS olhou para o instável Pedro e lhe disse: Tu és rocha!
Deus olha para um mau caráter como Jacó, e lhe diz: Tu és
príncipe!
c C) Gideão ainda responde Negativamente – V. 13
Gideão
lhe respondeu: “Ai, senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo isso nos
sobreveio? e onde estão todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram,
dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Agora, porém, o Senhor nos
desamparou, e nos entregou na mão de Midiã.”
Sua
resposta começa com um “ai”.
Como
ele estava enganado sobre si mesmo! Ele se sentia inadequado, vazio,
desiludido: “eu estou acabado, eu não tenho mais nada em mim que preste, não
sou inteligente o suficiente”...Gideão entrou em uma crise de auto-piedade.
Somos o produto
da visão que alimentamos. Ao nos comparar com os outros, os complexos de
inferioridade nos escravizam, esquecemos de nossa identidade em Cristo.
Resultado: Insatisfação, fracasso...
d) Deus motiva Gideão a começar com aquilo que
tem - V.14.
“Virou-se o Senhor para ele
e lhe disse: Vai nesta tua força, e livra a Israel da mão de Midiã; porventura
não te envio eu?”.
Em outras palavras: Você pode! Você tem força! Eu estou
contigo!
Deus sempre vai investir em sua auto-imagem e auto-estima. Mesmo
que os outros não o façam.
e) Gideão ainda luta contra a
verdade e dá outra resposta negativa – V.15
“Replicou-lhe Gideão: Ai, senhor meu, com que livrarei a Israel?
Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu o menor
na casa de meu pai”.
A
auto-imagem negativa às vezes está tão arraigada em
nós que lutamos contra a verdade de Deus. No caso
de Gideão, insistindo num complexo de inferioridade.
f) Deus investe novamente com uma Promessa
– V.16
“Tornou-lhe o Senhor: Porquanto eu hei de ser
contigo, tu ferirás aos midianitas como a um só homem”.
g)
Gideão começa a mudar a fonte da sua auto-imagem e desenvolve uma nova perspectiva - V.17.
“Prosseguiu Gideão: Se agora
tenho achado graça aos teus olhos, dá-me um sinal de que és tu que falas
comigo”.
- Os
complexados e medrosos sempre querem uma prova a mais de que vão conseguir.
- Deus já tem
lhe dado provas de que está contigo.
Texto para reflexão
ESTOU AQUI
Isac Machado de Moura
Eu me arrependo,
me
entrego,
me
rendo.
Senhor,
como
fugirei dos teus propósitos?
Como
fugirei de tua vontade?
Até
quando poderei me esconder,
relutar,
insistir...
até
quando?
Eu
não quero!
VENHA!
Eu
não posso!
VENHA!
Não estou preparado!
VENHA!
Senhor, por que logo eu?
Esse ministério não!
Outro... vamos negociar!
VENHA! APRESENTE-SE!
Senhor, mas eu... eu...
TEM MAIS ALGUM ARGUMENTO?
Sim... um último, talvez o mais
forte:
tenho medo!
QUE BOM!
ENTÃO VOCÊ NÃO É
AUTO-SUFICIENTE,
VOCÊ TEM MEDO...
ENTÃO ESTÁ PRONTO...
VENHA AGORA MESMO!
EU TE ESCOLHI,
NÃO INSISTA MAIS,
NÃO RELUTE...
ESTE É O TEU MINISTÉRIO!
Algumas causas das doenças emocionais
- Escolhas erradas
O ser humano
é dotado de inteligência, de vontade própria, de sentimento e de livre
arbítrio, o que o torna responsável por suas próprias escolhas. A pessoa, por
tomar decisões erradas na vida, por assumir procedimentos errados, pode atrair
para si muitas doenças na área emocional, pois o remorso, o arrependimento e a
culpa doem, e suas consequências são
inevitáveis. “Por que, pois, se queixa o
homem? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados.” (Lm 3:39)
- Complexo de perfeccionismo
Sentimento
de insatisfação consigo mesmo. É o caso de pessoas que tentaram agradar seus
pais com toda dedicação, mas nunca conseguiram.
Exemplos:
Tiravam nove na prova, mas tinha que
ser um dez;
Arrumavam a cama do jeito que uma
criança é capaz de arrumar – nunca estava bom para o adulto.
Consequência: Agora adulta, essa pessoa vive dizendo: “Não consigo
fazer nada direito!”, “tenho que melhorar!”,
“não gostei deste trabalho que fiz!”
Está lutando para ser o melhor, mas nunca consegue, por isso fica
frustrado, desanimado e carrega um fardo enorme.
- Sensibilidade em excesso
São pessoas que sofreram muitas mágoas,
que desejaram ser amadas, admiradas, mas só receberam desprezo, descaso. Se
tornaram pessoas muito sensíveis, por isso querem muita atenção. Se uma amiga
está com a testa franzida por algum motivo, ela já imagina que está zangada com
ela. Pode também tornar-se uma pessoa durona, que esconde seus sentimentos, se
esconde atrás de uma couraça, achando que o chorar ou o se emocionar são
sentimentos negativos.
- Medo e timidez
Muitas mágoas que nos ocorrem são
difíceis de serem definidas, às vezes surgem “do nada”. Muitas crianças são
humilhadas, rejeitadas, depreciadas pelos seus próprios familiares e, assim, sentimentos de
ódio, raiva e medo são lançados em sua mente infantil e ali infeccionam,
transformando-se em gangrena, chegando a afetar toda a sua personalidade quando
adultos.
Exemplos:
“Puxa, olha
a cara desse garoto! É pena que não saiu nem um pouco à beleza do irmão!” “Por
sua causa, briguei com o seu pai!” ou
“...com a sua mãe!”
Há ainda os casos em que irmãos ou
primos mais velhos usam de ameaças para tirar vantagens dos menores; pais e
padrastos que tratam seus filhos de forma estranha, despertando sentimentos
fortíssimos, inadequados à idade da criança, procedimentos altamente
destrutivos, semelhantes a uma descarga de 800 volts num fio que suporta apenas
110. São tratamentos e relacionamentos confusos que se embolam na mente
juvenil, gerando ódio, medo , timidez, pavor... e que precisarão, mais tarde,
de cura interior. Do contrário, estas pessoas serão infelizes enquanto viverem.
- Falta de perdão
Por não saber lidar com o perdão de
Deus, as pessoas não conseguem perdoar a quem lhes causou algum mal. Por terem
dificuldades de entender, compreender e receber a grandeza da graça de Deus,
têm dificuldades de praticar a graça, de amar as pessoas. Não sabem receber e,
consequentemente, não sabem dar!
Essas pessoas vivem amarguradas,
complexadas, cheias de ódio e sentimentos de vingança em relação àqueles que,
na sua história de vida, lhe machucaram. Como não conseguem vivenciar a graça,
não conseguem viver com seus sentimentos de amor, de perdão, renúncia e
tolerância. Para nos sentirmos livres e conseguirmos perdoar, precisamos
retirar os sentimentos negativos do coração. “Antes sede bondosos uns para com os outros, compassivos, perdoando-vos
uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.” Ef 4:32
CONCLUSÃO
O melhor tratamento para a cura da
falta de perdão é a aceitação imediata do perdão de Deus e a sua aplicação,
perdoando a quem nos ofendeu.
PERDÃO
(Isac Machado de Moura)
Te procurei, Senhor,
em
tantos lugares:
na
terra, no mar, nos ares...
e
não te encontrei.
Desesperado,
continuei
numa procura interminável...
e
nada...
não
te achei.
Pensei:
“Deus esqueceu-se de mim”.
Se
longe estavas
ou
perto,
não
sei... não sabia...
mas te procurei,
Senhor,
e
não te encontrei,
me faltava uma experiência
direta contigo.
Enfraqueci,
mas não deixei de te procurar,
não
desisti, queria mesmo te encontrar.
Te
procurando, Senhor,
Transpus
tantas barreiras,
ultrapassei
fronteiras,
mas
não atingi o alvo,
não
conseguia perdoar.
Retrancado,
então,
me
esforcei, pedi teu perdão
e
me dispus a amar.
Continuei
a procura,
parecia
longo o caminho a percorrer
e
de tão longa a estrada,
até
pensei em morrer.
Caminhei
pelo deserto
e
ia me aproximando de ti, sentia,
mas o que ainda não via
era meu interior.
De
longe avistei uma fonte,
a
sede era intensa, era grande o calor,
e
aí percebi que tanto caminhei
e nem mesmo passei
pelos
caminhos do amor.
Lembrei-me:
“sou a água da vida.”
Corri,
Senhor, corri
para
chegar àquele manancial
e
cheguei bem perto,
mas
ele estava cercado,
então,
decepcionado,
fiquei
sem nada entender;
era
grande a sede, precisava beber.
Somente
aí, Senhor,
compreendi
que aquela barreira
era
meu coração, e que somente cairia
ao perdoar meu
irmão.
REJEIÇÃO
É
um sentimento que ocorre em pessoas que foram
mal amadas, ignoradas pelas pessoas ao seu redor, causando sentimento de
inferioridade e de auto-piedade. Quando ama alguém, é como um aspirador de pó,
suga completamente a pessoa amada (uma espécie de amor compulsivo... pessoa que
"ama demais"!). Está sempre preocupada em agradar alguém, pois tem
medo de que os outros pensem mal de si e a amem menos!
ALGUMAS CAUSAS DE
REJEIÇÃO
·
Nome próprio mal
escolhido pelos pais - Ex.: Novalgina de Jesus, Cesariana Alves, etc.;
·
Morte dos pais;
·
Filhos adotivos
que foram criados por madrinhas, avós, etc.;
·
Divórcio dos
pais;
·
Preferências dos
familiares. Dão preferência a um filho mais bonito, inteligente, descontraído,
e esquecem o retraído, o tímido!
·
Rejeição no
casamento - quando uma parte é traída, causando humilhação!
·
Palavras depreciativas, como:
- "Você é um burro, nunca vai passar de ano"!
- "Você não presta pra nada"!
- "Você nunca deveria ter nascido, só me causa problemas..."
- "Você é uma prostituta! Olha o jeito que se veste!"
- "Seu drogado, você vai morrer assim!"
- "Seu casamento vai ser uma
porcaria, igual ao meu"!
- "Os homens nunca prestam, não confie neles"!
- "Se você não arrumar namorada, vai virar homossexual"!
- "Os homens nunca prestam, não confie neles"!
- "Se você não arrumar namorada, vai virar homossexual"!
·
Apelidos referindo-se a pontos sensíveis: "Narigudo"; "Boca de Cabide";
"Orelha de Abano", etc.
Uma pessoa
com problemas de rejeição, precisa urgentemente de cura interior, precisa
conversar com Deus, confessar seus medos, suas angústias, enfim, tudo o que lhe
faz mal. Somente assim, poderá liberar perdão para as pessoas causadoras desse
estado de coisas.
O
SENTIMENTO DE CULPA
"Então disseram uns aos outros: Na verdade, somos culpados acerca de nosso irmão,
pois vimos a angústia da sua alma, quando nos rogava; nós porém não ouvimos,
por isso vem sobre nós esta angústia."
(Gênesis 42 : 21)
"Porque teu servo se deu por fiador por este moço para com
meu pai, dizendo: Se eu o não tornar para ti, serei culpado para com meu pai por todos os
dias." (Gênesis 44 : 32)
"E disse: Meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para
levantar a ti a minha face, meu Deus; porque as nossas iniqüidades se
multiplicaram sobre a nossa cabeça, e a nossa culpa tem crescido até aos céus." (Esdras 9 : 6)
"Por que escreves contra mim coisas amargas e me fazes herdar
as culpas da
minha mocidade?" (Jó 13 : 26)
"E disse Pilatos aos principais dos sacerdotes, e à multidão:
Não acho culpa alguma neste homem."
(Lucas 23 : 4)
"Mas, no segundo, só o
sumo sacerdote, uma vez no ano, não sem sangue, que oferecia por si mesmo e
pelas culpas do
povo;" (Hebreus 9 : 7)
"Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros,
para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus
efeitos." (Tiago 5 : 16)
BUSCANDO UM CONCEITO
- A partir dos textos bíblicos lidos, como podemos definir culpa?
- Podemos
dizer que a culpa é um sentimento humano?
Um dia expus
meu filho a uma situação de risco para a idade dele. Tudo terminou bem, mas
durante a cena, pensei: “se ele cair, nem eu nem minha esposa vamos me
perdoar”.
Naquele
momento eu estava me sentindo culpado pela possibilidade dele machucar-se. E
por que eu estava me sentindo culpado? Por que eu poderia ter evitado. Então,
podemos “fechar” um primeiro conceito dizendo que culpa é aquilo que sinto quando exponho alguém a uma situação que
poderia ter evitada.
Assim, nos sentimos culpados todas as
vezes que podendo evitar uma coisa, nada fazemos e deixamos que aconteça.
Quando acontece, entramos em crise, somos culpados.
A vida envolve riscos o tempo todo.
Quando tomo uma decisão acreditando que estou fazendo a coisa certa e mais a
frente vejo que não era aquela a melhor opção, vem o sentimento de culpa. Eu
errei. Escolhi a opção errada. E então se abrem duas possibilidades diante de mim: ou fico remoendo a culpa pelo
erro, pelo risco que corri tomando a
decisão que me pareceu correta, amargando isso e me torturando, ou aceito o
“prejuízo” como um risco que faz parte da vida, volto ao ponto zero e recomeço.
E mais uma vez tenho que decidir entre lamentar e reagir.
O sentimento de culpa é muito sinistro,
é capaz de levar um sujeito à ruína, a uma profunda depressão. Uma pessoa que
se sente culpada pela doença ou pela
morte de outra terá uma existência sofrida, amargurada e improdutiva. Uma
pessoa que acha que alguém abandonou a igreja por sua causa ou que foi embora
de casa por sua causa também conviverá com esse sentimento.
Então preciso dizer umas coisas muito
sérias: quando alguém abandona a igreja, não o faz por minha causa, ele já
queria fazer isso e precisava de um culpado. Então diante de um “vacilo” meu,
por menor que seja, ele vai se apegar a isso e me culpar. Porque o grande lance
do ser humano é jogar a culpa sobre outro. Quando um cônjuge ou um filho vai
embora de casa, vai porque quer ir mesmo, e está precisando de uma desculpa.
Essa desculpa virá de coisas pequenas com as quais ele convive há anos numa
boa, mas agora é diferente, ele precisa justificar sua partida, ele precisa se
eximir de culpa.
Culpa também pode
ter o sentido de transgressão, de pecado, como observamos nos textos bíblicos
introdutórios deste capítulo.
CUIDADO
Algumas pessoas desenvolvem com muita
facilidade um sentimento de culpa e se sentem culpadas por uma série de coisas.
Outras pessoas, espertinhas, se aproveitam disso e manipulam esse sentimento de
culpa. Isso é comum em casamentos onde um dos cônjuges se sente inferiorizado e
o outro quer manipular isso para o seu bem. Não é só em filmes que o marido ou
a mulher provocam uma série de acontecimentos e jogam toda a culpa sobre o
outro e esse outro assume tudo numa boa. Isso acontece também em algumas
“amizades mal intencionadas”, em empresas, na igreja.
Sim, na igreja, afinal, como já disse
em outras ocasiões, a igreja é formada de gente, de pessoas e pessoas são
problemáticas.
A parada então é assim: não manipule,
nem se deixe manipular. Nenhuma dessas atitudes é cristã. Cristão é dizer para
o cara que tem sentimento de culpa que Cristo já resolveu isso na cruz. Cristão
é não se aproveitar da fragilidade do outro.
ASPECTOS PSICOLÓGICOS DA CULPA
O sentimento de culpa é o sofrimento obtido
após reavaliação de um comportamento passado tido como reprovável por si mesmo.
A base deste sentimento, do ponto de vista psicanalítico, é a frustração
causada pela distância entre o que não fomos e aquilo que achamos que
deveríamos ter sido. Há também outra definição para "sentimento de
culpa" – ocorre quando se viola a consciência moral, pessoal, ou seja, quando pecamos e erramos.
Para a Psicologia, um sentimento como esse, quando
chega a ser considerado um obstáculo por aquele que o sente, é resultado de um
inadequado crescimento pessoal, de uma certa imaturidade ou ainda de uma
auto-cobrança muito grande ou de uma expectativa muito elevada em relação a sua
realização pessoal; sendo assim, o sentimento de culpa pode ser apenas
limitação momentânea no processo de auto-realização.
Se exijo muito de mim mesmo, vou desenvolver esse
sentimento de culpa diante de cada fracasso, ainda que momentâneo, mas se sou
uma pessoa madura, vou encarar esse suposto “fracasso” como um obtáculo
temporário que precisa ser vencido, vou chutar para bem longe esse sentimento
de culpa, vou recomeçar, e vou em busca do meu objetivo, sem culpa, sem medo.
A teologia da prosperidade tenta transferir para
cada pessoa a culpa do seu próprio fracasso, do seu insucesso, de suas doenças,
enfim, de todas as suas dificuldades, dizendo que isso acontece porque essa
pessoa não tem fé. Para essa turma, ou seja, os defensores
da teologia da prosperidade, sucesso está atrelado a dinheiro, a bens
materiais. É como se nenhum pobre pudesse ser feliz. Não sabem os caras o
quanto somos felizes com nossas pernas, nossas bicicletas, nossas casas
simples, nossos fusquinhas, nossos chevetes, nossos astras, nossos vectras,
nossos churrasquinhos de fim de semana juntando partes de cada um dos
envolvidos ou naquelas churrascadas por conta de um só. A felicidade, pessoas,
não está em nada disso simplesmente, mas num contexto de coisas. Então posso
ser feliz com meu fusquinha ou com meu vectra no mesmo grau de intensidade.
Agora dizer que não tenho um super carro ou uma cobertura na praia do Forte por
conta de fé, ora, faça-me o favor. Quer dizer que as desigualdades sociais e as
oportunidades não contam. Oxente! Eu não me sinto culpado, eu me sinto é feliz
a balde de morar no 2º distrito de Cabo Frio. Até poderia desejar morar no
primeiro, mas isso não é prioridade para mim nesse momento. Então não estou
lutando por isso.
Outra coisa: fé não se relaciona com bens
materiais, pelo menos não principalmente.
E uma última coisa: não posso me considerar culpado
por todos os problemas da humanidade, nem por isso deixarei de ajudar a
diminuí-los.
CURA
INTERIOR
Cura interior é a cura do
nosso homem interior: da mente, emoções, lembranças desagradáveis, sonhos
frustrados. É o processo pelo qual, por meio da oração somos libertos de
sentimentos negativos, como: ressentimento, rejeição, auto-piedade, depressão,
culpa, medo, tristeza, ódio, complexo de inferioridade, auto-condenação, senso
de desvalor, etc.
Dez Pontos Importantes sobre a Cura
Interior
- A cura
interior, muito mais do que um objetivo a ser alcançado ou uma meta a
ser conquistada, é consequência do nosso jeito de viver. Cura interior
é fruto, precisa ser cultivada, desejada.
Ninguém passará por um
processo efetivo de cura interior se não desejar realmente ser curado.
- Precisamos aprender a celebrar as vitórias, pequenas e grandes. Cada passo vivido precisa ser degustado, saboreado, festejado.
Não podemos
ficar esperando para celebrar somente as grandes vitórias. Aliás, sem a
celebração das pequenas conquistas, perde-se o sabor das grandes vitórias
almejadas.
- O pessimismo do mundo moderno acaba contaminando nosso coração. Vamos nos tornando especialistas em ressaltar o negativo. Alimentamos o negativo através das notícias e das conversas. Enfocamos o negativo com lente de aumento e com isso nos especializamos naquilo que não presta e isso vai nos tornando pessoas pessimistas, medrosas, indecisas, enfim, carentes de cura interior.
- Feliz
aquele que tem com quem compartilhar suas tristezas e dores. Mais
feliz ainda aquele que tem com quem compartilhar suas alegrias. O amigo
verdadeiro é aquela pessoa diante de quem podemos nos revelar por inteiro.
Muita gente tem medo de partilhar suas vitórias – aliás, pode nem mesmo
ter alguém diante de quem fazê-lo. O outro parece sempre ser uma ameaça.
Como vivemos numa constante competição,
parece que ser feliz ofende aos outros. Acreditar na felicidade é um bom
caminho para encontrá-la, é uma trilha segura para construí-la. Já ouvi alguns
colegas dizendo: “não acredito na felicidade; o que existem são momentos
felizes.” Oxente, se existem momentos felizes, isso não quer dizer que existe a
felicidade?
- Um coração curado sabe que a alegria verdadeira não está naquilo que temos ou conquistamos, mas na qualidade de nossos relacionamentos. O que não pode ser partilhado não merece ocupar lugar nenhum em nossa vida. Algumas pessoas se deixaram levar pelo pessimismo e pensam que não existem amizades verdadeiras, duradouras, estáveis. Penso que o problema aí são as escolhas dessas amizades. Eu entendo que AMIGO “é um irmão que temos o direito de escolher”. Meus amigos, minhas amigas de infância nunca me decepcionaram. Sempre que precisei, pude contar e confesso que gosto muito de compartilhar com essas pessoas as minhas frustrações e as minhas alegrias. Se não confiamos em nossos amigos, é hora de revermos conceito sobre o que é amizade, começando por não confundir amigo com colega.
- Para
compartilhar a felicidade é preciso optar pela alegria. Divertir-se
corretamente não é pecado! O grande pecado é não saborear a vida. É
preciso ter seriedade suficiente para ser alegre e brincalhão. Uma boa piada,
na hora certa, tem um lindo poder restaurador em nosso coração. Rir e
ajudar os outros a rir é um dos mais eficientes e eficazes remédios para a
cura interior. Quem aprendeu a sorrir saberá chorar na hora certa, diante
das pessoas e das situações adequadas.
- No processo de cura interior é fundamental não se perder tempo e energia com bobagens. Cada vez que nos entristecemos devemos nos perguntar: é algo realmente sério? Será que esse fato merece a atenção que estou dando a ele? Não estou atribuindo um peso excessivo ao que a pessoa me falou ou me fez? Quanto tempo vou continuar alimentando essa tristeza em meu coração? Enfim, vamos parar de fazer tempestade em copo d’água.
- Todos
nós estamos sujeitos a muitos erros e falhas. Ninguém está vacinado contra
os dissabores da vida. Portanto, ficar remoendo o passado gera o rancor,
que é sempre prejudicial a nós e aos outros. A raiva emburrece a pessoa. O
ressentimento bestifica. É preciso aprender a perdoar aos outros e a nós
mesmos. O rancor produz medo de começar de novo. Viver é correr riscos,
sempre. Amar é um risco consciente. A vida é imprevisível! Só quem tem
coragem de se arriscar saberá saborear a alegria das vitórias.
- É
preciso estar aberto ao novo. Não devemos temer coisas novas, pessoas novas,
comidas novas, culturas novas, possibilidades novas. Abrir-se ao novo pode ser o começo de
uma experiência muito interessante.
- A celebração das vitórias tem também um aspecto muito
importante, que precisa ser ressaltado cada vez mais: aprender a compartilhar
nossas conquistas. Vitória que não é compartilhada não pode ser chamada de
vitória. A celebração das conquistas e vitórias ajuda a nos preparar para
vencer novos desafios. Vitória celebrada é semente de novas vitórias.
ACONSELHAMENTO
Os
Desafios do Aconselhamento Pastoral
Soluções
práticas
Donald
E. Price (organizador)
Vida
Nova
Adaptação
com fins didáticos: Isac M. Moura
“Mais poder tem o sábio do que o forte, o homem de conhecimento, mais do
que o robusto” (Pv 24:5).
Uma coisa que nunca é demais para
quem trabalha com aconselhamento é a sabedoria. Sabedoria para percorrer os
caminhos sombrios da racionalização, das evasivas, do auto-engano e das emoções
do coração humano – coração que somente Deus tem condições de conhecer por
completo. Sabedoria para saber quando falar e quando ouvir.
Mais do que qualquer outro ato, a
oração representa o lado espiritual do aconselhamento. Nossas orações
demonstram que não dependemos principalmente
de nossos estudos, talentos ou métodos, mas da ação do Espírito de Deus
nessas situações. A oração é uma confissão de incompetência que permite que o
poder de Deus prevaleça.
A oração pode mudar o tom da conversa. Muitos
aconselhandos chegam tensos.
Muitos
estão se submetendo pela primeira vez a um processo de aconselhamento e se
sentem inseguros e vulneráveis. Mas a
oração os faz relaxar, conforme a
promessa de Filipenses 4:6,7, concedendo-lhes a paz de Deus, que também nos
ajuda na comunicação.
USANDO A BÍBLIA NO ACONSELHAMENTO
No meio da confusão das circunstâncias em que se
encontram, as pessoas que estão sofrendo precisam e desejam desesperadamente
receber orientação e ouvir palavras que vêm de Deus. Assim, a pessoa que
aconselha pode se valer de um recurso espiritual incomparável: a verdade da
Bíblia. Mas, atenção: se você for rápido
demais no gatilho com os versículos da
Bíblia, deixará de ouvir os verdadeiros
sentimentos do aconselhando. Consequentemente, não entenderá a causa nem o
contexto dos seus problemas.
O
pior de tudo é que você não terá uma noção do entendimento que o
aconselhando tem da Bíblia. Não posso atingir o alvo se eu não souber qual é o
meu alvo. Se parto logo para o “assim diz o Senhor”, antes de saber o que diz a
pessoa, não terei condições de perceber quais são os verdadeiros problemas.
Utilize a Bíblia não para condenar, mas
para esboçar uma nova direção.
Cristo concentrava-se no presente e no futuro, em como uma pessoa podia
restaurar e manter seu relacionamento com Deus. No
caso da mulher surpreendida em adultério, ele se recusou a condená-la e disse a
ela: “Vai e não peques mais”. A maioria das pessoas sabe quando está
infringindo as normas de Deus. A destruição que isso resulta acaba forçando-as
a enfrentar a necessidade de mudança.
Jesus também era sensível a cada indivíduo. Ele compreendia as pessoas
profundamente e utilizava-se das Escrituras de acordo com essa percepção.
Ajudava as pessoas a entender suas motivações e seus comportamentos. A partir
daí, oferecia perdão, um novo começo e novas regras.
Fidelidade à Bíblia. Muitos anos atrás, um casal procurou o autor do
livro em estudo. Segundo ele, a principal queixa da esposa era esta: “Meu marido não é muito romântico”. O
que ele, porém, entendia ao ouvir essa queixa era: “Meu marido não é bom de cama”.
Com uma perspectiva tão restrita do termo romântico, ele se sentia
arrasado, pois havia aprendido desde cedo
que devia orgulhar-se de seu desempenho sexual. Examinei melhor a queixa
que a esposa apresentava e percebi que ela estava de fato dizendo: “Ele não é atencioso
comigo durante o dia”. Ela guardava dentro de si expectativas bem simples:
queria que seu marido lhe telefonasse do trabalho pelo menos uma vez por dia
para saber se tudo estava bem. Além disso, ela queria sair para passear pelo
menos uma vez por mês – e que ele providenciasse alguém para ficar com as
crianças. Mas ela nunca havia falado essas coisas com clareza. O autor narra
que sentou-se com o marido e ampliou a
compreensão que ele tinha da palavra “romântico”, e logo as coisas começaram a
melhorar entre os dois.
As pessoas que estão
atravessando um período de crise precisam de todos os recursos espirituais
possíveis e, por isso é importante que
participem dos cultos. Num culto público, a mente e o coração podem ser curados de algumas formas
que não acontece num gabinete pastoral.
Num culto, pessoas sem esperança e solitárias podem sentir a presença e o poder
de Deus. Essa luz que se espalha pelo ambiente é vital para os que se sentem
distantes de Deus e separados dele por seus problemas.
“Às vezes apresento as
pessoas a alguém que tenha enfrentado e superado problemas semelhantes;
frequentar a igreja ao lado de um amigo ou amiga assim pode fazer uma enorme
diferença na maneira como as pessoas se sentem na igreja: acolhidas em vez de
ameaçadas.”
CUIDADOS
NO ACONSELHAMENTO FORMAL
“Em situações formais de aconselhamento tenho por norma nunca ficar sozinho com o
aconselhando nas instalações da igreja.
Nunca me reúno com um aconselhando sem que alguma outra pessoa esteja por perto. Nas raras
ocasiões em que faço uma visita ao lar de uma aconselhanda, levo comigo minha
esposa. Ela pode não participar da sessão de aconselhamento, mas sua presença
em algum outro cômodo da casa ajuda a garantir a aparência de decoro.”
O sigilo é, provavelmente,
a questão ética mais delicada na relação entre conselheiro e aconselhando. Ele
é essencial no aconselhamento e, mesmo assim, é muito fácil tropeçar e colocar
a perder uma relação de confiança.
ACONSELHAMENTO
COM FAMÍLIAS
No aconselhamento feito com
famílias, surgem alguns dos aspectos mais capciosos do sigilo. Você fica diante
dos pais, ou de um deles, e dos filhos, cada um com seus problemas – e todos
merecedores do sigilo do conselheiro. Também numa situação dessas, mesmo que
isso me traga muita angústia, eu não traio a confiança das pessoas.
Se, por exemplo, o pastor
está aconselhando os pais e o filho adolescente, e este me confidencia “eu vou
fugir de casa”, creio que o pastor tem o compromisso ético de não revelar nada
aos pais.
Pense numa situação ainda
mais angustiante: o filho confidencia ao pastor que ele costuma usar drogas perigosas. O pastor sábio e consciente
deve fazer tudo que estiver ao seu alcance para obter do filho permissão para
contar tudo aos pais – mas sem tal autorização, o sigilo deve ser guardado,
mesmo que o aconselhando seja menor de idade.
Poucos pastores trairiam a
confiança de alguém em troca de uma boa
ilustração para sermão, mas às vezes fazemos isso sem perceber. Jamais comece
uma história com “certa vez aconselhei uma senhora, que me disse...” Isso é ser
muito direto e pode fazer que as outras pessoas corram os olhos pelo templo,
tentando adivinhar quem é a pessoa. Em vez disso, faça uma observação genérica:
“As pessoas às vezes me dizem...”
Casos de violência contra crianças devem ser reportados ao
órgão social competente: Conselho Tutelar.
PARTINDO
DO MAIS SIMPLES
“Ao fazer o diagnóstico de
um problema, devemos primeiramente tentar encontrar a explicação mais óbvia e
natural antes de passar a explicá-lo de formas mais complexas e menos
óbvias.” (Archibald Hart)
Cada problema deve ser interpretado, a princípio, em
seu nível mais óbvio e básico. Simplicidade é o segredo. Não complique o que pode ser simples. Assim, ao fazermos o
diagnóstico de um problema, devemos primeiramente tentar encontrar a explicação
mais óbvia e natural antes de passar a explicá-lo de formas mais complexas e
menos óbvias.
Exemplo: se estou
com dor de cabeça, tento primeiramente explicá-la como resultado do estresse ou
da vista cansada (dependendo das circunstâncias). Se descansar não resolver o problema, posso
vir a pensar se estou pegando uma gripe. Se essa hipótese não se confirmar,
posso precisar ir a um neurologista para verificar se estou com um tumor.
Outra coisa: se a
família do seu aconselhando tem histórico de doença mental e essa pessoa
manifesta comportamento e emoções estranhas, a causa mais provável é o padrão
repetitivo de doença na família. Os fatores genéticos têm um peso muito grande
sobre os transtornos mentais mais graves.
Se uma pessoa está se comportando de forma estranha,
dizendo que vê coisas ou escuta vozes que ninguém mais vê nem escuta, a
primeira intervenção deve ser o
encaminhamento dessa pessoa a um profissional competente que possa tratar desse
comportamento incomum e das alucinações.
O DANO PSICOLÓGICO
E O SENTIMENTO DE CULPA
Dificilmente alguém chega à
fase adulta sem adquirir algumas cicatrizes psicológicas ao longo da vida. Até
um lar cristão pode abrigar alguns sérios transtornos e gerar ansiedade. A
violência doméstica pode assumir diferentes formas, das quais a pior não é a
física, mas emocional.
O dano psicológico precisa
ser desfeito, e Deus às vezes intervém de modos maravilhosos para apagar essas
cicatrizes, mas outras vezes não acontece nenhuma intervenção sobrenatural.
A falsa culpa é outro
exemplo de dano psicológico que pode impedir o crescimento espiritual. Muitas
crianças que crescem em lares de cristãos consagrados ficam traumatizadas por
causa de sentimentos de culpa contínuos e exagerados. Muitas vezes, os pais, no
afã de criar os filhos no “temor do Senhor”, impõem uma disciplina rígida e
aplicam castigos severos.
Se os pais proíbem que seus
filhos conversem com crianças não evangélicas, essas crianças vão desenvolver
um forte sentimento de culpa sempre que conversarem com alguém assim.
Essa espécie de culpa é
quase sempre chamada falsa culpa ou culpa
neurótica, em oposição à culpa
real ou sadia. Quando nos sentimos condenados por regras arbitrárias, ou quando
a culpa que sentimos ultrapassa os
limites adequados, então ela se torna neurótica.
Por que essa culpa é
neurótica? Por uma razão importante: uma culpa assim não reage ao perdão dos
homens nem ao perdão de Deus. A única coisa que ela entende é a punição.
CUIDADO
PARA NÃO ESPIRITUALIZAR O QUE É FÍSICO
Nem todas as pessoas
viciadas em sexo estão debaixo do domínio de um “espírito da luxúria”.
Pensamentos e comportamentos lascivos podem ser resultado da falta de domínio
próprio, de contatos inadequados com atividade sexual na infância, de violência
sexual ou de pecados comuns. Não há necessidade de apelar para explicações
extravagantes.
A falsa atribuição de problemas emocionais aos
demônios representa vários perigos: afasta da vítima a responsabilidade por
admitir e confessar a pecaminosidade humana. Mas o pior de tudo é que isso
retarda a aplicação de um tratamento eficaz.
E a demora para início do tratamento
de alguém com esquizofrenia, por exemplo, pode diminuir muito a probabilidade de a
pessoa voltar à normalidade.
Esquizofrenia é uma enfermidade física. Por
apresentar sintomas estranhos, ela é muitas vezes rotulada de possessão
demoníaca. Mas assim como a epilepsia
(outra enfermidade antes rotulada de possessão demoníaca), hoje sabemos que a
esquizofrenia é consequência de uma anormalidade na química do cérebro. As
pessoas podem ser “curadas” disso por meio de medicamentos. E a demora em iniciar a medicação adequada para tratar a
esquizofrenia pode influenciar na lenta recuperação do paciente. Diagnósticos
errados podem trazer consequências bem sérias. Isso se aplica principalmente a
uma forma de esquizofrenia que aparece no fim da adolescência.
PRINCIPAIS SINTOMAS DA ESQUIZOFRENIA
·
Isolamento ou afastamento notório dos contatos
sociais;
·
Incapacidade óbvia de trabalhar para sustento
próprio, de estudar ou de ser dona de casa;
·
Comportamento nitidamente peculiar (juntar lixo,
falar sozinho em público, esconder alimentos);
·
Visível negligência com a higiene pessoal e com a
aparência;
·
Conversas sem sentido, vagas ou excessivamente
complexas, falta de conversa ou falta de conteúdo nas conversas;
·
Crenças estranhas ou pensamentos sobre magia que
alteram o comportamento da pessoa. Por exemplo: superstição, crença em
vidência, telepatia ou sentimento de que “os outros podem sentir o que eu
sinto”;
·
Experiências incomuns: fantasias que se repetem,
sensação da presença de uma força ou pessoa na realidade ausente;
·
Ausência clara de iniciativa e energia.
A esquizofrenia é uma doença complexa e, se um
conselheiro desconfiar de que seu aconselhando pode estar sofrendo disso, deve
o mais rapidamente possível fazer o encaminhamento a um psiquiatra.
CRISE
E PROBLEMA
As crises não chegam nas melhores
horas. Não podemos prevê-las em nosso calendário, mas uma coisa é certa: elas
acontecerão. As pessoas não precisam de ajuda apenas por causa das perdas que
tiveram de enfrentar, mas também para lidar com as consequências dessas perdas.
As crises podem piorar e se expandir como acontece com os incêndios e os
pequenos tremores que resultam de um grande terremoto.
Precisamos
fazer distinção entre crise e problema. Se lidarmos com todos os problemas como
se fossem crises, acabaremos gastando todo nosso tempo fazendo apenas isso.
O
conselheiro pode receber telefonemas no
meio da noite por causa de pessoas que querem atenção imediata para problemas
não tão importantes. O segredo é estar a disposição dessas pessoas sem perder a
paciência.
É
interessante que o conselheiro tente não reagir como ele se sente com relação
aos problemas das outras pessoas, mas como ele próprio se sentiria se estivesse
passando pela mesma experiência. A tempestade pode não passar de um copo
d’água, mas se a pessoa enxerga aquilo como uma tempestade, preciso ajudá-la a
trabalhar seus sentimentos e a conseguir uma perspectiva mais realista.
Não
vou poder ajudar muito as pessoas se as crises que elas estão vivendo se tornar
a minha crise. Numa situação em que não consigo manter a cabeça fora da água
nem tocar o fundo com os pés, preciso manter a calma. Se me identificar demais com os temores, o pânico e a
insegurança das pessoas, serei incapaz de ministrar. Preciso ser capaz de
sentir o que elas sentem, dizer a elas que tais sentimentos são normais, mas
tenho de manter a cabeça no lugar.
As crises podem representar
oportunidades: as pessoas amadurecem, os relacionamentos se fortalecem.
Dor
e trauma isolam as pessoas, principalmente em crises que envolvem a saúde. Os
pacientes ficam em ambientes desconhecidos, tratados pelas equipes médicas mais
como um problema do que como um ser humano. As pessoas que estão sofrendo
tendem a se retirar como uma tartaruga em seu casco. Isolar-se, porém, aumenta
o sofrimento.
As
vítimas das crises são obrigadas a tomar decisões importantes que podem trazer
grandes mudanças na vida, e tudo num período de tempo bem curto. Uma só decisão desse tipo já é estressante. E quando
há muitas, a situação é de deixar qualquer um desnorteado. Some-se a isso o
choque emocional, e a coisa se torna esmagadora.
As
crises podem facilmente sair do controle das pessoas. A maioria das pessoas tem
capacidade de lidar com uma crise de cada vez, mas todas elas conseguem se
ramificar, gerando outras crises: emocionais, financeiras, profissionais,
familiares e de identidade. As vítimas podem rapidamente perder as esperanças.
Quando a pessoa está vulnerável, quando
tudo está confuso, os “filhotes” da
crise podem causar danos incríveis. Para uma pessoa desempregada, boa parte da crise
reside na questão da identidade pessoal. Principalmente os homens que partem do
princípio de que a responsabilidade pelas finanças da família é deles, e eles
vacilaram. A sociedade diz que “um homem
vale pelo que ele faz”, e por isso eles se sentem pessoas fracassadas. Eles
podem chegar a ouvir comentários desse tipo até da mulher e dos filhos.
A pior tentação para um conselheiro é tentar aliviar, logo na primeira sessão, o
sofrimento da pessoa.
SITUAÇÕES
EM QUE UM
CONSELHEIRO DEVE ENCAMINHAR O CASO
Graves transtornos de personalidade
exigem conhecimentos específicos e tratamentos distintos, e é melhor que um
conselheiro leigo não aceite pessoas com esse perfil. Entre os casos mais
graves estão as personalidades paranóides e borderline.
As
personalidades borderline podem ser vingativas, excêntricas e sedutoras. Também
são manipuladoras por excelência e têm tendência ao suicídio.
Problemas
em que compulsões psicológicas se misturam com problemas morais devem ser, a
princípio, tratados longe das expectativas morais da igreja. Por isso, é melhor que os conselheiros encaminhem
essas pessoas para especialistas.
Questões de sexualidade – identidade de gênero,
homossexualidade, transexualismo e vício em pornografia – costumam gerar nas
pessoas profundos sentimentos de culpa. Em certos casos, elas precisam lidar
diretamente com as questões de culpa, e ninguém melhor que o conselheiro ou o
pastor da igreja para fazer isso.
ACONSELHANDO HOMENS E MULHERES
Em geral, as mulheres falam mais do que
você precisa ouvir e os homens, menos do que você gostaria. Assim, conhecer as
diferenças entre homens e mulheres pode ser de grande ajuda em muitas situações
de aconselhamento. As diferenças são, geralmente, sutis e muitas vezes não
seguem padrões fixos.
Os homens têm a tendência de sofrer mais com os
problemas profissionais e menos com os problemas domésticos. Na verdade, eles
podem suportar um baixo nível de realização afetiva se sua vida profissional
estiver caminhando bem. As mulheres não, elas tendem a sofrer mais com os
relacionamentos. É por isso que procuram o aconselhamento conjugal com muito
mais frequência que os maridos. Elas apostam tudo nos relacionamentos. Os homens costumam dizer: “meu trabalho é colocar o
pão dentro de casa; o da minha esposa é cuidar da casa.” As mulheres em geral,
mesmo que trabalhem fora, continuam sentindo que são responsáveis
principalmente pelos relacionamentos dentro de casa.
Quando
em dificuldades, as mulheres costumam procurar aconselhamento antes que os
homens. Elas procuram ajuda mais rapidamente. Os homens não gostam de admitir
que precisam de ajuda. Assim como eles resistem à ideia de parar o carro e
perguntar onde fica uma rua, pois detestamos reconhecer que perdemos o controle
da situação. Os homens são mais orgulhosos e, portanto, relutam bem mais em
procurar o aconselhamento, mas quando, enfim, procuram um conselheiro, esperam
uma solução rápida. Já as mulheres chegam querendo apoio: “quero alguém que me
entenda.”
Muitos
homens têm medo de perder o controle emocional durante o aconselhamento. Quando
choram, geralmente pedem desculpas, ficam sem graça, desconsertados.
As
mulheres, quando choram, raramente pedem desculpas. Elas podem começar dizendo:
“hoje eu vim para cá disposta a não chorar”, mas logo em seguida: “...mas eu
vou chorar.” Os homens sofrem mais com os fracassos,
principalmente no trabalho ou no sustento da família. Muitos se incomodam mais
com isso do que com a infidelidade conjugal. Com a maioria das mulheres acontece exatamente o
contrário.
Podemos pensar em saúde mental como se fosse uma
reta: do lado esquerdo estão as pessoas que se sentem excessivamente
responsáveis pelos outros (neuróticas) e do lado direito ficam as pessoas
envolvidas consigo mesmas (narcisistas). Nesta reta, as mulheres ficam
geralmente do lado esquerdo, e os homens, do lado direito.
As pessoas na extrema esquerda sentem-se
exageradamente culpadas. Chamam para si muito mais responsabilidades do que
deveriam. Elas pisam numa formiga e não conseguem dormir à noite.
No lado direito da reta, encontramos a maioria dos
homens. Geralmente, eles são narcisistas: acreditam que o mundo existe para
servi-los. Eles se preocupam com seus próprios interesses. Os homens não são
necessariamente vaidosos, mas são voltados para si mesmos.
Nos casos extremos, esse tipo de homem considera a
esposa algo que ele carrega ao seu lado para exibir no mundo dos negócios. Ele
pode achar que não dá para comprar sapatos novos para as crianças, mas acaba
comprando um Rolex por acreditar que precisa estar bem vestido para vencer no
mundo dos negócios.
Os narcisistas
também costumam não ligar muito para seus próprios pecados e fraudes.
Quando são apanhados, por exemplo, roubando dinheiro do patrão, eles se
envergonham mais do fato de terem sido pegos e não tanto por terem cometido um pecado contra a sociedade.
Quando o narcisista tem um caso extraconjugal, ele não pensa tanto que está
traindo os votos conjugais e que vai magoar a esposa; o que mais importa é o
que as pessoas vão pensar se ele for descoberto.
Até os quarenta anos, o homem se concentra em seu
trabalho. Eles gastam todas as energias com objetivos a longo prazo e
conquistas profissionais. Grande parte da auto-estima desses homens está
associada ao trabalho. Depois dos quarenta, o homem começa a ter contato com as
suas emoções e com seus relacionamentos. Eles se mostram dispostos a se dedicar
aos filhos. O problema é que justamente quando o pai tem mais tempo e energia
para dedicar aos filhos, estes se encontram no final da adolescência e já não
fazem questão de ficar com o pai.
Também é nessa fase que o homem entra em contato com
o fato de que ele é mortal. Um homem de 20 anos acha que ele é feito à prova de
bala. Quando passa dos 40, começa a ouvir que seus amigos e colegas de trabalho
sofreram enfartes ou contraíram doenças fatais. Ele começa então a lidar com o
fato de que não vai viver para sempre, e isso geralmente faz com que ele
empreenda uma busca espiritual. Assim
sendo, é muito importante que o conselheiro tenha consciência das questões
próprias desse período na vida do homem.
MULHERES
– O PERIGO DA SEDUÇÃO
Não são raros os casos em que uma aconselhanda se
sente sexualmente atraída pelo conselheiro. O fato é que muitos conselheiros
sem perceber acabam incentivando esse tipo de situação. Assim: o conselheiro
sempre se mostra compreensivo para com a aconselhanda; ele está sempre presente
quando ela precisa, parece entender tudo
o que ela sente e nunca entra em confronto com ela. Em pouco tempo ela começa a
compará-lo com o marido: “por que estou casada com aquele palerma, se tenho uma
pessoa maravilhosa, sensível, atenciosa e carinhosa como o meu conselheiro?”
PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS DAS MULHERES BORDERLINE
·
Alternância entre estados em que idolatram o
conselheiro e depois o desprezam;
·
Impulsivas em pelo menos duas áreas com potencial de
auto-destruição, como: gasto excessivo de dinheiro, sexo, uso de remédios
controlados, cleptomania, direção imprudente de veículos, consumo exagerado de
alimentos;
·
Manifestações frequentes de mal humor, ira constante,
agressões físicas que se repetem;
·
Ameaças ou comportamentos suicidas de automutilação;
·
Sentimentos crônicos de vazio e tédio;
·
Esforço frenético para evitar abandono real ou
imaginário.
TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA
Para muitos
homens e mulheres, o conselheiro ou a conselheira acaba se tornando o pai
ou a mãe que eles perderam cedo ou a
pessoa carinhosa que o pai ou a mãe não foi. Até certo ponto essa transferência
é aceitável, todavia isso funciona de
modos diferentes para homens e mulheres.
Muitas
mulheres podem procurar um conselheiro para ter a atenção que não receberam ou
não podem mais receber dos pais. Nesse caso, o conselheiro precisa ter muito
cuidado para não virar uma espécie de muleta para a pessoa, transformando-se na
resposta segura para todos os seus problemas pelo resto da vida, numa figura de
autoridade masculina.
Se você estivesse carente de amor, não seria ótimo
encontrar alguém culto, bem educado, que fala bem, mas também sabe ouvir,
respeitado na comunidade, com autoridade em sua profissão e ainda por cima que
não pense em si mesmo e esteja disposto a passar algum tempo só com você sem
cobrar nada por isso?
Transferência é quando o
aconselhando passa a projetar na relação de aconselhamento seus sentimentos e
desejos não atendidos, sentimentos e desejos que deveriam ser dirigidos para
outras pessoas.
A contratransferência
acontece quando o conselheiro projeta sentimentos e desejos não atendidos no
aconselhando, quando ele alimenta a transferência de sentimentos feita por
aquele.
As conselheiras também atraem fortes transferências
emocionais de outras mulheres que desejam ter amigas “especiais”, e algumas
transferências podem se tornar obsessivas e exigir muita atenção da parte
delas.
Os conselheiros precisam ter muito cuidado com mulheres
vítimas de violência sexual. Muitas foram molestadas pelo próprio pai ou por
figuras masculinas importantes. Por isso, é preciso construir relacionamentos
em que não haja o menor sinal de violência ou de apoio a violência ou de
exploração.
Se uma mulher passou a vida inteira ouvindo do pai
que é feia, e isso afetou profundamente sua auto-estima, o conselheiro pode sim
dizer que discorda dele, que ela é bonita, se for o caso, mas ele precisa estar
atento a forma como vai dizer. Ele não poderá dizer isso assim, por exemplo:
“uau, você está linda!” Isso parece insinuante. No caso das conselheiras em
relação a um homem, também é necessário muito cuidado, pois os homens tendem a
achar que a mulher está dando mole pra ele quando esboça qualquer forma de
carinho.
Para muitos homens, o conselheiro acaba se
transformando num confidente do sexo masculino, no pai com quem eles nunca
conseguiram conversar.
Segundo Freud, “a transferência é resultado da
necessidade de amor não satisfeita inteiramente, que se volta para toda e
qualquer pessoa que entra em sua vida, reatualizando os conflitos não
resolvidos, onde afetos e desafetos são deslocados de uma pessoa para outra,
através dos movimentos de projeção – que é o depositar no outro qualidades,
sentimentos, que em si gera frustração.”
O
CONSELHEIRO DEVE SE PROTEGER
·
Nunca compartilhe seus sentimentos com o
aconselhando. Mesmo que você sinta-se atraído por ela, não fale sobre isso.
Sentir-se atraído, desenvolver uma espécie de admiração ou encanto por alguém é
normal, mas não quer dizer que você possa alimentar isso. A contratransferência
é algo muito mais intenso que uma simples atração.
·
Esteja atento às suas carências afetivas. Mantenha um
relacionamento íntimo com seu cônjuge e mais um ou dois amigos. Os ministros,
assim como os conselheiros são, muitas vezes, pessoas solitárias e se fecham
para os outros, tornando-se pessoas carentes de afeto.
·
Crie um sistema de prestação de contas. Você não deve
prestar contas somente a Deus, precisa de alguém a quem possa responder e falar
abertamente sobre seus sentimentos. Essa pessoa pode ser um colega de
ministério, um pastor, um amigo ou uma amiga de infância, seu cônjuge, enfim, o
fato é que você precisa compartilhar com alguém os seus sentimentos. Todo conselheiro
precisa de aconselhamento, da figura de um “confessor”.
TODO
PROBLEMA ESTÁ DENTRO DE UM CONTEXTO
“A Bíblia ensina que Deus nos criou para vivermos em
relacionamento com as pessoas. Descobri em minha experiência como conselheiro
que isso é verdade – ninguém tem um problema que de alguma forma não atinja a
família nem deixa de ser afetado pela família. Assim, se você percebe que o
problema em questão afeta a dinâmica familiar, você pode tentar incluir os
membros da família no processo de aconselhamento.”
NÃO
ACREDITE EM TUDO O QUE
VOCÊ OUVE
Uma mulher chega deprimida e diz: “Meu problema é meu
marido. Ele não me dá atenção. Ele não é carinhoso comigo. Ele não se interessa
mais por mim como mulher.”
Ou o homem vem e diz: “Meus filhos me fazem sofrer.
Eles querem tudo o que eu possa lhes dar. Eles não têm respeito por mim.”
Pode ser verdade que alguma coisa precise mudar numa
família, mas também é verdade que raramente as pessoas são simples vítimas das
ações de outras. Muitas pessoas que procuram um conselheiro, mesmo parecendo
vítimas, são, na realidade, a causa de tudo o que está sendo dito. Muitas vezes
são elas que causam a maior parte dos problemas em casa.
Muitas vezes, o conselheiro cai nessa armadilha e só consegue ver o problema na perspectiva
do aconselhando, formando com ele uma espécie de aliança contra a família.
NÃO
ACEITE TERCEIRIZAR O ACONSELHAMENTO
O conselheiro entra
num triângulo sempre que tenta se juntar ao aconselhando para resolver o
problema de uma terceira pessoa.
Exemplo: uma mulher
casada com um alcoólico diz: “Já tentei de tudo. Minhas esperanças estão no
fim. Não sei mais o que fazer. Você pode
me ajudar a fazer meu marido
largar a bebida?”
O erro que os
conselheiros cometem nesse ponto será achar que podem mudar o terceiro elemento
de um triângulo. Não podemos resolver assim o problema de alcoolismo do marido
nem ajudar a melhorar o relacionamento entre ele e a esposa. Não temos acesso
livre ao marido; nem ele pediu ajuda.
NÃO
ACEITE SEGREDOS
Uma regra extremamente
importante deve guiar qualquer aconselhamento de família: não permita segredos,
ou seja, não faça aliança com ninguém com o propósito de enganar outra pessoa.
Exemplo: - Descobri
que minha filha está grávida, precisamos manter isso em segredo, precisamos
esconder isso do meu marido. As pessoas da cidade e principalmente da igreja
não podem saber de nada.
Não pactue com isso
de jeito nenhum:
- Não, nada de segredos. Eu não tenho obrigação de fazer
isso. Vamos pensar num jeito de você ou de sua filha contarem tudo ao seu
marido.
“Mentes Perigosas – o psicopata mora ao lado”
Ana Beatriz Barbosa Silva
Ed.
FONTANAR:
PSICOPATAS
Os psicopatas são pessoas frias,
insensíveis, manipuladoras, perversas, transgressoras de regras sociais,
impiedosas, imorais, sem consciência e desprovidas de sentimento de compaixão,
culpa ou remorso. Esses “predadores sociais”
estão por aí, misturados conosco, incógnitos, infiltrados em todos os
setores sociais. São homens, mulheres, de qualquer raça, credo ou nível social.
Trabalham, estudam, fazem carreiras, se casam, têm filhos, mas definitivamente
não são como a maioria das pessoas.
O que assusta nessas pessoas é que elas
parecem tão comuns, tão gente igual a gente. E, no entanto, a incapacidade de
ter empatia pelo outro revela claramente que elas não são como a gente:
psicopata não tem semelhante. Ele nem sabe o que é isso.
A maioria deles não chega ao
assassinato, ainda que todos eles vivam de matar: sonhos, esperanças, a
confiança que os outros depositam neles.
Os
psicopatas possuem níveis variados de gravidade: leve, moderado e severo. Os do
primeiro grupo se dedicam a trapacear, aplicar golpes e fazer pequenos roubos,
mas provavelmente não matarão. Já os últimos, botam verdadeiramente a “mão na
massa”, com métodos cruéis e sofisticados, e sentem um enorme prazer com seus
atos brutais. Mas não se iluda! Qualquer que seja o grau de gravidade, todos,
invariavelmente, deixam marcas de destruição por onde passam, sem piedade.
Além de psicopatas, também recebem os
nomes de sociopatas, personalidades anti-sociais, personalidades psicopáticas,
personalidades dissociais, personalidades amorais.
A parte racional e cognitiva dos
psicopatas é perfeita e íntegra, por isso sabem perfeitamente o que estão
fazendo. Quanto aos sentimentos, porém, são absolutamente deficitários, pobres, ausentes de afeto e de profundidade
emocional. Assim, para eles, tanto faz ferir, maltratar ou até matar alguém que
atravesse o seu caminho ou os seus interesses, mesmo que esse alguém faça parte
de seu convívio íntimo.
É importante ressaltar que o termo psicopata
pode dar a falsa impressão de que se trata de indivíduos loucos ou doentes
mentais. A palavra psicopata literalmente significa doença da mente (do grego,
psyche = mente; pathos = doença).
No entanto, em termos
médico-psiquiátricos, a psicopatia não se encaixa na visão tradicional das
doenças mentais. Esses indivíduos não são considerados loucos, nem apresentam
qualquer tipo de desorientação. Também não sofrem de delírio ou alucinações
(como a esquizofrenia) e tampouco apresentam intenso sofrimento mental (como a
depressão ou o pânico, por exemplo).
PERFIL
·
Costumam ser
espirituosos e muito bem articulados, tornando uma conversa divertida e
agradável, contando histórias inusitadas nas quais são sempre mocinhos;
·
Procuram demonstrar conhecimento em diversas áreas,
como filosofia, arte, literatura, psicologia e muitas outras;
·
Têm uma visão narcisista e supervalorizada de seus
valores e de sua importância, são o centro do universo;
·
Mania de grandeza, fascínio pelo poder e pelo
controle sobre os outros;
·
Não sentem qualquer embaraço sobre dívidas
contraídas, pendências financeiras ou mesmo problemas de ordem legal ou pessoal
(brigas, espancamento de namoradas). Tudo é transitório;
·
Na cabeça dos psicopatas, o que está feito está
feito, e a culpa não passa de uma ilusão utilizada pelo sistema para controlar
as pessoas;
·
Para um psicopata as outras pessoas são meros objetos
ou coisas que devem ser usados sempre que necessários para a sua satisfação;
·
Psicopatas são
incapazes de amar, apenas gostam de possuir coisas e pessoas;
·
Se forem flagrados mentindo, raramente ficam
envergonhados, constrangidos ou perplexos, simplesmente mudam de assunto com a
maior naturalidade;
·
Não costumam
honrar compromissos formais ou implícitos com outras pessoas e nunca pedem
desculpas por isso.
Vale a pena destacar que crianças e
adolescentes com perfil psicopático costumam realizar intimidações (assédio
psicológico) contra pessoas pertencentes aos seus grupos sociais. E quando isso
ocorre no ambiente escolar, pode caracterizar a ocorrência de um fenômeno
denominado bullying.
BULLYING pode ser definido como um conjunto de atitudes
agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente
adotada por um ou mais alunos contra outros. Os mais fortes utilizam os mais
frágeis como meros objetos de diversão e prazer, cujas “brincadeiras” têm como
propósito maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar, causando dor, angústia e
sofrimento às suas vítimas. O líder do grupo agressor (o “valentão” ou o
“tirano”) costuma ser o indivíduo que apresenta características compatíveis com
a personalidade psicopática.
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