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Introdução ao Velho Testamento


APRESENTAÇÃO
Companheiros e companheiras, sejam muito bem vindos ao nosso CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA. Ao longo desse semestre, estudaremos o Velho Testamento. É claro que não faremos esse estudo com muito aprofundamento, até porque, como diz o nome do curso, é básico, mas nem por isso devocional. É claro que em função do tempo, não faremos um estudo super detalhado, livro a livro , mas como já disse, teremos uma visão geral e em blocos. Neste primeiro módulo, estudaremos O Pentateuco. No segundo módulo, os livros históricos; no terceiro, os poéticos; no quarto módulo, os profetas (maiores e menores) e no quinto, os apócrifos, ou seja, um módulo por mês. Esses módulos para pesquisa e acompanhamento serão elaborados livro a livro, mas nas aulas a abordagem será em bloco, destacando os fatos principais. Logo, é fundamental que você estude o material antes de cada aula. Se você está matriculado no curso é porque quer estudar, aprimorar seus conhecimentos e nós estamos aqui para atendê-lo. É claro que não sabemos tudo e nem de longe pretendemos ser os donos da verdade absoluta, mas somos esforçados. Assim, não tenha medo nem vergonha de perguntar, de questionar. Sabendo, responderemos imediatamente. Não sabendo, diremos um ” não sei” sem o menor constrangimento e nos proporemos a pesquisarmos juntos e acharmos a solução. Bons estudos!
Isac Machado de Moura
OBRAS CONSULTADAS E RECOMENDADAS
1. Conheça Melhor o Antigo Testamento Stanley A. Ellisen Editora Vida – 1995
2. Comentário Bíblico Devocional: Velho Testamento F.B. Meyer Editora Betânia – 1993
3. O Mundo do Antigo Testamento James I. Packer e outros Editora Vida – 1994
4. Manual dos Tempos e Costumes Bíblicos William L. Coleman – 1991
5. O Pentateuco Raimundo F. de Oliveira EETAD – 1991
6. História de Israel Carl B. Gibbs EETAD – 1990
7. A Bíblia Explicada S.E. Mcnair CPAD – 1994
INTRODUÇÃO AO VELHO TESTAMENTO

No princípio não havia o Velho Testamento. Enoque “andou com Deus” sem nenhuma palavra escrita que o guiasse. Abraão dependia de comunicações verbais com Deus para conhecimento da vontade divina. José, no Egito, não podia consolar-se com a leitura da Bíblia, mas certamente recordava-se das tradições dos seus antepassados.
Quando o salmista escreveu o Salmo 119, com 176 versículos, engrandecendo a Palavra de Deus, talvez não possuísse dessa Palavra mais do que o Pentateuco, Josué, Juízes e Rute, pois parece que nenhum dos profetas tinha ainda escrito qualquer coisa.
O Velho Testamento foi construído ao longo de mil anos, aproximadamente, pelo acréscimo de um livro sagrado após o outro, começando com Gênesis e acabando com Malaquias.
Nas Bíblias protestantes, o Velho Testamento tem 39 livros (arranjo em grego e em português). As Bíblias católicas e anglicanas incluem os livros apócrifos (da Septuaginta), chamando-os de “deuterocanônicos”: I e II Esdras, Tobias, Judite, adições ao livro de Ester, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque (com a Epístola de Jeremias), A canção das três crianças santas, a História de Suzana, Bel e o Dragão, A Oração de Manassés, I e II Macabeus. O Novo Testamento não faz qualquer referência a esses livros.

O CALENDÁRIO HEBRAICO

Israel desenvolveu um calendário lunissolar, baseado na lua e no sol. Os meses de Israel sempre começavam com a lua nova e eram anunciados pelo som de trombetas, aliás, todas as festas anuais eram fixadas na lua nova.
É tarefa impossível expressar as datas bíblicas no nosso calendário (gregoriano) de maneira precisa. O método comum é identificar os meses hebraicos entre dois dos nossos meses, conforme quadro a seguir.


No período pré-exílio, somente quatro meses possuíam nomes próprios (os primeiros dois meses da primavera e do outono), os demais eram chamados pela ordem numérica.
O calendário hebraico remonta ao “ano da criação”


CRONOLOGIA

Há uma variedade de sistemas bíblicos cronológicos, sendo mais aceito o criado pelo Arcebispo James Ussher, que localiza a criação em 4004 a.C., a partir da análise de diversos fatos ocorridos no Velho Testamento, sendo o principal deles o tempo de permanência de Israel no Egito (430 anos – Ex 12:40).
Uma cronologia bastante aceita, com base no texto hebraico, é a seguinte:


FATO BÍBLICO - DATA APROXIMADA

Criação de Adão - 4.173 a.C.
Da criação à descida de Jacó para o Egito (2298 anos): Gn 5; 11; 47:9 - 1.875 a.C.
Da descida de Jacó ao êxodo de Moisés (430 anos): Ex 12:40 - 1.445 a.C.
Começo do reinado de Davi - 1.010 a.C.
Do êxodo à construção do templo de Salomão (480 anos) - 966 a.C.
Divisão do reino - 931 a.C.
Purificação dos dois reinos por Jeú - 841 a.C.
Queda de Samaria - 722 a.C.
Começo do exílio judaico (606, 597, 586) - 606 a.C.
Retorno com Zorobabel para reedificar o templo - 537 a.C.
Retorno de Neemias para reedificar os muros - 444 a.C.
Do edital de retorno até a retirada do Messias (476 anos) - 33 d.C.
Nascimento do Messias (alguns meses antes da morte de Herodes, logo depois do eclipse da lua em 12 de março – 4 a.C.) - 5 a.C.

OBS.: A correção feita no calendário gregoriano coloca o nascimento de Cristo no ano 5 a.C. e sua morte no ano 28 d.C.

O PENTATEUCO

Os livros antigos eram escritos em rolos, geralmente de nove metros de comprimento, tamanho suficiente para acomodar os cinco livros em questão, os quais recebem diversos outros nomes: A Lei, O Livro da Lei de Moisés, O Livro da Lei de Deus e, algumas vezes, Torá (ensinamento).
Do grego (PENTE – cinco) e TEUCHOS (estojo), portanto, estojo para cinco rolos de papiro.
Os livros que formam o Pentateuco são os primeiros cinco do Velho Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

AUTORIA

A autoria de Moisés é confirmada por evidências internas e externas (Antigo e Novo Testamento). O fato dele ter usado outros documentos, além de palavras diretas de Deus, é compatível com a inspiração divina na seleção do material.

ÊNFASE DA PESSOA DE DEUS NO PENTATEUCO

GÊNESIS – Soberania de Deus sobre a criação, o homem e as nações.

ÊXODO – Poder de Deus para julgar o pecado e redimir seu povo.

LEVÍTICO – Santidade e provisão de Deus para uma vida santa.

NÚMEROS – Benevolência e severidade de Deus ao disciplinar seu povo.

DEUTERONÔMIO – Fidelidade de Deus ao cumprir suas promessas.


O LIVRO DE GÊNESIS

Os hebreus deram-lhe o nome de BERESHIT devido a sua primeira frase: No princípio... Os tradutores gregos da Septuaginta chamaram-no de Gênesis (origem) pelo fato de relatar a origem do universo e do homem na obra criativa de Deus.

DATA (1443 a.C., aproximadamente)

Embora fosse possível Moisés escrever esse livro no exílio de 40 anos em Midiã, é duvidoso que ele tivesse a motivação humana ou a inspiração divina para compor esta obra literária. É mais provável que
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tenha escrito num período posterior à sua comissão divina junto à sarça ardente, experiência que fez dele um profeta de Deus.
Gênesis foi redigido, provavelmente, durante a primeira parte da peregrinação pelo deserto, enquanto Moisés procurava instruir Israel sobre as verdades fundamentais divinas e o programa da aliança de Deus para com a nação.

ABRANGÊNCIA HISTÓRICA

A história de Gênesis começa com a criação do universo e do homem e termina com a morte de José, o último dos patriarcas de Israel. O período de tempo da narrativa é de 2369 anos, levando-se em consideração o texto hebraico massorético.

EXTENSÃO GEOGRÁFICA

A ação geográfica do livro vai do Vale da Mesopotâmia, o berço da raça humana, até o Vale do Nilo, no Egito, berço do povo judeu.

CENÁRIO RELIGIOSO

A religiosidade, o relacionamento pessoal com Deus, destaca-se no livro de Gênesis. Antes do dilúvio, o monoteísmo prevalece quase universalmente. Os castigos divinos por ocasião do dilúvio e da Torre de Babel foram motivados pela insolência e pela rebelião do povo. Já na época de Abraão, a idolatria tinha se alastrado tanto na Caldéia quanto no Egito.
Na história de Abraão e da sua aliança com Deus, o programa redentor divino é apresentado como resposta do Criador ao dilema do homem no pecado. De um mundo emaranhado em idolatria (Js 24:2), Deus selecionou Abraão como um homem de fé a fim de que fosse o receptador de sua graça e das suas alianças, sendo que através delas, o Seu programa redentor seria executado.


PARTICULARIDADES DO LIVRO

A SOBERANIA DE DEUS - a afirmação inicial apresenta Deus como Elohim, o GRANDE CRIADOR soberano de todas as coisas. Sua existência é apresentada de maneira incontestável, não se fazendo necessário apresentar provas dela. Nada revela sobre sua origem ou passado. Surge da eternidade misteriosa para iniciar sua obra de criação.

O PECADO - Gênesis demonstra que o Criador não criou o pecado ou o mal. Ele surgiu de dentro do coração de Eva e Adão, com uma forcinha de Satanás. Entrando no mundo, o pecado começa a multiplicar-se imediatamente (4-6). Do coração do primeiro casal passou ao lar, aos filhos e depois a toda a sociedade (6:11-12).

GRANDES JULGAMENTOS SOBRENATURAIS
A maldição como resultado da queda do homem;
O dilúvio;
A confusão de idiomas em Babel;
Fogo e enxofre sobre Sodoma e Gomorra.

É bom lembrar que cada um desses julgamentos foi precedido por uma oferta divina de misericórdia e graça no caso de uma reação favorável.

GÊNESIS, O PROTO-EVANGELHO - A entrada do pecado trouxe julgamento, mas trouxe também a promessa divina de redenção (3:15). Ele prometeu que o “descendente” da mulher iria ferir a cabeça da serpente e a serpente iria ferir o seu calcanhar (Ap 12:9).

ALIANÇA ABRAÂMICA – A história de Abraão e sua aliança com Deus é a parte mais importante de Gênesis. Essa aliança com promessa de salvação seria garantida apenas por Deus, não podendo ser anulada pelas falhas de Abraão ou da sua descendência.

O LIVRO DE ÊXODO

Os hebreus deram-lhe o nome de WE’ELLEH SHEMOTH, graças a sua primeira frase: São estes os nomes...
Os tradutores gregos chamaram-no de ÊXODO (saída) pelo fato de seu tema central tratar de ações redentoras de Deus para com o seu povo.

DATA (1440 a.C., aproximadamente). Considerando essa data, supõe-se que Moisés tenha escrito durante a primeira parte da sua peregrinação com o povo judeu pelo deserto de Cades-Barnéia.

DATA DO ÊXODO (1445 a.C., aproximadamente) – Alguns estudiosos do Velho Testamento defendem a teoria de que o êxodo teria ocorrido em 1290 a.C., baseados na tese de que Ramessés II (1292 – 1234) construiu as cidades-celeiros de Pitom e Ramessés no Delta. Esse ponto de vista, todavia, choca-se com a ocupação de Jericó e Canaã no final do século XV.

A outra data (1445) é a preferida por várias razões:

· 1 Rs 6:1 coloca o êxodo 480 anos antes de Salomão começar a construção do templo (967 a.C.);
· At 13:17-20 dá o período aproximado do êxodo a Samuel como sendo de 450 anos. Samuel morreu por volta de 1020 a.C.;
· A data que o arqueólogo Jonh Garstang apresentou para a queda de Jericó é bastante acreditada. Segundo ele, nenhum sepultamento nesta cidade poderia ter uma data posterior a 1375 a.C.;
· O nome Ramessés deriva do deus-sol RA, sendo, provavelmente, usado antes do nascimento desse Faraó.


A VIDA DE MOISÉS EM TRÊS PERÍODOS DE QUARENTA ANOS

40 anos no lar dos seus pais e no palácio do Faraó. Nasceu, provavelmente, em 1525 a.C.. No lar paterno recebeu sua formação religiosa. Na corte adquiriu conhecimento intelectual e político, além de treinamento militar.
40 anos de exílio em Midiã, fugindo do Faraó por ter matado um egípcio envolvido numa briga com um hebreu, meditando e trabalhando como pastor. Casou-se com Zípora, filha do sacerdote Jetro, tendo com ela dois filhos (Gérson e Eliezer).
40 anos viveu no Egito e no deserto. Serviu ao Senhor como profeta, sacerdote e rei, antes mesmo dessas funções serem estabelecidas entre os judeus.

GEOGRAFIA DO EGITO

O Egito antigo dividia-se em duas partes: Baixo Egito (com a larga região do Delta) e Alto Egito (ao longo do rio Nilo). Quase não chovia na região, o que tornava o país dependente do Nilo, que transbordava em setembro, irrigando e fertilizando o vale com seus ricos depósitos de águas aluviais, o que tornava o Egito o “celeiro” do Oriente Médio.
Sua posição isolada contribuiu para a tranqüilidade e o progresso pacífico da nação em muitos períodos da história.

CENÁRIO RELIGIOSO DO EGITO

· Os egípcios eram muito religiosos, adorando uma infinidade de divindades. Tinham deuses nacionais e locais, além de fetiches relacionados a inúmeras manifestações da natureza;
· As divindades mais importantes tinham imensos templos. Seus sacerdotes exerciam grande poder sobre o povo e os políticos egípcios. Praticavam a circuncisão.
· Todas as religiões praticadas no Egito defendiam a crença na vida após a morte
· José exerceu forte influência espiritual sobre Israel até 1804 a.C., data da sua morte. O isolamento em Gósen também contribuiu para proteger os israelitas da idolatria do Egito. Houve uma época, porém, em que os descendentes de Jacó aderiram aos deuses egípcios e a corrupção tomou conta de quase todos eles (Ez 20:6-10).

OBJETIVO DO LIVRO

Descrever como Deus livrou Israel da servidão e da idolatria no Egito, conduzindo-o a um lugar de destaque na condição de povo exclusivamente seu, num relacionamento de aliança teocrática.
Três grandes acontecimentos definem o objetivo didático do livro: a saída do Egito, a entrega da Lei e a construção do tabernáculo.

PARTICULARIDADES DO LIVRO

ORIGEM DA NAÇÃO DE ISRAEL – Descreve o seu princípio sob servidão em terra estranha, o livramento e a organização do povo sob um conjunto de leis espirituais, sociais e civis.

PRIMEIROS MILAGRES DA BÍBLIA – Com exceção dos julgamentos sobrenaturais de Gênesis, as pragas do Egito são a primeira demonstração de milagres ou sinais sobrenaturais.

INSTITUIÇÃO DA PÁSCOA – A mais importante festa judaica, abria o ano religioso. Tinha três finalidades:
· Comemorar a salvação e o resgate físico dos primogênitos pela morte de um cordeiro;
· Lembrar a cada pessoa a necessidade de se alcançar redenção espiritual do pecado através do sacrifício de um cordeiro substituto.

A LEI MOSAICA – Nenhum documento escrito ao longo da história da humanidade teve maior influência nas leis morais e judiciárias da sociedade do que a Lei de Moisés. Ela tinha dois objetivos: revelar os princípios espirituais e morais de Deus ao seu povo e estabelecer um acordo ou uma aliança entre o Senhor e o Seu povo.

CONSTRUÇÃO DO TABERNÁCULO – Assim como a Lei retratava a santidade de Deus e a separação do homem por causa da desobediência, o tabernáculo retratava a graça de Deus, ao prover um lugar de encontro e comunhão pelo sacrifício de sangue.


O LIVRO DE LEVÍTICO

Os hebreus deram-lhe o nome de WAYYIQRA devido a sua frase inicial: Chamou o Senhor..., que enfatiza o fato de Deus falar do santuário. Também referiam-se ao livro como A Lei dos Sacerdotes.
Os tradutores gregos da Septuaginta chamaram-no de LEVÍTICO (Levitikon), graças à ênfase dada a esse sacerdócio, apesar de os levitas serem mencionados apenas em 25:32-33. Era um manual levítico para uso sacerdotal.

DATA (1440 a.C., aproximadamente) – Moisés deve ter composto este livro logo depois do êxodo, durante os dias de peregrinação e relativa folga em Cades Barnéia.

TEMPO ENVOLVIDO (cerca de 30 dias) – Essa legislação foi dada por Moisés logo depois de levantado o tabernáculo (abril de 1444) e antes do povo iniciar a marcha (maio): Ex 40:17; Nm 10:11. Considerando que os últimos 20 dias foram dedicados ao censo (Nm 1:1), os acontecimentos de Levítico ocorreram, provavelmente, nos trinta dias do mês de Abibe. Durante esse tempo, os israelitas celebraram durante sete dias a páscoa e o êxodo (primeiro aniversário): Nm 9:1-12.

CENÁRIO RELIGIOSO

Recém-saídos do Egito idólatra, os israelitas (cerca de dois milhões e meio, segundo Stanley A. Ellisen) passaram o primeiro ano nas montanhas desertas do Sinai. Ao invés de irem diretamente para Canaã, foram levados pela coluna de fogo e pela nuvem rumo ao sul, para o Sinai. Enquanto isso, Deus proveu para eles comida, água, vestuário e saúde a fim de afastá-los da idolatria e ensinar-lhes os caminhos e o caráter do Deus único e verdadeiro.
Havendo recebido a Lei e o Tabernáculo, precisavam ser instruídos quanto a adoração, ao culto no santuário e quanto à maneira de ter uma vida de santidade.
Os outros livros do Pentateuco tratam de história, enquanto Levítico refere-se quase que exclusivamente às leis (exceto os capítulos 8, 9 e 10). A sua legislação é primordialmente sobre ritos religiosos. Trata da organização espiritual do povo, como Êxodo e Números tratam da organização civil, social e militar.

OBJETIVO DO LIVRO

Convocar o povo para a santidade pessoal. Os muitos rituais são usados como auxiliares visuais para retratar o Senhor como o Deus Santo e para enfatizar que a comunhão com o Senhor deve ser na base da expiação pelo pecado e vida obediente.

PARTICULARIDADES DO LIVRO

PRINCÍPIOS DIVINOS DE SANTIDADE – A palavra SANTO (qodesh) é bastante usada em Levítico, significando reservado para o Senhor. Por meio de Israel (o povo escolhido) o Senhor estava fazendo notório o seu santo nome entre as nações, e agora os descendentes de Abraão deviam santificar-se para Deus.

AMOR AO PRÓXIMO – O texto de Levítico 19:18 pode ser chamado de Sermão do Monte do Antigo Testamento, pois enfatiza o amor ao próximo, como faria Cristo séculos depois.

O GRANDE DIA DA EXPIAÇÃO DE ISRAEL (YOM KIPPUR) - O décimo dia do ano novo (10 de Zicri), dia em que ocorre o ritual do Yom Kippur, era considerado o mais santo do ano. Era reservado para o lamento pessoal de quaisquer pecados não confessados do ano anterior, realçado por uma cerimônia nacional que simbolizava aquela confissão e a obra de Deus em remover aqueles pecados através da oferta de dois bodes. Somente nesse dia do ano, o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos, uma vez por ele mesmo e uma pelo povo, ocasião (única ao ano) em que o nome de Deus era pronunciado, fato que contribuiu para a perda total da pronúncia exata do nome divino, até porque ao longo dos 70 anos de cativeiro babilônico esse ritual não aconteceu por estarem em terra estranha.

O LIVRO DE NÚMEROS

Os hebreus deram-lhe o nome de WAYYEDABBER (falou o Senhor) ou BEMIDBARTH (no deserto), devido ao seu primeiro versículo.
Os tradutores gregos chamaram-no de ARITHMOI (Números), graças ao censo registrado nos capítulos 01, 02, 03 e 26.

DATA (concluído em 1405 a.C., aproximadamente).

TEMPO ENVOLVIDO (1444 – 1405) – O livro começa com a ordem dada pelo Senhor em maio de 1444, para se fazer o recenseamento do povo e termina com uma assembléia às margens do Jordão, pouco antes da morte de Moisés. Assim, a duração total dos acontecimentos narrados no livro é de 38 anos e 9 meses, divididos em 4 períodos:
· Recenseamento e preparo para a marcha (1-10) – 20 dias;
· Jornada para Cades-Barnéia e missão de espionagem (11-14) – 70 dias;
· Peregrinação no deserto em torno de Cades (15-20) – 38 anos e 1 mês;
· Jornada em torno de Edom até as campinas de Moabe (21-36) – 5 meses.

CENÁRIO RELIGIOSO

· Números trata de duas gerações hebraicas: a primeira havia saído do Egito, tinha visto grandes milagres executados por Moisés, tendo recebido a Lei de maneira sobrenatural. Apesar disso, foi destruída por desobediência e rebelião. A segunda estava prestes a entrar em Canaã. Cresceu conhecendo a Lei e recebendo, diariamente, o maná. Quando a primeira geração pôs-se em marcha deixando o Sinai, o humor do povo foi decaindo. Surgiram queixas sobre o maná e falta de gratidão pela provisão divina.

· Os dois grandes pecados de toda a assembléia no deserto ocorreram no Sinai e em Cades, ambos cometidos pela primeira geração. O primeiro foi a idolatria; o segundo, a rebelião, ambos precedidos por grandes dádivas divinas: a Lei Mosaica e a terra de Canaã. Após cada pecado, Deus demonstrou ira e misericórdia, esta última por conta da sua aliança com Abraão.

OBJETIVO


Moisés queria preservar um registro da paciência de Deus para com o povo escolhido, demonstrando que a redentora misericórdia divina não impediu que Ele os castigasse severamente em conseqüência do pecado.

PARTICULARIDADES DO LIVRO

CENSO MILITAR E ORGANIZAÇÃO DE ISRAEL (1-3; 26) – Levítico relata a organização de Israel para a adoração; Números, para o serviço e a guerra. Sob a orientação de Deus, Moisés enumerou a primeira e a segunda geração dos homens aptos para a guerra. Embora o grande número superior a 600 mil seja, muitas vezes, questionado pelos críticos, está em harmonia com outros textos: Ex 12:37; 38:26; 1:9; Nm 22:11.

VOTO DE NAZIREU PARA SERVIÇO ESPECIAL (6) – O voto de nazireu era acessível a qualquer pessoa, homem ou mulher, que desejasse oferecer essa forma de culto especial ao Senhor. Requeria-se do nazireu um comportamento diferenciado: que fizesse uma oferta especial (sacrifício, oferenda) e que não participasse de algumas atividades regulares, como comer ou beber o fruto da videira, fazer uso da navalha e aproximar-se de um cadáver.

REBELIÃO E PEREGRINAÇÕES (13-14) – Um descontentamento tanto da parte do povo como da parte dos líderes precedeu a grande rebelião de Cades-Barnéia. O Senhor castigou aos leigos por se queixarem da comida, e a Miriã e Arão, por invejarem a Moisés. Depois do motim em Cades, outros líderes também se rebelaram contra Moisés e foram castigados. O próprio Moisés rebelou-se por um momento (20:1-13), e por isso foi impedido de entrar em Canaã.

PECADOS PROPOSITAIS E NÃO-PROPOSITAIS (15:22-36) – Os pecados não propositais podiam ser expiados com diversas ofertas, mas os propositais ou de rebeldia, não. Eles exigiam pagamento imediato, muitas vezes a própria vida do transgressor. A penalidade de morte era comum nesses casos, até com requinte de crueldade, como o apedrejamento.

O PROFETA BALAÃO E SUA “JUMENTA FALANTE” (22-24) – Balaão foi um profeta independente, da Mesopotâmia, contratado pelo rei Balaque, de Moabe, para amaldiçoar Israel. Do mesmo modo que usou a “jumenta falante”, Deus usou esse profeta perverso e pagão para informar Balaque e os moabitas de que era seu plano abençoar a Israel a despeito dos seus inimigos.

RÚBEN, GADE E A MEIA TRIBO DE MANASSÉS SE INSTALAM NA TRANSJORDÂNIA (32) – A motivação das duas tribos e meia de se fixarem à pequena distância de Canaã é questionável. Moisés viu nisso um tipo de rebelião e deserção, embora tenha dado o seu consentimento depois que eles concordaram em mandar tropas a Canaã. O motivo por eles apresentado era o de ser a região terra de gado. Mais tarde, essas tribos sofreram o ataque dos inimigos de Israel, sendo os primeiros a serem levados cativos para a Assíria.

INVOCAÇÃO E BÊNÇÃO DE ISRAEL (6:24-26) – A benção do sumo sacerdote, entregue por Moisés a Arão, invocou sobre Israel a tríplice bênção do Senhor: proteção, graça e paz. Destinada aos que viviam em aliança com o Senhor da aliança, é também para os crentes do Novo Testamento. É muito fofo esse texto.


O LIVRO DE DEUTERONÔMIO

Os hebreus deram-lhe o nome de ELEH HADDEVARIM, baseados no início do livro : São estas as palavras.... Chamaram-no também de DEVARIM (palavras).
A Septuaginta chamou-o de Deuteronômio (Segunda Lei), nome adotado também pela Vulgata Latina.

DATA (1405 A.c., aproximadamente) – Moisés especificou uma data equivalente a primeiro de fevereiro, de 1405, quando reuniu o povo para este conjunto final de mensagens (1:3). Considerando, então, que sua morte ocorreu trinta dias depois, a pronunciação e a escrita destas mensagens ocorreram muito próximas uma da outra (34:8).

CIRCUNSTÂNCIAS

Quanto a posição geográfica, Israel estava próximo às margens do Jordão, todos ansiosos pela nova aventura em Canaã. Tendo conquistado enorme área da Transjordânia com poucas perdas humanas, sob a direção do Senhor, estavam prontos para o desafio em Canaã.
Quanto a religião, o novo Israel era, de algumas maneiras, diferente da geração que saiu do Egito. Não tinha conhecido a idolatria daquele país, todavia ainda eram propensos à idolatria, além de enfrentar diversos problemas sociais e familiares.

OBJETIVO

O objetivo de Moisés ao escrever o livro ou ao pronunciar os discursos era o de preparar a nova geração de Israel para viver em Canaã mediante uma reafirmação da Lei Sinaítica. Considerando ser a Lei original um tanto breve e direcionada, Moisés expressa aqui sua parte fundamental em forma de sermão.


PARTICULARIDADES DO LIVRO

SUPLEMENTO DE ÊXODO: POR QUE UMA SEGUNDA LEI?
· O capítulo 5:7-21 repete o Decálogo de Êxodo 20, acrescentando apenas uma nova razão para a guarda do sábado: o livramento da servidão;
· Enfatiza o amor: de Deus por Israel; do homem por Deus; de Israel pelo estrangeiro;
· Realça o benefício pessoal de guardar os mandamentos de Deus “para que te vá bem” (4:40; 5:16), os quais são dados com fundamento lógico;
· A pena de morte é reafirmada “para eliminar o mal do meio de ti” (13:5; 17:7; 19:19; 22:21);
· Enfatiza as relações: obediência / bênção; desobediência / maldição;
· Expressa forte preocupação com os necessitados, órfãos, viúvas e estrangeiros, além de incluir uma seção específica sobre direitos humanos (23-25), ainda que não nos pareçam tão “direitos” assim. De qualquer forma, é preciso levar em conta o contexto.
· Aborda a vida familiar, o casamento, o divórcio, novas núpcias e direitos da mulher;
· Adverte acerca do perigo da prosperidade (6:10; 8:10; 11:14);

“SHEMA” DE ISRAEL OU “PROFSISSÃO DE FÉ” (6:4-9) – “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Esta frase, seguida da ordem de amar a Deus e ensinar a Sua Palavra, é a doutrina central da teologia judaica.

QUATRO LEIS ESPIRITUAIS DE ISRAEL (10:12-13) – A Lei e a essência da verdadeira religião são resumidas em quatro pontos:
· Temor e reverência ao Senhor teu Deus;
· Andar em todos os Seus caminhos e amá-Lo;
· Servir ao Senhor com todo o coração, com toda a alma;
· Guardar os mandamentos do Senhor.


RESPONSABILIDADE DOS LÍDERES PÚBLICOS (16:18) – Três categorias de líderes são apresentadas: Juízes, Juízes-Sacerdotes e Reis. Todos deveriam aplicar a justiça sem parcialidade. Duas exigências eram feitas para garantir a imparcialidade do julgamento: abster-se de receber suborno de qualquer espécie e procurar auxílio na Palavra de Deus.

JUSTIÇA IGUAL PARA TODOS (16:19-20; 19:21) - O castigo deve ser restrito ao limite da ofensa. Jamais deveria ser imposto com malevolência ou vingança. Jesus refere-se a essa lei em Mateus 5:38 a fim de corrigir o seu mau uso.

GUERRA E DERRAMAMENTO DE SANGUE INOCENTE (20,21) – Israel foi designado o algoz de Deus contra a corrupta sociedade de Canaã, todavia não deveria agir como os gentios. Por ordem de Deus tinham de matar o perverso como uma responsabilidade solene, e não como opção. Muito cuidado precisava ser tomado para que dentro da sociedade israelita nenhuma pessoa inocente fosse morta. Eu sei o quanto é complexo compreender essa questão, mas é o que está registrado. Tenho medo é do que isso tem gerado na cabeça de algumas pessoas que têm olhado para Deus como alguém que está do lado dos cristãos em todas as suas “pendengas” contra não-cristãos. Também é preocupante a idéia defendida por alguns de que Israel, hoje, tem o direito divino e profético de massacrar os palestinos e todos os seus vizinhos.

ALIANÇA PALESTÍNICA COM ISRAEL (28-30) – A terra de Canaã pertencia ao Senhor, que prometera como posse eterna aos filhos de Abraão. A ocupação (permanência) dependia da obediência à aliança do Senhor. O Senhor restauraria e ajuntaria a nação novamente quando retornassem ao Senhor e a Ele obedecessem.

O GRANDE PERIGO DA IDOLATRIA – É quase incessante a admoestação de Moisés quanto à idolatria (4:16-19; 5:7-9; 6:14-15). O povo viera de uma terra idólatra, retornara à idolatria diversas vezes no deserto e estava prestes a invadir uma terra cujo povo adorava grande número de ídolos.


LIVROS HISTÓRICOS: Josué a Ester

AUTORIA

Os doze livros históricos são anônimos. Foram, sem dúvida alguma, compilados por vários indivíduos que possuíam o dom profético, reconhecidos como representantes de Deus. Quatro deles são, geralmente, considerados os autores principais: Josué, Samuel, Jeremias e Esdras (este último com o auxílio editorial do sumo sacerdote Eleazar), além de Natã e Gade, profetas. Certamente Jeremias foi auxiliado na compilação de Reis pelo seu secretário, Baruque. Na maioria dos casos, foram aproveitados nesses livros vários documentos e crônicas.

CONTEXTO HISTÓRICO

Estes livros registram a história de Israel, desde a ocupação da Palestina sob a liderança de Josué, passando pela apostasia, que levou o povo a ser expulso pelos assírios e babilônios, até a restauração parcial pelos persas. O período cobre aproximadamente mil anos, de 1405 até 425 a.C..
As palavras finais de Moisés em Deuteronômio 28-30 constituem uma excelente introdução aos livros históricos. Os livros em questão evidenciam aquilo que disse Moisés sobre as bênçãos da obediência e as maldições da rebeldia do povo em relação a Deus. As bênçãos da obediência são observadas na conquista vitoriosa de Josué e nos reinados de Davi e de Salomão. Por sua vez, as maldições surgem nas apostasias dos juízes, na posterior idolatria e no cativeiro dos dois reinos. As promessas de restauração cumpriram-se parcialmente na volta de Zorobabel, Esdras e Neemias.

ASPECTOS GEOGRÁFICOS

O nome Palestina era usado nos tempos bíblicos. O nome bíblico para a região era Canaã, a terra onde Canaã, filho de Cão, se estabeleceu, e que tinha sido prometida pelo Senhor a Abraão (Gn 9:25;
10:06; 12:5-7. A terra de Canaã (com maldição) seria dada a Abraão (com bênção). Embora Canaã designasse originalmente a terra a oeste do Jordão, Palestina passou a designar, mais tarde, a terra de ambas as margens desse rio.


ASPECTOS POLÍTICOS

Ocupando posição estratégica, a Palestina era, com freqüência, alvo altamente cobiçado pelos conquistadores do mundo. Antes da primeira ocupação judaica, tinha sido tomada pelos reis da Mesopotâmia a leste, pelos hititas a noroeste e pelos Faraós a sudoeste. Durante a ocupação israelita, Israel foi, muitas vezes, importunado ou atacado, não só por aqueles povos, mas também por uma variedade de pequenos reinos locais. Muitas vezes, tais nações e impérios vizinhos, inconscientemente, serviam aos objetivos divinos em relação ao povo escolhido.

O LIVRO DE JOSUÉ

O nome JOSUÉ, que se deve à principal figura do livro, significa SALVAÇÃO DO SENHOR. Os gregos traduziram-no para IESOUS (JESUS), como está na Vulgata Latina.

AUTOR

Embora anônimo, a maior parte do livro pode ter sido escrita pelo próprio Josué, que conhecia muito bem os fatos narrados e era também escritor (24:26). Obviamente, um colaborador acrescentou, mais tarde, os últimos cinco versículos sobre a morte de Josué e de Eleazar. Esse colaborador pode ter sido Finéias ou um dos anciãos.

DATA

Admitindo que Josué tivesse a mesma idade de Calebe (tinha este quarenta anos quando espiaram Canaã – 14:7), é plausível supor que Josué tenha começado a comandar a Israel com 79 anos. Tendo morrido com 110 anos, sua liderança durou 31 anos (24:29).
A data pode ser calculada como sendo de 1405 a 1375 (somando-se os 480 anos de I Reis 6:1 ao ano 965, começo da construção do templo, e subtraindo-se os 40 anos de peregrinação).

ESTADO EM QUE SE ACHAVA A NAÇÃO HEBRAICA

A liderança da nação tinha sido transferida a Josué por ocasião da morte de Moisés trinta dias antes (1º de março de 1405). A travessia do Jordão aconteceu um pouco antes da Páscoa, quando o Jordão inundou as margens.
Toda a população (estimada em mais de dois milhões de pessoas) estava decidida a invadir Canaã depois da bem sucedida conquista da Transjordânia. Apesar de duas tribos e meia terem negociado com Moisés a permanência nessa região, elas mandaram 40 mil homens para participar da conquista.

CONDIÇÕES DE CANAÃ

· A terra era ocupada por um grupo misto que parecia ser descendente de Canaã, filho de Cão, filho de Noé: heteus, girgaseus, amorreus, cananeus, ferezeus, heveus, jebuseus (Gn 10; Dt 7:1; Js 3:10);
· Politicamente, Canaã vinha sendo dominada pelo Egito desde 1468, tendo espalhados pela cidade vários postos militares e cidades reais, bem como príncipes nativos, educados no Egito, para governar como monarcas títeres. Em 1400, o poder egípcio se deteriorou, tornando a terra propícia à invasão.
· As cidades eram bem fortificadas. Jericó, por exemplo, era edificada sobre um outeiro, estava rodeada por dois muros de tijolos, um de 3,6 metros de largura e outro de quase dois;
· Religiosa e moralmente, a terra vivia infestada de idolatria.

PRINCIPAIS DEUSES CANANEUS

EL – deus supremo, tirano, cruel e sanguinário, de sensualidade incontrolável;

BAAL – filho de El, seu sucessor; dominava o grupo cananeu e era considerado o “Senhor do Céu”. Deus da chuva e da vegetação.

ANATE – irmã de Baal, uma das três deusas protetoras do sexo e da guerra; culto da prostituição sagrada e morticínio infantil.

ASTEROTE (ASTARTE) E ASERÁ – esposas de Baal; deusas do sexo e da guerra.

MOLOQUE E MILCOM – de origem amonita; deuses da orgia, do mesmo modo que CAMOS era a divindade nacional dos moabitas.

OBJETIVO DO LIVRO

Preservar a história da conquista de Canaã e a divisão das terras entre as tribos, revelando a fidelidade de Deus em relação a aliança (1:2-6).


PARTICULARIDADES DO LIVRO

CUMPRIMENTO DA PROMESSA DE DEUS A ABRAÃO – A invasão liderada por Josué cumpriu o segundo aspecto da aliança do Senhor com Abraão: a entrega da terra de Canaã (Dt 34:4).

TRAVESSIA DO JORDÃO (4) – Por que outra travessia miraculosa por entre as águas? Certamente para impressionar a nova geração, que talvez não acreditasse nas notícias da travessia anterior (do mar vermelho). Também serviu para confirmar a liderança de Josué e o poder da arca.

REDENÇÃO DE RAABE, A PROSTITUTA (2:12-21; 6:22-25) – Embora esta mulher Cananéia seja retratada como prostituta, o Novo Testamento julga a sua atitude como obra de fé (Hb 11:31; Tg 2:25). A grandeza de sua redenção pode ser vista no fato de que veio a tornar-se, do lado materno, um ancestral de Davi e do Messias.

O PECADO DE ACÃ (7) – O roubo praticado por Acã, em Jericó, foi um grave erro por duas razões: violou uma ordem direta de Deus, roubando o que pertencia ao Senhor (6:17-19). Assim, provocou ele sua própria destruição, das pessoas que estavam próximas a ele, bem como de tudo que lhe pertencia, uma vez que o objetivo era apagar sua memória. É claro que temos dificuldades de entender essa medida extrema de Deus, já que o crime fora praticado por ele e não pelas pessoas que o conheciam ou por seus familiares. De qualquer forma, repito que o objetivo era apagar completamente a memória de Acã naquele momento.

LEITURA DA LEI EM SIQUÉM (8:30-35) – Depois de tomar a cidade de AI, Josué conduziu as 12 tribos por 32 quilômetros ao norte de Siquém a fim de fazer a leitura da lei entre dois montes (Gerizim e Ebal). O objetivo da peregrinação era lembrá-los da promessa de Deus a Abraão e da Sua Lei a Moisés. As bênçãos de Abraão continuariam com eles se tivessem o cuidado de guardar a lei mosaica.

O SOL SE DETEVE (10:13) – Duas intervenções sobrenaturais ajudaram a campanha contra os amonitas: grandes pedras de granizo e alongamento de um dia (10:14). A Bíblia Anotada (Editora Mundo Cristão – 1994) traz uma nota de rodapé interessantíssima sobre esse caso: “As opiniões sobre este fenômeno dividem-se em duas categorias. A primeira presume uma diminuição ou suspensão do movimento normal de rotação da Terra, de modo que houve mais horas naquele dia (12 ou 24 a mais). Deus teria feito isso para que Josué e suas forças pudessem completar sua vitória antes que o inimigo tivesse uma noite para descansar e reagrupar-se. A palavra hebraica traduzida por ‘se deteve’ é um verbo de movimento, indicando uma diminuição ou parada da rotação da Terra sobre o seu eixo (o que não afetaria o movimento de translação). O versículo 14 indica que se tratou de um dia único na história do mundo. A segunda categoria inclui pontos de vista que presumem não ter havido qualquer irregularidade na rotação da Terra. Uma dessas opiniões alega que houve um prolongamento da luz do dia devido a uma refração incomum dos raios solares. Assim, houve um prolongamento da claridade, mas o dia ainda teve 24 horas. Outra opinião sugere um prolongamento da semi-escuridão para dar aos homens de Josué um pouco de alívio do tórrido sol de verão, o que foi conseguido por ter Deus enviado uma tempestade de verão incomum com violenta chuva de pedras. Esta opinião impõe à expressão ‘se deteve’ (verso 13) o sentido de ‘parar’ ou ‘cessar’, indicando que o sol foi nublado pela tempestade e que não houve qualquer acréscimo de tempo ao dia.” É importante notar que nenhuma dessas explicações invalida o milagre divino em defesa do seu povo.

DISTRIBUIÇÃO DA TERRA ENTRE AS TRIBOS (13-21) – A desigualdade da divisão é bastante surpreendente, no entanto deve-se observar que foi feita através de sorteio, considerando diversos fatores envolvidos na questão.

“ESCOLHEI HOJE A QUEM SIRVAIS” (24:15) – Este foi o famoso desafio de Josué no fim da sua vida, quando reuniu as tribos em Siquém. Vendo a tendência do povo à idolatria, avisou-o do perigo de presumir que estavam servindo a Deus, sem o servir na realidade. O desafio foi aceito e o povo voltou-se para Deus.

O LIVRO DE JUÍZES

O título JUÍZES (shophetim) é devido aos líderes levantados interinamente por Deus para que houvesse liderança em época de emergência, durante o período que vai da morte de Josué até o reinado de Saul. Esses juízes tinham dupla função: livrar o povo dos seus opressores, na função de líder militar; resolver disputas e defender a justiça, na função de líder civil.

AUTOR

O livro é anônimo, mas a tradição judaica o atribui a Samuel, por diversas razões. Ele era escritor e educador (1 Sm 10:25). A ênfase dada a tribo de Benjamim sugere a época do rei Saul, quando Samuel ainda julgava, antes do nome da cidade de Jebus ter sido mudado para Jerusalém (Jz 1:21; 19:10).

DATA E CONTEXTO HISTÓRICO (1375 – 1075 a.C.) – O livro é o único que registra um longo período da história de Israel. Descreve três guerras civis, sete opressões inimigas, sete guerras de libertação, um número de magistraturas judiciais pacíficas e, finalmente, uma magistratura mal sucedida, de Sansão, que quase culminou com a vitória dos filisteus.
Após a morte de Josué, Israel ficou sem um líder nacional por mais de 300 anos. As tribos mostravam-se independentes e cada indivíduo era uma lei diante de si mesmo. Durante esse tempo o Senhor levantou Juízes, principalmente nas emergências.
Juízes apresenta uma história de contínuo fracasso: “Cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos” (17:6).

OBJETIVO

Preservar um registro do caráter de Israel durante o tempo em que este não tinha um líder nacional, e enfatizar sua necessidade de um rei teocrático.

PARTICULARIDADES DO LIVRO

MOTIVO DO JULGAMENTO – Assim como o livro de Josué revela as bênçãos da aliança através da fé e obediência, Juízes retrata as maldições da desobediência.

NECESSIDADE DE UM REI PARA ISRAEL (17:6; 18:1; 19:1; 21:25) – Essa necessidade é retratada com clareza no livro (1-16), sendo afirmada quatro vezes na parte final. Sem um rei, eles se encontravam num estado de anarquia. Foi um período de teste para deixá-los manifestar a escolha da aliança do Senhor como o seu Rei teocrático, conforme palavras de Moisés (Dt 12:2,5).

NOVA INSTALAÇÃO DAS TRIBOS: DÃ APOSTATA (17-18) – Ao invés de conquistar o país montanhoso dos filisteus com a ajuda de Deus, essa meia tribo procurou uma vida mais fácil no extremo norte, com seus “homens valentes”. Assim fazendo, a valentia transformou-se em violência e a tribo inteira voltou-se para a idolatria, tomando o neto de Moisés, Jônatas, para sacerdote dos ídolos de Mica.

BENJAMIM: A TRIBO CAÇULA QUASE PERDIDA (19-21) – Logo depois de Josué, houve um “holocausto” de proporções gigantescas, quase a dizimação da tribo do irmão mais moço de José. A indisciplina dos seus jovens trouxe para a importante cidade de Gibeá a sodomia, motivo da destruição de Sodoma.

A LÃ DE GIDEÃO (6:37-40) – Como Josué (e Jefté, mais tarde), Gideão foi um grande descendente de José. Sua vitória sobre os midianitas foi talvez a mais espetacular dentre os juízes. Sem falar dos preparativos, encontro especial com o Senhor, sua auto-estima comprometida antes dessa chamada, milagres realizados (6:13-21).

ROMANCE TRÁGICO DE SANSÃO (13-16) – Sansão foi o juiz mais singularmente dotado e o único nazireu identificado no Velho Testamento. Possuidor da maior força pessoal, foi o único juiz que falhou na sua missão, tendo um trágico fim, o que ocorreu (também) pelo fato de viver pelas paixões ao invés de viver pelos princípios nazireus.


O LIVRO DE RUTE

O nome Rute significa amizade, uma característica verdadeira daquela que deu nome ao livro. É um dos seis livros históricos que levam o nome do personagem principal (Josué, Rute, Samuel, Esdras, Neemias e Ester).

AUTOR

Samuel, provável autor de Juízes, pode também ter escrito Rute. Considerando que a genealogia do capítulo quatro vai até Davi e não até Salomão, deduz-se que o livro tenha sido escrito depois de Davi ser ungido Rei, porém antes de subir ao trono, ou antes de Salomão.

DATA (1340 a.C.)

Embora os acontecimentos do livro sejam, freqüentemente, datados de 1100 a.C., aproximadamente, colocando Boaz na condição de bisavô de Davi, certas informações sugerem uma data anterior.
Supondo que Boaz, filho de Salmom e Raabe, tenha nascido em 1390 a.C., aproximadamente, a última data provável do nascimento de Obede, filho de Rute e Boaz, seria em 1340 a.C..

CIRCUNSTÂNCIA

O livro começa com uma situação incomum: havia fome em Belém, cujo nome significa casa de pão. Assim como aconteceu com José, no Egito, o Senhor usou a fome para trazer salvação e bênção espiritual através dos fiéis.
A história apresenta a contraditória característica de uma mulher virtuosa, que veio de um povo nascido de incesto (Ló e sua filha). Os moabitas, ancestrais de Rute, tinham atraído Israel para a idolatria e a imoralidade (Gn 19:37; Nm 25:1), mas agora ela estava influenciando Israel com o seu amor e com a sua virtude.


OBJETIVO

Retratar o ânimo religioso e o amor de duas mulheres de países diferentes numa época de rivalidade racial, violência e idolatria.
Lembrar a relação genealógica de Davi com Moabe, talvez durante a estada do salmista com os seus pais moabitas. “Incidentalmente”, mostra a linhagem marcadamente gentia na linha genealógica do Messias, vindo através de Raabe, a Cananéia, e Rute, a moabita, pelo lado materno.

PARTICULARIDADES DO LIVRO

LIVRO QUE HONRA AS MULHERES – Dois livros do Antigo Testamento têm nome de mulher: Rute, no início da história de Israel em Canaã, e Ester, no término. Rute foi uma das mulheres mais proeminentes no período inicial dos Juízes. Outras foram Débora, Jael, uma mulher anônima que assassinou Abimeleque, o rei usurpador, a filha de Jefté e a mãe de Sansão.

FÉ GENTIA NO ANTIGO TESTAMENTO (1:16) – A declaração de fé feita por Rute é um clássico do Velho Testamento: “o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus.”

HISTÓRIA DE PROVAÇÃO E TRAGÉDIA DE UMA FAMÍLIA – Rute é o único livro da Bíblia que focaliza as provações e dificuldades de uma única família, em vez de uma tribo ou nação, numa perspectiva maior. O livro trata de uma viúva de Israel atingida pelo tríplice infortúnio de haver perdido o esposo e os dois filhos depois da fome tê-la forçado a sair de Belém com a família.

LIGAÇÃO DE MOABE COM DAVI E O MESSIAS (4:18-22) – Embora os moabitas fossem descendentes de Ló e sua filha (incesto) e fossem, portanto, primos de Israel, foi-lhes negada entrada na congregação israelita “até a décima geração” em virtude da sua hostilidade para com os judeus quando eles saíram do Egito (Dt 23:3-6). Rute, no entanto, foi recebida entre duas ou três gerações, pois aquela lei aplicava-se apenas aos homens moabitas e não às mulheres. Embora a linhagem de Davi e do Messias fosse formada apenas de hebreus pelo lado paterno, inclui muitas mulheres gentias.


OS LIVROS DE SAMUEL

Estes livros receberam esse nome devido ao seu personagem principal, cujo significado é nome de Deus ou pedido a Deus.
No cânon hebraico, formavam um só volume, O LIVRO DE SAMUEL. A Septuaginta o dividiu em dois volumes, chamados de I e II Reis. Já os livros que chamamos de I e II Reis eram chamados de III e IV Reis.

AUTOR

Como a maioria dos livros históricos, são anônimos. Deduz-se ter sido Samuel o autor de I Samuel 1-24, e Natã e Gade, os autores da parte restante.
As descrições detalhadas sugerem que os autores foram testemunhas oculares dos fatos.
Segundo observação do Talmude hebraico, a declaração de I Cr 29:29 fornece indícios da autoria desses livros: “são o livro de Samuel, o vidente; o livro de Natã, o profeta e o livro de Gade, o vidente”.

DATAS ENVOLVIDAS (1100 – 970 a.C., aproximadamente) – Os acontecimentos relatados nos dois livros cobrem o período do nascimento de Samuel até o fim do reinado de Davi. Supondo que Samuel tivesse 30 anos quando começou sua liderança em 1070 (cinco anos após a morte de Eli), ele deve ter nascido em 1100. Considerando que o reinado de Davi estendeu-se de 1010 a 970, o período de tempo para os dois livros é de, aproximadamente, 130 anos.

CONTEXTO RELIGIOSO

O período começou com a idolatria e a imoralidade ainda predominando em Israel (1 Sm 7:3). Embora Eli fosse fiel como sacerdote, deixou de honrar a Deus por não disciplinar os seus filhos (2:29), que serviam no tabernáculo de Siló com flagrante imoralidade e cobiça. Por esse motivo, o Senhor proferiu julgamento contra a casa de Eli, afastando-a do sacerdócio (2:33).

Esse estado de religião superficial e de práticas imorais era comum em todo Israel, fazendo com que o Senhor, para disciplinar seu povo, permitisse a invasão dos filisteus.
O tabernáculo e a arca tinham estado em Siló (14 km ao norte de Betel) desde os tempos de Josué até os de Eli. Quando, na ocasião da morte deste, a arca foi roubada, esses dois itens principais do sistema religioso de Israel ficaram separados durante 75 anos, até que Davi fez com que a arca voltasse no ano 1000 a.C.

CONTEXTO POLÍTICO

No começo do século 11 a.C., o fraco estado espiritual de Israel combinava com seu fraco estado político. Foi uma época de lideranças divididas e anarquia geral. Desde a morte de Josué, a nação vinha sem liderança central. Nas emergências, as tribos eram julgadas por juízes indicados por Deus ou por governantes sacerdotes (Finéias e Eli).
Nessa época, Israel sofreu opressões externas: dos filisteus, que tomaram até mesmo a arca, e dos seus vizinhos consanguíneos, que ficavam a leste, além da Síria, ao norte.
Sob o reinado de Davi, os problemas de anarquia interna e opressão externa foram, aos poucos, resolvidos. A nação tornou-se uma força política unida e respeitada por todas as nações da região. Os filisteus foram expulsos. Tornaram-se vassalos de Israel: Edom, Moabe, Amom e Síria; foi feito um acordo de paz com a Fenícia.


OBJETIVO


Os livros de Samuel têm por objetivo apresentar a história do desenvolvimento de Israel desde um estado de anarquia até um estado de monarquia teocrática.
O motivo dominante é a glória e o poder de uma nação que corresponde ao Senhor soberano.


PARTICULARIDADES DOS LIVROS

SAMUEL, O QUE UNGE REIS – Samuel destaca-se no Velho Testamento ungindo os dois primeiros reis de Israel por ordem do Senhor. Essa continuou a ser a função especial dos profetas até a ocasião em que João Batista apresentou a Jesus.

A FIGURA TRÁGICA DE ELI (1 Sm 2:12-36) – Eli, o sumo sacerdote, simbolizou a condição em que se achava Israel naquela época. Vivia em uma forma de piedade sem poder ou disciplina pessoal. Seus filhos tiravam proveito do sacerdócio, visando lucros.

A ARCA PERDIDA – “ICABODE” (1 Sm 4-6) – Eli e seus filhos trouxeram extremo opróbrio a Israel pelo uso supersticioso da arca no combate. Não somente foi perdida a batalha de Afeque, como a arca foi tomada pelos filisteus. O nome dado ao neto de Eli, Icabode (foi-se a glória de Israel – 1 Sm 4:21) caracterizou muito bem a nação.

A ESCOLHA HUMANA PERMITIDA POR DEUS (1 Sm 9-15) – Assim como a insensatez de Eli contrasta com Zadoque (escolha divina de um sumo sacerdote fiel), a insensatez de Saul contrasta com Davi (escolha divina de um rei fiel). A escolha de Saul, feita pelo povo, refletia a sua confiança mais na aparência física do que na força espiritual.

DAVI E GOLIAS (1 Sm 16-17) – O grande contraste entre o alto Saul e o pequeno Davi está na escolha divina do jovem pastor, a quem nem mesmo a família considerava candidato ao reinado. A vitória de Davi sobre Golias não se deu com espada ou armadura, mas em nome do Senhor dos Exércitos. Ao contrário de Saul, que tinha ambição de glória nas batalhas, Davi, mais tarde, sempre consulta ao Senhor antes de entrar na guerra (22:10; 23:2,4,10; 30:8; 2 Sm 2:1; 5:19,23).

DAVI, A ESCOLHA DIVINA – Davi foi um homem estimado por Deus e pelos homens de sua época. Através dele Deus estabeleceu um padrão que deveria ser seguido por todos os reis posteriores. O Senhor o usou não somente para estabelecer o reino, mas também para instruir a nação quanto à adoração e o louvor que lhe são devidos. Apesar de não ser perfeito em muitas coisas, mostrou uma capacidade notável de aceitar a própria culpa e reagir positivamente ao castigo do Senhor, ao contrário de Saul.

ALIANÇA DAVÍDICA (2 Sm 7) – Do mesmo modo que a aliança abraâmica delineou as bênçãos espirituais, nacionais, territoriais e pessoais para Israel, a aliança davídica foi feita para elaborar o aspecto nacional com referência ao rei. Essa aliança prometeu a Davi que os seus descendentes teriam os direitos do trono de Israel para sempre, e que a linhagem seria através de Salomão, o construtor do templo. Isso deu base para Mateus provar, no Novo Testamento, o direito de Jesus ser o Rei de Israel em virtude da sua genealogia através de José (legalmente), remontando-se à época de Salomão e Davi.

DAVI E BATE-SEBA (2 Sm 11-12) – Esse caso, no auge do reinado de Davi, tornou-se um divisor em sua vida. É o ponto que faz divisão entre os seus triunfos e as suas dificuldades. O fato de olhar, “por acaso”, para a esposa do vizinho, conduziu-o à cobiça e o arrastou ao adultério, levando-o à falsidade, ao disfarce, ao roubo da esposa de um dos seus oficiais mais nobres, e ao homicídio. Natã, através de uma parábola, expôs todo o acontecimento sórdido, levando o rei ao arrependimento e à confissão. Apesar de ter recebido o perdão divino imediatamente após sua confissão, as conseqüências humanas dos seus crimes renderam-lhe um alto preço pago pelo resto de sua vida. Os salmos 32 e 51 mostram a confissão e a humilhação de Davi, buscando o perdão divino.

TRAGÉDIA DOS FILHOS DE DAVI - Davi teve 12 esposas (estão registrados os nomes de apenas oito), pelo menos 10 concubinas, 21 filhos e uma filha (2 Sm 3:2-5; 5:13-16; 1 Cr 3:1-9; 14:3-7; 2 Cr 11:18). Três dos seus filhos mais velhos sofreram o golpe de morte violenta (Amnon, Absalão e Adonias), quando cada um era um herdeiro em potencial do trono. Parte dessas mortes foram atribuídas, por Deus, a Davi, pela maneira compassiva com que ele os conduzia (1 Rs 1:6). O mesmo problema de indisciplina dos filhos aconteceu também com Eli e Samuel, eminentes homens de Deus. O estranho é que o rei Saul, que não era piedoso, teve como filho um dos homens mais nobres dos livros, Jônatas.

A COMPRA DO LOCAL DO TEMPLO (2 Sm 24) – O livro de 2 Samuel focaliza dois grandes pecados de Davi: o adultério e o censo do povo. Depois do seu pecado e julgamento por ocasião do censo, foi-lhe permitido, por Deus, adquirir o local do templo, no monte Moriá, mas não construí-lo.


OS LIVROS DE REIS

Receberam esse nome devido às primeiras palavras do primeiro deles, WEHAMMELEK (sendo o rei). O título adapta-se perfeitamente ao assunto, pois os livros tratam do domínio dos reis de Israel e de Judá.
Os judeus consideravam-no um livro único, pelo fato de constituírem uma história ininterrupta. Os tradutores gregos dividiram-no em dois, chamando-os de 3 e 4 Reis.

AUTOR

Ambos são anônimos, porém a tradição os atribui a Jeremias, auxiliado por Baruque (seu secretário – Jr 45). Podem também terem sido escritos por um contemporâneo de Jeremias (época do exílio).
O autor, certamente, fez uso de diversos escritos da época, conforme registro nos próprios livros:
Livro dos Justos (2 Sm 1:18);
Livro dos Sucessos de Salomão (1 Rs 11:41);
Livro das Crônicas dos Reis de Israel (1 Rs 14:19), citado 18 vezes nos dois livros;
Livro das Crônicas dos Reis de Judá (1 Rs 14:29), mencionado 15 vezes;
Livro de Isaías (2 Rs 18-20 refere-se a Is 36-39);
Livro das Crônicas do Rei Davi (1 Cr 27:24);
Livro das Crônicas de Samuel, o vidente (1 Cr 29:29);
Livro das Crônicas de Natã, o profeta (1 Cr 29:29);
Livro das Crônicas de Gade, o vidente (1 Cr 29:29);
Livro da Profecia de Aías, o silonita (2 Cr 9:29);
Livro das Visões de Ido, o vidente (2 Cr 9:29).

TEMPO (970 – 560 a. C.)

Os acontecimentos de 1 e 2 Reis estendem-se da morte do rei Davi, o primeiro rei da aliança, até o cativeiro de Zedequias, último rei de Judá. No último capítulo, há ainda uma referência à libertação de Joaquim, no ano 560 a.C., quando EVIL-MERODAQUE começou a reinar na Babilônia.
O período de Salomão a Zedequias é conhecido como a Era do Templo de Salomão, estendendo-se desde a construção do templo até sua destruição por Nabucodonosor.

CONTEXTO POLÍTICO

NACIONAL – os livros cobrem o período de maior influência política de Israel, de Salomão até a destruição do reino do Sul, quando o povo foi levado cativo para a Babilônia.

INTERNACIONAL – com a deterioração político-religiosa de Israel, novos impérios começaram a surgir: Assíria e Babilônia.


CONTEXTO RELIGIOSO

A construção do templo de Salomão no começo do período constitui o ponto máximo da história religiosa de Israel. Salomão instituiu um sistema de adoração altamente organizado e, no começo, inspirou forte sentimento religioso, inclusive a partir da cerimônia de inauguração. O bom começo, no entanto, não durou muito e a idolatria inundou novamente a nação, levada pelas práticas conciliatórias de Salomão, que construiu altares para as suas esposas pagãs.
Logo após a divisão do reino, Jeroboão introduziu a adoração ao bezerro no reino do norte, nos dois altares de Betel e Dã, e ainda foi acrescentado o culto a Baal dos cananeus, por Acabe e Jezabel, no reino do norte, e por sua filha, Atalia, no reino do Sul. Apesar do expurgo de Baal por Jeú, em 841 a.C., a idolatria continuou em ambos os reinos até a sua destruição em 722 e 586 a.C.

OBJETIVOS

LITERÁRIO – completar a história do reinado de Davi, iniciado no livro de Samuel, escritos 400 anos antes.

RELIGIOSO – relacionar a história à observância da aliança. O autor procura enfatizar para a nação, que marchava para o cativeiro em 586, a conexão inseparável entre obediência e bênção, desobediência e maldição.

PARTICULARIDADES DOS LIVROS

GRANDEZA DE SALOMÃO (1 Rs 1-11) – A preeminência de Salomão consistiu na sua sabedoria, na construção do templo e no reinado de paz e de esplendor, aplaudido por todo mundo de então. Sua sabedoria é constatada nos três livros a ele atribuídos (Provérbios, Eclesiastes e Cantares).

O TEMPLO DE OURO DE SALOMÃO (1 Rs 5-8) – Foi essa a contribuição de Israel para as “sete maravilhas do mundo”, excedendo a tudo o que existia na época. Toda essa pompa, essa belezura levou o povo a adorar o templo e não o Deus do templo.

REINO DIVIDIDO (931 a.C. – 1 Rs 12) – Após oitenta anos de construção e estabelecimento do reino, sob Davi e Salomão, a nação foi dividida em dois reinos logo depois da morte deste último. Dez tribos reuniram-se sob Jeroboão, com o nome de Israel e as duas restantes sob Roboão, com o nome, respectivamente, de Judá (parte das tribos de Simeão e Levi uniram-se a Judá). Essa divisão foi provocada, principalmente, pelas seguintes razões: idolatria de Salomão (1 Rs 11:11), tirania de Salomão, impondo pesados impostos (1 Rs 12), e uma antiga rivalidade entre Judá e Efraim.

SISTEMA DE CULTO AOS BEZERROS EM ISRAEL (1 Rs 12:25) – Essa instituição foi, obviamente, um expediente político de Jeroboão para evitar que o povo descesse a Jerusalém. Tratava-se de um falso sistema de adoração a Jeová (12:28). Esse pecado condenou todos os futuros reis do Norte.

CULTO A BAAL INSTITUÍDO POR ACABE E JESABEL (1 Rs 16:29) – A aquiescência de Israel ao culto dos bezerros tornou a nação presa fácil para o culto cananeu a Baal, sessenta anos mais tarde. Jezabel, esposa de Acabe, oriunda da Fenícia, não só instigou essa religião em Israel, como também contratou 850 profetas de Baal e Aserá (1 Rs 18:19).

ELIAS E ELISEU, PROFETAS DOS MILAGRES (1 Rs 17; 2 Rs 9) – Elias apareceu em Israel com os seus miraculosos poderes quando o culto a Baal foi instituído em Israel por Acabe e Jezabel. Seu único propósito era denunciar o culto a Baal e chamar atenção para o poder maior do Deus de Israel. Seu primeiro milagre de “fechar os céus” por mais de três anos foi um desafio ao poder de Baal, deus da agricultura e da chuva. O ministério de Eliseu, com porção dobrada do poder de Elias, trouxe a denúncia da idolatria a um ponto culminante pelo maior número de milagres e pela intrepidez objetiva com que desafiou muitos dos reis que seguiam a Baal.

QUEDA DE SAMARIA (722 a.C. – 2 Rs 17) – Os últimos trinta sombrios anos de Israel foram caracterizados por caos político, com cinco dinastias e quatro assassínios. O último rei, Oséias, foi aprisionado por Salmaneser, dois anos antes do colapso da cidade, em 722. Construída por Onri, o rei que introduziu JEZABEL no cenário judaico através de um pacto de casamento, Samaria presenciou o fim do reino do Norte, meio do qual Deus utilizou-se para advertir a Judá de que não mais suportaria idolatria em sua terra (Ez 23:11).

REFORMADORES DE JUDÁ – Apesar de Israel do Norte ter tido somente reis maus, pelos padrões divinos, Judá teve nove reis virtuosos, de um total de dezenove. Cinco empenharam-se em reformas: Asa, Josafá, Joás, Ezequias e Josias. Dois, porém, apostataram no fim dos seus dias (Asa e Joás), e os filhos, sucessores dos outros três reformadores (Josafá, Ezequias e Josias), foram maus e destruíram quase tudo o que havia sido feito.

DESTRUIÇÃO DE JERUSALÉM E DO TEMPLO EM 586 a.C. – A queda de Jerusalém e a destruição do templo foram acontecimentos que marcaram época na história de Israel. Sua queda (no ano 380 do templo) foi lembrada por Jeremias em suas lamentações, e é recordada, anualmente, pelo povo judeu. Os três desterros para Babilônia tiveram lugar em 606 (Dn 1:1), 597 (2 Rs 24:11-12) e 586 (2 Rs 25:8-11), abolindo muitos rituais e costumes jamais restaurados plenamente.

CAUSAS DA DESTRUIÇÃO E DO CATIVEIRO:

· Recusaram-se a guardar a Lei da aliança e recorreram a toda a idolatria dos gentios (Dt 28:58; 2 Cr 36:14);
· Não aceitaram as correções dos profetas de Deus, nem os castigos do Senhor (Lv 26:14-33; 2 Cr 25:4; 36:15-16);
· Recusaram-se a guardar os sábados e os anos sabáticos (Lv 26:33-35; 2 Cr 36:21). Tentaram enganar o Senhor durante 70 anos. Consequentemente, foi esse o período que ficaram no cativeiro.


OS LIVROS DAS CRÔNICAS

Crônicas é um nome cristão dado a estes livros por Jerônimo, no quarto século da era cristã. O título sugere o propósito de fazer um registro cronológico da história sagrada. No cânon hebraico, os dois livros formam um só volume, denominado Atos dos Dias ou Atos dos Tempos. Os tradutores gregos denominaram-nos Paraleipomena (coisas esquecidas), considerando-os um suplemento aos livros de Samuel e Reis.


AUTOR

Embora anônimos, são atribuídos, segundo a tradição judaica, a Esdras, o sacerdote, considerando estilo literário e o ponto de vista sacerdotal. Além disso, os últimos versículos de Crônica são os primeiros versículos do livro que leva o seu nome, o que sugere uma continuação.
O autor, na verdade, é um compilador. Além de usar o Pentateuco, os livros de Samuel e Reis, faz referência a aproximadamente doze outros documentos existentes naquela época (já citados).


TEMPO – da criação de Adão até Ciro, da Pérsia (538 a.C.).


CONTEXTO HISTÓRICO

O livro foi escrito, certamente, logo após a volta do exílio, a fim de proporcionar um fundo teocrático para as exortações de Esdras e Neemias. Sua data provável é o ano 430 a.C..
Os acontecimentos do livro abrangem toda a história do Velho Testamento, desde Adão até os netos de Zorobabel (1 Cr 1:3), que foram contemporâneos de Esdras.


CONTEXTO POLÍTICO

Quando os livros de Crônicas foram compilados, Judá já não era uma monarquia, era um pequeno grupo de exilados, vassalos do Império Persa. Apesar do contexto, os judeus não deixaram de exercer influência. Daniel, por exemplo, tornou-se Primeiro-Ministro do Império Babilônico de Nabucodonosor e, posteriormente, do Império Persa de Ciro (Dn 2:6). Ester tornou-se Rainha e Modercai, Primeiro-Ministro do Império Persa de Assuero.

CONTEXTO RELIGIOSO

A estagnação religiosa é bastante evidente nos seis livros pós-exílio (Esdras, Neemias, Ester, Ageu, Zacarias e Malaquias). O reino messiânico era aguardado por todos para aqueles dias, ou seja, logo após a volta do exílio. Tal não acontecendo, sentiam-se frustrados, desapontados com o Senhor.

OBJETIVO

Lembrar ao povo que, embora grande parte de Israel estivesse disperso, o programa divino para o povo permanecia inalterável. Mesmo levantando impérios para disciplinar o seu povo, o Senhor cumpriria todas as promessas da aliança.


PARTICULARIDADES DOS LIVROS

PERSPECTIVA DIVINA – Os livros de Crônicas não representam, meramente, uma repetição, mas um estudo geral da história de Israel. Enfatizam a soberania e o domínio de Deus sobre os interesses do seu povo, a fim de cumprir os seus propósitos, apesar dos impulsos humanos. Dispostos no final do cânon hebraico, terminam o Velho Testamento contemplando do alto a nação da aliança divina.

“BUSCAR O SENHOR” – Essa necessidade é bastante enfatizada em Crônicas. O versículo-chave dos dois livros é 2 Cr 7:14, que acentua a necessidade de arrependimento pessoal e de um coração voltado para Deus a fim de que as bênçãos prometidas na aliança possam ser alcançadas.

PERIGO DA PROSPERIDADE – Crônicas enfatiza o perigo de se deixar Deus de lado em época de prosperidade ou poder, citando vários exemplos: Roboão (2 Cr 12:1; Asa (16:1-2); Josafá (18:1); Jeorão (21:3-4), Amazias (25:11-14); Uzias (26:16) e Ezequias (32:23-25). No contexto, prosperidade e poder são bênçãos divinas, todavia, há o perigo de os alcançados por elas se afastarem de Deus.

CONFERÊNCIAS DE JOSAFÁ (2 Cr 17:7-12) – Josafá usou como método reavivalista o envio de pregadores intinerantes (príncipes, levitas e sacerdotes) para ensinar o Livro da Lei em todas as cidades de Judá. O resultado foi muita paz, além de bom relacionamento com as nações vizinhas, graça perante o Senhor e prosperidade nacional.


OS LIVROS DE ESDRAS E NEEMIAS

Os livros de Esdras e Neemias eram considerados um só livro nos tempos antigos, conforme registro do Talmude. A Septuaginta também os considerava um só livro. A Vulgata Latina os dividiu em dois: Esdras A e Esdras B. A Bíblia evangélica e a hebraica moderna dividem-nos em dois, em homenagem aos seus principais personagens.

AUTOR OU COMPILADOR

Esdras, o sacerdote, é, geralmente, considerado o autor dos quatro livros históricos desse período: 1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias. Quanto a Neemias, é possível que Esdras tenha usado as memórias de Neemias, haja vista que em alguns trechos este último fala em 1ª pessoa.
As atribuições de Esdras para com os hebreus que voltaram do exílio eram muitas:
· Restituir o devido culto no templo reconstruído em 457 a.C.;
· Escrever ou compilar os quatro livros históricos supracitados, bem como o Salmo 119;
· Presidir a Grande Sinagoga, que organizou o cânon hebraico das escrituras;
· Instituir sinagogas locais em Judá para o estudo da Torá.

DATA (430 e 425 a.C., aproximadamente)

Considerando que os ministérios de Esdras e de Neemias aconteceram durante o reinado de Atarxerxes I (465 – 424 a.C.), é provável que os livros tenham sido concluídos próximo ao final do período, depois de Malaquias, último profeta, ter pronunciado a sentença do Senhor e feito o devido registro.


TEMPO

O tempo envolvido nos livros vai de 538 a 430 a.C.. Cobrem um período superior a 100 anos, desde a volta de Zorobabel, construtor do templo (537 a.C.), até o último retorno de Neemias, construtor dos muros (depois de 432 a.C.).
Quatro turmas voltaram do cativeiro: Zorobabel (537), Esdras (457), Neemias (444) e Neemias novamente (432).


CONTEXTO POLÍTICO

No contexto nacional, Israel vivia o início da era pós-exílio, com a volta à sua terra. No contexto internacional, vivia-se o início da era do Império Persa com o seu grande número de novas manobras políticas, que afetaram Israel e o mundo.


CONTEXTO RELIGIOSO

Os decretos de Ciro e Dario foram influenciados por sua fé religiosa. Fizeram, assim, com que o povo voltasse à sua terra natal a fim de aplacar os deuses locais e promover a paz no império. Tal política resultou no retorno de Israel à Palestina com os vasos do templo, e na reativação de seu sistema religioso.
Apesar da revolução e deserção espiritual de muitos, conforme registram Jeremias e Ezequiel, o grupo que retornou em 537 era composto, em sua maioria, por judeus piedosos, formando um contingente de aproximadamente 50 mil homens (além de mulheres e crianças). O estudo da Torá e dos profetas Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, feito nas sinagogas, exerceu forte influência na inspiração da fé religiosa.


CONTEXTO FILOSÓFICO

· SÓCRATES (469 a.C., aproximadamente), Platão (427 a.C.) e Aristóteles (384 a.C.) muito contribuíram para o desenvolvimento do pensamento;
· ZOROASTRO (Zaratustra : 628 – 551), cujas idéias se espalharam pelo mundo persa;
· BUDA (Cidarta Gautama: 563 – 486) desenvolveu as “quatro nobres verdades” do Budismo;
· CONFÚCIO (551 – 479, aproximadamente), que destacou-se na China.

Enfim, foi um período de muito pensamento e convulsão religiosa, o que enfatiza a importância da obra de Esdras para preservar a religião dos patriarcas e dos profetas.

OBJETIVOS

ESDRAS – Documentar a volta do povo que vinha reconstruir o templo na ocasião certa em que o Senhor, por intermédio de Jeremias, havia dito que aconteceria (Jr 29:20; Ed 1:1).

NEEMIAS – Esdras usou os registros pessoais de Neemias (1:1; 7:73) para documentar a reconstrução do muro de Jerusalém.

PARTICULARIDADES DOS LIVROS

Auxiliados, posteriormente, pelos livros proféticos de Ageu e de Zacarias, os livros de Esdras e de Neemias narram a volta do cativeiro. Esdras descreve o cumprimento da profecia de Jeremias 25:12 e 29:10.
O remanescente que voltou representava todo o Israel, conforme sugere as referências a seguir: Ed 1:3; Ne 7:7; Ed 2:2; 6:17; 8:35.


CONFIRMAÇÕES DA PALAVRA PROFÉTICA - O livro de Esdras começa falando do cumprimento da Palavra de Deus por intermédio de Jeremias, mas refere-se, também, ao cumprimento de Isaías 44:28.

O IMPÉRIO PERSA NO PLANO DE DEUS – A história de Esdras e de Neemias começa com Ciro, o primeiro rei persa, e estende-se até Jadua, o sumo sacerdote, em 333 a.C., ano da destruição desse império. Trata-se do segundo dos reinados gentios das profecias de Daniel (2:39; 7:5), os quais iriam disciplinar o povo de Israel ao governá-lo.

TEMPO DE VIAGEM DA BABILÔNIA A JERUSALÉM (Ed 7:9; 8:31) – Segundo informação de Esdras, a viagem da Babilônia a Jerusalém (1.448 km, aproximadamente), levou quatro meses. Viajaram com muita rapidez e não pediram escolta militar para protegê-los. Essa informação nos ajuda a compreender o tempo gasto pelos magos do momento em que viram a estrela “no leste” até chegarem a Belém.

CONTROVÉRSIA SAMARITANA – A recusa de Israel em aceitar a ajuda dos samaritanos na reconstrução do templo teve como resultado uma quebra de relacionamento que se estendeu até os dias do Novo Testamento. Chegaram a considerarem-se inimigos a ponto de recusar qualquer associação. É interessante notar que os samaritanos foram os primeiros a se referirem aos israelitas que vieram do exílio como “judeus” (Ed 4:12).

ZOROBABEL E SESBAZAR (Ed 1:8,11; 2:2) – Serão duas pessoas diferentes ou uma só? Sobre ambos há o registro de que “lançaram os alicerces do templo” (Ed 3:8, 10; 5:16; Zc 4:9). Embora os nomes possam referir-se à mesma pessoa, as passagens bíblicas parecem diferenciá-los. Sesbazar, segundo alguns pesquisadores, era outra maneira de se escrever Senazar (1 Cr3:18), filho de Jeconias, tio de Zorobabel. Se isso é verdade, Sesbazar foi comissionado por Ciro para dirigir o grupo e ser governador de Jerusalém (5:14), mas talvez tenha morrido antes da obra concluída. Zorobabel teria, então, assumido a função. Ambos, portanto, “lançaram os alicerces” do templo, porém a linha messiânica veio através de Zorobabel.

O TEMPLO DE ZOROBABEL (Ed 6:3-4) – O texto não registra os detalhes desse templo, conforme o fez em relação ao de Salomão (1 Rs 6; 2 Cr 3), dá apenas as dimensões básicas externas: 27 metros de largura, 27 de altura, 45 de comprimento e 3 pavimentos; um terço maior que o de Salomão, porém mais simples e menos pomposo. O Talmude registra CINCO coisas do templo original que não se encontravam no de Zorobabel: a arca, o fogo sagrado, a SHEKINAH, o Espírito Santo e o Urim e Tumim. No lugar da arca da aliança foi colocada uma grande pedra.

ESDRAS ORDENA O DIVÓRCIO (Ed 9:1; 10:3,11) – Essa ordem parece contradizer Moisés (Dt 21:10-14; 24:1-4), que exigia apenas que a mulher gentia passasse por um ritual de purificação. O longo aconselhamento aos 113 ofensores sugere o fato de ter sido exigido de cada um assegurar o futuro das esposas e dos filhos destituídos.


O LIVRO DE ESTER

O título leva em consideração a figura central do livro, ESTER (estrela), seu nome persa, ou HADASSAH (murta), seu nome judeu.

AUTOR

Mordecai é considerado o provável autor, podendo também ter sido escrito por Esdras ou Neemias. O último capítulo parece descartar a autoria de Mordecai, embora pudesse ter sido escrito por um redator, como Esdras. Considerando, porém, o estilo, não parece ser de Esdras ou Neemias.
O Talmude atribui a autoria de ESTER à Grande Sinagoga, cujo provável presidente, Esdras, poderia ter colaborado.

DATA

Aproximadamente, 460 a.C.. Deve ter sido escrito logo após a morte de Assuero (Xerxes – 465), quando os seus relatórios foram completados no livro da história dos reis (Et 10:2).

TEMPO ENVOLVIDO

· 483 – 473 a.C.;
· Em 483, a rainha Vasti foi deposta (terceiro ano de Assuero);
· Em 479, a rainha Ester foi coroada (sétimo ano de Assuero);
· Em 473, houve o livramento dos judeus do Purim (décimo terceiro ano de Assuero);
· Os acontecimentos de Ester encaixam-se, cronologicamente, entre os capítulos 6 e 7 de Esdras.

CONTEXTO POLÍTICO

Embora um grande número de judeus tivesse regressado à Palestina mais ou menos sessenta anos antes, com Sesbazar (e/ou Zorobabel), muitos ainda estavam dispersos por todo o império. Sob o domínio persa, receberam bom tratamento, aprenderam aramaico e economia, e sofreram poucas restrições. O anti-semitismo observado em Ester não foi persa, mas agagita.

CONTEXTO RELIGIOSO

Para se ter idéia da situação religiosa de Israel no período pós-exílio, basta ler a introdução dos livros de Esdras e de Neemias. Foi uma época de pequeno progresso espiritual e de indiferença generalizada, embora estivessem curados da idolatria dos deuses de pedra e de madeira.

OBJETIVOS

HISTÓRICO – Encorajar os judeus dispersos com a história do contínuo interesse e presença do Senhor, mesmo que ele não fosse visto e os judeus estivessem longe do templo de Deus em Jerusalém. O nome do Senhor não é mencionado, no entanto sua direção faz-se presente em todo o livro.

RELIGIOSO – Explicar a origem da festa judaica do Purim.


PARTICULARIDADES DO LIVRO

SEMENTES DO ANTI-SEMITISMO – O fenômeno do anti-semitismo foi expresso pela primeira vez no livro de Ester. Difere do anti-judaísmo por ser um preconceito irracional contra a raça, não apenas contra o que o povo faz ou pensa. O anti-semitismo julga os judeus pelo “crime” de ser judeu; o anti-judaísmo condena ao povo judeu por aquilo que faz ou pelo “crime” de ter crucificado Jesus.

LUGAR DE ESTER NA HISTÓRIA – O povo judeu tem este livro em alta estima, lendo-o anualmente por ocasião da festa do Purim. Já Lutero considerava-o sem valor algum, preferia que não existisse, o que reflete a atitude da igreja da época luterana e da igreja Católica em geral, considerando os judeus uma raça maldita por ter crucificado Jesus, portanto, sem futuro no programa divino. Como reação, os judeus consideram a igreja um inimigo tradicional e a pessoa de Jesus o ponto convergente do problema da raça e o motivo da perseguição.

LIVRO BÍBLICO “SEM DEUS” - A ausência do nome de Deus é um tanto inexplicável no livro, mas simboliza o sentimento de grande parte dos judeus na dispersão, que se sentiram abandonados pelo Todo-Poderoso.

GRANDEZA DE MORDECAI – Embora José e Daniel tenham governado impérios do mundo como vice-regentes, nenhum líder judeu jamais governou um império tão imenso como o fez Mordecai.

FASCINANTE DRAMA DE ESTER – É um dos mais fascinantes dramas de toda a literatura. Longe, porém, de ser apenas um drama brilhante, é um retrato fiel dos acontecimentos que mudaram o curso da história de todo um povo. Repercutiu realmente em toda a raça, pois os progenitores do próprio Messias estiveram em perigo.


LIVROS POÉTICOS

Em várias partes da Bíblia encontramos um pouco de poesia. Os hebreus, no entanto, identificavam três livros especialmente poéticos: Jó, Salmos e Provérbios. Na classificação da Vulgata estão também incluídos os livros didáticos, Eclesiastes e Cantares, perfazendo um total de cinco livros. Esse grupo de cinco livros, posteriormente , foi dividido em dois, a saber, livros de Sabedoria (Jó, Provérbios e Eclesiastes) e Hínicos (Salmos e Cantares de Salomão).

O LIVRO DE JÓ

O livro de Jó não representa apenas o primeiro livro poético, mas também o primeiro dos livros de sabedoria. Passar de Ester para Jó é como passar de Atos para Romanos, no Novo Testamento. Já não há as narrativas dos acontecimentos, somos desafiados a pensar e a observar, procurando, inclusive, resposta para a pergunta por que sofrem os justos?
Assim como o livro de Ester, é assim chamado numa referência ao seu herói, e não em função da autoria, embora Jó possa ter registrado nele muitos detalhes de sua vida.
O livro é anônimo, nada revelando sobre quem o escreveu. Apesar disso, vários nomes são cogitados como possíveis autores: Jó, Eliú, Moisés, Salomão, Jeremias.
Desses nomes cogitados, os mais prováveis são Moisés ou Salomão. O Talmude judaico, por exemplo, atribui sua autoria a Moisés, supondo que o mesmo soube da história quando esteve em Midiã, redigindo ou compondo o livro sob inspiração divina. Já com base na composição e no conteúdo do Eclesiastes, Salomão também é considerado o provável autor pelos rabinos e por vários outros eruditos.
A característica patriarcal da história e o fato de não mencionar a Lei Mosaica ou as intervenções divinas no êxodo são argumentos favoráveis a um autor que tenha vivido em tempos patriarcais. Assim, se foi Moisés o autor, o estilo árabe deve-se ao fato de ter ele ouvido a história autêntica em Mídia, onde esteve quarenta anos, tendo composto o livro durante as grandes dificuldades de Israel no deserto.

CONTEXTO HISTÓRICO

Alguns estudiosos questionam as bases históricas do livro, cujos acontecimentos datam, provavelmente, do período patriarcal. Em função disso, é bom considerar com bastante atenção os pontos a seguir:

· Jó é identificado como um habitante de UZ (1:1);
· Ezequiel refere-se quatro vezes à historicidade do livro de Jó, bem como de Noé e Daniel;
· Tiago 5:10-11 invoca a historicidade do sofrimento e da paciência de Jô do mesmo modo como o faz em relação aos profetas.

O cenário patriarcal dos acontecimentos entre Abraão e Moisés é aceito em função de alguns detalhes:

· O modo patriarcal de vida e religião de Jó: ele age como pai-sacerdote em sua casa;
· O fato de não haver referência à Lei Mosaica quando fala sobre a justiça, nem aos milagres do êxodo.

POSIÇÃO GEOGRÁFICA

As referências bíblicas a Uz sugerem um local a leste de Edom (Gn 10:23; 36:28; Jr 25:20; Lm 4:21). Assim, o local provável dos acontecimentos seria o noroeste da Arábia, na região montanhosa e deserta, talvez a 240 quilômetros a leste do Mar Morto.

PARTICULARIDADES DO LIVRO

O livro de Jó trata de um dos maiores mistérios – o do sofrimento. Por que sofrem os justos? Jó, um homem descrito como perfeito, é despojado da riqueza, dos filhos e da saúde, suportando tudo isso com resignação. Ele não compreende a causa dessas calamidades, mas resigna-se com o pensamento de que Deus envia aos homens tanto o mal quanto o bem, e que tem o direito de fazer com as criaturas o que lhe aprouver. Assim, pois, o homem deve aceitar o mal sem fazer queixa. Seus amigos, legalistas, argumentam que, sendo o sofrimento o resultado do pecado e sendo Jô o mais aflito dos homens, deveria ele ser o mais ímpio de todos. Jó fica indignado e nega a acusação de ter cometido pecado, levando sua negação até o ponto da auto-justiça. Na conclusão da discussão entre Jó e seus amigos, Eliú fala, condenando-o por sua auto-justiça e os outros pela áspera condenação de Jó. Continua explicando que Deus tem um propósito ao enviar o sofrimento aos homens; que Ele castiga o homem com a intenção de trazê-lo para mais perto de si.
Deus usou as aflições para experimentar o caráter de Jó e como um meio de revelar-lhe um pecado do qual até então não se tinha dado conta: a auto-justiça.

O ATAQUE DE SATANÁS CONTRA JÓ (1:1 – 2:10) – Deus apresenta Jó como um homem perfeito e temente a Ele, um que tem fugido da corrupção do mundo. Satanás admite isto, mas impugna o motivo de Jó. Sua contestação é de que Jó serve a Deus por conveniência, porque isto lhe traz prosperidade. Caluniando a Jó, Satanás também ataca a Deus, pois suas palavras insinuam que Deus não pode ganhar o amor desinteressado do homem. Deus, desejando justificar o seu próprio caráter e o de seu servo, sujeita Jó a uma prova.

JÓ E SEUS AMIGOS (2:11 – 31:40) – Segundo os amigos de Jó: o sofrimento é o resultado do pecado; a medida da aflição indica o grau do pecado; caso Jó arrependa-se de seus pecados, Deus lhe restaurará a felicidade; algumas vezes, os ímpios prosperam, todavia trata-se de uma prosperidade transitória, passageira. Jó responde: é possível que o justo seja afligido. Mais tarde, Jó se retrata parcialmente: Deus aflige, geralmente, os ímpios e abençoa os justos, porém há exceções; mesmo em sofrimento, temos o dever de adorar a Deus, todavia devemos evitar duras críticas ou até mesmo julgamento em relação àqueles que, quando em angústia, proferem queixas contra Deus.

A RESPOSTA DE ELIÚ (32-37): Jó agiu mal ao vangloriar-se de sua integridade; as calamidades são castigos pelos pecados cometidos, mas ao mesmo tempo são corretivas; reprova a atitude de Jó ao discutir com Deus, ao invés de humilhar-se diante dEle.

A RESPOSTA DE JEOVÁ (38 – 42:6) – Deus fala com Jó somente para iniciar a discussão, não discute com ele, mas proporciona-lhe revelações das mais eficientes, pelas quais desafia Jó nas suas próprias premissas erradas... Jó apenas ouve... finalmente rompe o silêncio em adoração e humilhação perante Deus. Confessa que o que havia aprendido teoricamente sobre Deus antes de receber a certeza de Sua bondade e sabedoria, torna-se agora uma bendita realidade.


O LIVRO DE SALMOS

Os hebreus chamavam-no de O livro de louvores, designando o seu principal objetivo, a saber, louvar ao Senhor. Os tradutores gregos deram-lhes o nome de Salmos (Psalmoi), que é a tradução do título hebraico Mizmor dado a cinqüenta e sete salmos, e significam canções cantadas com acompanhamento de instrumentos de cordas. Além desse, aparecem também os seguintes títulos: Shir (30) – qualquer canção de natureza sagrada ou secular; Maschil (13) – poema meditativo ou didático; Miktam (06) – significado indefinido, talvez expiatório; Tephillah (05) – oração; Tehillah (01 – Sl 145) – canção de louvor; e Shiggayon (01 – Sl 07)- significado indefinido, talvez um salmo penitencial. Esses títulos descrevem o caráter do salmo. Alguns títulos dão instrução musical, como acontece com o salmo 04: ao mestre de canto. Outros indicam o uso litúrgico: cântico para o dia de sábado (92).

Toda coleção de Salmos é chamada de Salmos de Davi, porquanto o seu nome está no princípio de quase a metade deles e, sem dúvida, muitos outros foram por ele inspirados. Doze autores foram identificados pelas legendas dos títulos e pelos tradutores da Septuaginta: Moisés, Davi, Salomão, Asafe, os filhos de Core, Hemã, Etã; Ezequias, Jeremias, Ageu, Zacarias e Esdras.
Os demais autores não são identificados . Esdras tem sido reconhecido, tradicionalmente, como o compilador dos Salmos na sua apresentação atual, embora Davi, Salomão, os homens de Ezequias (Isaías e Miquéias) e Jeremias possam ter sido os compiladores em suas respectivas épocas.

Admitindo-se que Moisés tenha sido o mais antigo escritor dos Salmos (aproximadamente, 1430 a.C.), esse livro foi escrito num período aproximado de mil anos. Assim, como são diversos os autores, também são diversas as datas.


CONTEXTO HSTÓRICO

Religião, política ou operações militares estavam grandemente entrelaçadas em Israel. Assim, nos Salmos as batalhas militares de Israel são vistas como cruzadas religiosas. O inimigo é considerado calamidade nacional e são feitas imprecações para a sua destruição como a alguém que luta contra Deus. Os Salmos retratam uma forte lealdade racionalista equivalente à devoção, e os israelitas assim pensam quando dependem do senhor para alcançar a vitória. Os salmistas escreveram sobre infortúnios, vitórias e louvores nas muitas dificuldades do viver diário.

POEMAS LÍRICOS

Os salmos não são apenas poemas, mas composições líricas; foram feito para serem cantados, expressando pensamentos e, principalmente, os sentimentos do escritor.
Identificamos a seguir quatro características notáveis da poesia lírica:
· É musical, feita para ser cantada com acompanhamento de instrumentos de corda;
· É subjetiva, pessoal, expressando os próprios sentimentos da pessoa que fala;
· Enfatiza as emoções como um dos seus traços identificadores mais importantes, usando diversas figuras de linguagem, como: símile (1:3); metáfora (23:1); metonímia (73:9); sinédoque (52:4); hipérbole (6:6); personificação (35:10); antropomorfismo (10:12); antropopatia (6:1);
· É breve, uma vez que as emoções não podem ser prolongadas numa alta intensidade.

PARTICULARIDADES DO LIVRO

SALMOS DE LAMENTO OU QUEIXA – São salmos que retratam uma intensa aflição por parte de quem os escreveu, expressando queixas e súplicas a Deus. Esses salmos representam
um terço do total, sendo chamados os lamentos, individuais e de comunidades. É bom ressaltar, todavia, que não se trata simplesmente de queixumes sem esperança. Retratam uma pessoa em profunda aflição, muitas vezes à beira da morte, que se torna consciente do seu pecado diante do Senhor, entrega-se totalmente à graça de Deus e compromete-se a servir e a louvar ao Senhor, enquanto anseia pela libertação que vem do alto. Refletem, em geral, calamidades nacionais, ameaças pessoais por parte de algum inimigo, acusações injustas, doenças ou ameaça de morte. Grande parte deles foi escrita por Davi.

SALMOS IMPRECATÓRIOS – O conteúdo desses salmos nos deixa altamente chocados, pois fala de uma maneira até muito forte do julgamento dos iníquos, invocando a maldição e a vingança de Deus sobre eles, como acontece, por exemplo, nos salmos 35, 69 e 109.

· Esses Salmos expressam o anseio dos piedosos pela destruição dos iníquos e do triunfo da justiça. A mentalidade hebraica via a iniqüidade como característica pessoal e identificava o pecador com o pecado, e o homem com sua família;
· A idéia de destruir o iníquo estava de acordo com a incubência de Israel de purificar a terra de Canaã. Moisés, Josué, Samuel, Davi e muitos outros agiram dessa forma. Elias, por sua vez, pediu fogo dos céus sobre os iníquos;
· A sentença de julgamento de Cristo contra os escribas e fariseus, em Mateus 23, não se mostra menos agressiva, pois era a conseqüência da rejeição de sua graça.


SALMOS MESSIÂNICOS – São salmos que tratam de uma maneira especial sobre o Messias prometido, descrevendo detalhes quanto a sua obra, sua morte na cruz, inclusive seus pensamentos quando crucificado(exemplos: 2, 8, 40, 45, 72, 89, 102).


O LIVRO DE PROVÉRBIOS

Trata-se de uma coleção de expressões curtas e concisas contendo lições morais. É o livro prático do Antigo Testamento que aplica os princípios de justiça, pureza e piedade à vida diária. A sabedoria ensinada em provérbios não é meramente material, também não se trata de prudência comum, baseia-se no temor do Senhor.

O título hebraico mishle Shelomoh (Provérbios de Salomão) refere-se às analogias ou máximas de Salomão.
Salomão foi o autor ou compilador dos capítulos 1 a 24 e autor dos capítulos 25 a 29, compilados pelos “homens de Ezequias”. Agur foi o autor do capítulo 30, e nada se sabe a seu respeito. O rei Lemuel, foi o autor do capítulo 31, que registra os conselhos de sua mãe. Sua identidade também é desconhecida, sendo considerado um príncipe árabe, por alguns; outros acreditam tratar-se de um nome fictício usado por Salomão ao revelar os conselhos de Bate-Seba.
O livro parece apresentar uma conclusão no final do capítulo 24, antes da época em que Ezequias e seus escribas (talvez Isaías e Miquéias) reuniram os provérbios adicionais de Salomão, nos capítulos 25 a 29.
Apesar de alguns críticos liberais acreditarem que o livro de Provérbios foi compilado após o exílio e atribuírem a coleção a outras pessoas, não há motivo para se rejeitar o ponto de vista tradicional de que foi Salomão quem reuniu ou escreveu os capítulos 01 a 24. Nesse caso, a data provável seria 950 a.C., aproximadamente, na metade do seu reinado, e, aproximadamente 725-700 a.C., para os últimos capítulos 25 a 31.

CONTEXTO RELIGIOSO

Os nomes de Salomão e Ezequias, como compiladores, sugerem que os provérbios surgiram em época de reavivamento e interesse espiritual. O início do reinado de Salomão foi caracterizado pela dedicação espiritual e os dias de Ezequias por uma época de novo despertamento religioso em Judá depois de grande idolatria.

OBJETIVOS

· Ensinar e focalizar os grandes benefícios que advêm aos seres humanos em função de uma mente disciplinada e do modo de vida orientado por Deus;
· Advertir o povo quanto aos grandes perigos resultantes do ato de seguir os ditames da natureza, ou seja, as paixões carnais.

EXEMPLOS DE TÓPICOS ÉTICOS

a) má companhia e seus efeitos: 1:10-19;
b) contenda: 10:12;
c) disciplina e sua recompensa: 1:8-9;
d) temor ao Senhor:1:7;
e) respeito filial: 1:8-9;
f) identificar o insensato: 12:15-16;
g) consciência da onisciência de Deus: 15:3;
h) valor de um bom caráter: 22:1;
i) religião hipócrita: 15:8,29;
j) intemperança e seus perigos: 23:1-3;
k) liberalidade: 3:9-10;
l) licenciosidade (imoralidade): 2:16-19;
m) mentira e fraude: 6:16-17;
n) o orgulho e seus perigos: 6:16-17;
o) preguiça ou ociosidade: 10:4-5.


O LIVRO DE ECLESIASTES

No livro de Provérbios tomamos conhecimento da sabedoria que tem o seu princípio em Deus. Já em Eclesiastes, tomamos conhecimento da sabedoria meramente natural que, à parte de Deus, procura encontrar a verdade e a felicidade. Ambos os livros foram escritos por Salomão. O primeiro, durante a primeira parte de seu reinado, quando andava com Deus; o segundo, durante a última parte, quando o pecado o separava de seu Criador. Nos provérbios se ouve de seus lábios uma nota de gozo e contentamento ao meditar sobre as bênçãos da sabedoria divina; em Eclesiastes, um tom de tristeza, desalento e perplexidade, ao ver o fracasso da sabedoria natural ao tentar resolver os problemas humanos e obter a perfeita felicidade. Depois de seu afastamento de Deus (1 Rs 11:1-8), Salomão ainda tinha riquezas e sabedoria. Possuído destas, começou a sua investigação da verdade e da felicidade sem Deus. O resultado dessa pesquisa é expresso na repetida sentença: tudo é vaidade (vazio, sem valor). Salomão aprendeu uma grande verdade que resume o tema do livro: “sem a bênção de Deus, sabedoria, posição e riquezas não satisfazem, muito pelo contrário, trazem cansaço e decepção.”

O título significa pregador ou alguém que se dirige a uma assembléia, pois o livro apresenta várias características de sermão.
Embora seja Salomão o único autor provável, eruditos conservadores dividem-se quanto à possibilidade dele ter, realmente, escrito o livro. Lutero, por exemplo, negou a autoria de Salomão.
Leia com bastante atenção: 1:1,16; 12:9.
Se Salomão foi, realmente, o autor, é provável que o livro seja um produto dos seus últimos anos. A tradição atribui a ele três livros: Cantares, nos primeiros anos de sua vida; Provérbios, na meia idade, e Eclesiastes, alguns anos mais tarde. O conteúdo e as conclusões combinam bem com os anos de maturidade de Salomão. Nesse livro, ele ministra a todas as gerações o benefício de sua larga experiência e sábio pensamento filosófico quanto ao objetivo da vida. Como ele reinou de 970 a 930, o livro deve ter sido escrito em 935 a.C., aproximadamente.

CONTEXTO POLÍTICO

Politicamente, o reino de Salomão foi um oásis de paz e prosperidade entre as conquistas de Davi e o ressurgimento do Egito em 926. As muitas alianças de Salomão com as nações vizinhas promoveram o comércio e o intercâmbio de idéias por todo o Oriente. Muitas personalidades mundiais procuraram aconselhar-se com Salomão, atraídas pela sua sabedoria, riqueza, esplendor e arte. O cenário político em que ele viveu foi ideal para empreendimentos arquitetônicos e o desenvolvimento da literatura e da arte. Salomão gozou de uma rara época de paz mundial.
Religiosamente, representou um período singular pela evidente unidade de culto em Israel. Davi e Salomão deram um especial destaque à música e à literatura, e a construção do templo serviu para centralizar o culto. Talvez nenhum outro período da história de Israel tenha proporcionado maior oportunidade para intercâmbio de idéias, estudo da Torá e reflexão religiosa do que esse. Pouco depois da metade do seu reinado, porém, Salomão parece ter desenvolvido um espírito ecumênico de acomodamento religioso ao procurar apaziguar suas muitas esposas estrangeiras. Isso afetou o modo de pensar e o seu relacionamento com Deus, de tal modo que o próprio reino sofreu essa influência negativa e foi dividido logo após sua morte. Ele havia concordado em construir “santuários” para todas as suas esposas estrangeiras (1 Rs 11:7-8), todavia presume-se que tenha sido reintegrado na comunhão com o Senhor depois da divina repreensão. Pode ter sido esse o momento apropriado e meditativo de sua vida em que compôs esse livro filosófico.


OBJETIVOS

O objetivo do escritor foi demonstrar, científica e filosoficamente, a futilidade da vida sem Deus, e mostrar a satisfação e a alegria de viver na percepção da soberania divina. O livro é uma exposição dramática das arrogantes reivindicações do naturalismo.


ESTRANHOS TRAÇOS AGNÓSTICOS: 2:14-16; 3:19-20; 9:2.

Nenhum outro livro da Bíblia tem sido tão contestado quanto à divina inspiração como Eclesiastes, principalmente devido às suas afirmações aparentemente agnósticas. Parece apresentar o mesmo destino para homens e animais, justos e injustos. Isso decorre em virtude de uma falha em alcançar o objetivo do livro. É um sermão com texto, introdução, tese, elaboração, ilustração, conclusão e aplicação, e precisa ser interpretado aos poucos. Seu método é dialético. São apresentados dois pontos de vista com negações e afirmações sucessivas em todo o livro. O ponto de vista do naturalismo (“debaixo do sol” é abertamente afirmado à medida que as diversas experiências são executadas, declarando a total futilidade da vida naquela perspectiva.


CANTARES DE SALOMÃO

Quando lemos o livro de Cantares, devemos ter em mente que se trata de um poema oriental e que os orientais usam uma linguagem clara nas mais íntimas das questões – uma clareza de linguagem estranha e algumas vezes desagradável à maioria dos ocidentais. Por mais delicada e íntima que seja a linguagem em muitas partes do livro, deve notar-se que não há nada que ofenderia ao mais modesto oriental.
Segundo o Dr. Campbell Morgan, “era, indubitavelmente, um canto de amor terrestre, mas muito puro e muito lindo... Para aqueles que vivem vidas simples, estes cânticos são cheios de formosura e expressam a linguagem do amor humano. Finalmente, nas experiências espirituais, expressam a relação daqueles que têm sido ganhos por Deus em Cristo, a quem amam e conhecem.”

Os hebreus deram-lhe o nome de Cânticos dos Cânticos, devido às primeiras palavras do livro, que enfatizam a importância de serem eles os melhores cânticos do filho de Davi.

Muitos eruditos modernos afirmam que o livro foi escrito sobre Salomão, e não por ele. Alegam que deve ter sido redigido algumas centenas de anos mais tarde, em virtude da presença de várias palavras aramaicas, persas e gregas. O conhecimento cosmopolita de Salomão através de comércio, esposas, estrangeiras e muitos visitantes poderia, entretanto, explicar muito bem esse fenômeno lingüístico.
O livro tem muitas semelhanças terminológicas com Provérbios e Eclesiastes.
A tradição judaica tem considerado universalmente Salomão como o autor, e o povo judeu lê como de sua autoria os Cantares de Salomão todos os anos por ocasião da Festa da Páscoa.

Admitindo que o autor seja Salomão, Cantares foi provavelmente escrito depois de ele tornar-se rei, ter adquirido muitas carruagens do Egito e ter ampliado suas vinhas até o vale setentrional de Jezree.

CENÁRIO

O cenário de Cantares é campestre, apesar de mostrar alguns vislumbres da corte real de Jerusalém. Falas e coros estão cheios de imagens de jardins, árvores, flores, montanhas arborizadas, animais selvagens, vinhas, fontes e regatos, conteúdo ideal para uma história campestre de amor. Os locais variam de Em-Gedi e Jerusalém, no sul, até os montes Gileade, Hermom e Líbano, no norte. A maioria das cenas descreve o norte rural e não o sul. No antigo Israel, os casamentos eram de grande importância para as famílias e a comunidade rural. Os festivais de núpcias costumavam durar uma semana, ocasião em que o noivo e a noiva eram tratados como reis pelos camponeses locais.

CONTEXTO RELIGIOSO

Pergunta-se qual a analogia entre a religião e o livro de Cantares de Salomão. Tudo parece demonstrar que seja um cântico erótico de amor sem referência à religião ou fé em Deus, cujo nome não é mencionado, exceto Yah, denominação divina abreviada, que aparece incidentalmente em 8:6 (no original). Foi considerado sagrado como alegoria do relacionamento amoroso entre Israel e o Senhor da aliança. Como tal, era lido anualmente pela nação por ocasião da Páscoa, quando o povo comemorava a libertação do Egito e o seu novo relacionamento com Yahweh, o Deus da aliança.


INTERPRETAÇÃO

Poucos livros da Bíblia têm sido tão incompreendidos como Cantares. Alguns o vêem como erotismo crasso e outros como alegoria inútil. As falas parecem fundir-se e o movimento do enredo é difícil de compreender. Nem sempre é fácil distinguir as muitas metáforas das descrições literais. A fim de esclarecer tais problemas é importante determinar o estilo literário do livro.


PRINCIPAIS PONTOS DE VISTA QUANTO A INTERPRETAÇÃO DE CANTARES:

Ponto de vista literal (naturalista puro) – Interpreta o poema como uma figura do amor conjugal puro, sem nenhum significado espiritual ou algo mais transcendente. Teodoro de Mopsuestia (533 d.C.), por exemplo, considerou-o como um cântico escrito por Salomão por ocasião do seu casamento com a filha do Faraó. Embora tenha sido condenado pela igreja por essa interpretação puramente humana, parece haver um objetivo moral na ênfase da dignidade e pureza do amor conjugal. Mas, se é apenas uma história de amor humano, nada acima de uma lição moral, sua inclusão no Cânon Hebraico é difícil de explicar.

PONTO DE VISTA ALEGÓRICO – Antigas tradições consideravam o poema como uma alegoria que retratava o amor de Deus por Israel, e a igreja primitiva simplesmente batizou aquele conceito como sendo o amor de Cristo pela Igreja. Essa tornou-se a interpretação dominante na maior parte da história eclesiástica. É compatível com outros textos bíblicos. O problema, entretanto, é que essa história não é uma alegoria, e sim um acontecimento afirmado e confirmado na vida de Salomão. Negar tal coisa a fim de ilustrar uma verdade espiritual já ensinada em outros lugares é deixar de perceber seu propósito original. O ponto de vista alegórico também leva à analogias absurdas e embaraçosas, obviamente forçadas.

PONTO DE VISTA TÍPICO – É uma combinação das interpretações anteriores sem as suas armadilhas. Proporciona um reconhecimento apropriado à sua autenticidade histórica com a importante lição de puro amor conjugal, mas abrange também uma aplicação espiritual referente ao amor de Deus para com o seu povo. Evita, assim, o mero secularismo do estrito ponto de vista literal e os absurdos do ponto de vista alegórico.
Ensina, portanto, algumas lições importantes há muito negligenciadas pela igreja, referentes às “intimidades conjugais” dos casais cristãos; incute também a grande verdade do amor pessoal de Deus por Israel e pela Igreja.

OBJETIVOS

Comemorar o casamento de Salomão com a linda sulamita (que vem do sul) e expressar as delícias da união conjugal nas suas relações mais íntimas como uma dádiva de Deus.


INTRODUÇÃO AOS LIVROS PROFÉTICOS

Os livros proféticos apresentam um tipo especial de literatura bíblica escrita visando a objetivos específicos da história posterior de Israel. Os dezessete livros de profecia complementam os dezessete históricos de muitas maneiras. A ênfase já não é tanto histórica, e sim exortativa. O tom é mais intenso, como arautos notáveis trazendo conselho e admoestação em épocas de grande crise e angústia nacional. Todavia, além de censurar por falha passadas e advertir diante dos perigos do momento, os profetas apontavam para o futuro. Falavam do julgamento e dos tempos messiânicos que viriam para promover arrependimento e volta à justiça.


RELAÇÃO ENTRE PROFETAS E SACERDOTES

· Quanto a chamada, os profetas eram chamados e designados por Deus individualmente, ao passo que os sacerdotes eram designados em virtude da sua descendência de Arão;
· Quanto ao cargo, os profetas eram representantes de Deus perante o povo; os sacerdotes eram representantes do povo perante Deus;
· Quanto ao ensino, ambos interpretavam a Lei. Os sacerdotes instruíam a mente do povo; os profetas desafiavam o arbítrio, e se pronunciavam com enérgica insistência quando a lei era negligenciada pelos líderes e pelo povo.


AUTORES

Os livros proféticos recebem o nome dos profetas que os escreveram.


O LIVRO DE ISAÍAS

Em nenhum dos outros livros proféticos temos uma visão tão completa do Messias e do seu reino.
O livro apresenta duas divisões principais. A palavra-chave da primeira divisão (1-39) é DENÚNCIA, pois sentimos o ímpeto da ira divina contra um Israel apóstata e contra as nações idólatras que o rodeiam. Nestes capítulos são profetizados o cativeiro de Babilônia, as tribulações e os julgamentos dos últimos dias. A palavra-chave da segunda divisão (40-66) é consolação. Esta seção contém profecias do regresso de Israel do cativeiro babilônico, de sua restauração e reunião na Palestina, nos últimos dias.

SOBRE O AUTOR

Filho de Amoz, marido de uma profetisa e pai de dois filhos que deveriam ser sinais para a nação (1:1; 8:3,18). As tradições judaicas indicam que ele era primo do rei Uzias e que foi serrado ao meio pelo iníquo rei Manasses.
Pertenceu à família real, era dotado de uma espiritualidade profunda, bem educado e capelão da corte de quatro reis de Judá por um período aproximado de cinqüenta anos.

DATA: 740-680 a.C.

Isaías profetizou durante mais de sessenta anos, desde antes da morte de Uzias (740) até algum tempo depois da morte de Senaqueribe (681): 1:1; 6:1; 37:38.
Tudo indica que ele escreveu a maior parte do livro (1-39) durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, e o restante dos capítulos (40-66), durante o tirânico reinado de Manasses, talvez entre 697 e 680. Seu sofrimento durante a gestão desse rei pode ter contribuído para o texto do “sofrimento vicário do servo do Senhor” (52:13-15; 53).


CONTEXTO POLÍTICO

Do ponto de vista internacional, o cenário era a grande ascensão do poderio assírio. Tiglate-Pileser veio ao ocidente para invadir Israel do norte e a Transjordânia, em 745 e 734. Sargom e Salmanasar sitiaram e destruíram Samaria em 724-722, durante a grande ofensiva para o norte. Senaqueribe, no decorrer do reinado de Sargon, invadiu Judá e a parte ocidental da Palestina, numa grande conquista de 714 a 701, que culminou com a perda da sua armada quando tentava atacar Jerusalém, no auge do seu sucesso.
Do ponto de vista nacional, foi uma época de opressão e caos. O reino do norte havia-se deteriorado rapidamente depois do período belezudo de Jeroboão II, sob seis reis caóticos. Judá também declinara sob o reinado do idólatra Acaz. Muitas alianças foram estabelecidas com potências estrangeiras a fim de protelar a sujeição total à Assíria, potência em ascensão.

CONTEXTO ESPIRITUAL

A condição espiritual de Judá em meados do século oitavo era paralela à sua condição política, ambas deteriorando-se rapidamente sob o rei Acaz (743-728). A grande potência construída por Azarias e Jotão, reis tementes a Deus, desintegrou-se quase imediatamente quando Acaz (chamado Joacaz pelos assírios) começou a cortejar alianças estrangeiras em vez de confiar no Senhor (7:12). Quando atacado pela Síria e Israel, Acaz procurou inutilmente apaziguar as forças divinas sacrificando seu filho mais velho num altar, e depois pediu auxílio aos assírios. Como resultado, tornou-se vassalo de Tiglate-Peleser, da Assíria. Perdeu Élate, que dava acesso ao Mar Vermelho, para os edomitas, bem como grande parte do Negebe para os filisteus. Substituiu o culto a Jeová, no templo, por idolatria estrangeira.
A ascensão de Ezequias ao trono de Judá trouxe, quase imediatamente, um movimento de reforma. Começou no primeiro mês do seu reinado. No mês seguinte, celebrou uma páscoa sem precedente, a qual foi honrada por Deus em virtude das boas intenções para deter o julgamento divino (2 Cr 30:1-13). A reforma apressada e o entusiasmo pelo reavivamento promovido por Ezequias parecem ter mudado a direção do braço justiceiro de Deus e salvo Judá de sorte semelhante à de Israel, destruído em 722 a.C.. Apesar disso tudo, as alianças com o Egito e com a Babilônia, feitas mais tarde por Ezequias, trouxeram renovada agressão contra Judá por parte da Assíria, que acabou cercando Jerusalém, ameaçando destruí-la, até que o rei aceitou o conselho de Isaías e confiou inteiramente no Senhor para o livramento. Esse veio em 701, quando o anjo do Senhor destruiu o exército de Senaqueribe, 185 mil homens, e pôs fim a campanha do invasor no ocidente. O registro desse acontecimento está na parte central da profecia de Isaías. Ali o profeta demonstra que a maior defesa da nação é simplesmente confiar no Senhor da aliança e a Ele obedecer.

PROFETAS CONTEMPORÂNEOS DE ISAÍAS

O profeta Miquéias complementou o ministério de Isaías, na parte rural de Judá. Como Isaías, ele também proclamou a vinda do Messias, que nasceria em Belém e livraria ambos os reinos na sua conquista final.
O profeta Oséias foi o complemento de Isaías, em Israel, especialmente durante a primeira parte do ministério. Oséias seguiu-se ao ardente profeta Amós, que tinha denunciado os líderes samaritanos, anunciando o julgamento divino no reino do norte. Complementando tal ministério, Oséias exortou Israel a respeitar a aliança como o Senhor.

OBJETIVOS DO LIVRO

Admoestar a nação quanto ao iminente julgamento devido à idolatria e às alianças seculares.
Lembrar a nação o programa divino de libertação, especialmente o seu programa redentor através do Messias, que primeiro viria como o Servo Sofredor e, mais tarde, como o Governador de toda a terra (52:13-53). Esses propósitos duplos complementam o tema do livro: “A salvação vem do Senhor, não de ídolos ou alianças seculares.”


ASPECTOS TEOLÓGICOS

De todos os livros proféticos, Isaías é o mais abrangente em seu alcance teológico. As suas profecias vão desde a situação de Israel na época, passando pela queda do reino do norte e do sul, pelo exílio na Babilônia e pelo regresso promovido pelos persas, até a vinda humilde do Messias, sua vida e morte expiatória na cruz pelo seu povo, pela dispersão final da nação por toda a terra, pela nova reunião em virtude do arrependimento e pela bênção do reino na era messiânica. As profecias de Isaías sobre o advento do Messias descrevem mudanças em todas as esferas da vida humana: espiritual, nacional, internacional, econômica, geográfica, cósmica e do reino animal.

PROFECIAS CUMPRIDAS A CURTO PRAZO, NA ÉPOCA DO PROFETA OU NOS SÉCULOS SEGUINTES:

· Captura do reino do norte de Israel pela Assíria (7:17);
· Destruição da Assíria (10:12,25);
· Destruição da Babilônia pelas mãos dos medos (13:17...);
· Julgamento da Filístia, Moabe, Damasco, Etiópia, Egito e Tiro (14:23);
· Designação do nome de Ciro, o persa, 150 anos antes do seu nascimento (44:28 – 45:6).

PROFECIAS A LONGO PRAZO, QUE AINDA SERÃO CUMPRIDAS:

· O Dia da vinda do Senhor com grande ira contra todas as nações (34);
· A completa restauração da Palestina para santidade, paz e prosperidade(35, 60-62);
· A nova criação dos céus e da terra com paz, prosperidade e santidade (65).

O cumprimento detalhado das profecias a curto e longo prazo é considerado por Isaías como a prova e o direito exclusivo de Javé, o Deus da aliança de Israel.

CRISTOLOGIA

Nenhum outro livro do Antigo Testamento é tão detalhista quanto ao Messias:
· Genuinamente humano, nascido virginalmente de mulher, humilde e sem atrativos (7:14; 9:6; 53:2);
· Manso, não barulhento nem rude (40:11; 42:2-3);
· Justo em todas as suas ações (9:7; 11:5; 32:1);
· Bondoso para com os fracos e aflitos (61:1);
· Ser apresentado por um precursor no deserto (40:3);
· Realizar muitos milagres (35:4-6);
· Ser desacreditado pela sua própria geração (53:1);
· Morrer com os perversos e ser enterrado com os ricos (53:9).


O LIVRO DE JEREMIAS

Tanto Isaías quanto Jeremias levaram mensagens de condenação ao Israel apóstata, sendo que o tom de Isaías é mais vigoroso e severo, enquanto Jeremias é moderado e suave. O primeiro leva uma expressão da ira de Jeová contra o pecado de Israel; o segundo , uma expressão de seu pesar por causa dele. Ao repreender Israel, Isaías imergiu sua pena no fogo e Jeremias, nas lágrimas.
Jeremias era filho de Hilquias, um sacerdote de Anatote, na terra de Benjamim. Foi chamado ao ministério quando ainda era jovem (1:6), no ano décimo terceiro do rei Josias, mais ou menos setenta anos depois da morte de Isaías. Mais tarde, provavelmente por causa da perseguição de seus patrícios e de sua própria família (11:21; 12:6), deixou Anatote e foi para Jerusalém. Ali e em outras cidades de Judá, exerceu seu ministério por aproximadamente quarenta anos. Nos reinados de Josias e Jeoacaz, foi-lhe permitido continuar seu ministério sem embaraços, todavia, nos reinados de Jeoiaquim, Joaquim e Zedequias, sofreu perseguição severa. No reinado de Joaquim foi aprisionado pela audácia em profetizar a desolação de Jerusalém. No reinado de Zedequias, foi preso como desertor, e permaneceu na prisão até a tomada da cidade, quando foi posto em liberdade por Nabucodonosor que lhe permitiu voltar a Jerusalém, ocasião em que procurou dissuadir o povo de voltar para o Egito a fim de escapar do que acreditavam ser um perigo iminente. Recusaram seus apelos e emigraram para lá, levando consigo Jeremias. Mesmo no Egito, continuou os seus esforços para levar o povo de volta ao Senhor.
Antiga tradição conta que, encolerizados por suas contínuas admoestações e repreensões, os judeus mataram-no no Egito.

TÍTULO

Esta profecia projeta-se sobre o nome do seu autor, Jeremias, que significa O Senhor designa ou estabelece. Suas profecias foram muito atacadas pelos seus contemporâneos, todavia eram inabaláveis palavras divinas, conforme posterior comprovação.
Internamente, o livro apresenta numerosas referências biográficas e autobiográficas de Jeremias como autor e Baruque como escrivão ou secretário.
Externamente, o livro é atribuído a Jeremias em Daniel 9:2 e Esdras 1:1, bem como tradições judaicas.

DATA: 627 - 580 A.c.

O ministério de Jeremias começou no reinado de Josias e continuou em Jerusalém durante os dezoito anos de reforma e os vinte e dois anos de colapso nacional.
Forçado a ir para o Egito com o resto rebelde em 586, ali profetizou durante cinco anos talvez, condenando a idolatria dos judeus (44:8) e anunciando a vinda próxima de Nabucodonosor para conquistar o Egito, o que ocorreu em 568.

CONTEXTO POLÍTICO

No cenário internacional, essa foi uma época em que as nações disputavam o controle mundial. As três nações que se destacam são: Assíria, Babilônia e Egito. Em 626, Nabopolasar, da Babilônia, com o exílio dos medos, tomou essa cidade das mãos dos assírios, que vinham controlando o poderio mundial por quase dois séculos. Em 612, destruíram Nínive. Em 605, a Babilônia derrotou o exército egípcio em Carquemis e assumiu o controle da Palestina. Desse modo, Nabucodonosor chegou ao auge do poder em 605, ano da morte do seu pai, apesar de o Egito só ser conquistado em 568. Durante a maior parte daquele período, Jeremias, em vão, recomendava a submissão dos filhos de Josias à Babilônia.
No cenário nacional, o período da profecia de Jeremias foi um dos mais sombrios da história judaica, pois os pecados dos antepassados (idolatria) foram punidos com julgamento divino. Esse julgamento constituiu em quatro tragédias nacionais ocorridas em Israel:

1. Em 609, Josias foi morto em Megido, quando tentava impedir que Faraó Neco auxiliasse a Assíria na batalha com a Babilônia;

2. Em 606, Nabucodonososr libertou Jerusalém do controle egípcio, passando a ser seu controlador, começando em seguida a deportar os judeus;

3. Em 597, Nabucodonosor teve de mandar seu exército a Jerusalém em duas ocasiões a fim de sufocar a rebelião de Judá e o seu alinhamento com o Egito. Na primeira vez, o rei Jeoaquim foi morto (36:30); na segunda, Joaquim foi levado para a Babilônia após um reinado de três meses. Nessa ocasião, Nabucodonososr saqueou a cidade e os tesouros sagrados do templo, deportando a camada mais alta da população (2 Rs 24:11-16);

4. Em 586, Jerusalém e o templo foram destruídos por Nabucodonosor depois de outra rebelião e um cerco de dois anos à cidade.

CONTEXTO RELIGIOSO

Josias subiu ao trono em 640, com oito anos de idade. Foi o começo de um glorioso período de reforma, reavivamento e expansão política para Judá.
· Em 632, aos 15 anos, Josias começou a procurar o Senhor (2 Cr 34:3);
· Em 628, aos 19 anos, começou a purificar Judá e Jerusalém, numa completa remoção da idolatria, impondo a medida até Naftali, no norte, perto da Galiléia (2 Cr 34:3...);
· Em 622, aos 25 anos, depois que o sumo sacerdote Hilquias achou o livro da Lei na estrutura do templo e a profetisa Hulda declarou o julgamento, Josias reuniu os anciãos para intensificar a reforma e impor ao povo a purificação;
· Em 622, Josias promoveu a maior Festa da Páscoa da história do povo judeu desde os tempos de Samuel, observando com cuidado todos os detalhes.
O reavivamento do rei Josias, embora promovido com toda a sinceridade, foi, evidentemente, seguido de modo superficial pelos líderes e pelo povo. O país viu-se diante da iminência de ser destruído em virtude da prolongada iniqüidade de Manasses e da inveterada e profunda decadência dos judeus. Logo depois da morte prematura de Josias na batalha de Megido, a nação retornou quase imediatamente à idolatria e corrupção.

OBJETIVO

O objetivo dessa longa profecia (maior que a de Isaías) foi registrar as admoestações do Senhor ao país que se precipitava em desastre espiritual e destruição nacional. O livro registra não apenas a rejeição da lei divina, como também a recusa inflexível da correção dos profetas de Deus. Ao contrário do apelo de Isaías para que confiassem na libertação do Senhor, a mensagem de Jeremias era que a nação deveria submeter-se ao julgamento do Senhor aceitando o cativeiro da Babilônia, para que assim a cidade e a nação fossem salvas da destruição total.


LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS

Lamentações é um apêndice à profecia de Jeremias, que registra a tristeza aguda e dolorosa do profeta pelas misérias e desolações de Jerusalém, resultantes de seu sítio e destruição. As dores e lamentações expressas na profecia de Jeremias encontram aqui o seu auge.
O objetivo principal do livro era ensinar aos judeus a reconhecerem a mão castigadora de Deus em suas calamidades e que se voltassem a Ele com arrependimento sincero. O triste cântico de Jeremias foi adotado pela nação judaica. Os judeus cantam este livro todas as sextas-feiras junto ao Muro das Lamentações, em Jerusalém, e o lêem na sinagoga, em jejum, no dia 9 de agosto, dia destinado à lamentação das cinco grandes calamidades que sobrevieram à nação.
Como aconteceu com o livro de Jeremias, Baruque pode ter sido o escrivão a tomar nota das expressões de pesar ditadas pelo profeta (Jr 36:4). As Lamentações de Jeremias são como um canto fúnebre; neste livro, “há terror por todos os lados” (2:22 – comparar com Jr 6:25 e 20:10).

DATA: 586 a.C.

O fluxo de pesar expresso sugere uma época logo após a queda da cidade santa, quando a lembrança ainda era recente. A redação bem elaborada e bela, representada em formato de acróstico alfabético sugere, por outro lado, um longo período de reflexão e construção literária. É possível que o profeta tenha escrito o livro na esteira dos acontecimentos e que mais tarde tenha formatado o texto com os requintes de acróstico para melhor memorização.

DATAS DA DESTRUIÇÃO DE JERUSALÉM

· 09 de julho de 586 a.C. - Com os muros destruídos, o rei foge e é perseguido (Jr 52:6-11);
· 07 de agosto de 586 a.C. – Templo, casas e cidade queimados (2 Rs 25:8,9);
· 10 de agosto de 586 a.C. – Destruição e incêndio completados (Jr 52:12-16);
· Outubro de 586 – Gedalias é morto por Ismael e pelos dissidentes (Jr 41:1-2)

Como a destruição do templo, no ano 70 d.C. ocorreu em 9 de agosto, relembra-se nesta data a destruição de ambos os templos.

CONTEXTO POLÍTICO

O mesmo de Jeremias.
A fuga e a captura de Zedequias pôs termo à dinastia de Davi no seu movimento histórico. Esse vergonhoso fim ocorreu em virtude de Zedequias ter rejeitado com arrogância a admoestação de Jeremias, bem como em virtude da deslealdade e ingratidão de Nabucodonosor, que tomara o reinado de Joaquim e o dera a Zedequias. Foi por esse motivo que ele sofreu a maior humilhação real. A última cena contemplada antes de ter os seus olhos vazados foi a chacina dos seus filhos e dos nobres. Levaram-no em cadeias para a Babilônia (Jr 39:6-7).
A queda de Jerusalém no meio do verão de 586 ocorreu depois de um cerco de dezenove meses, que trouxe fome e peste. Embora Jerusalém já tivesse sido ameaçada e saqueada algumas vezes, essa destruição era quase inconcebível à mente judaica que a via como cidade eterna (1 Cr 17:12; 22:10). Com a cidade arrasada, acabou-se a vã presunção da sua inviolabilidade divina. Parecia que a nação estava irremediavelmente liquidada, se não até mesmo a raça, pois os seus príncipes também tinham sido mortos.

CONTEXTO RELIGIOSO

A época da redação desse livro de cinco poemas foi, sem dúvida, a mais sombria hora da religião de Israel. Todos os alicerces da sua fé pareciam ter desaparecido. A cidade escolhida por Deus fora arrasada, o templo projetado e habitado pelo Senhor tornara-se um monte de cinzas, o povo tinha sido levado para a terra idólatra de sua origem, Babilônia. Até mesmo o próprio Senhor recusara-se a ouvir as orações dos judeus e tornara-se seu inimigo (Jr 14:11,12). Os quarenta anos de pregação de Jeremias pareciam ter ficado sem a menor reação aparente.
A destruição do templo trouxe uma nova era para a religião de Israel – a era da dispersão da sinagoga. Já não havendo templo, muito do sistema ritual foi suspenso, pois as ofertas que acompanhavam as festas e os acontecimentos sagrados só podiam ser feitas no altar do templo. Na Babilônia, os judeus aprenderam a adorar e a estudar a Torá em pequenas reuniões que os rabinos chamavam de pequenos santuários, ou sinagogas (Ez 11:16). Ali, os fiéis eram obrigados a lembrar e aprimorar sua fé a fim de sobreviver como raça no meio da cultura pagã.

OBJETIVOS

Dar uma expressão literária ao grande pesar dos fiéis de Israel pela enorme perda do templo e de sua cidade sagrada. As lamentações expressam a profundidade da solidão de Israel quando a glória do Senhor afastou-se envergonhada.
Outro objetivo foi registrar como o Senhor cumpriu completa e literalmente as suas admoestações sobre o julgamento da cidade e do santuário, em virtude do povo ter persistido na idolatria e na rebelião. O livro de Lamentações confirma brilhantemente a soberania de Deus, reconhecendo-O como perpetrador da devastação, e não apenas a Babilônia (2:17; 3:37,38). O luminoso raio de luz e esperança é que Ele não é somente fiel no julgamento, mas também no cumprimento de suas promessas de benevolência. “Grande é a Tua fidelidade tanto no julgamento quanto na compaixão” (3:22,23). As alianças também continham promessas de restauração divina pelo arrependimento.


O LIVRO DE EZEQUIEL

Ezequiel exerceu seu ministério profético na Babilônia, começando-o sete anos antes da destruição de Jerusalém, e encerrando-o cerca de quinze anos depois. Assim como Isaías, sua mensagem foi de denúncia e consolação.
O ponto central das predições de Ezequiel é a destruição de Jerusalém. Antes deste acontecimento seu motivo principal era chamar ao arrependimento aqueles que viviam em segurança descuidada, admoestando-os a que não abrigassem a esperança de que, com a ajuda dos egípcios, sacudiriam o jugo da Babilônia (17:15-17), e assegurando-lhes que a destruição da cidade e do templo eram inevitáveis e se aproximavam rapidamente. Depois desse acontecimento, seu cuidado principal foi consolar os judeus desterrados, dando-lhes promessas de libertação futura e restauração na sua terra, animando-os com a certeza de bênçãos futuras.

AUTOR

A autoria de Ezequiel é reconhecida universalmente. Embora seu nome não seja mencionado em nenhum outro livro bíblico, é identificado de diversos maneiras como o autor, no próprio livro (1:3; 24:24) e em todo o livro apresenta um estilo autobiográfico.
Ezequiel nasceu na família de Buzi, o sacerdote, em 622 a.C., no auge da reforma de Josias em Jerusalém. Ele teria 30 anos quando recebeu a primeira visão. O ministério de um sacerdote começava aos trinta anos (1:1-2).
Foi exilado com Joaquim em 597, quando Nabucodonosor levou para a Babilônia o que havia de melhor na terra. Na Babilônia viveu em sua própria casa, numa coluna judia (1:1; 3:15). Era casado, mas sua esposa faleceu em 588, logo no início do cerco de Jerusalém (24:1, 15-18).
Usando o seu próprio lar como local de encontro, ministrou aos anciãos que se juntavam para receber o seu conselho, talvez inaugurando o sistema de sinagoga. Seu ministério continuou por, pelo menos, vinte e três anos, até 570, última data registrada em suas profecias (29:17).

DATA: 592 – 570 a.C.

Ezequiel é extremamente exato ao datar muitas de suas profecias. Começa a datá-las em 597 a.C., ano do cativeiro de Joaquim.

POSIÇÃO GEOGRÁFICA

Ezequiel e Daniel diferem de todos os outros profetas, pois os seus ministérios foram exercidos, primordialmente, fora da Palestina. Daniel, da família real de Judá, serviu na corte real gentia da Babilônia; Ezequiel, um sacerdote, foi conselheiro dos exilados judeus. Eram ambos, mais ou menos, da mesma idade, sendo que Daniel foi exilado em 605 e Ezequiel em 597.

CONTEXTO POLÍTICO

A ação do livro vai desde a época da sujeição de Judá à Babilônia até a época do cativeiro babilônico. Como já foi observado, providencialmente tinha Daniel sido elevado a governador de toda a província da Babilônia, bem como chefe dos sábios ou conselheiro de Nabucodonosor. Já que isso acontecera cinco anos antes de deportação de Ezequiel e dezesseis anos antes do exílio final de 586, os exilados judeus da Babilônia estavam, politicamente, em boas mãos. Essa foi a época do apogeu do poder e da glória da Babilônia.
Ezequiel pouco falou sobre a política judaica, nem mesmo mencionou Zedequias, o rei vassalo de Judá naquela ocasião. Com referência à política das nações pagãs, entretanto, Ezequiel pronunciou julgamento sobre muitas que rodeavam Israel devido à sua violência contra a nação judaica e o santuário de Deus (25-32). Ao contrário de Jeremias, Ezequiel não se fixou na história política da época. A política do “tempo do fim” dos capítulos 38 e 39 relaciona-se com a restauração de Israel, mas a grande batalha travada é primordialmente gentia, servindo a um propósito espiritual.

CONTEXTO RELIGIOSO

Nesse livro, Israel não somente está sem rei e sem país, como também sem um templo e sem os meios de cumprir os ritos religiosos ordenados por Moisés. O único lugar de ajuntamento religioso na Babilônia registrado por Ezequiel é a sua própria casa, onde ele aconselhava os anciãos. Esses anciãos eram, evidentemente, os primeiros líderes de sinagoga, que se tornaram mais tarde os governadores delas e do povo. Sem um templo, o sistema ritual de animais sacrificados, festas e todas as funções relacionadas com o templo era inoperante.
O caráter espiritual dos exilados a quem Ezequiel ministrava não era melhor do que o daqueles a quem Jeremias ministrava em Jerusalém.

OBJETIVOS

- Promover arrependimento e fé com o aviso do julgamento iminente sobre Jerusalém e as nações.
- Estimular esperança e confiança com a mensagem posterior de reafirmação de que um dia o povo seria novamente reunido, a cidade restaurada e um novo templo construído.

A primeira mensagem foi enfatizada durante os seis primeiros anos do seu ministério (592-586). Ele afirmou que Jerusalém e o templo seriam destruídos, Babilônia não cairia rapidamente, como os falsos profetas proclamavam, e o Egito seria uma falsa esperança de auxílio, pois também seria conquistado pela Babilônia. Todavia, depois da queda de Jerusalém, Ezequiel tornou-se o profeta da esperança e do otimismo, quando profetizou a restauração final de Israel. Deu-lhes descrição detalhada da futura glória e santidade da nação, evitando, assim, que eles se estabelecessem nas atividades prósperas da Babilônia e se esquecessem de Jerusalém.

RESTABELECIMENTO DE ISRAEL E O CONFLITO COM GOGUE E MAGOGUE (36-39) – Esse é um texto clássico sobre o restabelecimento final de Israel e o grande conflito com uma confederação do norte. O profeta revela diversas verdades importantes sobre esse futuro retorno e restabelecimento:
- O próprio Senhor fará com que eles voltem à terra, não obstante a oposição dos seus inimigos. Ali serão purificados e lhes será dado um “coração novo” (36:26);
- A nação se levantará como “ossos secos”, mesmo tendo estado morta durante muito tempo. Esses ossos numa certa altura receberão vida espiritual(37:1-14) e serão unidos (37:16-23);
- Depois do restabelecimento parcial, um grande poder do norte (Gogue e Magogue) invadirá Israel e será desafiado por uma grande aliança do sul e do oeste (38);
- Por meios naturais e sobrenaturais, “Gogue e Magogue” serão destruídos para demonstrar ao mundo a soberania do Senhor (39:1-8; 21:24);
- A casa de Israel dos últimos tempos terá novo nascimento espiritual, quando o Espírito for derramado sobre ela numa época posterior àquela batalha (39:25-29).

Nenhum outro profeta faz tanto uso da linguagem figurada ou de visões. O livro está cheio de provérbios, alegorias, ações simbólicas, pequenas descrições e visões apocalípticas, muitas usadas por João para escrever seu Apocalipse.


Os Profetas Menores

Os hebreus chamavam-nos de O Livro dos Doze. Foram agrupados dessa maneira, provavelmente, por Esdras e pela Grande Sinagoga, mais ou menos em 425 a.C., talvez a fim de acomodá-los em um rolo. O grupo todo é mais curto do que apenas Isaías, Jeremias ou Ezequiel.
Essa designação não tem nada a ver com a importância ou o mérito de cada um, mas sim com o tamanho de seus livros e com a extensão de seus ministérios proféticos que foram curtos se comparados aos chamados profetas maiores, que acabamos de estudar: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel.
Não há acordo entre os comentadores(talmúdicos ou modernos) quanto ao verdadeiro objetivo da ordem canônica. Os primeiros seis são, cronologicamente, anteriores aos últimos seis, e estes últimos estão em ordem cronológica, todavia a ordem dos primeiros seis é um enigma, exceto pelo fato de que todos eles tratam do período anterior ao cativeiro do norte. Oséias pode ter sido posto em primeiro lugar devido ao seu comprimento, mas a disposição dos outros nada tem a ver com tamanho.
Os profetas menores exerceram seus ministérios numa época de profundo declínio espiritual de Israel e até mesmo de apostasia nacional, como no caso do culto a Baal.
A fim de nos localizarmos no tempo, apresento a seguir uma cronologia (provável, aproximada) da atuação de cada um (todos antes de Cristo, é claro): Obadias – 864; Joel – 829; Oséias – 770; Amós e Jonas – 767; Miquéias – 744; Naum – 635; Habacuque – 606; Sofonias – 624; Ageu – 522; Zacarias – 521; Malaquias – 397.
Com exceção de Ageu, Zacarias e Malaquias, todos os outros exerceram seus ministérios no espaço de tempo dos livros de 2 Reis e 2 Crônicas, ou seja, antes do cativeiro. Já os três citados acima, profetizaram no período do pós-cativeiro. Ageu foi contemporâneo de Esdras e Zacarias. Malaquias profetizou dezoito anos depois do fim do ministério de Neemias.


OSÉIAS

O livro de Oséias apresenta uma grande exortação ao arrependimento dirigida às dez tribos, durante os cinquenta ou sessenta anos antes do cativeiro destas. Os reis e sacerdotes eram assassinos e libertinos; os sacerdotes idólatras desviavam o povo do culto a Jeová; em dificuldades, o governo se voltava ao Egito ou a Assíria pedindo ajuda; em muitos casos o povo imitava a situação moral dos cananeus; viviam uma segurança descuidada, interrompida somente em tempos de perigo por um arrependimento fingido; sobretudo, Deus e sua palavra eram esquecidos.
Oséias significa salvação ou livramento.
Assim como Isaías, seu contemporâneo em Judá, Oséias tinha uma família que foi usada pelo Senhor como “sinal” para a nação quanto ao futuro julgamento e posterior restauração. Suas lamentáveis relações conjugais tornaram-se a trama ao redor da qual o Senhor construiu sua mensagem final ao reino do norte.
A profecia é dirigida ao reino do norte, Israel(1:4,6,10; 3:1; 4:1,15, etc.), referindo-se a ele como Efraim, poderosa tribo oriunda do abençoado filho de José.
Nacionalmente, a monarquia tinha sido dividida em dois reinos há aproximadamente 200 anos. Internacionalmente, formava-se uma grande nuvem de expectação e medo no oriente à medida que a Assíria aumentava o seu poder e começava a pilhagem no ocidente.
O objetivo do livro é registrar a chamada divina final ao arrependimento do indiferente reino do norte que afundava na desgraça. O profeta descreve o estado abominável da nação que, à semelhança de sua esposa, tinha-se entregue à prostituição. Fala, sobretudo, do amor inextinguível do Senhor, que derramou lágrimas diante da alienação de Israel e estava pronto a receber o povo de volta para a aliança mediante arrependimento.


VISÃO GERAL DO LIVRO

O profeta Oséias revela-nos um caráter impressionante, ardente, patético e ao mesmo tempo sensível às ternuras impetuosas do amor. Destaca-se também pela descrição das relações entre Deus e Israel sob a figura do amor conjugal, destacando-se o aspecto negativo do matrimônio nas infidelidades e nos rompimentos mais do que no amor propriamente dito. Ao profeta, Deus faz sentir suas amarguras semelhantes a de um esposo traído, ameaçando realizar os duros castigos que o caso exige. Tudo, porém, termina com a expectativa da reconciliação dos esposos e da restauração do amor entre ambos.

A VIDA PESSOAL DE OSÉIAS

Seu nome significa “salvação”, era filho de Beeri e o pouco que sabemos a seu respeito vem do livro que leva o seu nome. Foi contemporâneo de Amós, Isaías e Miquéias e exerceu seu ministério no Reino do Norte, de onde era natural, sob o reinado de Jeroboão II. Em sua profecia, anunciou a Israel o seu exílio iminente (3:4). Israel vivia em declínio espiritual e na prática da idolatria. Oséias, através de sua própria experiência, ficou sabendo o que isto significava para Deus, que continuava a amar o povo e a desejar a sua conversão.

TRAGÉDIA PESSOAL DE OSÉIAS

O Senhor ordenou a Oséias que contraísse matrimônio com uma mulher adúltera, providenciando , assim, uma analogia para se dirigir a Israel. O profeta obedeceu à estranha determinação de Deus e tomou a Gômer como esposa e amou-a profundamente, dando-lhe um lar, um nome e uma reputação, enfim, tirou-a de uma vida depravada, dando um novo sentido de viver. Lamentavelmente, como no poema “Tragédia Brasileira”, do poeta brasileiro Manoel Bandeira, sua amada lhe foi infiel, fazendo-o sofrer.

Deus utiliza-se do casamento do profeta para tornar conhecido o seu amor e a sua fidelidade para com Israel. Semelhante ao vitupério sofrido pelo profeta com a infidelidade de sua esposa, Deus sofre a infidelidade da parte de Israel, a quem demonstrou grande amor. Assim como Gômer havia traído o marido, Israel havia abandonado o Senhor, que lhe tinha sido fiel (Is 54:5), esquecendo as bênçãos recebidas e desviando-se, seguindo a outros deuses, o que resultou numa acentuada apostasia (Ex 34:15,16; Dt 32:16-21). Mesmo não tendo o seu amor correspondido, Deus continuou amando o povo escolhido (Jr 31:3; Os 11:4).


A INFIDELIDADE DE ISRAEL E A SUA CAUSA (4:1-6)

Depois de desfrutar da bondade e proteção de Jeová, Israel o abandonou e uniu-se a Baal. Os líderes religiosos entraram em crise e não se lembravam mais de Deus. Por isso o profeta diz: “Ouvi a palavra do Senhor vós, filhos de Israel; porque o Senhor tem uma contenda com os habitantes da terra, porque não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus na terra” (4:1).


APELO FINAL AO ARREPENDIMENTO (14:1-3)

Continuando no pecado, Israel colherá uma série de castigos anunciados no capítulo 13. A partir do capítulo 14:4, o profeta antevê uma nova época de saneamento moral e de conseqüente felicidade para o povo, desde que atendessem ao apelo de Jeová: “Converte-te, ó Israel, ao Senhor teu Deus; porque pelos teus pecados tens caído” (14:1).


JOEL

A ocasião da profecia de Joel foi uma invasão extraordinariamente calamitosa de insetos destrutivos - o gafanhoto - que devastou a terra, destruiu as colheitas e trouxe a fome geral. O profeta vê, nessa calamidade, uma visitação do Senhor e se refere a ela como um tipo do castigo final do mundo - O DIA DO SENHOR(1:!5).
Como muitos dos outros profetas, Joel predisse o futuro à luz do presente, considerando um acontecimento atual e iminente como símbolo de um acontecimento futuro. Por isso, ele vê, na invasão dos gafanhotos, um indício da invasão vindoura do exército assírio(2:1-27; Is 36-37). Projetando sua visão ainda mais para o futuro, vê a invasão final da Palestina pelos exércitos confederados do antiCristo.
Joel significa Jeová é Deus: “Sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus”(2:27; 3:17).
Como acontece com Oséias, sabe-se, também, muito pouco acerca de Joel, filho de Petuel. O conteúdo do livro indica que morou e profetizou em Judá e em Jerusalém e pode ter sido um sacerdote, considerando as frequentes referências a esse ministério. Existem, na Bílbia, outras quatorze pessoas com o nome de Joel.
No cenário nacional, Judá passava por um período de reconstrução após o perverso reinado da rainha Atalia(841-835 - 2 Rs 11:21). No cenário internacional, não havia proeminência de nenhum grande império, todavia, Judá estava sendo molestado por vários inimigos locais, tais como Tiro, Sidom, Filístia, Edom e Egito (3:4,19).
Historicamente, o objetivo do livro era chamar a nação de Judá ao arrependimento como uma reação adequada aos julgamentos do Senhor com gafanhotos e estiagem, para que uma calamidade mais devastadora não viesse sobre eles. Profeticamente, o objetivo era apresentar o futuro Dia do Senhor, no qual Ele dominará os pagãos e libertará o seu povo para habitar consigo. A praga de gafanhotos jamais vista antes foi somente uma antecipação daquele futuro Dia do Senhor.

O DIA DO SENHOR (2:1-11)

O livro de Joel, com 3 capítulos e 73 versículos, tem atraído a atenção pela beleza poética que a sua mensagem apresenta ao ilustrar com o fenômeno natural dos gafanhotos os fatos sobrenaturais do Dia do Senhor, tornando-se, assim, um importantíssimo precursor da literatura apocalíptica. “Tocai a buzina...” (2:1) ou “trombeta” significa uma advertência de perigo iminente (Am 3:6; Ez 33:3-6).


A PRAGA DOS GAFANHOTOS

A Bíblia fala dos gafanhotos, em diversas passagens, como elemento destruidor, e que foi uma das dez pragas derramadas sobre o Egito (Ex 10:4-6), enquanto Faraó permanecia oprimindo os hebreus. Os gafanhotos, em sua missão devastadora, formam grandes nuvens que ofuscam a luz do sol e devoram toda a vegetação que encontram, deixando no seu rastro a fome e a morte entre humanos e animais. Esta praga sinistra é usada aqui como tipo de um juízo mais terrível contra os ímpios, no Dia do Senhor.


A DEVASTAÇÃO DOS GAFANHOTOS

No verso 4, o profeta apresenta quatro diferentes espécies ou estágios, na sua metamorfose. A praga das locustas contra Israel foi fato real, e acontecimentos semelhantes eram comuns, ocasionados pelos enxames de milhões de gafanhotos que emigravam da Arábia para a Palestina, levados pelo vento do deserto. A destruição foi tão grande que o profeta chama a atenção dos anciãos (v.2), os quais pela vivência dos anos podem recorrer à memória e responder-lhe (Dt 32:7; Jó 32:7). Embora a resposta esteja implícita, ele incita os anciãos a admoestarem o povo sobre a severidade do castigo, estimulando-o a temer a Deus.


A INVASÃO COMO UM TIPO (1:8-12)

O profeta discerne a invasão das locustas como tipo da iminente invasão assíria que destruiria o Reino de Israel. A praga é um prenúncio da devastação que sofreriam por esses inimigos. Joel, numa antevisão, fala de um juízo vindouro mais terrível nos últimos dias, sobre toda a terra (Ap 9:1-11). As conseqüências da devastação foram tão desastrosas que é comparada a condição de uma virgem que enviúva antes de coabitar com seu marido. A situação dos lavradores e vinhateiros é lamentável. A locusta devorou tudo, o campo secou. Os sacerdotes ficaram entristecidos, porque as ofertas de manjares e os sacrifícios diários não mais poderiam ser oferecidos ao Senhor, pois tudo foi consumido pela praga. A situação era desesperadora! Não obstante, tudo isso fora apenas o aviso de uma assolação mais terrível que virá no dia do Senhor, para aqueles que não se convertem ao Senhor.”

O CLAMOR DOS SACERDOTES (1:13-20)

“Os sacerdotes estão tristes (v.9), pois sem colheita, nada têm para oferecer a Jeová, a quem ministram. Nesse clima de total depressão e lamentações, ouve-se o clamor do profeta convocando-os para uma reunião solene na casa do Senhor, com santificação e jejum. Joel conclama a todos para que supliquem a misericórdia divina, a fim de que o Senhor faça cessar tão nefasta praga.”
Assim, o profeta revela a misericórdia de Deus, e convida o povo a entrar pelo caminho do arrependimento, a fim de escaparem do juízo divino (2 Pe 3:9).
Carlos Finney, grande evangelista do século XIX, define da seguinte forma o arrependimento: “Mudança de atitude e mudança da vontade, envolvendo tristeza, segundo Deus, e a forte resolução de nunca mais praticar aquilo que antes praticava.”
O profeta apela da seguinte forma: “Rasgai o vosso coração...” O arrependimento sincero começa no interior e torna-se conhecido através do exterior quando o pecado é abandonado.

PROMESSAS DE LIBERTAÇÃO (2:18,19)

Como conseqüência do arrependimento, a nação seria perdoada, seria salva da destruição dos gafanhotos, teria uma nova vida e viveria alegre, uma vez que a misericórdia divina viria sobre toda a nação e seria uma grande belezura.

A VINDA DO ESPÍRITO SANTO (2:28-32)

Ao profeta Joel foi dado o privilégio de profetizar que Deus derramaria o Seu Espírito sobre toda a carne. E no pentecoste teve início uma nova dispensação: a inauguração da igreja de Cristo e a presença real do Espírito Santo com os crentes, numa atividade permanente, diferente das dispensações anteriores, quando o Espírito ministrava usando apenas umas poucas pessoas. Hoje, Ele está com a igreja.


AMÓS

A mensagem de Amós é de castigo vindouro e da restauração que o seguirá. Quando chegava a mensagem de repreensão para o povo em geral, chegava também a de consolação para uma minoria fiel. Amós vê o pecado de Israel em relação aos grandes privilégios que lhe foram concedidos, e demonstra que por causa desses privilégios e por não andar de uma maneira digna dos favores que Jeová lhes havia concedido, o castigo seria maior do que o dos pagãos que não gozavam dos mesmos(3:2).
Amós significa fardo ou carregador de fardos. O livro contém muitos fardos de julgamentos ou calamidades que o profeta transmitiu a Israel.
O grande terremoto mencionado em 1:1 foi, evidentemente, acompanhado de um eclipse solar, conforme sugerido em 8:8-10. Segundo os astrônomos, esse eclipse ocorreu em 15 de junho de 763 a.C. A profecia sobre Israel foi proferida dois anos antes, em 765, e escrita algum tempo depois do terremoto. Este foi tão violento que Zacarias se referiu a ele 270 anos mais tarde(Zc 14:5).
Foi um período conhecido como “idade de ouro” para ambos os reinos, que viviam “à vontade em Sião”(6:1). A idéia de julgamento ou colapso nacional estava longe do pensamento de todos. Ninguém suspeitava que, dentro de dez anos, desordens políticas e assassínios estremeceriam o país, arremessando-o de encontro à destruição.
No tempo de Amós, o sistema de adoração do bezerro de ouro em Betel, instituído no reino de Israel, já durava 170 anos. Moralmente, a nação estava corrompida, tanto interna quanto externamente. A aristocracia era rica, porém, perversa. Profetas e sacerdotes viviam a serviço dos seus próprios interesses. A injustiça social predominava. Os poderosos tinham sempre razão.
O objetivo dessa profecia era soar a trombeta, avisando à liderança e à aristocracia de Israel do iminente julgamento de Deus sobre a nação.

AMÓS, O PROFETA DA JUSTIÇA DIVINA

No oitavo século antes de Cristo, profetizaram Amós, Oséias, Isaías e Miquéias. Amós profetizou entre os anos 765 – 745 a.C., no Reino do Norte. A mensagem de Amós é centrada na ética divina, que exige a prática da misericórdia, justiça e retidão. Condena a corrupção moral e religiosa do povo, comprometido com a idolatria e com o paganismo cananeu. Israel pensava estar bem em seu relacionamento com o Senhor, por causa das bênçãos recebidas de Jeová, porém estava enganado.

AMÓS PREDIZ O JUÍZO DIVINO CONTRA AS NAÇÕES

Amós exerceu o seu ministério pregando à viva voz. Ele mesmo afirmou que não era profeta, nem filho de profeta, mas sim um boieiro e cultivador de sicômoros, mas o Senhor o tirara “de após o gado” e o enviara ao Reino do Norte, a profetizar contra os pecados de Israel (7:14,15).


PROFECIA CONTRA A SÍRIA

O primeiro juízo pronunciado é contra Damasco, capital da Síria, porque “trilharam a Gileade com trilhos de ferro”.
O profeta usa a retórica para transmitir a idéia da violência e crueldade dos sírios contra os gileaditas, talvez no reinado de Hazael, quando este conquistou Gileade nos dias de Jeú e Jeoacaz (2 Rs 10:32).
A expressão trilhos de ferro refere-se a tábuas entalhadas e dotadas de dentes de ferro que, atreladas a mulas ou cavalos, eram puxadas sobre os cereais amontoados. Assim, a palha era cortada em pequenos pedaços e os grãos dos cereais eram liberados. Figuradamente, foi o que os sírios fizeram com os gileaditas e isto aborreceu a Jeová, que abomina a violência e a crueldade.


PROFECIA CONTRA A FILÍSTIA

A sentença divina volta-se contra Gaza, situada ao sul da Filístia, à beira do deserto. Por ela passavam as caravanas, pois era uma junção de rotas. Por conta dessa posição estratégica, Gaza praticava o asqueroso tráfico de escravos. A profecia é contra Gaza, mas envolve toda a Filístia. Deus abomina a escravidão, uma violação dos direitos humanos. Ele não escraviza o homem. Todos são livres para escolher entre o bem e o mal (5:4-6).

PROFECIA CONTRA TIRO

O pecado de Tiro, entre outros, era o de vender escravos, por isso os seus habitantes seriam castigados com fogo (guerra) e também por causa dos pecados de imoralidade praticados no culto a Baal Melcarte, da prática do comércio de escravos e da arrogância. Tiro foi realmente destruída pela Assíria e mais tarde pela Babilônia, sob Nabucodonosor. Quando Alexandre, o Grande, a capturou e a destruiu em definitivo, ele vendeu cerca de 30 mil de seus habitantes como escravos. É o que diz a escritura: “Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá; se alguém matar à espada, necessário é que a espada seja morto” (Ap 13:10). As profecias verdadeiras se cumprem, as falsas não.

PROFECIAS CONTRA EDOM, AMOM, MOABE e JUDÁ (1:11-15; 2:1-5)

EDOM – O ódio de Edom (descendentes de Esaú) contra seu povo irmão Israel, levou-o a persegui-lo sem misericórdia. Por causa disto, Jeová puniria Edom. A sentença já estava decretada e a seu tempo seria executada (Jr 49:8-13). O ódio e a falta de misericórdia são sentimento e atitude contrários à ética divina.

AMOM – Contra Amom pesava a culpa de crime brutal: declarar guerra às crianças não nascidas. Os amonitas, guerreando com os gileaditas, mataram, com requintes de crueldade, as mulheres grávidas.

MOABE - O crime de Moabe era hediondo, pois havia declarado guerra a um cadáver. Os moabitas haviam queimado os ossos do rei de Edom, o que para eles era um sacrilégio. Na verdade, para os povos antigos a profanação de um cadáver era crime imperdoável. Embora Edom fosse culpado de crime, Moabe não tinha o direito de executar “justiça” contra os edomitas.

JUDÁ – O pecado de Judá não era o de ter cometido crime contra qualquer pessoa, mas sim o de desobediência a Deus. Judá havia rejeitado a lei do Senhor, e não guardara os seus estatutos e se deixara enganar pelas suas próprias mentiras, pelos falsos deuses. Por causa da idolatria, Judá seria visitada pela ira divina e Jerusalém seria consumida pelo fogo. Isto cumpriu-se, fielmente, quando os exércitos de Babilônia conquistaram Jerusalém e destruíram com fogo os seus palácios, inclusive o templo (2 Cr 36:5-19).

PROFECIA CONTRA ISRAEL

“Ouvi esta palavra que o Senhor fala contra vós, filhos de Israel, contra toda a geração que fiz subir da terra do Egito... andarão dois juntos se não estiverem de acordo?” (3:1,3). Certamente que não, Israel não estava andando de acordo com o Senhor, que o libertara da escravidão do Egito e por isso seria punido: “...certamente o Senhor Jeová não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas” (3:6,7).
Deus punirá severamente os que enriquecem ilicitamente, entesourando bens em seus palácios à custa de oprimir os pobres, os necessitados. Jeová não está alheio à grave situação social e moral do seu povo. Os juízes corruptos, os sacerdotes de Samaria e os altares profanos de Betel serão castigados.
Mesmo havendo punido o povo com terrível fome, guerras e destruição das lavouras, pelas locustas, Israel não se converteu ao Senhor. Daí o aviso: “Prepara-te, ó Israel, para te encontrares com o teu Deus.”


OBADIAS

Podemos notar claramente o assunto predominante de Obadias logo na primeira leitura do livro. É o grande pecado de Edom, descendente de Esaú - violência contra Judá; e seu castigo - a extinção nacional. (Leia com atenção: Gn 25:22; Sl 137:7; Dt 23:7; Mt 14:6-9; Lc 23:9).
Obadias significa servo do Senhor, nome comum no Antigo Testamento.
É uma das profecias que mais dificuldades oferece para ser datada. Os conservadores dividem-se entre os que aceitam uma data anterior ou posterior, dependendo de como consideram a calamidade de Jerusalém citada nos versículos 10-14. A cidade foi pilhada cinco vezes durante a monarquia e os profetas: 926 - pelo Egito(1 Rs 14:25-26); 845 - pelos filisteus e árabes(2 Cr 21); 790 - por Israel(2 Cr 24: 23-24); 597 por Nabucodonosor(2 Rs 24:10-16); 586 - por Nabucodonosor(2 Rs 25). Os edomitas envolveram-se nas pilhagens de 845 e 586.
Em 845, Judá estava sob o governo de Jeorão, rei iníquo, que juntamente com a iníqua rainha Atalia, sua esposa, permitiu o culto a Baal, introduzido em Israel 25 anos antes por Acabe e Jezabel. Isso fez com que o Senhor, para punir Judá, permitisse a invasão estrangeira.
Elias e Eliseu foram contemporâneos de Obadias, no reino do norte.
O profeta tinha dois objetivos: anunciar a destruição final de Edom devido à sua violência e vingança insaciável contra Israel, povo de Deus, e reafirmar o triunfo final do monte Sião no Dia do Senhor, quando Israel possuirá a terra de Edom.

OBADIAS e o castigo dos inimigos de Deus

Obadias, com apenas 21 versículos, é o menor livro do Velho Testamento. Do profeta que dá nome ao livro sabemos apenas seu nome e sua missão profética, nada mais. No Velho Testamento, existem outros Obadias. Nos versículos 1, 2, 8 e 18, encontramos por quatro vezes as expressões “Assim diz o Senhor” e “o Senhor o disse” como prova de origem e autoridade divina da sua mensagem, que anuncia o juízo moral de Deus contra as nações, inclusive Edom, por sua crueldade contra Israel. Assim, todas as nações serão julgadas no dia do Senhor, nenhuma escapará. É bastante provável que sua profecia tenha sido proferida por volta do ano 585 a.C.

CONDENAÇÃO DE EDOM

Vamos voltar um pouquinho para os dias de Isaque e Rebeca para entendermos melhor a rivalidade entre Israel e Edom (Gn 25:22): “E os filhos (Esaú e Jacó) lutavam no ventre dela...” Pois é, essa rivalidade continuou através dos descendentes de ambos, quando se tornaram nações. Assim, Israel e Edom viveram em guerra.
Quando Jerusalém foi subjugada por Nabucodonosor, Edom alegrou-se muito pela queda de Israel e, como se não bastasse, participou do sangrento massacre, aumentando, assim, o número de vítimas fatais (Sl 137:7).
No passado, através de Moisés, Deus ordenou a Israel que fosse amável com Edom, considerando o laço familiar (Dt 23:7). Edom, porém, indiferente ao apelo divino, hostilizava Israel e esta crueldade encheu o cálice da ira de Deus, que lavrou a sentença condenatória contra os edomitas.
Através do profeta Obadias, Edom toma conhecimento de que seu castigo é inevitável (a lei da colheita é irreversível – Gl 6:7), e os seus homens valentes, com toda experiência conquistada em tantas lutas, ficam assustados e não oferecem mais segurança e livramento para Edom: Jr 49:7-22; Lm 4:22; Ez 25:12-14; 35:15.

MOTIVOS DA CONDENAÇÃO

VIOLÊNCIA: “Por causa da violência feita a teu irmão Jacó...” (v.10). Vamos relembrar que embora Jacó tenha enganado Esaú (Gn 25, 33; 27:36), este o havia perdoado, pois com lágrimas se reconciliaram (Gn 33:4).
Agora, nos dias de Obadias, Deus, que conhece o interior de cada um, usa o profeta e denuncia a violência que reinava entre os seus descendentes (edomitas ou idumeus).
“Como tu fizeste, assim se fará contigo...” (v.15)

ORGULHO: Edom julgava-se numa posição de superioridade, baseado em sua localização geográfica. Julgava-se invencível dentro das fortalezas que possuía e subestimava os demais povos, inclusive Israel (Edom não nos lembra um pouco os Estados Unidos e sua arrogância bélica?).

É bom lembrar que o orgulho levou Lúcifer à queda (Is 14:12-14). Uma vez caído, investiu contra Adão e Eva, seduzindo-os e levando-os também à queda, ficando, assim, toda a raça humana infectada pelo vírus do orgulho, que continua destruindo vidas.
Quantas pessoas poderiam ser úteis ou ainda mais úteis às suas igrejas se não fosse a arrogância, o orgulho besta?!

FALTA DE AMOR: Os descendentes de Esaú alimentavam o ódio e praticavam a violência contra a semente de Jacó. Quando da destruição de Jerusalém, Edom não demonstrou um mínimo de sentimento fraterno. Muito pelo contrário, como já disse na introdução, até contribuiu para que Nabucodonosor saqueasse a Cidade Santa.
Já no exílio, Israel humilhado clama: “Lembra-te, Senhor, dos filhos de Edom, no dia de Jerusalém, porque diziam: Arrasai-a, arrasaia-a até aos seus alicerces” (Sl 137:7). Este clamor chegou à presença de Deus e no tempo próprio foi respondido. Deus envia duras calamidades sobre aqueles que se regozijam com o sofrimento alheio (Pv 17:5; 24:17,18).

O FIM DE EDOM

Após sua fase de glórias, arrogâncias e violências, Edom foi expulso de sua antiga e bem fortificada residência e não mais resistiu a outros ataques, sendo finalmente destruída no ano 70 d.C., pelo general Tito. Assim seus dias de orgulho terminaram de uma maneira humilhante. De nada lhe serviram as glórias conquistadas pela violência e pelo ódio.

JONAS

O livro de Jonas é diferente das outras profecias por não conter uma mensagem direta a Israel, mas sim aos Ninivitas. Embora não mencionada diretamente, há uma grande lição neste livro para a nação judaica, a saber, que Deus é Deus não só dos judeus, mas também dos gentios, e que é dever do seu povo escolhido levar a luz da revelação divina. Assim, o livro de Jonas é uma repreensão contra o exclusivismo dos judeus que se conservavam a certa distância dos gentios e consideravam-se superiores a eles.
O nome Jonas significa pomba. Esse profeta foi mandado pelo Senhor como um “mensageiro de paz” a Nínive, embora sua atitude tenha sido mais de um “gavião”do que de um pombo.
Essa profecia foi proferida no reinado de Jeroboão II, 793-753, conforme 2 Rs 14:25. A visita de Jonas a Nínive ocorreu, provavelmente, no fim do seu longo ministério em Israel, mais ou menos em 765. O profeta escreveu o livro após seu retorno e procurou, por meio dele, ministrar a Israel.
Há dois pontos de vista básicos na história de Jonas: o alegórico e o literal. O primeiro afirma tratar-se de um mito ou de uma figura fictícia para transmitir grande verdade espiritual, semelhante às parábolas. O segundo reconhece-a como história verdadeira: 2 Rs 14:25; Jn 1:1; Mt 12:40-42; 16:4; Lc 11:29-32.
Moralmente, os habitantes de Nínive eram conhecidos como uma “raça sensual e cruel”. Viviam de saques e orgulhavam-se dos montes de cabeças humanas que traziam de violentas pilhagens de outras cidades. Fortificaram-se com um muro interno e outro externo; o externo tinha 96 km de extensão, 30 metros de altura e uma largura suficiente para três carroças conduzidas lado a lado. A intervalos, por todo o muro, havia 50 torres de 60 metros de altura para o serviço de vigilância realizado pelas sentinelas.
O objetivo histórico e duradouro do livro de Jonas era declarar a universalidade tanto do julgamento quanto da graça divina.
Para os judeus ortodoxos, é tradição usar o livro de Jonas como leitura obrigatória para o culto vespertino do Dia da Expiação a fim de lembrar que o Senhor é um Deus de misericórdia para o povo arrependido, independente da sua raça.

JONAS, UM PROFETA EM ROTA DE FUGA

Jonas era filho de Amitai, da tribo de Zebulom.
O livro é biográfico. Começa e termina com o Senhor falando com Jonas. Este recebe uma mensagem do julgamento de Deus sobre Nínive. Este julgamento transforma-se em misericórdia e compaixão e Deus resolve dar uma chance aos ninivitas. Jonas seria o portador desta mensagem, desta oportunidade. O problema é que ele não gosta daquele povo e não gostaria que eles tivessem uma nova chance caso se arrependessem. Por conta disso, Jonas resolve não aceitar a comissão divina e “foge” para Társis. Resumindo tudo, o caso é o seguinte: Jonas não queria ser portador de boas novas para aquele povo e queria que eles se dessem mal.

A ORDEM EXPRESSA DO SENHOR

Não cabia ao profeta questionar o merecimento do povo ninivita de receber ou não o favor divino. Deus havia decidido conceder-lhes a oportunidade de se arrependerem do estado pecaminoso em que se encontravam. Através da mensagem profética, Jonas deveria levar os ninivitas ao arrependimento a fim de que escapassem do juízo divino.
De acordo com o entendimento de Jonas, por tratar-se de um povo muito cruel e extremamente idólatra, eles não mereciam esta oportunidade. Jonas e muitos de nós esquecemos, muitas vezes, que “as misericórdias do Senhor são novas a cada manhã” (Lm 3:22,23).

A CAMINHO DE TÁRSIS

Indiferente a ordem divina, Jonas inicia uma trajetória de desobediência e fuga.
Bem, Deus tem o controle de tudo e isso inclui os mares e os ventos (Sl 104:4). Assim que a viagem começa, Deus envia uma tempestade e o mar fica tão agitado que as ondas ameaçavam quebrar e afundar o navio. Através dessa tempestade, Deus queria falar com Jonas.
Deus usa diferentes maneiras para falar a diferentes pessoas. Temos o caso interessantíssimo de Elias, que também num momento de crise esperava que Deus se manifestasse das mais diversas formas, mas Deus falou com ele no silêncio e é em silêncio que muitas vezes precisamos falar com Deus (“Se eu quiser falar com Deus, tenho que calar a voz...”).
Apesar da tempestade, Jonas desce ao porão do navio e deita-se para dormir, de repente acreditando que ao acordar tudo estaria bem.

DORMINDO NA TEMPESTADE

Jonas estava tranqüilo, despreocupado, dormindo um profundo sono. Lá fora, a tempestade arrebentava o navio, os tripulantes trabalhavam desesperadamente e Jonas dormia.
Enquanto a tempestade cai, lamentavelmente, muitos profetas dormem, quando deveriam estar denunciando o pecado, os crimes, os preconceitos. Como disse Luther King: “pior que a maldade dos maus é o silêncio dos bons”.
Julgando que uma tempestade daquelas só poderia estar acontecendo por causa de alguém a bordo, os marinheiros lançaram sortes e a sorte caiu sobre Jonas. Ele era o culpado de tudo o que estava acontecendo. Apavorados, os marujos perguntaram ao profeta: “Que faremos nós para que o mar se acalme?” (v.11) e Jonas, consciente de sua desobediência ao plano divino, responde: “Levantai-me, e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará; porque eu sei que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade” (1:12). Após uma oração, fizeram isso.
Lançaram Jonas no mar e logo a tempestade acalmou-se e tudo voltou a ser uma belezura. Deus preparou um grande peixe (não necessariamente uma baleia) que tragou o profeta e o levou para Nínive, onde ele, finalmente, ainda que a contragosto, falou da mensagem de arrependimento e muitos ninivitas se converteram e receberam a graça de Deus.


MIQUÉIAS

Miquéias profetizou mais ou menos na mesma época de Isaías, com quem, provavelmente, teve contato, havendo, inclusive, semelhanças notáveis nas suas profecias(Is 2:1-4; Mq 4:1-5). Como acontece com Isaías, a profecia de Miquéias pode ser dividida em duas seções principais: denunciadora(1-3) e consoladora(4-7). Na primeira divisão, o profeta apresenta o quadro de uma nação pecaminosa condenada ao cativeiro, um Israel iludido e destruído por governantes falsos; na segunda divisão, um povo redimido desfrutando das bênçãos mileniais, restaurado pelo Messias, o verdadeiro Regente.
Miquéias significa Quem é igual a Jeová. O livro enfatiza o grande poder de Deus no primeiro capítulo, e o seu grande perdão no último.
Miquéias é reconhecido como o único profeta cujo ministério foi desempenhado visando tanto a Israel como a Judá(1:1). Isaías também profetizou a destruição de Samaria, mas sua profecia era a respeito de Judá e Jerusalém(Is 1:1).
Os objetivos do livro são: enfatizar o peso da próxima ira divina sobre a nação, em virtude dos seus pecados de violência e injustiça social, enquanto fingiam ser religiosos e lembrar-lhes da futura vinda do Messias, que surgiria de origem humilde para governar, com justiça e verdade, conforme promessa da aliança abraâmica.


MIQUÉIAS e o reino pacífico do Messias

Miquéias avisou aos opressores, que roubavam as pequenas propriedades dos seus conterrâneos, que Deus iria castigá-los em conseqüência de sua violência e opressão contra os fracos ( 2:1-3). Ele denuncia também os governantes e os falsos profetas como culpados pela corrupção da vida nacional. Apesar desse caos moral, social e espiritual, o profeta prevê um futuro glorioso, quando haverá um reino de justiça e paz, cujo governante nascerá em Belém Efrata, da tribo de Judá (5:2).
Isaías, por sua vez, afirma que Ele será chamado “Maravilhoso, Deus forte e Príncipe da Paz” (Is 9:60).
Miquéias pregou ao povo simples de Judá, enquanto Isaías profetizou à corte em Jerusalém.
Diante de todo o contexto dos dias de Miquéias, me pergunto se ele não profetizou para os brasileiros: problemas morais, sociais, espirituais, desigualdades sociais imensas, uma minoria muito rica que oprime uma maioria muito pobre. E nós, cristãos, profetas do Senhor, nos calamos diante disso tudo e muitas vezes até compactuamos e outras vezes nos tornamos opressores de nossos próprios irmãos. Alguns enriquecem (e não há nenhum crime em alguém enriquecer graças ao seu trabalho) explorando outros, oprimindo, impondo uma jornada de trabalho sobre-humana, pagando um salário absolutamente aquém, não honrando suas dívidas. Mais que uma religião, o Cristianismo é uma filosofia de vida e é uma contradição gigantesca, talvez até falta de vergonha na cara, ir à igreja, falar de amor, “adorar” e paralelo a isso tudo explorar outros, se dar bem em detrimento do sacrifício de outros. Que cristianismo é esse?

LIVRAMENTO DO CATIVEIRO (Mq 4:9,10)

Durante um período de 70 anos, Israel esteve no cativeiro babilônico. Quando tudo parecia sombrio e desolador, Deus levantou reis pagãos, tais como: Ciro, Dario e Artaxerxes para darem ordens sobre o retorno, bem como Zorobabel e Josué, o sacerdote, Ageu e Zacarias, Esdras e Neemias, judeus cheios do Espírito Santo, para conduzirem o povo de volta a Jerusalém. Através de Miquéias, Deus anuncia que não haverá mais pranto, nem mais serão levados ao cativeiro, quando aceitarem o Messias Jesus como Rei.

UM FUTURO DE BELEZURAS PARA ISRAEL

Ao longo da profecia de Miquéias percebemos a providência divina transformando os seus filhos de derrotados e humilhados num povo forte e vencedor, não para seu próprio engrandecimento e ostentação, mas para glória e honra do próprio Deus (Is 60:6-9; Zc 14:20), que ao final será reconhecido como o Deus de Israel e “O Senhor de toda a terra” (v.13b).

ISAÍAS E MIQUÉIAS

O profeta da corte e o profeta do povo estão em acordo. Miquéias, na verdade, prediz a destruição de Jerusalém, enquanto Isaías, exceto numa única passagem (32:13,14), prediz a sua conservação. O juízo que havia de cair ficou adiado. Miquéias vai além de Isaías em predizer o nascimento do Messias em Belém.

IDÉIAS POPULARES E PROFÉTICAS SOBRE RELIGIÃO

A idéia popular da religião que Jeová quer encontra-se em 6:6,7: “Com que me apresentarei diante de Jeová, e me prostrarei perante o Deus excelso? Apresentar-me-ei perante Ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á Jeová de milhares de carneiros ou com miríades de rios de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu corpo pelo pecado da minha alma?”

Isso representava a idéia popular dos fatos essenciais da religião. Considerava Jeová do mesmo jeito que as outras nações consideravam seus deuses, como um déspota que precisava ser apaziguado com ofertas materiais, grandes e custosas. A resposta do profeta traz um contraste evidente: “Ele te há mostrado, ó homem, o que é bom; e o que Jeová requer de ti, senão que procedas com justiça, e ames a misericórdia, e andes humilde com o teu Deus?” (6:8)

O que acontece aqui é um contraste entre o legalismo e a fidelidade a Deus. Tem uma galera que se nomeia cristã por cumprir as normas legais, por observar tradições, mas não age, de fato, como cristão, ou seja, não vive aquilo que prega e ainda tira a maior onda de crente (legalmente), mas não é um cristão de fato. Ser cristão não é sinônimo de cumprir normas ou dogmas, mas de amar o outro com todas as suas diferenças.


NAUM

O livro de Naum apresenta um único tema saliente: a destruição de Nínive. É a sequência do profeta Jonas, através da qual os ninivitas foram conduzidos ao arrependimento e salvos do castigo iminente. Posteriormente, mudaram de opinião quanto ao seu primeiro arrependimento e de tal maneira se entregaram à idolatria, crueldade e opressão, que 120 anos mais tarde, Naum pronunciou contra eles o julgamento de Deus em forma de uma destruição completa.
Naum significa consolação. Como o nome sugere, o livro de Naum é o único dentre os profetas que não profere julgamento contra Israel, mas apenas consolação. Ele prediz o fim do seu grande inimigo do Oriente.
Em 710 a.C. , Judá sobreviveu à invasão assíria por Sargom em virtude do grande reavivamento de Ezequias. Essa nação, todavia, continuava sua investida contra o Ocidente, enquanto a Babilônia exercia o controle no Oriente. Diante do ameaçador deslocamento da Assíria para o lado ocidental, Ezequias sentiu-se grandemente tentado a reforçar suas defesas com o auxílio do Egito e da Babilônia(2 Rs 18:21; 10:12). O império assírio estava, naquela época, no auge do seu poder e ameaçava engolir Judá e todo o Oriente Médio na sua investida ocidental. Era uma época de grandes reformas no cenário político mundial, e Judá precisava da consolação divina referente à horda violenta de Nínive, a antiga cidadela da ferocidade.
O principal objetivo de Naum foi consolar Judá com referência ao seu feroz inimigo, a Assíria. No seu recado profético, Naum revelou o detalhado plano divino para destruir e devastar completamente a cidade de Nínive.
Essa mensagem foi entregue ao povo de Judá a fim de lembrá-lo da soberania do Senhor sobre todas as nações, e que ele não tolera por muito tempo aqueles que governam com pilhagem e violência, desrespeitando suas admoestações de justiça.


NAUM E A JUSTA RETRIBUIÇÃO DE DEUS

A respeito do profeta Naum, cujo nome significa “consolação”, sabe-se apenas que era originário de Elcos, provavelmente Cafarnaum. Sua mensagem contra Nínive foi dada a Judá, já que o reino do Norte, Israel, já fora levado cativo.
A mensagem de Naum é: Nínive será destruída! (1:15 – 3:19), o que ocorreu por volta do ano 612 a.C. Os ninivitas (assírios), convertidos pela pregação de Jonas (mais de cem anos antes de Naum), não haviam transmitido a seus filhos o conhecimento de Deus, e o povo retornara rapidamente às suas práticas cruéis e pagãs. Haviam destruído Samaria (o reino do Norte, Israel) em 722 a.C., e quase capturaram Jerusalém em 701 a.C. Naum descreve brevemente a maldade de Nínive (3:1,4). Lendo o capítulo 2, quase se pode ouvir o barulho da batalha de Nínive.

A LEI DA SEMEADURA E DA COLHEITA

A ceifa tem uma relação direta com a semeadura, ou seja, colhemos aquilo que plantamos. Nínive semeou o mal e teve que colher o mal. Embora fosse bem fortificada (sua muralha em toda a extensão media 30 metros de altura e era tão larga que quatro carruagens podiam correr lado a lado), sua colheita foi desastrosa, tal qual a palavra do profeta: “O fogo ali te consumirá, a espada te exterminará...” (3:15a).
Os reis de Nínive eram orgulhosos e não se interessavam pela paz e sim pelas guerras. Gabavam-se de derramar o sangue dos seus inimigos. Todos os seus esforços, porém, são inúteis para resistir ao ataque, pois Deus já havia lavrado sua sentença
As oportunidades de arrependimento foram recusadas, por isso Nínive sofreu o juízo de Deus. Nínive ouviu dos lábios do profeta: “Não há cura para tua ferida...” e assim caiu vergonhosamente.

PUNIÇÃO DIVINA CONTRA OS NINIVITAS

A Bíblia diz que “horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10:31). Nínive foi pesada na balança divina e achada em falta. O profeta, numa mensagem futurista, prediz a destruição de Nínive, mas ninguém deu crédito às suas palavras. Deus, o Justo Juiz, porém, fez tudo cumprir-se, literalmente, como disse Naum: “E como uma inundação transbordante acabará duma vez com o seu lugar” (1:8). Atualmente, Nínive, a opulenta cidade-fortaleza do passado, é um monte de ruínas.

A SOBERBA DE NÍNIVE E SUA FALSA SEGURANÇA

Os ninivitas permaneceram arrogantes, orgulhosos e indiferentes ao aviso do profeta.
Os assírios pareciam invencíveis, pois possuíam um formidável exército (2 Cr 32:7), sob comando de Senaqueribe, no entanto há um registro (2 Cr 32:8) de uma fragorosa derrota deste poderoso exército diante do “inexpressivo” exército de Israel.
Contra Senaqueribe vem do Senhor a sentença condenatória, através do profeta: “Contra ti, porém, o Senhor deu ordem que mais ninguém do teu nome seja nomeado...” (1:14), ou seja, sua dinastia seria exterminada (2 Rs 19:35-37).
A soberba enlouqueceu Senaqueribe e este ao desafiar a Deus se deu mal. Ao ver 185 mil homens de seu exército mortos pelo anjo do Senhor numa só noite (2 Rs 19:35), fugiu para abrigar-se em Nínive. Lá chegando, foi direto para o templo adorar Nisroque, seu deus e aí seus dois filhos o assassinaram traiçoeiramente (Is 37:38). Assim morreu tragicamente o arrogante rei Assírio.
A arrogância tem um preço alto. Não podemos deixar de lembrar aqui a arrogância norte-americana diante do pequeno Vietnã e sua derrota. Também não podemos esquecer o atentado que destruiu as torres gêmeas (os norte-americanos fazem coisas bem piores que aquilo com diversos países e às vezes esquecemos isso). Os norte-americanos podem ter o exército mais bem armado do mundo, no entanto, graças a arrogância de seu presidente, pagam o altíssimo preço da insegurança. Os cidadãos americanos não se sentem seguros em seu próprio país. O medo de novos atentados está presente em todos os momentos. É o preço da arrogância.

O FIM

Derrotado o inimigo, os anunciadores das boas novas correm pela cidade e, em alta voz, anunciam a destruição dos opressores, o cumprimento da profecia.


HABACUQUE

O livro de Habacuque apresenta o quadro de um homem de Deus embaraçado com a aparente tolerância divina em relação a iniquidade. O profeta está rodeado por todos os lados da injustiça triunfante e não castigada. A princípio, seu clamor pelo julgamento, aparentemente, não é ouvido por Deus. Quando, finalmente, é respondida a sua oração e pronunciado o julgamento, ele fica ainda mais surpreso, uma vez que os agentes do julgamento divino, os caldeus, são mais ímpios e mais dignos de castigo do que suas vítimas. Habacuque está cheio de dúvidas, mas felizmente ele leva sua inquietação a Deus, que logo a dissipa, apresentando a solução dos seus problemas resumida na declaração que é a base do livro: o justo viverá pela sua fé(2:4). Embora os ímpios vivam e prosperem nas suas impiedades e os justos sofram, estes últimos devem viver uma vida de fidelidade e confiança. O profeta muito aprendeu com esta lição, pois embora sua profecia comece com mistérios, perguntas e dúvidas, termina com certeza e afirmações de fé.

Habacuque significa abraçar. Conforme observações de muitos estudiosos, o profeta rodeia a Deus com oração pelo país, e também o rodeia com louvor por sua grandeza ao resolver o grande dilema do profeta quanto à santidade.

Habacuque foi contemporâneo de Jeremias, tendo profetizado com ele para o reino do sul, que se precipitava num colapso nacional.

Conforme ficou demonstrado pela efêmera reforma de Josias, Judá era, incorrigivelmente, corrupto e estava prestes a ser julgado.

O objetivo do livro era enfatizar a santidade divina ao julgar o violento reino de Judá pelos seus pecados, muito embora Deus tivesse usado uma nação ainda mais iníqua para executar tal julgamento, nação que ele mais tarde destruiria por sua idolatria e perversidade ainda maior.


HABACUQUE, O PROFETA DA FÉ

O ministério de Habacuque, cujo nome significa “abraço” ou “abraçador”, ocorreu pouco antes da primeira invasão de Judá por Nabucodonosor (606-605 a.C.), quando Daniel e outros foram levados para a Babilônia. Habacuque foi comissionado para anunciar a intenção divina de punir Judá com a deportação para a Babilônia. O rei de Judá da época, Jeoaquim, é descrito pelo profeta Jeremias com as seguintes palavras: “os teus olhos e o teu coração não atentam senão para a tua ganância, e para derramar sangue inocente, e para levar a efeito a violência e a extorsão” (Jr 22:17).
O livro nos apresenta o quadro de um homem que confiava em Deus, mas que estava perplexo diante da vida. São dois os questionamentos do profeta apresentados no livro:

1. Por que Deus permitia que o mal crescente em Judá permanecesse impune (1:2-4)?

2. Como podia um Deus santo justificar o uso dos babilônios (caldeus), um povo ainda mais ímpio que os judeus, para punir Judá (1:12 – 2:1)?
Nada se sabe da genealogia de Habacuque. Possivelmente era um sacerdote, da tribo de Levi.


A PROFECIA DE HABACUQUE

Apesar dos avisos de Deus, Judá continuava em rebeldia, adorando os “deuses” das nações pagãs ao redor. A corrupção, a violência e a idolatria grassavam no meio do povo. Em meio a tantas dissoluções, parecia tardar o juízo de Deus sobre a nação apóstata. Porém, Deus não falha em suas promessas, quer sejam para o bem ou para o mal, e o juízo viria em breve. Deus estava levantando os caldeus a fim de usá-los para disciplinar seu povo rebelde.
A profecia de Habacuque baseia-se na sentença de Jeová contra o seu povo: “O peso que viu o profeta Habacuque...” Assim ele afirma que é apenas o porta-voz a quem Deus revelou a sentença a ser executada contra Judá. Ainda assim, ele entende que tem o direito de questionar o porquê dos fatos e obter uma resposta divina. O profeta não compreende (1:2-4) por que o Senhor não executa logo a sentença contra a ímpia nação judaica: “por isso a lei se afrouxa, e a sentença nunca sai; porque o ímpio cerca (oprime) o justo, e sai o juízo pervertido”.

RESPOSTA DE DEUS AO QUESTIONAMENTO DE HABACUQUE (1:5-11)

Para disciplinar seu povo, Deus usará os caldeus como um flagelo. Ele consentirá que esse povo conquiste Jerusalém e leve seus habitantes para a Babilônia. A disciplina vai ser dolorosa, mas vai ser executada. Não é isso que o profeta desejava? A corrupção, a violência e a idolatria serão varridas de Judá. Os caldeus destruirão Jerusalém e Judá será levada cativa.


A RÉPLICA DO PROFETA (1:12-17)

Habacuque não esperava esta resposta. Como Jeová iria permitir tal afronta dos caldeus a seu povo? Acaso o Senhor havia se esquecido dos tempos antigos, quando havia libertado o povo da opressão do faraó, da escravidão no Egito?Não era Judá o seu povo escolhido? Por que, então, sofreria o jugo vil dos ímpios caldeus? Tudo bem que Judá estava merecendo o justo castigo pela sua apostasia, mas se Judá era ímpia, a Caldéia era muito pior: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal... por que, pois, olhas para os que procedem aleivosamente, e te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele?”


A RESPOSTA DE DEUS E OS CINCO AIS (cap. 2)

Deus deixa claro para o profeta que não está esquecido dos pecados dos caldeus, pois Ele não tem por inocente o culpado e em breve visitará a iniqüidade dos caldeus.

PRIMEIRO AI: contra os pesados tributos que os caldeus cobram dos povos vencidos, acumulando bens que não lhes pertencem;

SEGUNDO AI: contra aquele que ajunta bens ilícitos, usando meios fraudulentos, enriquecendo à custa do empobrecimento alheio (bens mal adquiridos);

TERCEIRO AI: contra a violência. Tudo que se consegue pela violência, pela violência se perde. Assim, no ano 539 a.C., a grande Babilônia, o terror das nações, caiu diante do poderoso exército medo-persa, sob o comando de Ciro II, da Pérsia (Is 44:28; 45:1-4).

QUARTO AI: contra a desumanidade. Fala daqueles que embebedam o próximo para adulterar com sua mulher. O profeta está comparando isso com os caldeus, que usando de malícia e violência, “embriagavam” os povos e lhes tirava a soberania como nação.

QUINTO AI: contra os idólatras. Os caldeus atribuíam aos seus deuses as suas vitórias contra as nações: “Mas o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra” (2:20).

CONCLUSÃO: “Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas; todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação. Jeová, o Senhor, é a minha força” (3:17-19).


SOFONIAS

A frequente repetição da frase o dia do Senhor sugere que Sofonias tinha uma mensagem de julgamento, todavia, como acontecia com quase todos os demais profetas, apresenta também uma mensagem de restauração.

Sofonias significa o Senhor esconde ou protege. Essa proteção da justiça do Dia do Senhor está registrada em 2:3 e 3:8-12.
A firme condenação da idolatria e indisciplina sugere que ele tenha profetizado antes de 621, se não antes de 628, quando Josias executou a grande reforma. Se a profecia tiver precedido a primeira purificação, 630 a.C. será a data provável. Se precedeu a purificação posterior, 625 será a data mais conveniente.
Sofonias desempenhou seu ministério no início do ministério de Jeremias.

Josias começou a reinar após 55 anos de derramamento de sangue e corrupção moral sob Manassés e Amom. O seu reinado pode ser dividido em diversos períodos, conforme 2 Crônicas 34. Sofonias pode ser considerado o profeta que influenciou Josias a voltar-se para o Senhor e o ajudou nas fases da reforma, apresentando ao povo um dos quadros bíblicos mais aterradores do julgamento.

O objetivo dessa profecia era divulgar um chamado de última hora à nação, condenando sua idolatria e advertindo o povo sobre o grande dia da ira divina que estava para vir. Além desse aviso, Sofonias enfatizou novamente os resultados finais do julgamento de Israel, que seria um povo purificado e humilde, restaurado pelo Senhor, e este passaria a habitar no meio deles.
Ao descrever o desenrolar do dia do Senhor, Sofonias declara que o “Rei de Israel”, que estará no meio do povo, não será nada menos que o próprio Senhor(3:15,19; 2:3).


SOFONIAS, O PROFETA DO DIA DO SENHOR

Nascido em berço nobre (1:1), descendente do rei Ezequias, Sofonias, aparentemente, ajudou a preparar Judá para o reavivamento que ocorreu sob a liderança do bom rei Josias, em 621 a.C. (2 Cr 34:3). Por mais de meio século sob os reis Manassés e Amom, a situação de Judá tinha sido muito ruim, e Sofonias convocou seu povo ao arrependimento. A reforma aconteceu, mas depois da morte de Josias, os líderes e grande parte do povo voltaram à antiga vida de pecado.

O tema central da mensagem de Sofonias é o julgamento. O cumprimento imediato aconteceu quando Nabucodonosor, rei de Babilônia, capturou Judá. O cumprimento definitivo ocorrerá no Dia do Senhor, durante os anos da tribulação. Sofonias também predisse o juízo das nações pagãs, tanto imediatamente, como no caso de Nínive, que caiu em 612 a.C. (2:13) quanto no futuro (3:8). O livro termina com uma descrição super belezuda de um futuro (milênio?).

O DIA DO SENHOR

“O dia do Senhor” é sempre um tempo de ajuste de contas, juízo e castigo.
A vida pecaminosa em excesso dos habitantes de Judá e Jerusalém (1:1-3), já não lhes permitia compreender os desígnios de Deus. Embora o povo não estivesse apercebido da proximidade desse dia, devia crer e arrepender-se diante da mensagem do profeta, como aconteceu ao povo de Nínive, quando Jonas anunciou a sua destruição (Jn 3:4-10).

PROFECIA CONTRA A IDOLATRIA (1:4-6)

A profecia menciona os quemarins, que eram sacerdotes de um culto falso como o de Baal, contrariando, assim, a expressa proibição do primeiro mandamento (Ex 20:3). Também sob o juízo divino encontravam-se os sacerdotes de Jeová, descendentes de Arão, que deveriam ter combatido a idolatria, porém nada fizeram (Sf 3:4; Ez 18:22,26; 44:10).

JERUSALÉM COMO ALVO DO JUÍZO DIVINO (1:9-18)

Todos os habitantes de Jerusalém envolvidos na idolatria estavam sob o juízo divino, principalmente aqueles que trabalhavam para o rei, e dele esperavam o reconhecimento para aumentar o seu prestígio e melhorar os seus rendimentos. Com essas finalidades, lançavam-se com toda fúria sobre suas vítimas, saltavam de regozijo sobre o umbral das portas por eles forçadas (v.11): “Uivai, vós, moradores de Mactés...” Mactés era uma parte da cidade também chamada de vale, onde estavam localizados armazéns e lojas de negócios que atraíam a cobiça dos conquistadores. Deus é justo ao aplicar o seu juízo e não usa de parcialidade ao derramar a sua ira.

O DIA DO SENHOR E SEUS DETALHES (1:14-18)

A mensagem da profetisa Hulda para Jerusalém e o rei Josias, de Judá, é ratificada pelo profeta Sofonias, porém Deus que conhece os que lhe são fiéis e antecipadamente viu o rei humilhar-se e rasgar os seus vestidos e chorar diante das palavras vindas de sua parte pela profetisa, consolou o rei, prometendo que o mesmo seria recolhido ao descanso eterno em paz sem contemplar sua ira sendo derramada sobre os seus súditos (2 Cr 34:20-28). Assim, após a morte do bom rei Josias, imediatamente desencadeou-se o juízo de Deus tal qual anunciado através dos seus ungidos, a profetisa Hulda e o profeta Sofonias, chegando como se fosse uma grande tempestade que não permite que ninguém consiga livrar-se dos seus trágicos resultados. Dessa forma, o profeta descreve esse dia como dia de indignação, dia de angústia, dia de alvoroço e desolação, dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e de densas trevas, dia de trombeta dando o alarme, cidades bem fortificadas invadidas e angústia sobre os homens, que irá fazê-los andar em grande desespero, ao ponto de serem levados à loucura. Como cegos andarão às apalpadelas em busca de ajuda, mas todo esforço é inútil, pois o pecado e a apostasia provocaram a ira do Senhor. Esse mesmo quadro desolador vai acontecer diante do juízo final, quando haverá “choro e ranger de dentes” (Mt 8:12; 25:30).

AGEU

Ageu é o primeiro dos profetas conhecidos como pós-exílicos, ou seja, que profetizaram depois do cativeiro; Zacarias e Malaquias são os outros dois.
Para conhecer melhor o fundo histórico desta profecia, recomendo a leitura de Esdras, capítulos de 1 a 7.
Ageu significa festivo ou minha festa. É provável que o profeta tenha nascido num dia de festa. Seu nome está ligado ao objetivo maior da sua profecia, que era completar o templo para reiniciar as festividades religiosas.
Após os setenta anos de cativeiro, na Babilônia, os judeus retornaram sob a nova política persa que encorajava a volta dos cativos, sendo-lhes proporcionada uma nova situação de vida num distrito na província daquém Eufrates. Esse tratamento benévolo por parte de Ciro pode ter sido devido à influência de Daniel.
A oposição à reconstrução do templo veio dos vizinhos samaritanos que tentaram integrar-se com os judeus e amalgamar as religiões. Essa oposição teve como resultado diversas perseguições e a construção ficou suspensa por quatorze anos.
Em 537 começou uma grande era para os judeus com a volta do cativeiro e o reinício das ofertas da aliança em Jerusalém, porém a pausa na reconstrução esfriou o entusiasmo de todos, e logo se voltaram para os interesses seculares, todavia essas atividades não se mostraram rendosas, o que pode ter sido um castigo por não terem tido em alto preço a fundação do novo templo(Ed 3:12-13; Ag 2:3).
Após aproximadamente 14 anos de negligência na construção do templo, o Senhor mandou seca e má colheita ao povo a fim de alertá-lo. Mandou depois Ageu e Zacarias mostrar-lhe a causa do problema econômico e sugerir que todos cuidassem da sua responsabilidade mais importante, a reconstrução do templo do Senhor. O objetivo do profeta é fazer com que os líderes e o povo continuassem a reconstruir o templo destruído, mostrando-lhes que os fracassos nos outros setores da vida eram resultado da negligência na obra do Senhor.

AGEU, O PROFETA DA RECONSTRUÇÃO

O profeta Ageu, cujo nome significa “festivo” ou “minha festa”, foi a primeira voz profética a se ouvir depois do exílio babilônico. Ele foi contemporâneo de Zacarias (e de Confúcio) e seu ministério foi o de conclamar o povo à reconstrução do templo, cujo término vinha sendo adiado por 15 anos. Estas profecias foram pronunciadas em 520 a.C. e o templo foi concluído 4 anos depois. Provavelmente Ageu retornara a Jerusalém vindo de Babilônia com Zorobabel.
O livro é dirigido a todo o povo (1:13; 2:2) com o objetivo de encorajá-lo a reconstruir o templo. É também dirigido a Zorobabel, o governador e a Josué, o sumo sacerdote (1:1; 2:2,21).
O livro contém quatro mensagens, cada uma delas introduzida pela expressão “veio a palavra do Senhor”.

CONTEXTO HISTÓRICO-RELIGIOSO

Em 538 a.C., o rei Ciro, da Pérsia, expediu um decreto permitindo a repatriação dos judeus, que permaneceram 70 anos em Babilônia. Dessa forma, voltaram à terra de seus ancestrais e começaram a reconstrução. As dificuldades não foram poucas. Como vimos quando estudamos Esdras e Neemias, tiveram de enfrentar lutas e tribulações para reconstruírem os muros de Jerusalém, o Santo Templo e a própria nacionalidade. Animados por Ageu e Zacarias, mostraram aos vizinhos pagãos que para o povo de Deus não existe impossível.

O RETORNO A ISRAEL

Ao retornarem a Israel, os judeus depararam-se com uma terra que devorava os próprios habitantes e teriam de se empenhar imensamente para reconstruir o que os babilônios haviam destruído. De início, mostraram-se decididos. Sob o comando de Esdras e Neemias, colocaram mãos à obra. Levantaram os muros, afugentaram os adversários e mostraram aos vizinhos o que o Deus de Israel podia fazer pelo seu povo. O problema é que com o passar dos tempos, o desânimo foi tomando conta dos filhos de Judá e começaram a dar prioridade aos seus próprios negócios.
A INDIFERENÇA DO POVO

“No sexto mês do segundo ano do rei Dario, veio a palavra do Senhor, por intermédio de Ageu, a Zorobabel, filho de Salatiel, príncipe de Judá, e a Josué, filho de Jeozadaque, o sumo sacerdote, dizendo: Assim fala do Senhor dos Exércitos, dizendo: Este povo diz: Não veio ainda o tempo em que a casa do Senhor deve ser edificada. Veio, pois, a palavra do Senhor, pelo ministério do profeta Ageu, dizendo: É para vós tempo de habitardes nas vossas casas estucadas, e esta casa há de ficar deserta?” (1:2,4)
Por causa da indiferença do povo, a terra começou a negar-lhe as suas novidades. Em 1:6-9, o profeta registra o seguinte: “Semeais muito, e recolheis pouco; comeis, mas não vos fartais; bebeis, mas não vos saciais; vesti-vos, mas ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe salário num saco furado. Assim diz o Senhor dos Exércitos: Aplicai os vossos corações aos vossos caminhos. Subi ao monte e trazei madeira, e edificai a casa, e dela me agradarei; e eu serei glorificado, diz o Senhor. Olhastes para muito, mas eis que alcançastes pouco; e esse pouco, quando o trouxestes para casa, eu lhe assoprei. Por que? Disse o Senhor dos Exércitos. Por causa da minha casa, que está deserta, e cada um de vós corre à sua própria casa.”
Embora dessem toda a prioridade aos seus negócios, os filhos de Judá não conseguiam prosperar. Começaram a enfrentar uma inflação tão incontrolável que os seus salários simplesmente desapareciam do próprio saquitel (Ag 1:6). Sobre esse tema há uma declaração muito bacana de um Dalai Lama, líder budista: “Os homens me surpreendem...
Eles perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viverem nem o presente, nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido.”


OS JUDEUS ATENDEM A VOZ DO PROFETA

As palavras de Ageu não caíram no vazio. A começar pelos líderes, todos decidiram voltar à reconstrução do Templo e assim todas as tarefas inacabadas foram concluídas. As dificuldades desapareceram, a inflação foi vencida, a moral do povo foi restabelecida e a terra voltou a dar suas novidades.
Concluído o templo, o Senhor dirige-se de forma benévola aos filhos de Judá: “Ainda uma vez, daqui a pouco, e farei tremer os céus, e a terra, e o mar, e a terra seca; farei tremer todas as nações e encherei esta casa de glória, diz o Senhor dos Exércitos. Minha é a prata, e meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos. A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos Exércitos” (2:6-9)


ZACARIAS

O fundo histórico da profecia de Zacarias é o mesmo de Ageu, uma vez que ambos os profetas ministraram no mesmo período e tiveram missão semelhante. A missão de Zacarias era animar por meio da promessa do êxito atual e da glória futura, o resto do povo judeu, que estava desanimado pelas aflições atuais e que hesitava em reconstruir o seu templo. O povo tinha bons motivos para estar desanimado. Antes, eles foram uma nação livre, com um rei e uma constituição, mas agora, tinham regressado a esse país sob um governo estrangeiro, um país sem rei e despojado de poder. Além da promessa de glória futura, o profeta fez promessas de êxitos e empreendimentos atuais, pois assegurava ao remanescente que o seu templo seria reconstruído, apesar da oposição.
Como a nação foi purificada do pecado da idolatria por meio do castigo do cativeiro babilônico, assim, por meio do fogo da grande tribulação, será purificada do seu maior pecado - a rejeição do seu Messias e Rei(13:8,9; 12:10; 13:1).
Zacarias significa o Senhor lembra , o que sugere a mensagem do livro: “O Senhor não esquecerá suas promessas da aliança para abençoar Israel no tempo designado.”
Zacarias foi um sacerdote que voltou para Israel, com seu pai e seu avô, no primeiro retorno da Babilônia, com Zorobabel(Ne 12:4,16). É possível que seja o Zacarias a quem Jesus se referiu em Mateus 23:35, como morto no templo. Aquela referência, entretanto, também pode ser a 2 Crônicas 24:21(“Baraquias”seria um erro de cópia do escriba, em Mateus 23:25), sendo Crônicas o último livro do cânon hebraico.
O livro apresenta dois objetivos: Insistir na conclusão da restauração imediata do templo e instruir a nação quanto ao seu futuro nos tempos messiânicos.
Este livro é o mais messiânico dos Profetas Menores, estando no meso nível de Salmos e Isaías.


ZACARIAS E A CONVERSÃO NACIONAL DE ISRAEL

Zacarias era filho de Berequias, que morreu provavelmente quando o profeta ainda era muito jovem. Isso fez de Zacarias o sucessor imediato de seu avô, Ido (Ne 12:4), que era um sacerdote que voltara de Babilônia com Zorobabel e Josué, e fora, segundo a tradição judaica, um dos membros da Grande Sinagoga (grupo que governava os judeus antes da criação do Sinédrio). O nome Zacarias é usado no Velho Testamento para outras 27 pessoas e significa “Javé se lembra”. Este Zacarias foi contemporâneo (mais jovem) de Ageu (Ed 5:1; 6:14).

CONTEXTO HISTÓRICO-RELIGIOSO

Durante o reinado de Ciro, mais de 50 mil judeus retornaram à Palestina, vindos de Babilônia em 538 a.C.. Assentaram os alicerces do templo em 536 a.C., mas a oposição das nações vizinhas impediu a continuação do trabalho por 15 anos (Ed 1:1-4; 4:1-5). Dario Histaspes (1:1), que subiu ao trono babilônico em 522-521 a.C., confirmou o decreto de Ciro, e Zacarias, assim como Ageu, estimulou o povo a completar o templo, o que aconteceu em 516 a.C.

CRISTO EM ZACARIAS

Zacarias faz mais predições sobre o Messias do que todos os outros profetas (exceto Isaías). A primeira vinda de Cristo (o nascimento) está citada em 3:8; 9:9,16; 11:11-13; 12:10; 13:1,6, e profecias a serem cumpridas em sua segunda vinda (futura) aparecem em 6:12; 14:1-21.
Este é um livro de consolação e esperança. Começa com uma chamada ao arrependimento e termina com profecias referentes ao retorno e ao reinado de Cristo.


O POVO ESCOLHIDO E O TEMPLO (1-8)

É bom lembrar que no momento da profecia de Zacarias, Judá é um remanescente, Jerusalém está longe de ser restaurada e as nações gentias ao seu redor estão tranqüilas (1:14-16). Nesse contexto, o jovem profeta Zacarias fica ao lado do idoso Ageu dando ânimo aos filhos de Israel para reconstruírem o templo e advertindo-os para não decepcionarem a Deus, como seus pais haviam feito.
Zacarias, assim como Ageu, foi profeta para o remanescente dos judeus que voltaram da Babilônia após setenta anos de cativeiro.
Os judeus, outrora nação poderosa como Deus tinha planejado que fossem, eram agora um lastimável e insignificante remanescente, habitando sua terra prometida apenas por cortesia de um governante estrangeiro. Tanto Ageu quanto Zacarias procuraram dizer ao povo que isso não seria sempre assim. Um dia o Messias chegaria e o povo escolhido de Deus atingiria o poder. É um fato que os judeus, posteriormente, interpretaram isso de maneira equivocada e ficaram esperando um Cristo político que os libertaria do domínio romano. Como isso não aconteceu, frustraram-se e o trocaram por Barrabás.
Zacarias foi o profeta da restauração e da glória. Nascido na Babilônia, tornou-se sacerdote e profeta. Profetizou por três anos. Sua mensagem foi de um futuro maravilhoso, belezudo e não de um triste presente. Ele era poeta e Ageu era um pregador de natureza prática.
Zacarias era um cabra entusiasmado, apaixonado pelo projeto de reconstrução do templo e isso manteve o povo ativo na tarefa de terminar a obra. Uma séria escassez de colheita e a depressão econômica entre o povo judeu tornaram-nos tão desanimados que somente o rude e constante martelar de Ageu os manteve no trabalho. Eles precisavam de uma nova voz e essa voz era Zacarias. Ele empenhou-se no afã de auxiliar seu grande amigo Ageu. Esse episódio nos faz entender que é preciso conciliar o velho e o novo, sem crises. Ageu representava um modelo antigo que deu certo para uma geração, mas agora era preciso mudar um pouco a linguagem, a forma de abordagem e aí Deus levanta o companheiro Zacarias para isso. Que belezura! O velho Ageu e o jovem Zacarias juntos por um objetivo comum.
Zacarias não condena o povo, mas apresenta-lhes a presença de Deus para fortalecer e ajudar. Ele incentiva de modo especial a Zorobabel, o governador, que estava consciente da sua própria fraqueza. Diz o profeta (4:6): “Não por força, nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos.”

A FORMALIDADE DOS JEJUNS NACIONAIS

Os capítulos 7 e 8 falam de uma comissão vinda de Betel que foi perguntar a Zacarias se deviam ser observados os jejuns nacionais que os próprios judeus tinham instituído. Eles costumavam jejuar por ocasião das suas grandes festas. Zacarias advertiu-os do formalismo frio das suas observâncias religiosas e insiste com eles para que transformem seus jejuns em festas de júbilo e pratiquem a justiça. “Eis que o obedecer é melhor do que sacrificar, e o atender melhor do que a gordura de carneiros” (1 Sm 15:22). Assim, entendemos que o jejum só é proveitoso quando é sinal de uma íntima confissão de pecados, de uma aproximação íntima com Deus, quando há um objetivo definido envolvendo renúncia temporária do prazer de comer em prol do prazer da presença divina. O simples abster-se de comer (como fez nas eleições nacionais de 2006 um certo candidato a presidência) nunca redundará em bênção. Deus quer um coração quebrantado e contrito. É assim: tudo o que se pareça com formalismo, aquilo que fazemos como um ritual, como uma obrigação, nada disso cai bem para Deus, Ele quer nosso coração, nossa adoração, nossa entrega de fato.

O MESSIAS E O REINO (9-14)

Aqui o profeta descreve não uma cidade reedificada sobre os seus antigos alicerces, mas uma cidade gloriosa. Não é fortificada para a guerra, porém cheia de paz porque o Príncipe da Paz reina. Ele virá da primeira vez como varão humilde cavalgando um humilde animal (9:9). Mas esse humilde varão torna-se poderoso soberano (14:8-11). O messias em toda a sua glória e poder porá todos os inimigos debaixo de seus pés, estabelecerá seu reino em Jerusalém e se sentará no trono de Davi. Pense um pouquinho no efeito dessa visão futura para aquelas pessoas que viviam naquele contexto de desolação. Uma belezura!


MALAQUIAS


Em Neemias lemos a última página da história do Antigo Testamento; no livro do profeta Malaquias, seu contemporâneo, lemos a última página da profecia do Antigo Testamento. Malaquias, o último dos profetas, testifica, como fazem os que vieram antes dele, o triste fato do fracasso de Israel. Ele apresenta o quadro de um povo externamente religioso, mas interiormente indiferente e falso; um povo para o qual o culto a Jeová se transformou em formalismo vazio, desempenhado por um sacerdócio corrupto que não o respeitava.
Sob o ministério de Ageu e Zacarias, o povo estava disposto a reconhecer suas faltas e a corrigi-las, mas agora, endureceram-se tanto que negam, insolentemente, as acusações de Jeová(1:1,2; 2:17; 3:7); outros questionam se valerá a pena servir ao Senhor(2:17; 3:14,15).
O livro termina com uma profecia da vinda de Elias, o precursor do Messias, e então cerra-se a cortina sobre a revelação canônica, para não mais se levantar até quatrocentos anos mais tarde, quando o anjo do Senhor anunciou a vinda daquele que irá adiante dele e que virá com o espírito e a virtude de Elias(Lc 1:17).
Malaquias significa Meu mensageiro(2:7; 3:1).
Malaquias foi a voz profética final, contemporâneo de Esdras, sacerdote e historiador que escreveu antes e depois dele. Foi o último mensageiro divino para o povo da aliança do Antigo Testamento, ministrando cerca de mil anos depois de Moisés, o primeiro profeta e primeiro escritor bíblico.
O cenário mundial de Malaquias é o mesmo de Neemias.
Apesar do templo ter sido reconstruído(516), o sistema de culto restaurado de maneira digna por Esdras(457) e o muro da cidade também reconstruído(444), o estado espiritual dos judeus estava, novamente, em nível muito baixo. O povo tinha deixado de dar o dízimo e, em consequência, as colheitas fracassaram.
Seu objetivo foi despertar o calejado povo que restara em Israel da sua estagnação espiritual, com o intuito de possibilitar que o Senhor tornasse a abençoar suas vidas.



MALAQUIAS, O PROFETA DA ESPERANÇA


Malaquias significa “meu mensageiro” e poderia ser, simplesmente, a designação de um escritor anônimo. É mais provável, todavia, que seja um nome próprio. Ele não é mencionado em nenhum outro lugar do Antigo Testamento.
Haviam se passado cerca de cem anos desde o retorno dos judeus à Palestina. A cidade de Jerusalém e o segundo templo haviam sido construídos, mas o entusiasmo inicial desaparecera. Depois daquele período de reavivamento (já estudado) liderado por Neemias (Ne 10:28-39), o povo e os sacerdotes haviam se desviado e transformado sua obediência à lei em algo mecânico e rotineiro. Embora relapsos em sua adoração (1:7) e negligentes quanto ao seu dízimo (3:8), não conseguiam entender por que Deus estava insatisfeito com eles.
Malaquias repreendeu o povo por sua negligência quanto ao verdadeiro culto ao Senhor e chamou-os ao arrependimento (1:6; 3:7).

CONTEXTO HISTÓRICO-RELIGIOSO

Terminado o exílio babilônico, os judeus repatriados enfrentaram inúmeras dificuldades. Esperavam encontrar uma terra que ainda manava leite e mel, porém depararam-se com um território que devorava os próprios habitantes e com vizinhos hostis que não poupavam esforços para destruir a nascente comunidade judaica. Além disso, a vida espiritual dos repatriados estava em crise. Os ministros do altar agiram como mercenários e o povo estava cético, já não acreditavam no Deus amoroso e longânimo de seus pais. Foi justamente nesse contexto sinistro que ecoou a voz do último profeta de Israel.

O AMOR INCONDICIONAL DE DEUS POR ISRAEL

Se por um lado, Israel deveria sentir todo o peso da Palavra de Deus, por outro não poderia ignorar que Deus o amava. Aos rebeldes e inconformados repatriados, declara o Senhor: “Eu vos amei, diz o Senhor” (Ml 1:2a). Se não fosse o amor incondicional de Deus, conforme a aliança abraâmica, Israel não teria sobrevivido a tantas dificuldades e tribulações.
Os contemporâneos de Malaquias pareciam ignorar deliberadamente o quanto Deus os amava. Assim, depois de ouvirem a declaração do Todo-Poderoso, replicaram: “Em que nos amaste?” (1:2b). Caramba! Que palavra dura dos caras depois de tudo o que Deus havia feito por eles ao longo da história até aquele momento!

OS PECADOS DOS SACERDOTES

Se a vida espiritual dos israelitas estava em decadência, a culpa era também dos sacerdotes: “O filho honrará o pai e o servo ao seu senhor; e se eu sou pai, onde está a minha honra? E se eu sou Senhor, onde está o meu temor? Diz o Senhor dos exércitos a vós, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome e dissestes: Em que desprezamos nós o teu nome?” (1:6). Esses mesmos sacerdotes não se limitavam à hipocrisia. Ofereciam animais defeituosos sobre o altar do Senhor: “...quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não faz mal! E quando ofereceis o coxo ou o enfermo, não faz mal! Ora, apresenta-o ao teu príncipe: terá ele agrado em ti? Ou aceitará ele a tua pessoa? Diz o Senhor dos exércitos” (1:8). Bom, hoje também tem um monte de ministro de Evangelho oferecendo o pior para o Senhor e argumentando, com toda a cara-de-pau: “Não faz mal”, “não tem nada a ver”, “os tempos são outros”, como se os princípios cristãos fossem absolutamente flexíveis e tivessem que se adequar ao mal-caratismo de certas figuras. Companheiros, ofereçamos o nosso melhor para Deus, não sejamos como aqueles sacerdotes.


OS PECADOS DO POVO

Deslealdade – Embora todos estivessem enfrentando as mesmas crises, os filhos de Israel agiam com falsidades e trapaças para com seus irmãos. Ninguém confiava em ninguém. Ora, se o momento era crítico, deveria haver entre eles um forte senso de fraternidade: “Não temos nós todos um mesmo Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que seremos desleais uns para com os outros, profanando a aliança de nossos pais?” (2:10). Será que Malaquias andou por aqui? Não nos parece familiar esse egoísmo abordado por ele? Essas trapaças? Gente que compra e não paga? Gente que não honra seus compromissos e que comprometem a imagem do Cristianismo e de sua comunidade em especial? Mera coincidência? Não, é que os seres humanos são assim em todas as épocas e em todas as sociedades, sendo que aqueles que optaram por entregar suas vidas a Cristo (acho essa coisa de predestinação a maior furada), precisam rever conceitos e se adequarem ao Cristianismo. Vou confessar aqui (não espalhem por favor) que tenho dificuldade com esse negócio de obedecer. Pois é, só que optei por seguir a Cristo e enquanto cristão preciso obedecer. Então, significa dizer que preciso controlar minhas tendências e obedecer. É assim. Simples desse jeito.

Divórcio – O divórcio havia se tornado tão comum, que até mesmo os sacerdotes deixavam suas esposas e apegavam-se às estrangeiras. Depois, como se tudo fosse normal, apresentavam-se diante do altar para oferecer os sacrifícios prescritos em Levítico: “Ainda fazeis isto: cobris o altar do Senhor de lágrimas, de choros e de gemidos; de sorte que ele não olha mais para a oferta, nem a aceitará com prazer da vossa mão. E dizeis: Por quê? Porque o Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança” (2:13,14). Seguindo este péssimo exemplo dos sacerdotes, os israelitas passaram a despedir suas mulheres por qualquer banalidade: “Porque o Senhor Deus de Israel diz que aborrece o divórcio” (2:16). Isso também lembra um pouco os nossos dias, não é mesmo? Alguns líderes evangélicos renomados, contemporâneos nossos, também têm se comportado como aqueles sacerdotes dos dias de Malaquias.

Os dízimos – No tempo de Malaquias, a sociedade judaica vivia uma das maiores recessões de sua história. A lavoura não vingava, a pobreza aumentava sempre e a mendicância crescia de forma assustadora. Diante desse contexto terrível, os judeus foram compelidos pela falta de fé a negar os dízimos. Era um momento de prova, mas eles não souberam vencê-la. Consequentemente, a classe sacerdotal estava ficando sem o seu sustento. Assim, eles foram levados a procurar outros meios de subsistência, desleixando-se completamente de seus afazeres. E isso desagradou ao Senhor Jeová que, juntamente com um puxão de orelha, deixou também esta promessa para Israel: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança” (3:10).

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